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PRODUÇÃO DE CAFÉ NO BRASIL

No documento ANO 6 - Nº 17 - Janeiro/Março (páginas 35-37)

J.B. Matiello, Eng. Agr. Mapa/Procafé

Na cafeicultura brasileira é muito conhecida a característica de safras altas alternadas com baixas safras, o que se chama de ciclo bienal de produção de café. Esse ciclo afeta a oferta do produto, exigindo a estocagem e carregamento de safra de um ano para outro, situação que traz dificuldades para a política cafeeira do país e para o produtor, que em certos anos tem pouca renda.

O entendimento do ciclo bienal de produção do cafeeiro é importante, também, a nível agronômico, para adequação do manejo da lavoura, de acordo com o ciclo, ou para modifica-lo, sendo que, atualmente, existe uma tendência de manejo por podas visando acentuar o ciclo, com safra zero. Quantificando o ciclo

O fenômeno de bienalidade de produção de café pode ser observado através das safras colhidas no Brasil nos 10 últimos anos.(quadro 1). Verifica-se que foram obtidas safras baixas, entre 28 – 39 milhões e altas entre 39-48 milhões, ou seja, com diferencial médio de 33%. Ao longo de muitos anos os diferencias de produção nas safras de café são conhecidos e, muitas vezes, agravados por fenômenos climáticos. O gráfico 1 mostra os picos de altos e baixos, desde o ano de 1960.

Trabalho de pesquisa e análise estatística em e x p e r i m e n t o s r e a l i z a d o s n a s F a z e n d a s Experimentais do ex-IBC, onde se computou a produtividade em parcelas de cafeeiros, bem tratadas, por 6 a 8 safras, mostrou que, na média, foi obtida uma safra baixa de cerca de 20% da safra alta, o que, então, para nossas condições, pode ser considerado um ciclo normal.

Na cafeicultura como um todo, é lógico, a bienalidade não se expressa tão fortemente, como se observou nas lavouras, pois dentro de uma propriedade, dentro das regiões e no país os ciclos das lavouras, em boa parte, são desencontrados. Não fosse assim, uma safra baixa corresponderia a 5 vezes menos que a alta.

Quadro 1 - Produção brasileira de café, nas safras de 2001 a 2010

Em ciclos de alta carga os ramos se enchem de frutos e crescem pouco, reduzindo a safra do ano seguinte, formando o ciclo bienal, típico da cafeicultura brasileira.

Em ciclos de alta carga os ramos se enchem de frutos e crescem pouco, reduzindo a safra do ano seguinte, formando o ciclo bienal, típico da cafeicultura brasileira.

Causas dos ciclos

As causas da produção de café diferenciada no Brasil podem ser explicadas fisiologicamente.

Os cafeeiros cultivados a pleno sol produzem muito num ano, suas reservas são carreadas para a frutificação, então o crescimento dos ramos é prejudicado e a safra seguinte reduzida. Diz-se comumente que o cafezal se veste um ano e no outro veste o seu dono.

Vejamos como ocorre o fenômeno:

1°) O cafeeiro possui uma iniciação floral abundante (muitos gemas e flores).

2°) Ocorre uma baixa taxa de abcisão de frutos (a planta se café não derruba tantos frutos, como outras).

3º) Se manifesta a força de drenagem das reservas de forma prioritária pelos frutos (endosperma das sementes é um dreno primário).

4°) Se observa um desbalanço na razão folha/fruto, e, em conseqüência, uma competição entre o crescimento reprodutivo e o vegetativo (este último prejudicado com carga alta).

5º) Nessa condição verifica-se o depauperamento, a seca de ramos e morte de raízes (não se observa seca de ramos em cafeeiros jovens ou com frutos raleados).

6°) A seca de ramos é mais expressiva nos anos de safra alta, é agravada por aspectos nutricionais e por ataque de pragas e doenças.

A lavoura, assim, fica com suas plantas estressadas pela carga, cresce menos e produz menos no ano seguinte.

Secas de ramos e morte das raízes

A seca de ramos ocorre devido ao desbalanço entre a disponibilidade e o consumo de assimilados (reservas da planta). Decorre da maior necessidade pelos frutos em relação à possibilidade de seu fornecimento, pela fotossíntese mais as reservas antes disponíveis. Um trabalho de pesquisa mostra que a maior influência é do nível de enfolhamento, que vai fazer a fotossíntese, do que das reservas.

A seca de ramos é precedida da morte de raízes e se esta ocorre, em grau intenso, pode causar a trianualidade de produção, visto que sua recuperação é lenta.

A morte de raízes leva à redução na absorção de água e de nutrientes. Por isso, um bom manejo de adubação e irrigação ajuda a reduzir os problemas.

Como reduzir ou ampliar o ciclo

Além dos cuidados de manejo dos cafeeiros, como a adubação, controle de pragas/doenças, irrigação, etc., visando manter a planta mais enfolhada, existem alternativas para evitar o “stress” o u d e p a u p e r a m e n t o q u e l e v a m à b a i x a produtividade, no ano seguinte.

Elas consistem, basicamente, em reduzir ligeiramente a produção alta por planta, através de espaçamentos menores, arborização, uso de material genético mais vigoroso e com padrão de florada mais diluído, aplicação de podas e outros.

Ultimamente, na cafeicultura empresarial, existe tendência a se promover um ciclo de produção mais pronunciado, visando uma safra muito alta e, depois, uma safra zero, com o auxilio de poda dos ramos produtivos.

O ciclo bienal e as estimativas de safras As estimativas das safras de café no Brasil vem sendo feitas, atualmente , na maioria das regiões produtoras, de forma subjetiva, o que reduz a sua confiabilidade. Em função disso, muitas empresas comerciais também fazem suas previsões, sem metodologia apropriada, o que chamamos de chutometros. Elas, por sua natureza, tendem a puxar as previsões para cima, sempre querendo safras mais altas. Os produtores, por sua vez, prejudicados por divulgações errôneas, não podem decidir bem o que fazer, se vendem logo ou se guardam o café.

Assim, a pergunta é: Onde está considerado o ciclo bienal de produção dos cafeeiros ?

Respondemos que, na prática do mercado, ele foi, simplesmente, esquecido, já que a correta definição da oferta deveria, sempre, ser feita pela média de 2 safras.

O processo natural da planta de café, cultivada a pleno sol, é ter frutificações muito diferenciadas de um ano para o outro, conforme já foi esclarecido fisiológicamente. A lavoura, fica com suas plantas estressadas pela carga, cresce menos e produz menos no ano seguinte.

O que alguns interessados não enxergam, talvez por que não querem, é o fato, incontestável, de que, se uma safra veio um pouco maior do que se esperava, por exemplo, 3 milhões de sacas a mais num ano, pode-se prever, na safra seguinte, essa quantia a menos.

Manejar bem a lavoura de café é um grande desafio, pois a cultura cafeeira fica no campo o ano todo, sujeita às variações nas condições do ambiente, do clima, do solo e das pragas e doenças que atacam, devendo ser nutrida e protegida, exigindo cuidados praticamente o ano inteiro,

O manejo de cafezais pode ser definido como a forma de combinar e executar os tratos culturais no cafezal. Envolve, assim, o modo e a época de fazer, ou seja, como, quando e onde executar os tratos ou práticas culturais.

Práticas rotineiras, eventuais e prioritárias O manejo nas lavouras de café compreende a execução de práticas culturais divididas em 2 tipos: as rotineiras, feitas usualmente, por todos os produtores e as eventuais, realizadas em níveis e épocas diferenciadas, entre os produtores. Ao todo, pode-se efetuar 12 práticas.

As práticas rotineiras, usadas no manejo de c a f e z a i s , s ã o : O c o n t r o l e d o m a t o , a arruação/esparramação, e a colheita/preparo.

As práticas consideradas eventuais são: A adubação/calagem, o controle de pragas/doenças, o controle à erosão, as podas/condução, a irrigação, o replantio/repovoamento, a proteção contra ventos/geadas, a sub-solagem e a combinação de cultivos. Muitas dessas práticas “eventuais”, isto mesmo, entre aspas, são, hoje, práticas obrigatórias,

citando-se o exemplo da adubação, imprescindível em nossos solos pobres.

Um grupo de práticas é considerado prioritário, diante da sua maior influência na produtividade e nos custos de produção, bem como sobre a qualidade do produto. Esse grupo destaca a adubação/calagem, o controle de pragas/doenças, a irrigação, as podas e a colheita/preparo.

A aplicação dessas práticas, de modo adequado, exige o uso de recursos, que devem ser gerados através de rendas com a produção de café. No entanto, a conjuntura atual de desequilíbrio entre os preços do café e dos seus custos de produção, não tem deixado margens suficientes. Assim, alem dos desafios agronômicos, tem-se aqueles econômicos. Com pouca renda o produtor investe pouco nos tratos e, assim, produz pouco, o que eleva seus custos de produção por saca, sobrando pouco ou nada , aí fechando o ciclo, que resulta, novamente no maltrato das lavouras.

Caminhos possíveis

Cada situação de propriedade cafeeira deve ser analisada, visando eleger os caminhos de recuperação. No entanto, pode-se indicar, de maneira geral, 3 caminhos, que se aplicam à maioria dos casos: o aumento da produtividade, das lavouras e de todo o processo operacional; a mecanização dos

DESAFIOS NO MANEJO DE CAFEZAIS

No documento ANO 6 - Nº 17 - Janeiro/Março (páginas 35-37)

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