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5. Resultados e Análises

5.1. Capítulo 1: Trajetória da Cooperafloresta

5.1.10. Produção e Comercialização

As unidades familiares dos associados da Coopefloresta têm área média de 25,42 hectares, variando de 0,31 a 371,04 hectares. Dessas áreas, 16% correspondem à agroflorestas, 58% são capoeiras e 13% da área são florestas em estágio avançado de regeneração. Os SAFs da Cooperafloresta combinam dois sistemas de manejo e domesticação da paisagem: manejo intensivo da vegetação, onde estão os SAFs em produção, e áreas de capoeira em regeneração e conservação da floresta para uso futuro, mesclando áreas com maior e menor intensidade de manejo. Participam da comercialização 121 agricultores, sendo 33% mulheres e 67% homens, distribuídos em 112 unidades familiares em 17 bairros diferentes que abrangem o total estimado de 286 hectares de agrofloresta (BRAGA, 2012).

Por trabalhar com SAFs, a Cooperafloresta produz uma grande diversidade de produtos. Muitas frutas diferentes, pouco encontradas em mercados convencionais ou pouco valorizadas como comerciais, são vendidas pelos agricultores. São mais de 100 alimentos, dentre eles, as frutas se destacam, especialmente a banana, que é o principal item produzido pela Associação, correspondendo à mais de 60% da renda gerada com a sua comercialização. Além da banana,

os agricultores produzem frutas, tubérculos, palmitos e verduras. Esses itens são destinados ao autoconsumo e à comercialização (STEENBOCK et al, 2013; KAZAY, 2014).

Além dos produtos in natura, a Associação montou recentemente uma agroindústria onde são processados mel, bananada, goiabada polpas, sorvetes, farinhas, doces e conservas. Essa agroindústria realiza também a maturação da banana e a classificação dos produtos. O beneficiamento dos alimentos, além de possibilitar uma agregação de valor, é também uma forma de aproveitar a produção das frutas da época e conservá-las, uma vez que, se não houvesse esse processamento, a grande quantidade de frutas seria perdida em decorrência do amadurecimento simultâneo (STEENBOCK et al, 2013).

A Cooperafloresta prioriza a comercialização direta com o consumidor, por isso seus mercados são principalmente as feiras, os Programas de Aquisição de Alimentos (PAA) desenvolvidos pelo Programa Fome Zero do Governo Federal, e o Circuito Sul de Comercialização, que inclui a troca de produtos com outras organizações de agricultores agroecológicos. Além desses canais, há comercialização dos produtos no varejo, em lojas especializadas e distribuidores de produtos orgânicos e naturais, além de restaurantes. Nas feiras de Curitiba, a barraca da Cooperafloresta é a mais diversificada e é a que oferece produtos mais baratos. O público alvo são as pessoas com menor poder aquisitivo, que são as maiores consumidoras dos produtos da Associação (feiras e PAAs). Hoje, a comercialização dos produtos está concentrada nos PAAs, que compram mais de 60% do volume produzido. Para a Cooperafloresta, os PAA têm algumas vantagens: possibilidade de oferecer e entregar qualquer tipo de frutas e outros alimentos, desde que estejam dentro de padrões de qualidade e na quantidade correta, demanda regular e a facilidade de logística. Além disso, nos PAAs, os produtos orgânicos valem 30% a mais do que os produtos convencionais (STEENBOCK et al, 2013).

A comercialização contempla atividades que vão desde a coleta dos produtos em pontos predefinidos nas estradas locais até o pagamento dos agricultores. Em todo o processo, três unidades funcionais da Cooperafloresta estão totalmente envolvidas: produção, comercialização e administrativo-financeiro. Além dessas, há suporte também da assessoria técnica e pedagógica, e projetos e pesquisas, já que suas ações impactam na demanda, no apoio

financeiro e na área comercial. A equipe envolvida em todo o processo de comercialização tem 22 pessoas, de diferentes cargos – do feirante ao diretor. Desses, 15 são agricultores, pagos por hora, e os demais são pagos através de recursos de projetos (STEENBOCK et al, 2013).

Na Cooperafloresta, a comercialização é coletiva, envolvendo todos os agricultores, e centralizada via Associação. As famílias entregam seus produtos para a Associação que os vendem aos compradores, sem individualizá-los por origem. O fluxo logístico contempla seis fases: coleta dos produtos, transporte até o galpão de embalagem e armazenamento, controle dos produtos no galpão, transporte para os canais de comercialização, vendas e entregas e contabilidade. O motorista passa por todos os bairros com uma rota pré-determinada duas vezes por semana e coleta os produtos colocados em uma caixa plástica identificada com o nome do produtor, o que facilita no controle de produção de cada associado. Algumas dificuldades são enfrentadas devido à geografia da região. Alguns associados utilizam canoas, cabos de aço ou passarelas em estado precário para transporte dos produtos até o ponto de coleta do caminhão. Após a coleta, os produtos vão para o galpão de armazenamento e embalagem, onde são recebidos, pesados e armazenados para maturação (no caso das bananas, devido à alta produção desse alimento) ou embalados para serem vendidos. Em seguida, são transportados para os locais de comercialização. As sobras são absorvidas pela Associação (STEENBOCK et al, 2013).

O transporte é próprio da Associação, mas os demais custos de todo o processo de comercialização são pagos com a diferença entre o valor pago pelo produto ao agricultor e o valor recebido na venda. Os agricultores recebem um preço acordado internamente pelo produto, que corresponde a um terço do lucro da venda, mesmo que nem todos os produtos coletados sejam comercializados. O que sobra é destinado à Associação. Os custos da comercialização são rateados entre os agricultores de forma proporcional, ou seja, de acordo com os volumes entregues de produtos por cada agricultor. Assim, aquele que envia maiores volumes possui maior renda e, por isso, maior participação nos custos, garantindo igualdade entre os agricultores. Os pagamentos são realizados mensalmente via conta bancária. A contabilidade é feita por funcionária contratada e apresentada nas reuniões mensais do conselho da Associação (BRAGA, 2012; STEENBOCK et al, 2013).

A Associação possui uma estrutura de comercialização que pode ser considerada bem organizada e que possibilita o escoamento de toda a produção agroflorestal, fator que fortalece os agricultores em torno da organização. A comercialização na Cooperafloresta já não é mais um problema. Os mercados para escoamento da produção são garantidos, a demanda do mercado pelos produtos agroflorestais da Associação já é maior que a oferta, a etapa de construção do mercado já está madura. No entanto, ainda há algumas preocupações relacionadas à comercialização. A falta de transporte, o mau estado das estradas do município, a distância dos centros urbanos e a melhor dinâmica para a gestão da comercialização são desafios que os associados estão buscando superar (GOUDEL, 2008).

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