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CAPÍTULO 3 – O DESENHO DA PESQUISA

3.1 Metodologia

3.1.5 Procedimentos e técnicas

Conforme mencionado no item 3.1.2, as investigações qualitativas apresentam características multimetodológicas, uma vez que colocam uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados à disposição dos pesquisadores (ALVES- MAZZOTTI; GEWANSDSZNAJDER, 2002). Para a análise dos dados obtidos, existem várias técnicas colocadas à disposição dos pesquisadores, dentre as quais a Análise Discursiva e a Análise de Conteúdo, sendo esta pela qual optamos.

Através da Análise de Conteúdo, pretende-se investigar principalmente as formas de comunicação verbal, escrita ou não escrita, que se desenvolvem entre os indivíduos, e as representações sociais. Pode ser usada em textos literários, em entrevistas e discursos, enfim, tudo é passível de análise por essa técnica (QUEIRÓS, 2003). Portanto, aplica-se à análise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual) reduzida a um texto ou documento.

A Análise de Conteúdo envolve várias técnicas e surgiu nos Estados Unidos, no início do século XX, podendo-se destacar duas funções na sua aplicação: uma referente à verificação de hipóteses e/ou questões, e outra atinente à descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos (GOMES, 1994).

Uma se refere à verificação de hipóteses e/ou questões. Ou seja, através da Análise de Conteúdo, podemos encontrar respostas para as questões formuladas e também podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação (hipóteses). A outra função diz respeito à descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado. As duas funções podem, na prática, se complementar e podem ser aplicadas a partir de princípios da pesquisa quantitativa ou qualitativa. (GOMES, 1994, p. 74).

A Análise de Conteúdo tem como principal objetivo compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou implícitas, podendo se utilizar diferentes procedimentos para a decodificação de um documento, dentre os quais destacamos as unidades léxicas (análise lexicológica), a classificação por categorias (análise categorial), o desvelar do sentido de uma comunicação no momento do discurso (análise de enunciação), ou revelar os significados dos conceitos em meios sociais diferenciados (análise de conotações) – ou qualquer outra forma de codificação de comunicações impressas. Tudo depende do material a ser analisado, dos objetivos da pesquisa e da posição ideológica e social do pesquisador.

Dessa forma, a técnica utilizada no método quanti-qualitativo foi a Análise de Conteúdo, que é o conjunto de várias técnicas, em suas diferentes formas de análise de um mesmo documento, não se enquadrando numa definição que a caracterize num todo.

O ponto fundamental da investigação qualitativa é o modo como os seres humanos interpretam e atribuem sentido a sua realidade subjetiva. Os pesquisadores não abordam as pessoas como individualidades isoladas, no vazio, mas exploram "os mundos" em que estas pessoas estão inseridas, na globalidade do seu contexto de vida.

Para atingir o seu objetivo, a perspectiva qualitativa oferece ao cientista uma série de ferramentas, tais como história de vida e autobiografia, estudo de caso, entrevistas, observação participante, análise de documentos, produção/análise de imagens, questionários etc. As ferramentas são as formas com que o pesquisador irá coletar os dados que entende necessários para a realização da pesquisa.

Dentre as várias ferramentas à disposição para a coleta de dados, privilegiou-se, para a realização desta pesquisa, a utilização de três: observação participante das reuniões dos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, análise de documentos (legislação) e questionários (Apêndice A), por atenderem de forma mais ampla aos objetivos do trabalho.

Com a finalidade de atingir os objetivos propostos na pesquisa e para buscar elementos para a formulação dos questionários foi realizada a análise de documentos, a qual possibilita reunir uma grande quantidade de informação relacionada com a situação estudada.

Considera-se como documento qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte de informação. Regulamentos, atas de reunião, livros de freqüência, relatórios, arquivos, pareceres, etc., podem nos dizer muita coisa sobre os princípios e normas que regem o comportamento de um grupo e sobre as relações que se estabelecem entre os diferentes subgrupos. (ALVES-MAZZOTTI; GEWANSDSZNAJDER, 2002, p. 169).

Um documento geralmente descreve um processo de desenvolvimento de um indivíduo ou de um grupo, contudo, apresenta uma limitação quanto à complexidade das situações referentes à capacidade do autor para compreendê-las e analisá-las adequadamente (ANGELL; FREEDMAN, 1974).

Portanto, o recorte de jornal, a fotografia de uma cena de rua, o recorte de diário oficial, os processos, os inquéritos, os relatórios oficiais, são tão presentativos (no sentido de estar presentes) quanto uma entrevista ou discussão de grupo – não há primazia. Nenhum pode ser considerado mais representativo do que o outro, todos existem num determinado momento – têm uma presença, tornando redundante a própria noção de representatividade (SPINK, 1999).

Os Psicólogos Sociais tendem a privilegiar entrevistas, questionários e discussões de grupo – práticas discursivas do aqui e agora, em detrimento dos documentos. Já os historiadores ainda suspeitam da utilidade de relatos pessoais e outras formas de recordações orais, dando preferência em trabalhar com documentos, registros, anotações, mesmo quando possuem à sua disposição aquelas outras técnicas potencialmente disponíveis (SPINK, 1999).

Em seu estudo sobre a história e a teoria social, incluindo aí a Psicologia Social, Peter Burke apud Spink (1999) despertou sua atenção para um fato curioso de que, mesmo sendo disciplinas vizinhas, as visões de uma sobre a outra tendem a ser estereotipadas e seu diálogo inexistente.

A preocupação e a necessidade de explicitar o como, tão privilegiada nas investigações sociais, notadamente na Psicologia Social, não é encontrada com o historiador que se preocupa, a priori, em registrar as fontes.

Os Psicólogos incorrem na tentação criada pela possibilidade de falar, conversar com o objeto de seus estudos, buscar novos dados, recentes ou originais, o que demonstra a valorização da entrevista como parte da identidade dos Psicólogos, esquecendo-se de que as práticas discursivas, como linguagem em ação, estão presentes, de forma ubíqua tanto nas imagens e artefatos como nas palavras (SPINK, 1999).

A observação das reuniões dos Conselhos Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente dos Municípios de Assis, Paraguaçu Paulista e Borá, também foi utilizada como ferramenta na coleta de dados, visando a perceber a dinâmica de atuação e a participação dos Conselheiros nas discussões e deliberações do Órgão.

O conteúdo analisado, através do método da Análise de Conteúdo consiste em documentos e questionários.

Assim, o investigador irá efetuar uma “garimpagem” nos vários documentos (legislação, atas, ocorrências, registros etc.), inclusive, observação em reuniões dos Conselheiros, que possam fornecer dados para uma análise da forma estrutural de atuação dos referidos Conselhos, ou seja, ao estudo de suas Naturezas (Concepção, Composição e Fins), previstos legalmente; ainda, com base nos documentos analisados e na literatura, serão elaborados questionários aos Conselheiros, obedecendo-se a um ritual consenquencial, com questões avaliativas e hipotéticas, ancoradas em teorias e questões que ofereçam o maior número de dados possíveis para a concretização dos objetivos da pesquisa, os quais serão respondidos na presença do pesquisador. Por fim, caso necessário, de acordo com o desenvolvimento da pesquisa, subsidiariamente, poderão ser empregadas, também, entrevistas.

Ao utilizar-se o método quanti-qualitativo como derivado do método qualitativo, com a técnica de Análise de Conteúdo, pretende-se fazer uma narrativa temática, tendo como base a organização do texto extraído do discurso (principalmente dos questionários, dos documentos analisados e da literatura), fundando-se no tema e na temporalidade dos fatos e fenômenos narrados, tendo como eixo referencial a Teoria das Representações Sociais.