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Consciente dos problemas associados à exploração dos aterros, a UE definiu metas de redução de deposição de matéria orgânica em aterro, expostas na Directiva 1999/31/CE, relativa à deposição de resíduos em aterro, de 26 de Abril de 1999, e que foi transposta para o direito português através do Decreto-Lei n.º 152/2002, de 23 de Maio de 2002. Neste âmbito foi elaborada a Estratégia Nacional para a Redução dos Resíduos Urbanos Biodegradáveis destinados a Aterros (ENRUBDA), no sentido de dar resposta à necessidade da tomada de medidas para minimizar os impactos negativos no ambiente, nomeadamente, ao nível do solo, recursos hídricos e qualidade do ar, provocados pelo actual sistema de gestão de resíduos. Esta estratégia assenta preferencialmente na

promoção da valorização orgânica12, estando previsto a construção de 13 novas unidades a distribuir pelo país. O incremento da compostagem doméstica, a nível local, é também uma das medidas preconizadas, assim como o aumento e desenvolvimento de sistemas de recolha selectiva da fracção orgânica dos RSU, devendo atingir-se em 2016 o tratamento por reciclagem de todos os resíduos orgânicos recolhidos selectivamente. Em complemento destes objectivos a estratégia também preconiza a implementação, em todas as instalações, de uma linha de valorização de resíduos orgânicos provenientes de recolha selectiva.

A Figura 11 é demonstrativa das projecções de redução para o caso português, nos anos de 2006, 2009 e 2016.

Figura 11 – Evolução da produção de RUB e objectivos a atingir (INR, 2007)

Portugal encontra-se perante a situação de ter que implementar soluções, num curto espaço de tempo, que reduzam consideravelmente a deposição de resíduos biodegradáveis em aterros.

Esta exigência incorre na necessidade da redução dos impactos ambientais negativos provocados pela deposição de resíduos nestas infra-estruturas, em especial pela grande fracção orgânica que neles é depositada e torna-se por isso fundamental os Municípios procurarem novas formas de organização e implementação de circuitos de recolha selectiva, quer ao nível dos domicílios, quer ao nível dos grandes produtores, no seguimento da politica comunitária para esta matéria, a qual visa assegurar a protecção da saúde, bem como do ambiente.

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1.6.1 Caracterização

Os resíduos classificados como urbanos biodegradáveis, também designados por Resíduos Orgânicos Biodegradáveis (ROB), são todos aqueles materiais dos RSU que apresentam uma constituição propícia à biodegradação natural.

Os RUB, que incluem os resíduos alimentares, de jardim, as lamas de depuração ou papel contaminado, são constituídos por matéria putrescível, passível de degradação aeróbia (presença de oxigénio) ou anaeróbia (ausência de oxigénio).

Ao nível da caracterização dos RSU, verifica-se que a sua composição assenta numa componente elevada de matéria biodegradável, nomeadamente matéria orgânica e resíduos verdes. De facto, e de acordo com dados do INR, referentes à situação nacional entre 1996 e 2001, verifica-se que a matéria biodegradável existe numa percentagem superior a 29% (matéria orgânica e verdes) considerando que a fracção de papel e cartão não é contabilizada, uma vez que este deve ser encaminhado para reciclagem.

1.6.2 Origem

Os resíduos biodegradáveis têm origem nos mais diversos sectores de actividade humana, desde o sector doméstico, o comércio, a restauração, a indústria agro-alimentar, as estações de tratamento de águas residuais, as explorações agro-pecuárias, até à limpeza de jardins e arruamentos.

1.6.3 Produção de resíduos orgânicos biodegradáveis (ROB) em Portugal

A percentagem de matéria orgânica presente nestes resíduos depende em muito do sector produtor, sendo relevante, por exemplo, na indústria agro-alimentar. Um aspecto relevante em relação aos resíduos biodegradáveis é, geralmente, o teor em humidade. A Directiva 1999/31/CE, relativa à deposição de resíduos em aterro, tem como objectivo a garantia de elevados padrões de qualidade na eliminação final de RSU na UE. Pretende também estimular uma redução significativa da deposição de resíduos biodegradáveis (restos de comida, resíduos de jardins e papel/cartão) em aterro, nomeadamente através da compostagem e da digestão anaeróbia da fracção orgânica e da reciclagem de papel/cartão e prevê medidas prioritárias de promoção da triagem e de tratamentos alternativos. Pretende-se assim minimizar os elevados impactos ambientais derivados da presença nos aterros destes tipos de resíduos e ainda manter em circulação recursos naturais valiosos.

Da análise das Figuras 12 e 13 conclui-se que há vários países que têm de fazer um esforço muito grande de redução da percentagem de RUB depositados em aterro (em particular a Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha) existindo, por outro lado, países que já apresentam elevados valores de recolha selectiva de RUB (Áustria, Bélgica, Dinamarca e Alemanha).

Figura 12 – Proporção de RUB depositados em aterro (Silveira, 2005)

Figura 13 – Proporção da recolha selectiva de RUB (Silveira, 2005)

1.6.4 Diplomas legais nacionais e europeus mais relevantes em matéria de ROB

A gestão de resíduos orgânicos encontra-se cada vez mais sujeita a condições restritivas, apresentando como medida mais urgente o desvio da deposição deste tipo de resíduos em aterro.

Esta medida decorre de uma imposição da UE, através da Directiva 1999/31/CE do Conselho, de 26 de Abril, referente aos RUB destinados a aterro, reflectindo-se em metas quantitativas de redução para anos de referência.

A UE, consciente dos impactos negativos decorrentes da deposição de resíduos orgânicos em aterro, impôs metas de diminuição. Cada Estado-Membro é responsável por implementar medidas que permitam o alcance dessas metas.

Portugal não é excepção, e após a transposição da directiva para o direito português, através do Decreto-Lei nº 152/2002, de 23 de Maio 2002, foi elaborada a ENRUBDA, em acordo com a Directiva n.º 1999/31/CE do Conselho, de 26 de Abril, relativa à deposição de resíduos em aterros (Directiva “Aterros”), transposta para o direito nacional através do Decreto-Lei n.º 152/2002, de 23 de Maio, estabelece que:

- Até 16 de Julho de 2006, os RUB destinados a aterros devem ser reduzidos a 75% da quantidade total produzida em 1995;

- Até 16 de Julho de 2009, os RUB destinados a aterros devem ser reduzidos a 50% da quantidade total produzida em 1995;

- Até 16 de Julho de 2016, os RUB destinados a aterros devem ser reduzidos a 35% da quantidade total produzida em 1995.

1.6.5 Linhas de orientação para a gestão

Estas medidas passam pela redução na fonte, preferência na separação na fonte e recolha selectiva multimaterial, com maximização dos quantitativos desviados da recolha indiferenciada, o que pressupõe uma aposta forte para a separação dos diversos componentes dos resíduos na origem, por parte dos cidadão mais e melhor esclarecidos, através de informação mais ampla e ajustada sobre a gestão de resíduos e a importância do desvio de materiais para minimização de custos de tratamento e deposição, com redução efectiva nos tarifários pagos.

A compostagem de resíduos orgânicos adaptada a diversas situações pode tornar-se bastante útil, não só na redução de resíduos enviados para aterro, como na produção de um composto fertilizante que pode ser utilizado em muitos casos (o tratamento conjunto de resíduos biodegradáveis de várias origens pode trazer alterações a nível da qualidade do composto).

A digestão anaeróbia de resíduos permite a produção de biogás e de energia que pode ser aproveitada e, como o país carece de matéria orgânica nos seus solos, alternativas como a compostagem ou a digestão anaeróbia são ferramentas importantes para o aproveitamento agrícola dos resíduos biodegradáveis.