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1. Aspetos centrais das relações entre pares

4.4. Procedimentos de tratamento de dados

Para se levar a cabo uma investigação, é necessário ter em conta as várias etapas da investigação. O tratamento dos dados recolhidos é uma das etapas mais importantes e que exige mais dedicação por parte do investigador, como tal é necessário saber qual o tipo de análise a utilizar e como esta se aplica.

Esta investigação é iminentemente exploratória e qualitativa, como tal, os dados obtidos foram objeto de análise qualitativa, ou seja, de conteúdo e de uma análise quantitativa complementar (ocorrências e percentagens). Este tratamento quantitativo dos dados visou a determinação da frequência das ideias expressas pelos participantes, ou seja, quanto maior o interesse dos participantes por determinado assunto maior será a frequência de ocorrência, ao longo do discurso dos indicadores relacionados com esse assunto (Vala, 1986).

Segundo Mason (2002), a pesquisa qualitativa leva o investigador a comprometer-se mais com a pesquisa, requerendo dele, uma maior atenção aos detalhes, poder explorar mais as dimensões sociais das pessoas que são estudadas, compreendendo o seu dia-a-dia, os seus comportamentos, o seu envolvimento nas tarefas diárias e a relação com os outros, sendo que, este trabalho qualitativo será mais enriquecido visto que possui mais detalhes do que geralmente acontece noutros métodos de pesquisa.

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É importante perceber que tipo de dados qualitativos estamos a procurar para que possamos criar critérios para julgar a qualidade dos dados qualitativos. Assim, os estudos qualitativos variam de tipo, propósito e qualidade (Patton, 2002)

Existem três tipos de dados qualitativos decorrentes de diferentes procedimentos de recolha de dados. As entrevistas, que se caracterizam por questões (abertas, semi-abertas ou fechadas) que se direcionam a conhecer as experiências pessoais, perceções, opiniões, sentimentos e conhecimentos dos entrevistados; a observação, que se carateriza pela descrição das atividades, comportamentos, ações, conversas, interação interpessoal ou outras coisas que possam ser observadas e registadas; e os documentos, ou seja, analisar vários documentos de forma a preservar a ideia original (Patton, 2002).

A investigação qualitativa ocorre com um propósito principal, ou seja, o de conhecer mais a fundo o meio ou os sujeitos. Para isso, o investigador pode também fazer trabalho de campo, estar junto dos sujeitos ou estar dentro do meio que quer estudar, para puder recolher mais informação, conhecer o meio envolvente, ver as interações que existem (Patton, 2002). A qualidade da investigação qualitativa vai depender da capacidade, integridade e sensibilidade do investigador, exigindo que o investigador esteja capacitado para utilizar a análise de conteúdo do que é recolhido, para criar achados qualitativos uteis e credíveis (Patton, 2002).

A análise de conteúdo tem sido definida como uma técnica sistemática e replicável para a compreensão e análise mais profunda das palavras dos textos traduzindo-as em categorias, baseando-se em regras explícitas de codificação (Berelson, 1952; GAO, 1996; Krippendorff, 1980; Weber, 1990 citado por Stemler, 2001). Holsti (citado por Stemler, 2001, p.1) sugere uma definição mais ampla, podendo ser "any technique for making inferences by objectively and systematically identifying specified characteristics of messages", deixando assim, de se restringir apenas à análise de textos, passando a ser aplicável em diversas áreas.

Segundo Bardin (1977), a análise de conteúdo também pode ser definida como um método empírico que vai depender da situação a que se refere e do tipo de interpretação que se pretende fazer. É um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que utiliza um vasto leque de formas de interpretação, sendo adaptável às situações em que é aplicável. Tem como principais objetivos: ultrapassar a incerteza que decorre da interpretação e da generalização dos dados; e o enriquecimento da leitura, ou seja, a interpretação dos dados é feita mais atentadamente para que se encontre mais detalhes, que numa leitura mais rápida poderia passar despercebido (Bardin, 1977).

Na prática, a análise de conteúdo pode ser utilizada para determinar a autoria, ou seja, através da análise do conteúdo de documentos, perceber de quem é a autoria de determinado documento, para examinar certas tendências e padrões existentes em

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documentos e promove também uma base empírica para monitorizar as mudanças de opinião das pessoas (Stemler, 2001).

A análise de conteúdo é caracterizada por três fases diferentes: a pré-análise, que se trata da fase de organização propriamente dita, ou seja, é onde o investigador vai escolher os documentos que serão submetidos a análise, formular hipóteses e objetivos e formular indicadores que fundamentem a interpretação final; A exploração do material, que corresponde às operações de codificação, desconto ou enumeração, consoante o que foi inicialmente estabelecido; e o tratamento dos resultados e interpretação, em que os resultados obtidos serão tratados de forma a serem significativos e válidos, através de análise de percentagens ou analise fatorial, consoante o que foi inicialmente estabelecido (Bardin, 1977).

Fig. 1 –Passos no desenvolvimento de uma análise de conteúdo (Bardin, 1977 p. 102)

O sucesso da análise de conteúdo depende em grande medida do processo de codificação, ou seja, na organização de uma grande quantidade de texto em categorias de conteúdo (Hsieh & Shanon, 2005). O processo de codificação consiste assim na transformação sistemática de dados brutos e à sua agregação em unidades que permitem uma descrição precisa das caraterísticas relevantes do conteúdo (Amado, 2000; Bardin, 1977; Vala, 1986) Os processos de codificação e de categorização da informação, segundo Amado (2000), ocorrem após diferentes etapas ao longo do trabalho. Estas etapas são: a definição dos

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objetivos do trabalho, para ajudar nas tomadas de decisão; a explicação de um quadro de referência teórico, que ajuda o pesquisador a organizar o trabalho teórico e explicativo da investigação; a constituição de um “corpus” documental, onde tem que se ter em conta a exaustividade, a representatividade, homogeneidade e a adequação dos documentos selecionados; as leituras atentas e ativas para aperfeiçoamento do trabalho; a formulação de hipóteses e por último o processo de codificação que é composto por diferentes fases. Estas fases constituem-se em determinar as unidades de registo, de contexto e de enumeração.

Entende-se por unidade de registo a unidade de significação a codificar e corresponde ao que se deve considerar do conteúdo do texto como unidade base, para posterior categorização e contagem das frequências. São consideradas as palavras, os temas e os acontecimentos. A unidade de contexto serve como unidade de compreensão que ajuda a codificar a unidade de registo. A unidade de enumeração ajuda a definir os critérios que se vão contar e como contar (Bardin, 1977; Amado, 2000).

O processo de categorização corresponde a “uma operação de classificação de elementos construtivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia) como critérios previamente definidos.” (Bardin, 1977, p. 117). Trata-se de uma etapa mais exigente para o investigador, pois terá de colocar mais atenção e recordar o que estudou sobre a temática para que consiga eleger as categorias adequadas para cada situação. Para construir as categorias, devem seguir seis regras que são fundamentais e que o investigador deve ter em conta nas fases de codificação e nas revisões dos resultados obtidos: a exaustividade, que exige a escolha de uma palavra-chave adequada para cada categoria; a exclusão mutua, em que uma unidade de registo não pode existir em mais de uma divisão; a homogeneidade, deve seguir um único sistema de análise; a pertinência, deve ser adequado ao material e aos objetivos pretendidos; objetividade e a fidelidade, para diferentes partes de um mesmo material ao qual se aplica a mesma grelha categorial, devem ser consideradas da mesma maneira, mesmo quando submetidas a diversas análises; a produtividade, deve ter uma qualidade pragmática, categorias com carater produtivo e resultados férteis (Bardin, 1977; Amado, 2000).

Segundo Tuckman (2000), deve-se ter em conta a duas caraterísticas ou qualidades da análise dos dados, a validade e a fidelidade. Existem dois tipos de validade, a interna que ocorre quando o resultado está em função do objeto que se pretende estudar consistindo em assegurar-se que se “mediu” o que se pretendia “medir”; e a externa que ocorre quando os resultados obtidos são aplicáveis noutras situações semelhantes. A fidelidade refere-se aos resultados e grau de confiança que se pode ter na informação recolhida, servindo para testar a fidelidade do codificador e das categorias de análise, tendo que ser obtidos os

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mesmos resultados quando se analisa um mesmo texto em momentos diferentes (fidelidade intra-codificador) ou por codificadores diferentes (fidelidade inter-codificadores).

A análise de conteúdo implica como necessária a procura de objetividade dos seus procedimentos, sendo estes claros e precisos; obrigar os investigadores a manter uma certa distância em relação às interpretações espontâneas, principalmente as suas, ou seja, o investigador não pode fazer referências ideológicas ou normativas próprias para julgar as dos outros; deve permitir um controlo posterior da investigação e promove a criatividade do investigador. Como limitações, pode-se apontar um maior tempo despendido na análise das respostas; a utilização de métodos que poderão ser mais simplistas; o campo de utilização pode ser restritivo; a dificuldade de elaboração de constructos fiéis ao que foi dito pelos sujeitos, o que ao não acontecer pode comprometer a investigação (Quivy & Campenhoudt, 1998).

Todos os questionários foram objeto de análise qualitativa e quantitativa (análise de conteúdo e analise de frequências), sendo que todos foram considerados elegíveis para análise. Para tal começamos por elaborar uma grelha de análise temática e categorial com a explicação dos critérios de categorização da informação o que permitiu conhecer as caraterísticas associadas aos diferentes aspetos explorados (Anexo IX). Tais categorias e subcategorias foram designadas de forma o mais próxima possível da ideia expressa pelas verbalizações dos participantes. As unidades de análise foram constituídas por segmentos do discurso que continham uma ideia completa (palavra ou frase).

Os critérios de registo utilizados para averiguar a frequência com que ocorrem certas ideias (análise de ocorrências) foram a anotação da presença de todas as diferentes verbalizações expressas por cada participante e a sua classificação em cada categoria e/ou subcategoria e não o número de vezes que existiu a repetição de uma mesma verbalização/ideia pelo mesmo sujeito. Este registo de ocorrências serviu para identificar as perceções e conceções mais referidas em termos de frequências e percentagens.

Nas tabelas de frequências e percentagens, os alunos identificados pelos diretores de turma com bom comportamento são designados de Grupo 1 (G1), correspondendo aos alunos identificados entre o S1 e S8, e os alunos identificados com mau comportamento são designados de Grupo 2 (G2), correspondendo aos alunos identificados entre o S9 e S16.

53 Capítulo 5 - Apresentação e Discussão dos Resultados

Neste capítulo procedemos à apresentação, análise e discussão dos resultados obtidos a partir da grelha de análise temática e categorial a qual procurou identificar a variedade concetual expressa pelos participantes (Anexo VIII). A análise dos resultados foi realizada com base na análise de conteúdo e no registo de frequências e percentagens.