• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I – O SENTIDO DE ESSÊNCIA NA OBRA DE MATURIDADE DE MARX

I.. 3.1 MODO DE PRODUÇÃO E FORMAÇÃO SOCIAL

Essas diferenças formais podem ocorrer derivadas de questões secundárias para a essência do modo de produção, que podem ser identificadas na história da constituição e desenvolvimento do modo de produção localmente, bem como podem variar dependendo da correlação de forças existente numa conjuntura específica, pela luta de classes.

Essas diferenças podem ser mais bem compreendidas se distinguimos os conceitos de modo de produção e formação social. Conforme Poulantzas (1968, p. 11- 12), o conceito de modo de produção, assim como o conceito de modo de produção capitalista, é um objeto abstrato-formal, que não existe na realidade concreta. É o conceito de formação social que se refere a um objeto real-concreto, ou seja, é como ele ocorre especificamente em dado momento e espaço.

A formação social, portanto, se refere às características específicas da combinação possível de diversos modos de produção na realidade concreta e às particularidades do desenvolvimento de um dado modo de produção da maneira como pôde ocorrer concretamente, levando em consideração aspectos diversos: os modos de produção existentes; o período histórico e a conjuntura mundial; a luta de classes, elementos culturais, geográficos etc., e como interagem e se combinam, se chocam e transformam ou são metamorfoseados no todo social.

Isso permite analisar formações sociais capitalistas distintas. São formações sociais capitalistas porque têm, como predominante, o modo de produção capitalista, mas têm aspectos distintos por partirem de realidades objetivamente distintas, em tempos distintos ou não. A Inglaterra e o Brasil; a América Latina e a Europa etc..

A variação de elementos internos e externos opera na especificidade de cada formação, assim como pode operar nos processos de reprodução e de transição.

Portanto, ainda que tenhamos o modo de produção capitalista como modo de produção predominante numa dada formação social, a apreensão dos traços essenciais dessa formação social não pode deixar de lado seus elementos próprios e específicos, sob o risco de relacionar os demais elementos que formam o todo social concreto como a parte inessencial. Por exemplo, quando se empreende um estudo da formação social capitalista brasileira, é parte da compreensão de sua essência: a formação histórica, as combinações e contradições geradas na relação do modo de produção capitalista com outros modos de produção, sua inserção nas relações mundiais, o papel cumprido na sua formação pelas classes sociais e pela luta de classes etc.

Nossa abordagem do tema proposto no trabalho, portanto, deve adotar a mesma postura de Marx sobre a média ideal, ou seja, tratamos do sentido de essência a partir do conceito de modo de produção capitalista, que reúne o que há de invariável em qualquer formação social capitalista. Por fim, resta distinguir dois momentos distintos da análise: o da reprodução e o da transição.

I.3.2. DOIS OBJETOS DISTINTOS: A REPRODUÇÃO E

A

TRANSIÇÃO

Podemos afirmar que há uma distinção metodológica no conhecimento de um modo de produção constituído e na transição de um modo de produção a outro. Esse item é fundamental para a compreensão do uso que fazemos do sentido de essência nas obras de maturidade e para justificar o uso das categorias fenômeno e aparência (na reprodução) e necessidade, acaso e possibilidade (na transição), como instrumentos importantes para a compreensão da lógica objetiva da história em Marx.

42

I.3.2.1. O MODO DE PRODUÇÃO CONSTITUÍDO

O conhecimento de um modo de produção constituído é o conhecimento do conteúdo e articulação específica de suas estruturas e das características de sua reprodução e suas leis tendenciais.

A estrutura econômica, determinante em última instância das demais, exerce essa determinação na constituição do novo modo de produção – ou seja: é o papel assumido por cada uma das demais estruturas que configura a determinação em última instância. O modo de produção é essencialmente a articulação dessas estruturas e seus efeitos. O modo de produção constituído possui dinâmica própria, leis tendenciais próprias, mecanismos próprios de reprodução que são resultado da própria ação e articulação das estruturas. A combinação que permite a reprodução de um modo de produção não pode ser a mesma que gera a sua destruição, ou substituição por outro modo de produção.

Portanto, não é nas leis próprias da reprodução de um modo de produção que podemos encontrar os elementos da transição.

I.3.2.2. A TRANSIÇÃO DE UM MODO DE PRODUÇÃO A OUTRO

A transição de um modo de produção a outro obedece a um processo de constituição de novas estruturas. Lembrando que afirmamos que a articulação das estruturas próprias de um modo de produção configura seus aspectos essenciais, podemos dizer que o resultado do processo de transição forma um novo conjunto de características essenciais, derivado da nova articulação e conteúdo das estruturas, com novas leis próprias que caracterizam também a reprodução. É um novo

processo, diferenciado do modo de produção anterior, assim como são distintos o modo de produção feudal e o modo de produção capitalista.

A sucessão dos modos de produção não obedece a um encadeamento evolutivo no sentido positivista do termo11: do pior para o melhor, em escala

ascendente. Os modos de produção não estão pré-determinados e um novo modo de produção não é decorrência direta do esgotamento do modo de produção anterior, mas de possibilidades abertas pelo desenvolvimento das forças produtivas e por um conjunto de contradições diversas, por exemplo, tanto aquelas que Marx identifica como leis tendenciais no capitalismo, quanto as que podem decorrer de especificidades de uma formação social, como questões históricas locais, a ação em determinadas conjunturas de frações de classes e grupos organizados com objetivos distintos, mas que podem contribuir para o acirramento das lutas de classes e com a abertura do processo revolucionário. Portanto, o processo de transição obedece a outras leis, diferentes das da reprodução. É essa percepção que permite discutir o sentido de essência a partir das obras de maturidade de Marx e identificar categorias próprias que melhor expressam esses dois momentos distintos: na reprodução, essência, fenômeno e aparência; na transição, necessidade, acaso e possibilidade.

Documentos relacionados