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Esquema 3 Escala de Efetividade do PCPR II fase 2, segundo a visão dos

1 ECONOMIA SOLIDÁRIA, DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS

2.1 O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DO RIO GRANDE DO NORTE A

O papel desempenhado pelo setor público, segundo Araújo (1997), foi fundamental para o processo de industrialização do Brasil. Na região Nordeste, sua presença pode ser considerada como condição principal para explicar os rumos do crescimento econômico das últimas décadas. Foi ele quem investiu, incentivou, produziu e criou uma infraestrutura econômica e social para a região.

Para entender as mudanças do perfil produtivo do RN é preciso analisar as transformações agropecuárias e industriais, entendendo sua distribuição espacial e levando em conta as influências das políticas públicas nessa organização econômica.

Trindade (2010) descreve que a economia potiguar nos períodos da colônia e do império foi impulsionada pelos setores agropecuário e extrativo, destacando-se o sal, o algodão, o açúcar, a mandioca, a criação de bovinos, ovinos, caprinos e a cera de carnaúba. Silva (2008) também analisa que a ocupação no RN, assim como em todo o Nordeste brasileiro, ocorreu nas áreas litorâneas produtoras de cana-de- açúcar e da expansão para o interior com as grandes fazendas de gado. Baseou-se em técnicas rudimentares, com baixo nível de renovação dos processos de produção e com infraestrutura precária.

A produção de algodão na primeira metade do século XIX ocasionou mudanças importantes na economia nordestina, principalmente no RN. Apesar de

focada nos grandes produtores com a parceria de empresas inglesas, induzindo a industrialização do produto com usinas de beneficiamento, criaram-se vilas, cidades e povoações. O pequeno produtor também foi beneficiado, pois o sistema algodoeiro se adaptou às condições climáticas da região, passando a ser chamada de “a lavoura do pobre” (SILVA 2008, p. 38). Era assim chamada porque era possível plantar culturas consorciadas de milho e feijão, além do aproveitamento das ramas para a alimentação dos pequenos rebanhos, possibilitando uma cultura de subsistência, garantindo a permanência da população, além do emprego nas usinas.

As primeiras indústrias no estado, então, se organizaram das atividades agrícolas. O algodão contribuiu decisivamente para o crescimento dos investimentos na indústria têxtil, desenvolvendo a cotonicultura no estado, até a Primeira Guerra Mundial. As microrregiões do Seridó, Trairi e Oeste do estado se dedicaram ao plantio de algodão, fomentados pelos investimentos dos governos estaduais que reduziram impostos para a instalação de indústrias têxteis, abriram estradas para facilitar o escoamento da produção e construíram estações experimentais para a seleção de sementes. (TRINDADE, 2010).

Com a Primeira Guerra Mundial, a indústria têxtil passou a se concentrar na região Sudeste do Brasil. As prolongadas estiagens fragilizaram a economia do semiárido acabando por criar uma oligarquia rural que se aproveitou da seca para conquistar benefícios governamentais, iniciando assim um ciclo assistencialista das políticas públicas voltadas ao combate à seca (SILVA, 2008). Nesse período, a indústria não teve grande impacto na economia, porque a agricultura de subsistência e a criação de animais continuavam a ser o setor predominante.

Silva (2008) salienta que sobre o combate ao efeito da seca, houve na história do Nordeste um processo de institucionalização, iniciado desde 1904, com a criação da Comissão de Estudos e Obras Contra os Efeitos das Secas. Dois anos depois, foi criada a Superintendência de Estudos e Obras Contra os Efeitos das Secas e em 1909 foi criado o IOCS – Inspetoria de Obras Contra as Secas, todas refletindo o caráter técnico limitando-se aos aspectos físicos, geológicos e botânicos, ignorando os aspectos da sua estrutura socioeconômica. Em 1945 o IOCS foi transformado em DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, com a finalidade de realizar obras e serviços permanentes e desenvolver ações em situações de emergências. Foi neste período que os grandes açudes públicos foram construídos,

e os postos agrícolas de prestação de serviços agroindustriais e de assistência social e educacional foram criados.

Há de se frisar que as instituições criadas no início do século XX para o combate à seca foram historicamente, como cita Silva (2008 p. 49), “(...) capturadas pelas elites dominantes locais, caracterizando o Estado oligárquico”. As ações desses órgãos refletiam claramente a imbricação entre Estado e os interesses da oligarquia nordestina dominante. As obras, como a construção de barragens e grandes açudes serviam mais para a sustentação do gado e menos para a implantação de culturas de subsistência; as ações emergenciais serviam ao enriquecimento e ao fortalecimento do poder político dos “coronéis”, legitimando o cenário das disparidades regionais.

Até meados de 1950, as pequenas indústrias empregavam poucos trabalhadores assalariados e se concentravam no mercado local, produzindo, de forma artesanal, tecidos, velas, couro, cerâmica, chapéus, redes de dormir, bebidas e sal, concentrando-se nas regiões de Natal, Mossoró, Caicó, Currais Novos, Acari, Açu, Macau e Areia Branca. Em relação à produção voltada para os mercados de fora, se destacou as matérias-primas do algodão, sal e minérios (MONTEIRO, 2000).

A partir da segunda metade do século XX a economia norte-rio-grandense começou a passar por transformações importantes, que segundo Trindade (2010) foram marcadas pela implantação de grandes projetos de industrialização. Essas mudanças foram iniciadas pelo diagnóstico do GTDN que propôs um modelo de

desenvolvimento para a região a partir da implantação da industrialização no intuito

de substituir a antiga base agroexportadora nordestina (PINHEIRO ARAÚJO, 2007). As análises realizadas pelo GTDN, sob a coordenação de Celso Furtado, demonstraram que o Nordeste baseava-se no setor agroexportador, como a cana- de-açúcar e a pecuária extensiva, modelos avaliados pelo Grupo como incapazes de impulsionar a região rumo ao desenvolvimento. As críticas sobre as desigualdades de tratamento do Nordeste em relação às demais regiões pressionaram a criação de novas formas de atuação, fruto dos novos atores que se fortaleceram, como as ligas camponesas e os sindicatos rurais. Esses estudos apontaram como principal estratégia de desenvolvimento econômico para a região a industrialização, o reordenamento agrário e o redirecionamento dos investimentos de combate à seca.

Assim, Silva (2008) aponta que esse foi um período de planejamento estratégico voltado ao crescimento e desenvolvimento do Nordeste, com a intenção

de gerar uma mentalidade moderna para a estrutura econômica da região. Exemplo disto foi a criação do Banco do Nordeste – BNB, como agente financeiro regional de incentivo à implantação de empreendimentos industriais e agropecuários.

Entre as propostas do GTDN15 ditas capazes de reverter a situação

socioeconômica do Nordeste brasileiro estavam: a intensificação dos investimentos industriais; a ampliação das fronteiras agrícolas; a transformação da prática agrícola das regiões úmidas, visando o abastecimento dos centros urbanos e a elevação da produtividade da zona semiárida. Seguindo esse diagnóstico, vários planos diretores foram traçados e implantados pela SUDENE16 de 1962 a 1974, atuando no Nordeste com o sentido de criar uma infraestrutura econômica sólida.

Esse percurso histórico da produção e desenvolvimento do RN seguiu os padrões desenvolvimentistas aplicados em todo o país. Foi a partir da criação da SUDENE, por volta da década de 1970, que a estrutura econômica do RN se modificou, assim como em boa parte da região Nordeste. Essa mudança não ocorreu de forma homogênea, apresentando diferenças e particularidades, mas seguiu um padrão geral de desenvolvimento com a atuação de grupos sociais privilegiados (a oligarquia rural e os grupos de interesses industriais), baseados no aproveitamento dos recursos naturais disponíveis17 e na atração de capitais e de

tecnologias provindas de fora da região (FERNANDES, 2007).

Articuladas as políticas nacionais encaminhadas pela SUDENE, dois governos foram fundamentais para a transformação econômica do RN. O primeiro deles foi o governo de Aluízio Alves (1961-1965), que pode ser considerado o vetor dos grandes investimentos e da mudança da mentalidade já comentada (TRINDADE, 2010). Com recursos do governo federal, trouxe para o estado a criação das Companhias de Água e Luz – COSERN e CAERN, investimentos na comunicação com a criação da TELERN, melhorias e aberturas de estradas, atenção à educação e à cultura, destacando as políticas públicas voltadas para o

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O GTDN foi a primeira ação em prol da criação de estratégias para a mudança da realidade socioeconômica nordestina, através de um levantamento das questões regionais, entregues ao então presidente Juscelino Kubitschek, em 1957 (ALENCAR JUNIOR, 2005).

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Criada originalmente pela Lei 3.692, de 1959, a SUDENE veio substituir o modelo dos dois órgãos precedentes a ela (ALENCAR JUNIOR, 2005).

conhecimento técnico e científico com a criação das Escolas Agrícolas de Jundiaí e Ceará-Mirim.

Na área industrial, a partir dos anos de 1960, as atividades urbanas ganham espaço no ambiente econômico potiguar. Araújo (1997) diz que é neste período que empresas do porte como da Petrobrás são implantadas na Bahia e no Rio Grande do Norte, e a Vale do Rio Doce no Maranhão, impulsionadas pelos incentivos fiscais, isenção de impostos e nos investimentos das empresas estatais, passando a comandar o crescimento da produção da região.

O segundo governo foi o de Cortez Pereira (1971-1974), indicado pelo governo militar. Trouxe para o estado a implantação do projeto de assentamento rural da Serra do Mel, como uma ação de reforma agrária baseada na exploração econômica do caju, do sorgo e de culturas de subsistência. Implantou o cultivo do camarão em cativeiro com o aproveitamento das áreas de salinas e criou a primeira empresa de turismo do RN, a EMPROTUR, traçando o planejamento das obras da construção da Via Costeira (TRINDADE, 2010). A maioria dos resultados desses investimentos foi colhida no governo de Tarcísio Maia (1975-1979), que o sucedeu também por indicação do governo militar.

Silva (2008) aponta que é inegável a contribuição da SUDENE para a transformação de uma nova visão sobre o Nordeste e sobre as alternativas de

desenvolvimento, mas ela perdeu forças com a implantação da Ditadura Militar em

1964. O regime militar, com a lógica do “Brasil Grande Potência”, deixou de lado as estratégias contidas nas concepções do GTDN, pondo em prática um crescimento econômico que aumentou a concentração fundiária e de renda (PINHEIRO ARAÚJO, 2007).

É somente depois dos anos de 1970 que a agricultura se moderniza e a indústria é expandida de modo mais sistemático, com os mecanismos institucionais de apoio ao setor, promovidos pela estratégia de modernização via Plano Nacional de Desenvolvimento18. Sobre isso Pinheiro Araújo (2007, p. 7) comenta: “A partir dos anos setenta a economia norte-rio-grandense iniciou um processo de reestruturação produtiva, na qual é possível ver claramente uma mudança de perfil nas atividades produtivas”.

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Os Planos Nacionais de Desenvolvimentos – PND foram as políticas de desenvolvimento econômico implantadas pelo governo federal para todo o país, desenvolvidos de 1974 a 2002. Recebeu diversos nomes: II Plano Nacional (1974- 1979), Plano Collor (1990- 1992), Plano Brasil em Ação (1995-1999) e Avança Brasil (1999-2002) (FERNANDES, 2007).

É importante destacar que esse período do fomento a indústria também influenciou mudanças na agricultura que recebeu investimentos, buscando ampliação da produção para o mercado externo através da mecanização, com investimentos na agricultura irrigada e a fruticultura.

Silva (1999) diz que a história da produção de frutas no RN está diretamente relacionada com a agricultura irrigada. Iniciada em 1960, se deu pela iniciativa privada com os incentivos fiscais e os financiamentos públicos. Nas regiões de Mossoró o grupo Maísa se instalou com a produção de melão e castanha de caju, e o grupo Frunorte e Maia com a produção de frutas, destacando-se a produção de manga e melão.

As ações do Estado para a modernização da agricultura, neste período, intensificaram a perfuração de poços tubulares, a construção de barragens, formando os vales úmidos de Açu, Apodi e Upanema, além do cultivo do camarão, no litoral (MAIA e COSTA, 2008).

É possível ver que a agricultura modernizou-se nas microrregiões com terras férteis e garantia de disponibilidade de água, o que não aconteceu nas demais microrregiões, permanecendo a agricultura tradicional. Assim, o foco principal foi o de utilizar a industrialização das matérias-primas disponíveis nas microrregiões, como o sal, o petróleo, os minerais e a produção de alimentos para a criação de polos industriais, privilegiando algumas localidades em detrimento de outras.

Sobre as estratégias de industrialização para o RN, Fernandes (2007) diz que se pensou na criação de quatro grandes polos, todos com a justificativa da vocação dos recursos naturais. Foram eles: um Polo Têxtil Industrial, aproveitando a produção do algodão e as empresas de confecções, um Polo Scheelitífero com a proposta de instalação de uma usina metalúrgica, um Polo Químico Industrial para o aproveitamento de sal e calcário, e por último, um Polo Petroquímico para a produção do petróleo.

O Polo Têxtil ganhou impulso a partir de 1974 com os recursos do FINOR, e se manteve até a década de 1980 com a instalação de grupos nacionais como Alpargatas, Fiação Borborema, Sulfabril, Guararapes Têxtil, entre outras (LACERDA e ROCHA, 2011). Apesar das empresas locais não conseguirem sobreviver à realidade competitiva do setor, o Polo Têxtil potiguar modernizou-se trazendo várias outras empresas. Elas se beneficiaram dos incentivos fiscais, da localização geográfica em relação à Europa e Estados Unidos, além da infraestrutura que já

existia. Empresas como Hering, Vicunha, Coteminas e Linhas Correntes fizeram parte deste parque industrial, concentrando-se nas áreas em torno da capital e nas principais cidades do Seridó.

O Polo Scheelitífero possui como matéria-prima a scheelita, de onde se extrai o tungstênio, componente empregado na fabricação de aço especial, materiais elétricos e catalisadores químicos. Desde os anos de 1943 que o minério é extraído na região do Seridó, na cidade de Currais Novos, impulsionada pela indústria bélica e automobilística. Lacerda e Rocha (2011) apontam que a primeira multinacional a se instalar foi a Anglo-American, depois vieram a Tomas Salustino S. A., a Tungstênio do Brasil e a Acauan. Todas como mineradoras, exportando o produto no seu estado bruto, sem a preocupação com seu beneficiamento. A concorrência com a China enfraqueceu o setor e as dificuldades de investimentos para o beneficiamento da scheelita estagnaram o setor no RN.

O Polo Químico Industrial, segundo Lacerda e Rocha (2011), tiveram como objetivos principais alavancar a produção de bens intermediários. Criada em 1975, a estatal Alcanorte se fixou na cidade de Macau com a coparticipação de um grupo holandês, o AKSO, instalando a fábrica de barrilha. Em 1992 ela é privatizada com a justificativa de que a iniciativa privada traria o tão esperado parque industrial químico, o que não ocorreu.

O Polo Petroquímico foi pensado para a extração e beneficiamento do gás e sal da região. A mecanização das salinas ocorreu na década de 1960 através de investimentos estrangeiros, tornando-se uma das principais indústrias da mesorregião Oeste do estado (PINHEIRO, 2006). Somente na década de 1990, com o apoio da Federação de Indústrias do Estado, do CNI – Confederação Nacional das Indústrias, do governo do estado e da Petrobrás esse setor se desenvolveu. Segundo dados do FIERN (2014), os investimentos produtivos do setor Gás/Sal estão ligados ao setor petroquímico com a utilização do hidrocarboneto do petróleo, e ao setor químico com a utilização do gás natural, do sal, das águas das salinas, do calcário e a da sílica.

Fernandes (2007) avalia que, como condição histórica, as dificuldades da economia nacional e internacional dos anos de 1980 inviabilizaram a maioria das tentativas apresentadas. Esse foi o período de retração da produção, provocando o descontrole da inflação, baixos salários e o aumento do desemprego, estagnando a

economia. Somente a indústria Petroquímica e a salineira sobreviveram de modo eficiente, com a ajuda dos financiamentos estatais e do capital internacional.

Como consequência da centralização das principais indústrias em algumas cidades do estado, uma grande parte da população rural foi atraída para os centros urbanos em busca de trabalho e salários. Segundo Pinheiro (2006), os espaços urbanos se modificaram com o avanço da indústria, em especial, a cidade do Natal a partir de 1967 e a cidade de Mossoró em 1975. “As demais cidades potiguares não apresentaram planos urbanísticos e praticamente não sofreram alterações em seus contornos urbanos” (PINHEIRO2006, p.81).

Estes indicadores urbanos ajudam a comprovar que o desenvolvimento econômico acabou setorizado, fracionando o espaço territorial do RN. Pinheiro (2006) diz que o processo de urbanização entendido como a reestruturação campo- cidade não avançou no RN como em outros estados do Nordeste. Aqui, o mundo agrário não passou por grandes transformações. Sobre isso Carvalho (2003) diz que o semiárido foi a região que menos se transformou, pois grande parcela dessa região tem sobrevivido das políticas de transferências como os fundos de participação dos Estados e municípios e das aposentadorias, responsáveis pela dinamização das economias locais. O autor denomina esta situação de “economia sem produção” (CARVALHO, 2003). No RN, os investimentos na modernização agrícola favoreceram o agronegócio com projetos agrícolas privados, como o caso da implantação da agricultura irrigada do Baixo-Açu e da fruticultura para exportação, além da modernização do parque salineiro no Oeste Potiguar, deixando intocada a estrutura fundiária.

Diferentemente de outras regiões nordestinas como o Ceará, que teve o mercado como o condutor do desenvolvimento industrial, no RN foi o Estado quem assumiu esse papel (FERNANDES, 2007). Como ator central da modernização no RN, o Estado investiu em grandes obras como a construção de açudes, da estrada de ferro e rodagem, de maquinaria para o meio rural, incentivando a agricultura irrigada (fruticultura), o cultivo do camarão e o apoio à pecuária.

Fernandes (2007) dá como exemplo vários setores que tiveram financiamentos públicos para alavancar a produção: a pecuária, beneficiada com o programa de distribuição do leite, onde quem detém as fazendas de gado e os espaços de beneficiamento são os agentes econômicos locais; o mesmo aconteceu com o cultivo do camarão em viveiros, que se organizou em torno dos agentes

econômicos locais, bancados inicialmente com os recursos do Estado; e com o turismo, com a doação pelo Estado de valiosos terrenos do litoral como a Via Costeira em Natal, além de financiamentos para a construção de hotéis.

É preciso levar em consideração que esses grupos econômicos locais não conseguiram manter a indústria moderna no estado, ficando a cargo das empresas multinacionais que se concentraram na mineração, na indústria têxtil, química e salineira, eliminando os empresários locais e nacionais do controle desses setores. Isso se deu pela falta de investimentos dos grupos locais em pesquisa e tecnologia, ficando na dependência tecnológica de fora. Segundo Fernandes (2007), a única exceção está na indústria de gás e petróleo que se desenvolveu como indústria nacional estatal, atuando como um vetor de desenvolvimento de pesquisas e transferência de tecnologias.

Após esta apresentação histórica, pode-se dizer que, no aspecto econômico, as políticas de modernização da agricultura e da implantação da indústria no RN tiveram êxito, pois trouxeram avanços tecnológicos e conquistaram o mercado internacional. Contudo, no aspecto social mantiveram em seus arredores, formados pelas populações e pelos trabalhadores rurais, um estado de pobreza. Os dados publicados em 1995 pelo Instituto de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte demonstraram que 46% das famílias do estado eram consideradas indigentes, significando que mais de um milhão de pessoas viviam no estado de privação alimentar, com renda para apenas uma cesta básica (FERNANDES, 2007).

Quando se analisa a participação da população rural no percurso dessas transformações e no próprio impacto que elas causaram na vida desses trabalhadores, percebe-se que houve uma grande concentração das decisões nas mãos do poder político oligárquico, deixando intacta a estrutura fundiária. Desta forma, pode-se dizer que o modelo de modernização implantado no Nordeste canalizou as ações políticas para a industrialização e modernização agrícola sem alterar a estrutura agrária vigente.

Araújo (1997) e Fernandes (2007) apontam em seus estudos que o processo de industrialização no Nordeste caminhou como uma ação complementar ao processo que acontecia no Sudeste. Os esforços da SUDENE de formar um processo independente, formulado pelos estudos do GTDN, não aconteceram a contento. Encontra-se no Nordeste áreas de polos industriais como o complexo petroquímico de Camaçari, o polo têxtil e de confecções de Fortaleza, a agricultura

irrigada do médio São Francisco, o moderno polo de fruticultura do Rio Grande do Norte, além da indústria do turismo no litoral nordestino, em contraposição à agricultura familiar e à produção rudimentar dominada pelo complexo pecuário e de agricultura de sequeiro, constituindo um Nordeste que até então não existia (ARAÚJO, 1997).

O dinamismo econômico do RN, assim como no Nordeste, convive com diversos subespaços dotados de estruturas econômicas modernas e ativas, e em paralelo, os espaços rurais com a agricultura rudimentar. Contudo, é preciso ter cuidado ao afirmar que não houve o desenvolvimento esperado. O principal viés da análise dessa tese é enxergar o desenvolvimento para além dos aspectos