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Processo eleitoral para a diretoria dos grêmios estudantis

5 O TRABALHO DE CAMPO: OS GRÊMIOS ESTUDANTIS DAS

5.1 O MAPEAMENTO

5.1.1 Processo eleitoral para a diretoria dos grêmios estudantis

Com os dados das primeiras aproximações com os grêmios estudantis em mãos, e considerando como ação todas aquelas que os entrevistados afirmaram terem sido desenvolvidas em 2017 pelas diretorias gremistas e que, de alguma forma, beneficiaram os estudantes representados, procedemos à classificação, com o seguinte resultado:

Quadro 3 – Classificação dos grêmios de acordo com as categorias de análise

CATEGORIAS GRÊMIOS COM

ELEIÇÃO E COM AÇÃO DESENVOLVIDA

GRÊMIOS SEM ELEIÇÃO

E COM AÇÃO

DESENVOLVIDA

GRÊMIOS SEM ELEIÇÃO

E SEM AÇÃO

DESENVOLVIDA

DESCRIÇÃO Grêmios estudantis em

que as eleições para sua diretoria estejam ocorrendo de acordo com seus estatutos e que desenvolveram algum tipo de ação no ano de 2017.

Grêmios estudantis que não elegem suas diretorias como está previsto no estatuto, entretanto desenvolvem ações no ano de 2017.

Grêmios estudantis que não têm uma diretoria eleita conforme seu estatuto e nem desenvolveram ações em 2017.

ESCOLAS EMEF E; EMEF F;

EMEF G; EMEF L; EMEF M. EMEF B; EMEF D; EMEF H; EMEF I; EMEF J. EMEF A; EMEF C.

Fonte: elaborado pelo autor (2018)

fato de que em sete escolas não ocorreram, em 2017, eleições para a diretoria do grêmio estudantil. Em todos os estatutos a que tivemos acesso – onze das doze escolas pesquisadas – está previsto que o mandato da diretoria dos grêmios estudantis é anual, ou seja, há necessidade de que as eleições aconteçam todo ano; entretanto, não é o que vem ocorrendo na maioria das escolas pesquisadas.

Pelo quadro acima é possível visualizar que o fato de não ocorrer eleições, em 2017, não impediu a realização de ações pela diretoria do grêmio estudantil. Em cinco escolas em que as eleições não foram realizadas, os gremistas afirmaram terem desenvolvido ações que, de alguma forma, beneficiaram os alunos da escola. Entretanto, pudemos observar, nas falas dos entrevistados, que a falta do processo eleitoral gerou obstáculos à atuação dos estudantes por meio dos grêmios estudantis. As unidades de ensino “A”, “C”, “H” e “J”, por exemplo, não possuem mais nenhum membro da diretoria do grêmio estudantil matriculado na escola; todos já saíram. Já nas unidades “D” e “I”, a diretoria funciona com menos da metade dos integrantes previstos em estatuto. Os estudantes, então, estavam com sua representação gremista enfraquecida ou inexistente.

E não apenas nessas escolas, a representação estudantil estava enfraquecida. Na EMEF “B”, em que a maioria dos membros da diretoria gremista se mantinha na escola, apesar de não ter acontecido eleição em 2017, e nas escolas “F” e “M”, que realizaram eleições para a direção do grêmio estudantil naquele ano, a representação dos interesses discentes, de acordo com relatos dos próprios gremistas e de outros estudantes, ficou comprometida e não atendeu às expectativas dos alunos. O estudante entrevistado da EMEF “M” afirmou que, durante a campanha, os candidatos estiveram muito próximos dos alunos, perguntando o que queriam que fosse feito na escola; mas, depois da eleição, o entrevistado afirma que não conseguiram fazer nada. O diretor gremista da mesma escola afirma que conflitos internos, a desunião dos gremistas e as proibições da equipe gestora da escola impossibilitaram o desenvolvimento mais efetivo das ações requeridas.

A partir das análises dos dados que conseguimos levantar nesse primeiro contato com os grêmios estudantis das escolas municipais da Serra (ES), podemos afirmar

que, após as eleições, há um distanciamento entre os membros da diretoria gremista e os alunos representados, como se o grêmio estudantil fosse formado apenas por sua diretoria. Nenhum estudante entrevistado sabia o que era a Assembleia Geral ou o Conselho de Representantes de Turma, apesar de essas instâncias deliberativas constarem em todos os estatutos consultados. Elas garantem que a maioria dos alunos participe das decisões e dos planejamentos do grêmio estudantil; entretanto, no ano de 2017, não funcionaram em nenhuma das escolas pesquisadas. Tal situação precisa de uma maior investigação, o que será feito na próxima fase da nossa pesquisa. Todavia, arriscamo-nos a afirmar que ela pode ter relação com os processos eleitorais que, quando acontecem, não estão sendo suficientes para que os alunos entendam que os membros eleitos são representantes de seus interesses e que grêmio estudantil é formado por todos os alunos da escola.

O processo eleitoral não é apenas uma burocracia do funcionamento dos grêmios estudantis ou somente o momento de escolher os representantes. Defendemos que, dentro de uma democracia representativa como a nossa, o período de eleição contribui para o incentivo a importantes discussões relativas aos interesses dos representados. No caso dos grêmios estudantis, potencializar tal período contribui para que os estudantes debatam suas necessidades e ideias, amadureçam seus posicionamentos frente às condições das escolas, reconheçam-se enquanto segmento com posicionamentos próprios e compreendam o funcionamento de um aspecto importante do nosso sistema democrático: a escolha dos nossos representantes.

Na perspectiva que sustentamos para o trabalho com os grêmios estudantis – de que eles se constituem enquanto entidades representativas dos interesses discentes e enquanto lócus privilegiado de formação dos estudantes – o período eleitoral se constitui num momento importante do processo, exatamente por contemplar os dois aspectos mencionados acima. Enquanto entidade representativa dos interesses discentes, os grêmios estudantis têm, em seus períodos eleitorais, um potencial espaço para a construção conjunta de propostas que representem as necessidades dos alunos de cada unidade de ensino, podendo criar estratégias para que cada chapa concorrente construa coletivamente propostas coerentes com as perspectivas

dos estudantes que serão representados. Além disso, esse momento possui grande potencial para que os alunos candidatos, e mesmo os que apenas irão votar, analisem a situação da escola e seu contexto, com o objetivo de propor ações eficientes e que possam caminhar em direção a uma participação mais efetiva dos alunos nos espaços de decisão da escola. Assim, o processo eleitoral pode potencializar o caráter de representatividade dos grêmios estudantis.

Além do mais, tal processo contribui para que os estudantes entendam na prática uma parte do nosso sistema democrático que diz respeito à formação das chapas, às campanhas eleitorais, à escolha dos candidatos, à apuração dos votos e aos recursos que podem ser impetrados em caso de irregularidades constatadas. É um momento que também possui um caráter formativo e que pode viabilizar a apropriação de conhecimentos importantes, por parte dos alunos, relativos ao nosso sistema democrático. Defendemos que, ao participar ativamente do grêmio estudantil e dos processos que o envolvem, os estudantes têm possibilidade de se apropriarem de conhecimentos a respeito do nosso processo democrático e se objetivarem nas ações atreladas a tal atividade.

Duarte (2013) afirma que “[...] a relação entre os processos de objetivação e apropriação constitui a dinâmica fundamental da formação do gênero humano e dos indivíduos” (p. 21) e que tal relação produz transformações das necessidades humanas e, consequentemente, transformação da realidade. O ser humano revoluciona o mundo material a partir de necessidades que são criadas por ele, numa relação dialética com a realidade em que vive. Essa nova necessidade se cria a partir da vivência do mundo material, ela não é criada unicamente por um exercício mental de imaginação de novas possibilidades. Entretanto, não é somente a partir da vivência que essas novas necessidades vão sendo criadas. Para isso, o ser humano precisa se apropriar dos conhecimentos sistematizados pela humanidade e precisa se objetivar na realidade vivida, ou seja, ele aprende formas de atuar sobre a realidade, atua sobre essa realidade, constrói-se enquanto indivíduo e cria novas necessidades frente a essa realidade vivida. A partir dessas novas necessidades, ele revoluciona a realidade. Lembrando que o ser humano é um ser social e por isso todo esse processo se dá de forma coletiva e em contextos históricos específicos.

Defendemos que a apropriação do conhecimento se faz ao vincular educação e trabalho, ao aliar teoria e prática. Della Fonte (2014) contribui para entendermos a importância do trabalho no processo educativo

O trabalho é, portanto, uma ação corporal intencional e, como tal, envolve a plenitude das capacidades intelectuais e sensitivas do ser humano. É este agir corporal transformador que mobiliza e demanda o pensar, isto é, a construção da consciência. A atividade de pensar não é concedida ao ser humano por um ser fora dele. É a própria materialidade corporal o substrato da capacidade racional (DELLA FONTE, 2014, p. 389).

Entendemos, então, que é a partir da ação sobre a realidade que o estudante mobilizará suas “capacidades intelectuais e sensitivas” para alcançar os objetivos a que se propôs. É nessa relação de apropriação e objetivação que reside a importância em aliar processos educativos à prática social. No caso específico dos grêmios estudantis, oportunizar que os alunos atuem em tais entidades cria condições reais para que os estudantes compreendam a nossa democracia a partir da sua vivência em uma entidade representativa. Nesse sentido, a atuação por meio dos grêmios estudantis possibilita aos estudantes se apropriarem de conteúdos relativos ao modelo democrático vigente em nossa sociedade.