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CAPÍTULO 2 – T ERRITÓRIOS DE UMA ARTE GLOBAL

2.2 Produção brasileira

Nesse processo homogêneo, perdem-se algumas propriedades nacionais. No nosso caso específi- co, esvaece a brasilidade nascida sob o ímpeto do Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, em 1928, que descolava a produção nacional da dependência cultural colocada na época. Se artistas e literatos como Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, o próprio Oswald, e mais adiante, artistas como Alfredo Volpi e Alberto Guignard percorreriam o caminho de uma certa identidade

1Evento de caráter independente organizado por Ricardo Barreto e Paula Perissinotto. A primeira edição aconteceu no

Museu da Imagem e do Som, em São Paulo em 2000. Todas as edições encontram-se on-line: http://www.file.org.br

2Evento organizado pela Associação Cultural Videobrasil, com sede em São Paulo, desde 1983. Inicialmente o evento

brasileira com a ascensão dos meios eletrônicos de comunicação e o estabelecimento de uma nova ordem mundial. Essas propriedades minimizam-se, tornando-se elemento secundário na arte de suportes tradicionais e elemento praticamente inexistente na produção para a rede. Desse modo, ao justapor produção nacional e internacional de arte para a rede, observando even- tos como o FILE e Videobrasil, não há características gerais – exceto algumas pontuais em alguns trabalhos – que destaquem uma da outra. Afinal, a própria denominação como “nacional” se dilui num espaço que é global por excelência.

Acima de qualquer diferença em relação a uma produção estrangeira, o nicho brasileiro é interes- sante para ser observado como micro-cosmos, como similaridade da estrutura de um todo – onde se podem observar uma multiplicidade de poéticas e uma diversidade de tecnologias existentes no meio telemático – onde coabitam maneiras extremamente distintas de lidar com o mesmo meio.

Porém, podemos abrir espaço para outras discussões acerca não só da produção brasileira para a Internet, mas sim, pensando a produção em novas mídias de maneira mais geral: a curadora e crítica Daniela BOUSSO (2002:44), no Fórum de debates “Produção, Difusão e Mercado nas No- vas Mídias” realizado em 2001, atenta para os incentivos que são dados a artistas internacionais e que não acontecem em âmbito nacional:

Não temos um espetáculo ainda constituído, justamente pela falta de entendimento ou visão na instância dos recursos. Nenhuma Sony convidou um artista brasileiro para pro- duzi-lo. Nenhuma Toyota bancou um artista brasileiro como acontece na Suíça, onde artis- tas jovens com dezenove, vinte anos de idade, são produzidos integralmente e colocados numa feira de arte como a de Basel.3

Ao contrário de outros países onde se estabelecem centros de estudo e produção em arte mídia, tais como ZKM4, na Alemanha, CaiiA-STAR5, na Inglaterra, ICC6, no Japão, MECAD7, na Espanha,

entre outros vários, no Brasil não há, hoje, uma instituição específica para o estudo desse tipo de produção8. Mas em contrapartida, existem programas de apoio por parte de instituições como o

3A citação da Sony justifica-se à medida que a empresa estabeleceu programas de artistas em residência, tendo como

primeiro, o vídeo-artista Bill Viola, em 1981.

4ZKM. Home page da instituição:http://www.zkm.de 5CaiiA-STAR: http://www.caiia-star.net/

6NTT-ICC: http://www.ntticc.or.jp/ 7MECAD: http://www.mecad.org

8No Brasil, já houve uma instituição – ou melhor, um grupo instituído – com objetivos específicos em arte e novas

mídias. Entre 1987 e 1989, existiu o IPAT (Instituto de Pesquisas em Arte e Tecnologia de São Paulo) , sob a presidência de Artur Matuck e direção cultural de Paulo Laurentiz. O IPAT realizou diversos eventos, entre eles, eventos de arte- telecomunicação na Unicamp, quando Paulo Laurentiz passou a lecionar no Instituto de Artes. Em 1989 o grupo se desfez e atualmente, grande parte de seus componentes está na ANPAP (Associação Nacional dos Pesquisadores em Artes Plásticas).

Instituto Cultural Itaú9 e o Instituto Sérgio Motta, que através de uma seleção, disponibilizam

recursos para produções realizadas e/ou a realizar.

Já no que se diz respeito a pesquisas de produção artística e reflexão sobre arte e novas mídias,

temos o grupo wAwRwT10, coordenado pelo artista multimídia Gilbertto Prado, numa pesquisa

que visa estabelecer um levantamento e análise de trabalhos de arte na rede Internet. Outra iniciativa em pesquisa na net-arte, web arte, é o Laboratório de Imagem e Som do Instituto de Artes da Universidade de Brasília11, sob a coordenação da artista multimídia Suzete Venturelli,

onde se dedica ao estudo de imagens criadas em terceira dimensão – VRML12 em diversos casos

– e sua inserção em ambientes interativos e/ou multi-usuário. Numa esfera mais abrangente de outros campos da arte e novas mídias, há ainda as pesquisas do CIMID (Centro de Investigação em Mídias Digitais) na PUC-SP13, sob a coordenação de Lúcia Santaella; o grupo Novas tecnologias

nas artes visuais14 na Universidade Caxias do Sul (UCS), sob a coordenação da artista Diana

Domingues e o grupo Corpos Informáticos15, com a participação dos artistas Alice Stefânia, Maria

Luiza Fragoso, Milton Marques, Carla Rocha e Bia Medeiros, que insere novas tecnologias na arte performática, produzindo trabalhos artísticos – alguns deles na Rede Internet – e reflexões teóri- cas.

Além das iniciativas realizadas através de instituições de pesquisas e universidades, sejam como apoiadoras ou sejam apenas como um espaço de aglutinação de participantes, surgem as iniciati- vas independentes, onde os artistas, muitas vezes, com recursos próprios, realizam seus projetos artísticos. É bom lembrar que, ao lidar com a questão da tecnologia, mesmo que esta não seja high tech, a especificidade de algumas situações vão pedir equipes interdisciplinares, onde se pode dialogar num patamar do possível, ao passo que poética e resultado se aproximam mais intima- mente. No Brasil, o grupo SCIArts16 é um dos espécimes do gênero: constitui-se de artistas e

pesquisadores em ciências exatas e tecnológicas.

Ao mesmo tempo, a acessibilidade a ferramentas de criação em hipermídia e extensa bibliografia para referência técnica, torna operacionalmente viável, para um único autor, a maioria dos projetos que se baseiam em web sites. Situação esta, a mais recorrente na produção brasileira em web arte.

9Embora não seja uma instituição específica no estudo de arte e novas mídias, é indispensável citar o Itaú Cultural

como um grande fomentador de eventos na área, tais como exposições, simpósios e banco de dados, notadamente o espaço brasileiro que, atualmente, mais investe nestas questões. Para ver mais: http://www.itaucultural.org.br .

10wAwRwT. Disponível em: http://www.cap.eca.usp.br/wawrwt

11O Laboratório de Imagem e Som do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (Unb) está disponível no endereço:

http://www.arte.unb.br/lis2/lis.html

12VRML (Virtual Reality Modeling Language): Linguagem de modelagem de realidade virtual, utilizada na rede Internet. 13O CIMID da PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – está disponível no endereço: http://www.pucsp.br/

~cimid/

14 NTAV: http://www.artecno.ucs.br

15Os trabalhos do grupo Corpos informáticos podem ser vistos através do endereço: http://www.corpos.org

16O nome do grupo pode ser visto como uma junção das palavras SCIENCE e ARTS (ciência e artes). O grupo é formado

Figura 01 - Site wAwRwT, sob a coordenação do Prof. Dr. Gilbertto Prado (ECA/USP).

Figura 02 - Site do Laboratório de Imagem e Som da Universidade de Brasília.

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