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Processos de Escolarização do Estudante com Deficiência Intelectual

SESSÃO I – A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL – Aspectos Conceituais, Legais e

1.5 Processos de Escolarização do Estudante com Deficiência Intelectual

O conhecimento serve para encantar as pessoas. Não para humilhá-las.

Mário Sérgio Cortella

De acordo com a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, a escolarização do estudante com deficiência intelectual, na escola regular, está garantida legalmente. Isso não significa que sua aprendizagem está garantida também, uma vez que ele muitas vezes está apenas matriculado. As escolas desenvolvem as suas propostas de trabalho de acordo com o que acreditam, umas com uma visão mais inclusiva, outras nem tanto.

Para se propor um projeto pedagógico que atenda às diferenças, inicialmente, a escola precisa fazer um diagnóstico do seu público, delineando o perfil de seus estudantes, ou seja, verificando quem são e quantos são os alunos, onde estão, e porque alguns evadiram, quais as dificuldades de aprendizagem mais frequentes, os obstáculos para o estudante frequentar às aulas entre outros. Assim como também verificar os recursos materiais, humanos e financeiros disponíveis na instituição de ensino.

Esse é um projeto que abrange todos da escola, com objetivos, obrigações, metas e responsabilidades diferentes, porém destina-se a todos os envolvidos no processo.

Mantoan (2007) ainda ressalta que a aprendizagem é o centro das atividades escolares e o sucesso dos estudantes é meta da escola independentemente, do nível de desempenho que cada um possa atingir. Acolher as diferenças não se trata apenas de aceitá-las com suas possibilidades, mas a receptividade diante dos diferentes níveis de desenvolvimento das crianças e dos jovens.

[...] a inclusão não prevê a utilização de práticas de ensino escolar específicas para esta ou aquela deficiência, mas sim recursos, ferramentas, tecnologias que concorram para diminuir/eliminar as barreiras que se interpõem aos processos de ensino e de aprendizagem. (MANTOAN, 2007, p. 49)

Uma educação para todos necessita ser aberta, com atividades diversificadas que possam ser abordadas por diferentes níveis de compreensão, de conhecimento e de desempenho e, não, que se evidenciem apenas os que sabem mais e os que sabem menos. As atividades precisam ser escolhidas pelos estudantes, trabalhadas de forma a explorar ao máximo as possibilidades e os interesses de cada um.

Estratégias como debates, pesquisas, entrevistas, registros orais, escritos, fotografados, desenhados e filmados, observações, vivências são alguns processos pedagógicos que viabilizam a participação de todos os estudantes e ainda oportunizam a elucidação de conteúdos importantes a serem aprendidos.

Os estudantes de forma geral e sobretudo os com deficiência intelectual provavelmente não vão aprender da mesma forma e nem no mesmo tempo do que os outros colegas, porém eles poderão se beneficiar da convivência social e da troca de conhecimentos, segundo suas possibilidades intelectuais, emocionais e afetivas.

Por meio dos estudos aprofundados que fizemos identificamos que o trabalho de escolarização que a escola desenvolve junto ao estudante com deficiência intelectual é carregado de mitos, como por exemplo, o desafio da alfabetização desse estudante. A leitura e a escrita como fatores determinantes para aprovação e reprovação educacional. As ações pedagógicas são pensadas para todos de uma forma geral, sem considerar as especificidades, quando são viabilizadas para o estudante com deficiência intelectual em sua grande maioria são empobrecidas e o conteúdo minimizado. Nos últimos dez anos, a maioria das escolas públicas vem desenvolvendo o trabalho com a criança com deficiência intelectual na sala regular e na sala de recursos multifuncionais, com Atendimento Educacional Especializado – AEE.

Esse atendimento foi estabelecido pelo Governo Federal por meio do Decreto nº. 6571/2008, o Atendimento Educacional Especializado.

Art. 1o A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas

públicos de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na forma deste Decreto, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular.

§ 1º Considera-se atendimento educacional especializado o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular.

§ 2o O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta

pedagógica da escola, envolver a participação da família e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas.

O Ministério de Educação - MEC desenvolve e trabalha na divulgação da política da educação inclusiva que propõe a modificação do Ensino Regular e da Educação Especial, nesse sentido são implementadas e implantadas diretrizes para ações que levem até as escolas o Atendimento Educacional Especializado (AEE), oferecendo, aos alunos com deficiência, a complementação, da sua formação ou a suplementação para os alunos com altas habilidades ou superdotação. O Atendimento Educacional Especializado não é substituição e nem reforço do ensino regular, nem da educação especial da qual é apenas um dos seus serviços.

O Atendimento Educacional Especializado deve ser realizado na sala de recurso multifuncional; preferencialmente, na escola que o aluno frequenta, em turno oposto ao da sua turma comum.

O professor dessa sala é responsável em selecionar recursos e técnicas adequados a cada tipo de comprometimento para o desempenho das atividades escolares. O objetivo principal desses atendimentos é que o aluno seja capaz de melhorar a sua comunicação, sua mobilidade e, consequentemente, a aprendizagem. Também visa possibilitar ao professor do ensino regular e ao professor do AEE um trabalho harmonioso em favor da inclusão e da qualidade de vida dos estudantes como um todo.

Como já dissemos anteriormente, o trabalho do ensino regular com o atendimento educacional especializado precisa estar em constante harmonia para ajudar os estudantes a ultrapassarem as barreiras encontradas em relação às suas deficiências. As barreiras da deficiência intelectual se encontram em como o educando lida com seus conhecimentos, como ele constrói sua bagagem cultural, enfim, a maneira como lida com o saber em geral.

A educação do estudante com deficiência intelectual necessita de empenho no sentido de que o mesmo tenha condições de sair do automatismo, ou seja, para que ele ultrapasse as atividades mecânicas e chegue a um outro patamar, da independência e da autonomia. Lutar contra o sentimento de inferioridade que é o primeiro e básico ponto de toda educação. Não se pode permitir que esse sentimento se desenvolva e apodere da criança, e a leve a forma de compensações frustradas, inadequadas e negativas em relação à aprendizagem. Desenvolver atividades em que o sujeito possa opinar, optar, selecionar os meios que julgar mais convenientes para agir intelectualmente, emocionalmente, enfim, como sujeito aprendente.

Para as pessoas com deficiência intelectual a acessibilidade não está nos suportes externos ao sujeito, mas está na mudança de posição passiva e mecânica diante da aprendizagem para o acesso e a construção ativa do próprio conhecimento.

As pessoas que não têm deficiência intelectual constroem seus conhecimentos por meio de práticas e vivências de interação com os objetos e com o mundo. Fazem as projeções, interligações, comparações, julgamentos, estabelecem sentidos, enfim, todas as atividades específicas dos seres humanos, como o simples estar em contato com o conhecimento. Já para as pessoas com deficiência intelectual só essa interação não basta, é necessário descobrirmos qual o ponto de interrupção da informação e desse conhecimento.

O estudante com deficiência intelectual, como qualquer outro, necessita desenvolver sua criatividade8, a capacidade de conhecer o mundo por si só, não pelo que o outro pensa. Vigotski (1998, p. 7) “salienta que as bases para esta capacidade de criação estão na combinação da experiência acumulada com o novo, alavancada pela necessidade da adaptação”. O nosso maior engano é subestimar as capacidades desses estudantes, escolhendo o caminho que julgamos mais fácil para ele percorrer, sem deixar que ele próprio se conscientize da necessidade do aprendizado e faça suas escolhas. Por isso, é de fundamental importância o significado dessa aprendizagem para cada um, isto é, atividades que sejam significativas e que sejam relacionadas com a história desse sujeito. Tais atividades/experiências oportunizadas darão origem aos sentidos. Estes sentidos

8 O cérebro não se limita a um órgão capaz de conservar ou reproduzir nossas experiências passadas, é também um órgão combinador, criador, capaz de reelaborar e criar com elementos de experiências passadas novas normas e planejamentos. [...] É precisamente a atividade criadora do homem que faz dele um ser projetado para o futuro, um ser que contribui a criar e que modifica seu presente (VYGOTSKI, 1998, p. 09).

serão fonte de recorrência para compreensão do mundo, logo para a aprendizagem escolar.

Para melhor compreender como acontecem as inter-relações do aprendizado do estudante com deficiência intelectual e o trabalho pedagógico do professor com tal público, recorreremos, a seguir, à Teoria Histórico Cultural de Vigotski que será apresentada na próxima sessão.