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2.4 Processo de Trabalho em Saúde

2.4.1 Processo de Trabalho na Enfermagem

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profissionais, organizando-se como profissão sob o modo capitalista de produção, pois

Florence Nightingale cria um modelo de formação e de prática assistencial que se

difunde pelo mundo todo. Sendo assim, a enfermagem desenvolve sua prática no

espaço institucional, hospitalar e posteriormente em ambulatório, integrando o

trabalho coletivo em saúde (PIRES, 1998, p. 85).

Desde o início de sua História, a enfermagem é responsável pelo cuidado

prestado ao usuário. No modelo biomédico, no qual a enfermagem se pautou ao longo

dos anos, o ser humano não era considerado um ser integral, mas como partes de um

todo. Em passos lentos, a enfermagem vem buscando um novo olhar do ser humano,

abordando-o na sua integralidade.

O trabalho da enfermagem é composto por uma equipe de profissionais, os

enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, de acordo com a Lei do Exercício

Profissional de Enfermagem – LEP 7498/86, a qual mantém as características básicas

de cisão entre o saber e o fazer, que surgem com a organização da enfermagem

enquanto profissão (PIRES, 1999, p. 40).

Dentro das atividades privativas do enfermeiro, estão a prestação de cuidados

de enfermagem de maior complexidade técnica e que exigem conhecimento de base

científica e capacidade de tomar decisões (PIRES et al, 1999).

Cabe ao enfermeiro, também, controlar o processo de trabalho, delegando aos

demais trabalhadores de enfermagem suas tarefas. Em muitas instituições de saúde a

organização do trabalho se divide em: Cuidados integrais e Cuidados funcionais.

Nos cuidados funcionais, desenvolvem um trabalho rotineiro, por tarefas, sem a

preocupação de olhar o usuário como um todo, dificultando a integração. Nos

cuidados integrais, rompe-se em parte, com a divisão por tarefas. Os trabalhadores

percebem o usuário como um todo, pois ficam responsáveis pelo atendimento integral.

Na enfermagem, há mais ou menos dez anos, alguns profissionais vêm se

preocupando em mudar o trabalho fragmentado, instituindo os “cuidados integrais”

nas unidades assistenciais, o que favoreceram mudanças de comportamento, atitudes e

um diferencial na assistência prestada ao usuário, proporcionando deste modo

qualidade no trabalho (PIRES, 1999, p.40-41).

os trabalhos que não geram riqueza, e não dão retorno financeiro imediato, além de

exigir investimento, a exemplo do trabalho da saúde, são pouco valorizados e

conseqüentemente pouco remunerados.

Para que o trabalho da enfermagem tenha reconhecimento, fazendo o

diferencial na realidade atual e possa contribuir para transformação do ser humano

individual e coletivo, é necessário propor tecnologias de impacto. Para Leopardi et al

(1999, p. 20-21), o impacto seria possível em diferentes níveis:

a) campo do curar, fundamentado numa atuação mais direta sobre o corpo e o psiquismo, que necessita de técnicas, métodos e processos clínicos atualizados;

b) campo do cuidar, fundamentado na ação sobre necessidades, expressas pelos indivíduos e que necessitam de técnicas, métodos e processos específicos que atendam demandas por vínculos mais próximos entre terapeuta e enfermo, num clima interativo;

c) campo do educar/orientar, área de ação informativa e formativa, que permite a instrumentalização dos indivíduos na tomada de decisão sobre sua vida, incluindo os momentos terapêuticos, necessitando de técnicas, métodos e processos educacionais baseadas na dimensão de cidadania;

d) campo do organizar, área de decisão, planejamento, controle e avaliação sobre materiais, tempos e movimentos de trabalhos específicos. Abrange também áreas da vida grupal, na perspectiva da participação e controle social sobre o cuidado e a cura.

O trabalho da saúde engloba muitas ações que diferenciam dos outros trabalhos,

além do que, todas as ações são direcionadas ao ser humano. Leopardi et al (2001,

p.41) afirmam que o processo de trabalho na enfermagem se constitui de ações da

enfermagem e compreendem diferentes processos de trabalho, muitas vezes

articulados, quais sejam: “cuidar”, “gerenciar” e “educar”.

O profissional da enfermagem às vezes não percebe que em sua rotina de

trabalho articula o cuidar, o gerenciar e o educar, o que acaba repercutindo em

mudanças positivas no processo de trabalho. De acordo com Leopardi et al (2001,

p.41):

a) processo de trabalho–cuidar: caracteriza o trabalho da enfermagem. A enfermagem preocupa-se com as necessidades de manutenção da saúde como condição da natureza do ser vivo. Dentre os seres vivos, os seres

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humanos necessitam, para atender das suas necessidades de saúde, que os profissionais tenham a habilidade de interá-lo, acolhê-lo, olhando-o como único e integral. Ramos (1998), destaca que: talvez na busca do “corpo inteiro e real”, possamos iniciar, não negando o corpo doente ou tentando superá-lo, mas compreendendo–o, principalmente, em sua vulnerabilidade ante nosso saber e nossas instituições assistenciais, numa aguda consciência deste poder e da possibilidade de um cuidado terapêutico e ao mesmo tempo ético.

b) processo de trabalho–gerenciar: organização do processo de cuidar, tanto em nível individual, quanto coletivo. O enfermeiro realiza o gerenciamento do espaço, dos tempos e das pessoas. Por meio da educação continuada, prepara-se o trabalhador para o cuidado, buscando-se uma melhor qualidade da assistência, não devendo incidir apenas sobre o aperfeiçoamento técnico, mas possibilitar ao sujeito trabalhador, também, resgatar sua autonomia, sua cidadania, sua capacidade de responder sobre seus atos;

c) processo de trabalho–educar: é um processo de trabalho dirigido para a transformação da consciência individual e coletiva de saúde, de modo que as pessoas possam fazer escolhas. O ato assistencial institucional em saúde, deve ser realizado por profissionais comprometidos e competentes, desenvolvendo atividades de promoção, prevenção e reabilitação dos usuários do sistema de saúde.

Para Pires (1998, p. 161), o processo de trabalho dos profissionais da saúde tem

como finalidade – a ação terapêutica de saúde; como objeto – o indivíduo ou grupos

doentes, sadios ou expostos a risco, necessitando medidas curativas, promover a saúde

e prevenir a doença; como instrumento de trabalho - o saber de saúde e o produto final

– assistência de saúde.

Percebe-se que o trabalho em saúde não acontece de forma interdisciplinar, o

que gera fragmentação no processo da assistência em saúde, pois muitos profissionais

fazem parte desse processo sem integração de saberes, conhecimentos, habilidades e

práticas.

Pires et al (1999, p.32) colocam que “os trabalhadores profissionais em saúde,

apesar de suas especificidades de conhecimentos e de prática, são parte do conjunto

que resulta na assistência a seres humanos que são totalidades complexas”.

Atualmente há uma grande mudança de atitudes, conhecimento, globalização

das informações, favorecendo aos usuários conhecimentos de seus direitos enquanto

cidadãos. Portanto, os profissionais de enfermagem devem avançar seus

conhecimentos científicos e técnicos, e prestar “cuidado integral” ao ser humano que

estiver sob seu cuidado.

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