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CAPÍTULO III RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

3.3 Análise da proposta didática: as aulas na escola pública

3.3.2 A produção inicial

A aplicação das atividades seguintes ocorreu no dia 27/04/2016 e foram também em duas aulas geminadas. Iniciamos a aula retomando com a turma o intuito das atividades que seriam aplicadas e a importância da participação no nosso projeto com o uso do dicionário escolar. Em seguida, entregamos uma cópia do texto “O caso do espelho” de Ricardo Azevedo.

Q uadro 6 - Texto “O caso do Espelho”

O caso do Espelho

Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata. Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos: - Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?

- Isso é um espelho - explicou o dono da loja.

- Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai. Os olhos do homem ficaram molhados.

- O senhor... conheceu meu pai? - perguntou ele ao comerciante.

O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.

- É não! - respondeu o outro. - Isso é o retrato do meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?

O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho. Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira. A mulher ficou só olhando.

No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.

- Ah, meu Deus! — gritava ela desnorteada. - É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!

- Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.

- Que foi isso, mulher?

- Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato? - Que retrato? - perguntou o marido, surpreso.

- Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira! O homem não estava entendendo nada.

- Mas aquilo é o retrato do meu pai!

Indignada, a mulher colocou as mãos no peito: - Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?

A discussão fervia feito água na chaleira.

- Velho lazarento coisa nenhuma! - gritou o homem, ofendido.

A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa.

- Que é isso, menina?

- Aquele cafajeste arranjou outra!

- Ela ficou maluca - berrou o homem, de cara amarrada.

- Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!

A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato. Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.

- Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!

E completou, feliz, abraçando a filha: - Fica tranquila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!

Fonte: AZEVEDO, Ricardo. O caso do espelho. Versão de conto popular de origem chinesa. Disponível em: <http://amigadapedagogia.blogspot.com.br/2010/05/trabalhando-com-textos-em-sala-

de-aula.html>. Acesso em: 04 jan. 2016.

Antes de começarmos a leitura, questionamos se eles se imaginavam um mês sem espelho, como eles veem a própria imagem, como eles acham que eram as pessoas sem espelho e como nos sentimos diante de alguma coisa desconhecida. Foi uma discussão interessante em que os alunos se envolveram, afirmando que não conseguem se imaginar sem espelho, que cada dia eles veem uma imagem diferente quando olham no espelho porque vai depender do humor, que eles acreditam que as pessoas sem espelhos eram mais descuidadas.

O mais interessante foram os comentários que fizeram sobre como se sentem diante de alguma coisa desconhecida. Os alunos afirmaram que ficam com vergonha de dizer que não conhecem as coisas, principalmente em sala. Afirmaram que, quando desconhecem o

significado de alguma palavra, preferem ficar calados como se estivessem entendendo tudo até por vergonha dos demais colegas.

Então, aproveitamos para reforçar que saber usar o dicionário é fundamental nesses momentos, porque assim podem consultar no momento em que vão tendo dúvidas para resolução de exercícios e interpretação de textos e, o mais importante, que não devem ter vergonha já que o nosso vocabulário vai sendo ampliado à medida que vamos tendo contato, conhecendo e utilizando novas palavras.

Fizemos a leitura compartilhada do texto. A turma gostou bastante do texto escolhido e a leitura proporcionou muitas gargalhadas. Após a leitura do texto, discutimos com os estudantes sobre como as personagens se sentiram diante do desconhecido, qual foi a imagem que cada personagem construiu de si, que quando não conhecemos o significado das palavras, pela leitura do texto em que ela aparece vamos tentando imaginar o que elas significam e os alunos reforçaram que, na maioria das vezes, ficam sem entender as palavras, mas não utilizam o dicionário, nem mesmo o

on-line.

Logo depois, distribuímos uma cópia para cada aluno do texto “Por que usar o dicionário?” de Analice Carmielleto.

Q uadro 7 - Texto “Por que usar o dicionário?” PO R QUE USAR O DICIONÁRIO?

Analice Carmielleto.

Durante a leitura, não saber significados pode comprometer o entendimento. A utilização do dicionário é um ótimo recurso para garantir um verdadeiro mergulho no mundo das palavras.

Quando entramos em contato com algo novo, nem sempre entendemos exatamente do que se trata. Nossa curiosidade e sede de saber, entretanto, requerem um entendimento pleno. No caso das palavras, para satisfazer plenamente tal entendimento, há um recurso muito simples e prático: o dicionário.

Segundo o próprio dicionário, a definição para esta palavra é: "conjunto de vocábulos de uma língua ou de termos próprios de uma ciência ou arte, dispostos, em geral, alfabeticamente, e com respectivo significado, ou a sua versão em outra língua."

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), fora ou dentro da escola, um dicionário pode prestar muitos e variados serviços; cada um deles associado a um determinado aspecto da descrição lexicográfica, ou seja, do conjunto de explicações que ele fornece sobre cada uma das palavras registradas. Vejamos os mais importantes desses serviços:

• indicar o domínio, ou seja, o campo do conhecimento ou a esfera de atividade a que a palavra está mais intimamente relacionada; tal informação é particularmente importante quando uma mesma palavra assume sentidos distintos (ou acepções) em diferentes domínios, como "planta", em biologia e em arquitetura;

• dar informações sobre as funções gramaticais da palavra, como sua classificação e características morfossintática (descrição gramatical);

• indicar os contextos mais típicos de uso do vocábulo e, portanto, os valores sociais e/ou afetivos a ele associados (níveis de linguagem; estilo);

• assinalar, quando é o caso, o caráter regional de uma palavra (informação dialetológica);

• descrever a pronúncia culta de termos do português (ortoépia) e a pronúncia aproximada de empréstimos não aportuguesados;

• prestar informações sobre a história da palavra na língua (datação; indicação de arcaísmos e de expressões em desuso)

• revelar a origem de um vocábulo (etimologia)

Fonte: CARMIELETTO, Analice. Por que usar o dicionário. Disponível em:

<http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/usar-dicionario-738934.shtml>. Acesso em: 04 jan. 2016.

Fizemos a leitura do texto para que os alunos pudessem conhecer um pouquinho sobre o dicionário e, a partir disso, pudessem produzir uma dissertação escolar. A leitura do texto foi sendo feita com pausas para nossa intervenção em pontos que geravam mais dúvida.

Dessa forma, ao apresentar a definição de dicionário, perguntamos se alguém já tinha procurado o que essa palavra significava. O aluno A20 disse que tinha procurado na internet após a aula de apresentação do projeto. Pontuou então que a definição que encontrou e a que o texto trazia estava muito técnica e que, por isso, não tinha entendido muito bem. Então, fomos fazendo a leitura da definição e explicando-a para que compreendessem.

Depois, o texto foi informando os mais importantes serviços de um dicionário. Fizemos uma pausa a cada item para explicação e exemplificação, conduzindo assim a turma a compreender as informações do texto.

Por fim, expusemos a proposta da produção inicial de uma dissertação escolar em que pudessem argumentar sobre o uso e a importância do dicionário escolar.

Q uadro 8 - Proposta de produção textual da dissertação escolar PRODUÇÃO TEXTUAL ESCRITA

Agora você produzirá um texto dissertativo, explicando o que é um dicionário e como ele é formado. Lembre-se de que você precisa argumentar e demonstrar ao leitor a importância dessa obra.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Retomamos com a turma o que é uma dissertação e mostramos um esquema no quadro-branco para que todos compreendessem a organização do texto. Direcionamos a produção ressaltando com os educandos a necessidade de, primeiramente, fazer um rascunho e, após as correções, colocar o texto na folha oficial para ser entregue.

Após a leitura da proposta da produção textual, os alunos fizeram várias perguntas como: “- Professora tem que ser a caneta?”, “- Professora, se eu não conseguir terminar aqui, posso fazer em casa?”, “- Professora, preciso escrever quantas linhas?”, “- Professora, deixa fazer em casa e trazer depois, lá eu penso melhor.”

À medida que iam perguntando, íamos esclarecendo que podiam escrever a lápis, se preferissem, desde que antes já tivessem produzido um rascunho. Afirmamos também que tinham tempo suficiente para terminarem o texto em sala e que se preocupassem com o conteúdo do texto e não com a quantidade de linhas que iam escrever.

Solicitamos que a turma ficasse em silêncio e começasse a produção e, caso houvesse necessidade, poderiam solicitar que iríamos às carteiras para auxiliá-los. Consideramos importante destacar que, mesmo com leitura de um texto explicativo sobre o dicionário, por não o utilizarem, os alunos tiveram dificuldades para escrever sobre o uso desse material. Colocaram que o dicionário é importante, mas não conseguiam argumentar sobre essa importância. Sendo assim, pedimos que colocassem o que conseguissem dizer sobre o dicionário escolar e que, em outro momento, após a resolução das atividades, retomaríamos as produções.

Com essa nossa observação, os alunos prosseguiram com a atividade e, ao término da aula, todos os participantes do projeto tinham realizado a escrita da dissertação escolar.

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