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Procedimentos, Técnicas e Instrumentos de Coleta Dados

OPERACIONAIS DA PESQUISA MEDIAÇÕES NO RECONHECIMENTO E ANÁLISE DO OBJETO

3. FUNDAMENTOS TEÓRICO-METOLÓGICOS E PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DA PESQUISA MEDIAÇÕES NO RECONHECIMENTO E

3.2 A Trajetória de Coleta e Análise dos Dados – Aspectos Operacionais do Estudo

3.2.2 Procedimentos, Técnicas e Instrumentos de Coleta Dados

O estudo foi realizado por meio da utilização dos seguintes procedimentos: a observação da realidade de trabalho, entrevista com os trabalhadores de enfermagem, consulta documental e a entidades relacionadas ao trabalho de enfermagem.

A observação participante foi escolhida como técnica de coleta de dados por possibilitar uma relação mais próxima e mais informal com os profissionais do contexto de pesquisa. Nessa técnica é possível o posicionamento face a face com as pessoas observadas e o estabelecimento de um processo de reciprocidade com os sujeitos investigados. Essa técnica é importante para captar uma variedade de fenômenos que não seriam possíveis apenas através do diálogo (CRUZ NETO, 1994).

Trivinos (1994), refere que observar é diferente de olhar, pois a observação de um determinado “fenômeno social” significa primeiramente que, sendo ele simples ou complexo, seja separado de forma abstrata de seu contexto e estudado em sua dimensão singular no que se refere aos seus significados, relações, atos, atividades e outros aspectos. Faz-se uma individualização ou agrupamentos dos fenômenos dentro de uma realidade que é indivisível, no sentido de descobrir seus aspectos aparentes e profundos até chegar, se possível, a sua essência numa perspectiva ao mesmo tempo específica e ampla buscando suas contradições, movimentos, relações e demais dimensões a ele relacionado.

O formulário de observação (Apêndice A) direcionou a utilização da técnica. Os dados coletados foram descritos considerando o local, as situações, as atividades, atitudes comportamentos e diálogos, buscando detalhar a descrição ao máximo. As reflexões sobre os fatos observados foram feitas de forma sintética, sendo registradas diariamente nos formulários de observação e reunidos em um diário de campo.

A observação do contexto de estudo foi realizada no período de 23 de março a 23 de outubro de 2003, no setor de emergência e urgência clínica, duas horas por dia em um dos turnos de trabalho (manhã, tarde, ou noite). Nesses seis meses o setor investigado atendeu o total de 45.318 pessoas, das quais 646 (2%), eram doentes cuja gravidade motivou a morte de 336 (52%) deles. Isto significa que durante o intervalo da pesquisa, a média diária de atendimentos foi de 249 pessoas, das quais 5 eram doentes graves, gerando a ocorrência de aproximadamente 2,5 mortes por dia (CUIABÁ, 2005).

Nos dois primeiro meses a atenção esteve mais voltada para a observação do contexto de trabalho em saúde e ao conhecimento dos trabalhadores envolvidos neste processo. Nesta fase foi possível inteirar sobre as rotinas e familiarizar com os trabalhadores e o seu processo de trabalho. Durante esta etapa a preocupação básica foi para a apreensão da estruturação do trabalho de enfermagem: a organização do processo de trabalho, os instrumentos de trabalho, o ambiente físico e relacional e a dinâmica do trabalho. Os seguintes questionamentos direcionaram a coleta de informações: a) como se caracteriza o espaço físico do trabalho em emergência clínica? b) Como se organiza o trabalho de enfermagem e quais são as tarefas desempenhadas pelos trabalhadores? c) Como se dá o relacionamento interpessoal?

Gil (1994), afirma que a técnica de entrevista consiste numa interação entre o pesquisador na busca de dados e os sujeitos investigados como fonte de informações. Esta busca deve ser feita sobre o saber, as crenças, as esperanças, os desejos, as pretensões, as experiências presentes e passadas e suas explicações, conforme o entendimento dos informantes.

Esta técnica foi eleita pela crença na possibilidade de comunicação oral e no entendimento de cada entrevista como uma situação singular com repercussões também singulares para entrevistador e entrevistados.

A fala [pode] ser reveladora das condições estruturais, de sistemas de valores, de normas e símbolos (sendo ela mesma um deles) e ao mesmo tempo ter a magia de transmitir, através de um porta voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, sócio-econômicas e culturais específicas (MINAYO, 1993, p. 109).

Conforme a orientação de Trivinos (1994), a entrevista foi semi-estruturada de acordo com alguns questionamentos básicos, com suporte teórico e com pressupostos de interesse à pesquisa e, que, posteriormente ofereceram um amplo campo de interrogativas, resultado de novas hipóteses surgidas a partir das informações colhidas.

A seleção dos sujeitos entrevistados obedeceu aos seguintes critérios: ser trabalhador de enfermagem do setor de emergência e urgência clínica ou já ter trabalhado nele no último ano; concordar em participar da investigação proposta assinando o termo de consentimento e autorizando a gravação das entrevistas (Apêndice B).

A partir da décima entrevista os dados começaram a se repetir evidenciando sua saturação, mas para maior confiabilidade foram realizadas ao todo 19 entrevistas, gravadas e posteriormente transcritas, mas devido a problemas técnicos três delas não foram consideradas. Assim, a amostra da pesquisa ficou definida em 16 representantes dos dois gêneros, dos três turnos de trabalho, de diversificado tempo e tipos de contratos de trabalho. A concordância dos mesmos para as entrevistas foi facilitada pelo conhecimento prévio existente entre alguns trabalhadores, dificultada pela não familiaridade com outros e pelo temor que alguns deles demonstraram em falar sobre o tema de estudo. Esse temor se justificava por dois motivos básicos: por se tratar de uma pesquisa sobre violência e porque, em sua maioria, eram trabalhadores temporários.

A entrevista com cada trabalhadora(or) ocorreu em um momento único, realizado de acordo com a disponibilidade dos envolvidos, no próprio local de trabalho, em uma área reservada. Sua duração foi de aproximadamente uma hora a uma hora e meia. O cuidado que se procurou ter, em função da necessidade de obter o mais fiel e amplamente possível os elementos de interesse, foi o de estabelecer um relacionamento favorável e o de demonstrar interesse pelas informações. Para garantia do sigilo dos entrevistados, foram utilizados nomes fictícios, extraídos da língua Tupy Guarani, na identificação de seus relatos.

O direcionamento da entrevista foi realizado por um formulário contendo questões semi-estruturadas permitindo outras manifestações dos trabalhadores durante o processo

narrativo (Apêndice C). Esse formulário foi previamente lido por três profissionais da área de enfermagem para validação de seu conteúdo, objetividade e clareza.

Cada trabalhador(a) entrevistado(a) aparentou espontaneidade e receptividade. Durante as entrevistas foram freqüentes manifestações de sentimentos de tristeza e alegria. Após a realização de algumas entrevistas foi comum ouvir a(o) entrevistada(o) estimulando outros trabalhadores a participar dessa experiência, que consideravam agradável.

O formulário de entrevista possibilitou o melhor acompanhamento das narrativas e guiando os aspectos que deveriam ser mais aprofundados, mas permitindo a livre manifestação de cada entrevistado.

Após a organização dos dados coletados, foram observadas lacunas em alguns aspectos importantes, não esclarecidos durante as entrevistas e observações efetuadas. Então, foi realizada uma entrevista com a coordenadora de enfermagem, direcionada por um formulário com questões estruturadas sobre aspectos administrativos do processo de trabalho institucional (Apêndice D).

Seguindo as instruções de Fachin (2001), de que na coleta de dados documentais podem ser considerados qualquer forma de texto, imagens, sons e sinais impressos seguindo métodos e técnicas específicos para cada objetivo de estudo, o livro de anotações das ocorrências de enfermagem foi utilizado como documento para a coleta dos dados. Esta fonte de informação foi utilizada com os seguintes objetivos: apreender possíveis situações não observadas no contexto de trabalho durante a observação participante; colher informações relativas aos períodos de nossa ausência no hospital e de ampliar os dados colhidos.

Assim, de modo complementar, foram colhidas informações, pela leitura diária do livro de ocorrências de enfermagem, que foram transcritas para posterior análise. Esse livro contém uma descrição sucinta dos principais acontecimentos considerados mais importantes em cada turno de trabalho, bem como, encaminhamentos e procedimentos administrativos das(os) supervisoras(es),

Outra técnica de pesquisa utilizada foi o questionário. Este, conforme o entendimento de Fachin (2001, p.146), “limita-se tão-somente às respostas escritas e preenchidas pelo próprio pesquisado”. Essa forma de coletar dados foi também usada de forma complementar junto a órgãos relacionados às atividades de enfermagem no Estado de Mato Grosso.

Este último instrumento abordou aspectos específicos do trabalho de enfermagem em Mato Grosso junto ao Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (COREn/MT) (Apêndice E), ao Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso (CEE/MT) (Apêndice F) e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), (Apêndice G).