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1.2 Caracterização dos RSU

1.2.4 Produção e destino final

O crescente aumento da produção de resíduos, decorrente do desenvolvimento dos países industrializados, e os consequentes problemas que daí advêm, nomeadamente o perigo de contaminação de solos, ar e água, a dificuldade de escoamento dos resíduos e os custos crescentes com o tratamento, têm sido alvo de preocupação por parte da União Europeia (UE).

A Agência Europeia do Ambiente (AEA) verificou que apesar dos progressos realizados, o volume geral de resíduos está a aumentar e a quantidade absoluta de resíduos enviada para aterros não está a diminuir.

Entre 1990 e 1995, verificou-se um aumento da 10% na produção total de resíduos da UE e na European Free Trade Association (EFTA), tendo o Produto Interno Bruto (PIB) aumentado significativamente para um aumento de 6.5%.

A produção de RSU tem contribuído significativamente para este aumento e está associado ao nível de actividade económica, dado que se verificou um aumento de 19% tanto na geração de RSU como no PIB da UE-25 entre 1995 e 2003.

Está também a verificar-se um aumento em fluxos de resíduos mais pequenos, mas importantes: a produção de resíduos perigosos aumentou 13% entre 1998 e 2002, enquanto o aumento do PIB foi de 10%.

Com níveis mais elevados de crescimento económico antecipados, prevê-se uma continuação do aumento do volume total que abrangerá a maioria dos resíduos. A AEA prevê ainda que os resíduos de papel/cartão/vidro e plástico aumentarão em cerca de 40% até 2020, em comparação com os níveis de 1990.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) prevê que a geração de RSU continuará a aumentar até 2020, mas a um ritmo ligeiramente mais lento. O Centro Comum de Investigação (CCI) prevê um aumento na geração de RSU de 42,5% até 2020, em comparação com níveis de 1995. Está previsto um crescimento relativamente mais rápido dos RSU aos novos Estados-Membros UE-10.

Embora se verifique um aumento na reciclagem e incineração, a maior parte dos RSU é actualmente depositada em aterro ou incinerada (CE, 2003), soluções que originam externalidades ambientais tais como a ocupação do território, poluição do ar através da libertação de substâncias nocivas, a poluição do solo e da água, não se podendo ignorar o impacto resultante da emissão de gases de efeito de estufa (EC, 2000; EEB, 2005).

A Comissão Europeia estima que, em 2003, tenham sido depositadas em aterro, em média, 60% dos RSU produzidos nos países da Europa dos 15 (EC, 2000), existindo diferenças significativas entre os vários países Figura 3, variação que ocorre igualmente no que respeito à incineração (Figura 4).

Figura 3 – Deposição de RSU em aterro na Europa (AEA, 2005)

Figura 4 – Incineração de RSU na Europa (AEA, 2005)

A análise da evolução em matéria de gestão de resíduos pode ser traduzida por alguns indicadores, nomeadamente pela produção de RSU, de resíduos industriais e de resíduos hospitalares, assim como pela valorização e eliminação de resíduos.

No que respeita aos RSU, tendo já sido aprovadas algumas directivas e metas específicas a nível da UE no sentido de incentivar a diminuição da sua produção, têm sido detectadas dificuldades genéricas na sua implementação. Uma das principais causas dessa insuficiência é o aumento dos consumos domésticos que, para além do aumento dos RSU produzidos e resíduos de embalagens se reflecte também noutras áreas, tais como uma maior quantidade de águas residuais a tratar, um maior consumo de energia (Tabela 5 e 6).

Tabela 5 – Produção de resíduos de embalagens per capita em países da UE, 1997-2002 (AEA, 2005)

Tabela 6 – Projecções de evolução da produção de RSU na Europa (EEA, 1999)

Em Portugal, o cenário é idêntico aos seus congéneres europeus, tendo-se verificado nos últimos anos um aumento na produção de resíduos, o que significa existirem grandes disparidades nas quantidades de resíduos geridas pelos diferentes sistemas, com economias de escala importantes nos sistemas com mais população (Tabela 7 e Figura 5).

Tabela 7 – Produção de RSU em Portugal em 2002 (INR, 2003)

Figura 5 – Produção total de RSU em 2005, por Sistema (INR, 2007)

Na Figura 6 está representada a evolução prevista de RSU para Portugal até 2016, estimando um aumento de produção de RSU, acentuando a dificuldade de os tratar convenientemente.

Figura 6 – Evolução prevista de RSU para Portugal (INR, 2007)

Segundo os dados do Instituto dos Resíduos (INR) em 2005, a produção de RSU em Portugal Continental atingiu 4,5 milhões de toneladas, ou seja, cerca de 1,24 kg por habitante e por dia, com base nos dados provisórios do Sistema de Gestão da Informação sobre Resíduos (SGIR).

Na Figura 7 apresenta-se a evolução da produção de RSU em Portugal Continental entre 1995 e 2005 e a evolução da capitação diária no mesmo período.

Verifica-se uma tendência de crescimento da produção de resíduos, bem como da capitação diária, com excepção dos anos de 2001 e de 2004, em que houve um ligeiro decréscimo, de 7% e de 1%, respectivamente, em relação ao ano anterior.

Figura 7 – Evolução da produção de RSU e capitação diária em Portugal Continental (1995 - 2005)5 (INR, 2007)

A Figura 8 evidencia a intensidade da razão entre a produção de RSU e o Produto Interno Bruto (PIB) em Portugal Continental a preços de 1995 para o período de 1995 a 2005, verificando-se que se vem mantendo constante. Sabendo-se que a produção de resíduos está fortemente relacionada com o consumo e com o crescimento económico, a verdade é que há países europeus (ex: Alemanha) que têm conseguido ver diminuir esta razão naquilo que é conhecido como desmaterialização da economia.

Figura 8 – Intensidade da relação entre a produção de RSU e o PIB em Portugal Continental (1995 - 2005)6 (INR, 2007)

5

População: 1995-2001 - Eurostat, General and Regional Statistics; 2002-2003 - Censos 2001 (INE); 2004-2005 - Estimativas Provisórias de População Residente para 31 de Dezembro de 2002, aferidas dos resultados definitivos dos Censos 2001, ajustados com as taxas de cobertura (INE).

6

Para a determinação do valor do PIB para 2005, a preços constantes de 1995, utilizou-se o valor de PIB para 2004 e a taxa de crescimento anual do PIB em 2005 (0,3%).