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A lavoura da terra é uma das atividades mais antigas do mundo, em outras palavras, o desenvolvimento da agricultura é de fato um processo inerente à evolução e história da humanidade (CDB 2008). Debouck (2017) relata que o homem, em sua evolução, teve que desenvolver mecanismos como o ensaio e erro para atingir sobreviver no ambiente circundante, conseguindo assim adaptar-se através de interações com o meio natural. A partir da abertura da propriedade privada se observou a necessidade de aprovisionar os núcleos familiares junto com a produção de alimentos e troca destes (Cedeño 2015). Assim, se estabeleceram os mercados entre os indivíduos e incentivou o surgimento dos primeiros espaços de mercados urbanos. Neste ambiente, produtores com hortas e quintais trocavam produtos na vizinhança e os produtores com áreas de plantação maior abasteciam de produtos e serviços à população em geral (Meneses 2000).

No Brasil, a agricultura sempre fez parte das linhas econômicas do território, desde o início da colonização e muito antes desta já existiam práticas agrícolas empregadas pelas comunidades (Machado & Figueirôa 2001). A produção agrícola e a transformação de matérias primas tiveram relevância no Brasil muito antes do ciclo de ouro acontecer. Prova disto são os ciclos econômicos pelos quais o país teve que passar como a exploração silvícola (por exemplo, o do pau-brasil) que se manteve por cerca de 50 anos.

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Posteriormente, na segunda metade do século XVI, se iniciaram as plantações de cana-de-açúcar que perduraram por quase 150 anos, cuja produção teve destaque na economia da nação, fazendo do Brasil a meados do século XVII o maior produtor de açúcar no mundo. O terceiro ciclo foi simultâneo à produção de cana, o qual envolveu atividades pecuárias que, por sua vez, ocuparam grandes extensões territoriais brasileiras. De maneira geral, as atividades relacionadas à silvicultura e a produção agropecuária foram a base econômica do país até a chegada do quarto ciclo aproximadamente a finais do século XVII, já que este se encontra demarcado pelo descobrimento de ouro em Minas Gerais, que não só transcendeu na economia, mas também nos modos de vida da população e da arquitetura das cidades (e.g. Ouro Preto) (Machado & Figueirôa 2001).

Com o início das atividades de exploração de minerais em Minas Gerais, a produção de diamantes foi a responsável do quinto ciclo econômico, que teve seu início no ano 1729, convertendo o Estado mineiro novamente num referente mundial dada a sua riqueza mineral. No entanto, é visível que o desenvolvimento econômico do Brasil foi tão diverso que sua estabilidade socioeconômica não dependia exclusivamente da mineração, posto que, se desenvolveram interações entre a agricultura, exploração de ouro e diamantes, bens manufaturados e outras atividades, permitindo assim a continuidade de algumas atividades e o aprimoramento de outras (Machado & Figueirôa 2001).

Entre os denominados ciclos econômicos também se encontrava o café, do qual o Brasil é ainda referência mundial devido à alta produção. Com a introdução deste cultivo iniciou-se o sexto ciclo ao redor de 1835, onde as primeiras plantações expandiram-se tempo após da emancipação de Brasil da coroa portuguesa. Na cronologia econômica, depois do século XIX, a produção de borracha na Amazônia, deu origem ao sétimo ciclo econômico. A partir deste ponto a denominação de “ciclos” foi excluída, pois os bens e serviços se diversificaram em tal magnitude que não seria adequado continuar com dita nomeação (Machado & Figueirôa 2001).

Os historiadores Guimarães & Reis (1986) destacam a importância da produção agrícola antes da colonização no estado de Minas Gerais, ressaltando que as práticas agrícolas de subsistência faziam parte da cosmovisão dos povos assentados no território tempo antes dos processos de mineração. Os historiadores também manifestam que a finalidade dos cultivos estava baseada no autoconsumo, mas os grupos de povoadores em busca de ouro e outros minerais influenciaram esta visão, de forma que as lavouras agrícolas tivessem uma função de abastecimento (Guimarães & Reis 1986).

Guimarães & Reis (2007) expõem que, o abastecimento de produtos agrícolas e outros recursos nas cidades com mineração intensiva em Minas Gerais se desenvolviam através de dois fluxos. O primeiro correspondia a produtos importados de outras regiões, fora da colônia. Já o segundo fluxo obedecia à

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produção interna, onde os agricultores rurais comercializavam seus produtos no entorno dos núcleos mineradores e ao longo dos principais caminhos de aceso às minas, garantindo o provimento de alimentos e matérias primas nos pontos de extração de ouro e nos povoados, vilas e arraiais adjacentes (Guimarães & Reis 2007).

O abastecimento de produtos para fins comerciais levou à implementação da mão de obra escrava e camponesa (Fragoso 1992; Guimarães & Reis 2007). Provavelmente, as mudanças a partir do declínio na produção de ouro alterou as dinâmicas de abastecimento de alimentos, pois o público alvo se viu reduzido dada a migração do pessoal para outras cidades. Para a historiografia clássica esse foi um fator de suma importância na desestabilização econômica da capitania de Minas Gerais, levando-a a submergir-se na decadência socioeconômica. No entanto, contrário ao exposto pela historiografia tradicional, autores como Meneses (2000) e Guimarães & Reis (2007) expressam que o declínio na produção do ouro não alterou a estrutura mercantil na região.

Pelo exposto anteriormente, se presume que em Minas Gerais o abastecimento interno de produtos já existia, mas, tempo após da chegada dos portugueses e estrangeiros se geraram estratificações de acordo à classe social. Nesta linha, se evidenciaram diferenças no tipo de plantação e unidades produtivas, como também no tipo de mão de obra (Carrara 1997; Guimarães & Reis 2007). Os autores mencionados também ressaltam a existência de dois tipos de unidades produtivas, sendo uma de caráter escravocrata e a outra de origem camponesa. A primeira, além da mineração, vinculou a produção pecuária e agrícola com fins de abastecer aos núcleos urbanos, e a segunda abrangeu as práticas agropecuárias para o autoconsumo, permitindo um grau de independência alimentar e econômica com a venda dos excedentes.

Por outro lado, as práticas hortícolas nos quintais, próximos ao perímetro dos povos e vilas desenvolveram uma função importante em aspectos como o relacionamento cotidiano, no manejo de técnicas de produção para o fornecimento de alimentos. Desse modo, as práticas de horticultura em pequena escala contribuíram na normalização dos ambientes populacionais, já que nestes espaços se preservaram as alternativas de sustento tanto das famílias ricas como daquelas de recursos escassos (Meneses 2000; Meneses 2007).

Segundo Dean (1996) e Lamim-Guedes (2010), após o declínio na produção de ouro em Minas Gerais, grande parte da população beneficiada desta atividade dedicou-se à agricultura e pecuária como principal fonte de renda. Porém, a pressão exercida na natureza não se atenuou, porque as novas atividades produtivas estenderam-se cada vez mais, afetando negativamente aos ecossistemas adjacentes.

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