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CAPÍTULO III SUCESSO E FORMAÇÃO: SÍNTESE DE

1. INDICAÇÃO AO PRÊMIO DE AGRICULTOR DESTAQUE

1.3. Processo e Critérios da Escolha

Uma vez dada a idéia, traçados os objetivos, e pela exigüidade do tempo, aproveitaram-se momentos coletivos de reuniões para se definir o modus agend40i da escolha dos contemplados, como vimos há alguns parágrafos. É ainda LAVARDA quem nos testemunha a sistemática: “Se chegou à conclusão, até porque veja bem, quando você reúne os produtores das comunidades, o produtor de uma comunidade ele não conhece da outra comunidade... então ele tem uma confiança muito grande nos técnicos, os agricultores, e não se chegou a ir na propriedade, porque os técnicos, ou seja a EMATER, seja da prefeitura, o próprio presidente do sindicato, então a gente já conhece os produtores, e foi através dos depoimentos dos técnicos e os outros confirmando que a gente fez essa escolha”.

Perguntei-lhe se foram visitadas as propriedades ou foram feitos levantamentos metodológicos para se chegar aos nomes e ele esclareceu: “Não se chegou a fazer nenhuma comissão para ir lá levantar quesito por quesito, foi... a gente tinha os exemplos, a gente tinha

128 uma declaração, tinha um conhecimento de que assim eram esses agricultores e foi baseado nisso, observando os critérios de que falei”.

Com assentimento e aval dele, resumi assim a condução do processo. Eles tiveram uns dois encontros com a participação de todas as lideranças da área técnica ou das outras áreas que atuavam lá no interior, e este grupo de lideranças que tem o conhecimento aprofundado das comunidades e das pessoas que moram lá, das famílias e jovens, foram detalhando os critérios e ao mesmo tempo em uma segunda sessão acabaram elegendo as pessoas. Lavarda, no entanto, salvaguarda a participação dos agricultores: “... era importante a opinião dos produtores, então porque no fundo eram eles votando num representante deles”.

Indagado sobre os critérios usados na seleção dos contemplados, Lavarda fez um arrazoado que tentarei esmiuçar, para melhor entender o itinerário do agricultor e os fatores-chave de sua formação e de seu sucesso.

Na época foram escolhidas duas pessoas: um agricultor destaque e um jovem revelação. Ficarei atido ao primeiro que é o caso em foco. Cito um trecho da entrevista com o Secretário de Agricultura, coordenador do evento e que analisaremos logo de imediato. Diz ele:

“Para o agricultor destaque, seria o agricultor que tivesse uma família constituída, que tivesse filhos, e que vamos dizer assim, tava conseguindo sustentar bem a família como um pequena propriedade, que tivessem em busca daquilo que a gente via como importante que era busca de novas alternativas, porque a pequena propriedade que ficava só no grão, se via que não ia conseguir desenvolver então o produtor que tivesse diversificando a propriedade, buscando na assistência técnica para soluções dos problemas, o produtor que tivesse iniciativa nesta busca de solução, a humildade para ir em busca dessa solução, reconhecendo o que o outro podia ensinar para ele, então nós tinha que ter uma família, e vamos dizer assim, não eu to desenvolvendo e a família toda no processo envolvida, então ganhou o pai o premio mas o que a gente queria premiar era a família, então no agricultor destaque era um agricultor e uma família que estava em jogo... esses foram as coisas que a gente olhou na época de dar estes prêmios. Tinha mais mas não lembro agora”.

À luz deste depoimento do coordenador esmiuçarei agora os critérios apontados. Eles surgem ao natural no texto. O primeiro critério, que está muito claro, é a premiação não só do

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agricultor destaque mas também a extensão do prêmio à sua família: “...então no agricultor destaque era um agricultor e uma família que estava em jogo”. Ou como ele afervora em outra passagem: “Para o agricultor destaque, seria o agricultor que tivesse uma família constituída, que tivesse filhos...”. Aqui está presente um processo de escolha de candidatos, onde se estabelece uma delimitação por prerrogativas. Afinal só poderia ser escolhido um agricultor, e necessário se fazia afunilar o processo.

O segundo critério que aparece no texto é a sustentabilidade familiar através de pouca terra. “Vamos dizer assim, tava conseguindo sustentar bem a família com uma pequena propriedade”. A introdução deste critério retoma e enaltece a idéia de que a pequena propriedade é viável, desde que se tomem algumas medidas, pois cultivar pequenas ou grandes áreas supõe o uso de técnicas diferentes. GALIOTTO tem consciência e experiência disso: “Hoje já faz 32 anos que estamos casados e fomos morar naqueles cinco alqueires de terra e estamos lá até hoje. Lá a gente teve a família e criamos os filhos” (Anexo 1, questão 46).

Um terceiro critério complementa o anterior e o redimensiona melhor. Trata-se da diversificação da propriedade e a busca de novas alternativas, tábua de salvação para a agricultura familiar. O agricultor a ser escolhido devia estar em “busca daquilo que a gente via como importante que era a busca de novas alternativas, porque a pequena propriedade, que ficava só no grão, se via que não ia conseguir desenvolver”. Buscava-se, então, “o produtor que tivesse diversificando a propriedade”. Note-se aqui a seriedade e a pertinência na composição do perfil do candidato ao troféu agricultor destaque.

Observe-se que os itens analisados nada mais são do que os fatores-chave, que levaram a pessoa a conquistar, tanto uma sólida formação bem como o sucesso profissional.

O quarto critério se refere ao processo de fundamentação de sua formação experiencial através da formação dos cursos, palestras ou orientações individuais, já analisados no capítulo anterior (item 5.4.1. e 5.4.3.). Chama a atenção para o agricultor que se aperfeiçoa e faz enfrentamento das dificuldades “buscando na assistência técnica para soluções dos problemas”. Não só isso, mas arrola como mais um critério a criatividade. Não vale apenas aquele que busca a assistência, mas tem que ser “produtor que tivesse iniciativa nesta busca de solução”.

130 LAVARDA, ao fazer este elenco, apresenta um último critério da escolha de um “produtor que tivesse a humildade para ir em busca dessa solução, reconhecendo o que o outro podia ensinar para ele”. Esta abertura ao dar e receber, como viabilização de um trânsito de informações e formações, como atitude cotidiana da busca do saber, estabelece a construção de um verdadeiro processo formativo. É um fator-chave fundamental.

Os critérios acima não serviram apenas para estabelecer a seleção do agricultor candidato ao troféu, mas se constituem em fatores-chave, não apenas para o sucesso, mas para sua busca formativa. No questionamento ao secretário durante a entrevista ele adianta que, tinha outros critérios: “... esses foram as coisas que a gente olhou na época de dar estes prêmios. Tinha mais mas não lembro agora”.

Reporto-me à análise dos dados feita no capítulo anterior, e destaco a profusão de ações e atitudes do GALIOTTO, que no fundo foram critérios de sua indicação, mas ao mesmo tempo fatores-chave no seu processo formativo e de um percurso de vida bem sucedido.

Como o prêmio visava também contemplar a família, pesquisei uma outra passagem da entrevista com LAVARDA em que ele destaca o envolvimento de todo o grupo familiar nos vários aspectos da propriedade: na vida em família no lar, nas iniciativas, no trabalho, nos cursos e reuniões, no esforço de captar a mensagem prática e aplicável que está por detrás das orientações técnicas, das informações e formações, de ver além do momento vivido, de sentir o que fazer e o que deixar de fazer, numa visão clara da rentabilidade, de se aproximar das pessoas, e exaurir delas o máximo, mas, sobretudo de ter a coragem e a força de vontade de colocar em prática, sabendo a dose certa, e nunca esquecendo que depende deles construir sua vida, escrever sua história, como família e como seres humanos ímpares. LAVARDA arremata assim:

“Eu participei com Sérgio em cursos de quarenta horas, uma semana inteira em Castro, né, eu vejo... o filho do Sérgio há poucos dias indo na formação do núcleo do pessoal fabricante de cachaça do Sudoeste e interessado em participar de todo o processo indo lá em Beltrão no SEBRAE... sempre que aparece uma oportunidade de formação ou seja o Sérgio ou seja os filhos, ou a esposa, eles não abrem mão de participar... E estão sendo inteligentes o suficiente para analisar o que é bom e o que é ruim destes cursos. O que é que eles tem que fazer para

131 aquilo dar resultado, eles tem a sensibilidade para fazer – porque até como técnico digo, as informações que as vezes a gente passa são muitas, são muitas, e se só se basear numa conversa de escritório o produtor não vai conseguir ter um bom resultado. Então o Sérgio ele consegue captar e ele como bem relacionado quando a gente vai na casa, as conversas dele consegue captar e ter sensibilidade para aprender exato... para ver do técnico aquilo que ele tem que tirar para transformar aquilo numa coisa que dê renda, que seja produtiva, né. Então eu vejo que ele tem uma boa formação porque ele sempre foi atrás dessa formação em cursos por fora, né, de outras formas, através desses cursos que estão disponíveis aí”.

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