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CAPÍTULO 3 LIMITES E DESAFIOS DA FORMAÇÃO PARA O TRABALHO DO

3.2. Os processos de formação e dependências

Os agricultores, de uma forma geral, acabam dependendo das políticas do Estado e têm muita dificuldade em fazer a discussão sobre o que significa essa relação em ter- mos de futuro, pois, sendo o Estado uma estrutura burguesa e que alimenta-se de rela- ções de poder de classe que favorecem as elites, no momento em que essas políticas não interessarem mais às elites, como será a sustentação econômica dos espaço produtivos que não conseguiram criar meios autônomos de sobrevivência? Além da questão eco- nômica, deve-se colocar em discussão os resultados conquistados pelos agricultores familiares que atendem às necessidades das elites e não da classe trabalhadora no senti- do de garantir alimentação barata e com padrões de qualidade agroecológicos.

Ao mesmo tempo em que o camponês busca a superação de suas dificuldades para distribuir seus produtos, também produz uma infinidade de armadilhas no esforço de sobrevivência quando seu alvo é o mercado capitalista. Um dos movimentos que acon- tecem no sentido de gerar formas de sobrevivência está intimamente ligado a formação para o trabalho e, em especial a formação política para as lideranças.

Aqui cabe fazer uma pontuação a respeito de como se conduz esse processo. En- quanto assessores do CIEPS, chegamos a convicção de que a emancipação econômica das famílias camponesas passa pela capilarização do conhecimento como caminho para a formação da consciência. Por meio da apropriação do conhecimento e o entendimento de seu papel na sociedade, de sua história, é que será possível ao camponês estruturar os movimentos de resistência e caminhar no sentido da emancipação. Assim, em um grupo de camponeses, quanto mais trabalhadores tiverem essa possibilidade, mais condições favoráveis estarão disponíveis para tomar as rédeas de seu futuro.

Sabemos que é um desafio para os trabalhadores superar as dificuldades de for- mação e assistência técnica, pois cotidianamente se deparam com exigências cada vez mais complexas no que diz respeito ao processo autogestionário de seus espaços produ-

80 tivos, e também temos claro que é necessário combinar os processos educativos com perceptíveis melhorias nas condições de vida desses camponeses.

Os movimentos de resistência que almejam a emancipação humana acumularam um significativo acervo de conhecimento e experiências de formação, de assessoria téc- nica, nos processos culturais, de relacionamento político, mas temos claro que pontual- mente existem muitos problemas a serem superados.

Durante essa convivência no CIEPS, nos processos de assessoria aos grupos incu- bados, foi possível perceber que há uma disputa entre os trabalhadores em relação a hegemonia política do próprio movimento. Assim, foi possível identificar um posicio- namento de grupos que defendem a ideia de que não funciona a formação de replicado- res de conhecimento, e para isso são apresentadas uma série de motivos empíricos e que não se comprovam como padrão real. Uma das reclamações das lideranças dos movi- mentos é que não funciona a lógica de passar informação para uma pessoa que depois irá repassar nas comunidades, porque a pessoa não terá competência para tanto, não terá tempo, e a mesma desenvoltura intelectual que os acadêmicos. O que está por trás desse ponto de vista é a clareza de que, quando uma pessoa ou um grupo de pessoas têm aces- so a informação ela ganha espaço, inclusive para questionar a própria liderança. É fato que a formação leva o sujeito social ao primeiro passo da organização da resistência, que é a sua libertação enquanto indivíduo, assim, é visto como uma ameaça para as frá- geis lideranças que, ou não percebem que o seu processo foi exatamente esse, ou têm a ciência disso, e trabalham para não perder seus postos de destaque na comunidade. Essa questão política é um dos elementos que compõem o campo das contradições dos traba- lhadores camponeses na luta pela ampliação e busca da unidade da organização dos movimentos de resistência. Mas é um problema que deve ser enfrentado.

Portanto a inserção e a solidificação de princípios solidários, de práticas e saberes populares que apontem para a superação desses problemas são imprescindíveis na ela- boração de propostas de formação para o trabalho desses camponeses, pois é por meios de práticas solidárias construídas nas relações políticas entre esses seres políticos é que se construirá o respeito as diversidades.

Esses conhecimentos que emergem da economia solidária se manifes- tam no enfrentamento dos problemas desde o chão do trabalho nos es- paços domésticos, públicos e no território, considerando a multiplicida- de de motivações e aspirações indentitárias e simbólicas em prol de um mundo melhor e uma vida mais digna (DUBEUX, 2012, p.69).

81 Então é necessário que, nesse processo de disseminação de saberes, tenha-se a cla- reza de que se trata de grupos de trabalhadores que se sentem explorados e oprimidos e devem superar essas dificuldades com uma prática social que de fato seja solidária.

O documento que apresenta uma séria de recomendações para os processos de e- ducação na Economia Solidária, produzido pela Secretaria Nacional de Economia Soli- dária

(SENAES) afirma que:

Resolução 74. “A educação em economia solidária é definida como uma “construção social” que envolve uma diversidade de sujeitos e a- ções orientados para a promoção do desenvolvimento sustentável, con- siderando as dimensões econômica, ambiental, cultural, social e políti- ca. A economia solidária reconhece o trabalho como princípio educativo na construção de conhecimentos e de outras relações sociais. Assim, as ações político-pedagógicas inovadoras, autogestionárias e solidárias, são fundamentadas na perspectiva emancipatória de transformação dos sujeitos e da sociedade. Do mesmo modo, a formação e a assessoria técnica são processos inerentes à educação em economia solidária e, portanto, compartilham dessa mesma concepção (BRASIL, 2015, p.6).

Assim, percebe-se que a formação para o trabalho está ligada a desafios de supe- ração de muitas condições relacionadas a valores impregnados na vida dos trabalhado- res por muitos e muitos anos. Para superar essas condições, é necessário superar o indi- vidualismo, o espírito de competição e transformá-los em valores de fato solidários que sejam sólidos o suficiente para resistir a cultura hegemônica. É necessário a mediação das instituições, no caso o CIEPS, que promovam as trocas de saberes para assentar as bases de uma nova sociedade que tenha como princípio a participação dos trabalhadores como formuladores, promotores de seus destinos e beneficiários do desenvolvimentos conseguido.