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3. A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DA ATIVIDADE FRUTÍFERA NO BRASIL.

3.1 A produção de manga no Brasil

A produção da manga tem sido beneficiada pelo uso de recursos técnicos de indução floral e irrigação que possibilitam estender ou adiantar a produção garantindo melhores preços por maiores períodos, ganhando nas chamadas janelas de mercados ou entressafra. Dessa forma, garante o abastecimento dos mercados por praticamente todo ano, garantindo melhores preços.

Estas técnicas de produção estão sanando qualquer dificuldade produtiva, sendo uma grande vantagem sobre os países temperados que têm que importar frutas nas estações de inverno, sobretudo quando oferecem isenção de taxas para entrada na comunidade europeia. Esta é uma condição muito favorável a este produto. Os polos frutíferos têm atraído grandes empresas internacionais que disponibilizam tecnologia de ponta para o suporte da produção, como estruturas logísticas, controle biológico, fornecimento de sementes e embalagens. O mercado de manga está em expansão em todo território brasileiro, sendo que os dois maiores polos produtores de manga são os do Estado de São Paulo e a Bahia.

A região Sudeste produziu, em 2005, o correspondente a 27,7% da produção brasileira de manga. São Paulo sozinho atende mais de 20% desse total. Nesse Estado, a microrregião de maior produtividade é a de Jaboticabal. Esta referida região enfrenta problemas com

infraestruturas, condições climáticas que tornam a qualidade da manga paulista inferiores à nordestina e de pouca aceitação no mercado externo. No entanto, é o principal fornecedor da fruta para as principais capitais brasileiras. Segundo a Embrapa, ainda não se estudou a técnica da indução floral para o clima dessa região, fazendo com que a produção paulista ocorra somente uma vez ao ano (Figura 3).

Figura 3 Brasil Produção de mangas

2011

Fonte: IBGE – 2012/ Elaborado por Altemar Rocha

Segundo o SEBRAE, o crescimento do consumo de manga, em São Paulo, foi de (13,4%/ano), em Minas Gerais, foi de (14,0%/ano) e no Rio de Janeiro (5,6%/ano). A manga do tipo “Tommy Atkins” tem sido a mais cultivada. Os indicadores mostram que a demanda de manga pelos supermercadostem sido elevada e com boa aceitação no conjunto das vendas,

sendo a décima primeira mais comprada pelos estabelecimentos da cidade de São Paulo, a nona no Rio de Janeiro e a quinta em Belo Horizonte, seguindo entre estes valores pelos principais centros consumidores do Brasil. Existe uma demanda crescente de mangas pelas grandes redes de supermercados que tendem a adquirir seu suprimento diretamente dos produtores de manga. Porém, por mais promissor que tenha sido estes mercados, ainda é bastante inferior à distribuição comercial atacadista.

A grande parte dos pomares de manga estão concentrados nas regiões Nordeste e Sudeste, com grande destaque para o Estado da Bahia, que tem grande expressividade em Juazeiro, Livramento de Nossa Senhora e Dom Basílio. A região Nordeste do Brasil (Figura 4), teve um acréscimo de 12% na área colhida, demonstrando uma clara consolidação e concentração da atividade nos polos irrigados, onde existem condições mais adequadas de produção, com insolação e água.

Figura 4

Região Nordeste- Produção de mangas – 2008

A região Nordeste foi responsável por 70% da produção brasileira de manga, em 2005, sendo que a Bahia corresponde a 39,6% desse total, Pernambuco 15,2%, Ceará 3,8%, Rio Grande do Norte 3,9%, Paraíba 2,3%, Sergipe 2,6%, Piauí 1,54%, Alagoas 0,8% e Maranhão 0,3%. Os Estados da Bahia e Pernambuco, somados, colheram em 2005 uma área de 28.581 ha, com um crescimento anual de 7,4%. Quanto à produtividade, observa-se uma regularidade no rendimento médio baiano que alcançou 20 t/ha, nesse período, ultrapassando São Paulo.

O Nordeste conta com duas áreas produtoras importantes, o perímetro irrigado da microrregião de Livramento do Brumado e o do Vale do São Francisco, tanto baiano quanto pernambucano, onde estão os municípios de Petrolina em Pernambuco e Juazeiro na Bahia, que juntos formam a região mais importante de produção irrigada de frutas no Brasil, com grande parte da produção voltada aos grandes mercados externos e internos.

Nesse contexto, pode-se afirmar que houve uma mudança na territorialização da produção, com uma transferência gradativa das áreas produtivas do sudeste (São Paulo) para o nordeste. A Bahia desponta com um crescimento de 68%, aparecendo como o principal estado produtor e assumindo riscos de enfrentar um excesso de oferta num mercado com tendências a saturar. Estes fatos são de grande importância, pois apontam para o delineamento futuro da fruticultura brasileira e justifica os polos de agricultura irrigada (BRASIL 2007) (Tabela 7).

Tabela 7 Brasil

Área colhida com Manga 1990/2000/2010/2011 Brasil/Região/Estado 1990 2000 2010 2011 Brasil 45.303 67.590 75.179 76.383 Nordeste 16.977 34.758 51.747 51.712 Bahia 3.042 13.226 27.815 26.991 São Paulo 16.030 21.415 12.519 13.364

Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal

O Vale do Rio São Francisco, na Bahia, apresentou um crescimento anual de 5,8% ao ano (período 1994-2005), o que representa um incremento da ordem de 466 mil toneladas na produção nacional de manga. A área cultivada cresceu 23% entre 1994-2005, incorporando 13,3 mil novos hectares ao cultivo e totalizando 71.343, em 2005. Esse crescimento foi fortemente impulsionado pelo aumento no volume produzido na Bahia: em 1994, esse estado

produziu 52 mil toneladas e, em 2005, produzia quase 400 mil toneladas da fruta (crescimento anual de 20,3% no período). (BRASIL, 2007).

O Estado de São Paulo mesmo não acompanhando o ritmo produtivo da Bahia continua como segundo maior produtor da fruta. A área colhida de manga em São Paulo sofreu um decréscimo de 25% entre 2001 e 2005. Em contrapartida, obteve ganhos de produtividade no mesmo período, saindo de 10 t/ha para 13 t/ha, totalizando 205.607 toneladas em 2005. Esse fenômeno tem sido comum em função das conquistas científicas (BRASIL, 2007).

A Bahia foi o Estado que mais cresceu nesse período. A concentração do polo nordestino se dá no eixo Petrolina – Juazeiro. Petrolina (PE) é principal município brasileiro produtor de manga, com uma participação de 12,6% na produção nacional, seguida de Juazeiro (BA) com 11,8% e Livramento de Nossa Senhora (BA) com 6% da produção.

De acordo com o SEBRAE (2005), a oferta de produtos industrializados da manga praticamente se restringe a produção de polpa de manga e sucos. Segundo a Associação das Indústrias Processadoras de Frutas Tropicais (ASTN), o setor processa cerca de 57.600 toneladas/ano de manga. A oferta das empresas de polpa congelada pronta para o consumo, sediadas na Bahia, é de 8.190 mil litros, que representa 40,5% da oferta brasileira.

À medida que a produção aumenta e que se qualifica, o produto é mais aceito no mercado e o preço tende a cair, numa clássica relação de oferta e procura. Quanto às projeções de mercado, as estimativas são de forte crescimento para os sucos prontos para beber, néctares e drinques e crescimento moderado para as polpas de frutas congeladas.

A produção da região Nordeste está condicionada ao acesso à água, nesse contexto, foram adotados progressivamente diferentes sistemas de irrigação. No polo Petrolina - Juazeiro, o mais utilizado hoje é a micro aspersão. Esse modelo permite pouco desperdício de água, de energia e tem um baixo custo. É um modelo ideal a pequenos produtores que não podem fazer grandes investimentos e dispõem de mão de obra familiar. No entanto, o modelo adotado por maiores produtores tem sido a irrigação por gotejamento, que é mais moderna econômica e eficiente.

As técnicas de indução à produção de manga no semiárido nordestino, por exemplo, foram fundamentais para permitir duas safras ao ano e, com isso, garantir bons preços. Estas técnicas foram desenvolvidas pela EMBRAPA Semiárido e permitem a floração da mangueira para qualquer época do ano. A maior vantagem é dispor do produto em épocas de entressafra. Estas técnicas são acessíveis a todos os produtores, grandes ou pequenos. O manejo técnico é mais utilizado por médios e grandes produtores. Com o uso desses novos recursos, essa

microrregião teve uma elevada produtividade, com uma média entre 15 a 20 t/ha, e as mais modernas chegam a 40 t/ha nos casos das mangas do tipo Tommy Atkins (SEBRAE, 2005).

Os produtores mais tecnificados normalmente adotam práticas de empreendedorismo e gestão administrativa, incorporando a logística da Produção Integrada de Frutas (PIF) que representa um sistema de produção gerador de alimentos e produtos de alta qualidade, mediante a aplicação de recursos naturais e a substituição de insumos poluentes, levando em conta a proteção e a sustentabilidade ambiental, o retorno econômico e os requisitos sociais. A EMBRAPA desenvolveu caixas plásticas mais apropriadas para manter a integridade das frutas com cantos arredondados e alturas recomendadas por testes de resistência e empilhamento, reduzindo consideravelmente os prejuízos.

Apesar da importância das tecnologias, a fruticultura ainda apresenta uma forte dependência climática. Com a reestruturação produtiva pós-colheita os avanços foram significativos. A EMBRAPA e os departamentos de tecnologia de diversas universidades têm produzido pesquisas visando prolongar a vida de prateleira das frutas.

De acordo com o SEBRAE (2005), os indicadores mostram que, para a cultura da manga irrigada, as diversas taxas de desconto consideradas são viáveis financeiramente. A manga apresenta para cada real gasto um retorno médio de R$ 1,16. No entanto, existem muitas variáveis que devem ser observadas na elaboração de uma planilha de custos, sendo que a mão de obra é um dos itens que mais oneram os custos de produção da manga. Apesar das condições favoráveis ao desenvolvimento desta cultura, é necessária uma análise de toda a cadeia com a finalidade de identificar barreiras ao longo dos segmentos funcionais.

Na Bahia, a produção só aumentou ao longo do período compreendido entre 1990 e 2011, devido ao cultivo em áreas irrigadas e que adotaram tecnologias mais eficientes como os polos do vale do São Francisco, Livramento de Nossa Senhora e Dom Basílio, que nessa época tiveram um aumento de quase 400%, enquanto o Brasil foi de menos de 50% (Tabela 8). Tabela 8 Brasil e Bahia Produção de Manga 1990-2011 Brasil/Estado/ 1990 2000 2010 2011 Brasil 1.557.587 2.153.205 1.189.651 1.249.521 Bahia 113.378 501.493 509.676 522.471

As exportações brasileiras dessa fruta destinam-se principalmente a Holanda, Reino Unido, Espanha, Estados Unidos, Alemanha e Portugal (ANUÁRIO BRASILEIRO DA FRUTICULTURA, 2009).

A vantagem do Nordeste é o clima, muita insolação, com a implementação de infraestrutura, tecnologia e irrigação garante o mercado externo. Nesse contexto, pode ocorrer também uma participação interessante dos pequenos produtores. Após o apoio da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) tem garantido a participação nos grandes mercados.

A Bahia é o maior produtor do Nordeste, com 522.471 toneladas com arrecadação de 227.345 milhões de reais (34% do total nacional), seguido de Pernambuco, São Paulo e Minas Gerais (IBGE, 2011) (Tabela 9).

Tabela 9 Brasil Produção de Manga

2010/2011

Brasil/Estado Área colhida Valor da Produção

(milhões reais) 2010 2011 2010 2011 Brasil 75.179 76.383 600.111 651.259 Bahia 27.815 26.991 214.624 227.345 São Paulo 12.519 13.364 96.402 108.684 Pernambuco 10.111 11.409 140.794 137.330 Minas Gerais 8.298 8.364 63.625 90.753

Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal

O estado da Bahia apresenta os polos de fruticultura irrigada em destaque nacional, como o do Vale do São Francisco, no município de Juazeiro e na Serra Geral, nos municípios de Livramento de Nossa Senhora e Dom Basílio. Aproximadamente 10.286 produtores estão envolvidos com o setor frutícola, envolvendo manga, uva e outras lavouras não especificadas (IBGE, 2010) (Figura 5).

Figura 5 – Bahia – Produção de mangas – 2011

Fonte: IBGE – 2012/ Organizado por Altemar Rocha

Essas áreas desenvolveram importantes polos. Tais polos são grandes corredores de exportações da manga para grandes mercados mundiais como os Estados Unidos e a União Europeia que importam as frutas em dois períodos anuais, sendo que o de maior proporção ocorre entre os meses de agosto a dezembro. No semiárido baiano, a produção de frutas ocorre durante o ano todo, no entanto a maior safra é de julho até dezembro. Segundo dados do SEBRAE (2005), a exportação baiana corresponde de 25% a 30% do que produz, sendo praticamente o dobro da média nacional de exportação de frutas que está entre 14% a 15% do produzido.

O vale do Rio São Francisco compreende uma área de 64 milhões de ha, estendida por praticamente todo o rio. Deste total, 35,5 milhões de ha são terras agricultáveis, embora apenas oito milhões de ha tenham fácil acesso à água. O Rio São Francisco oferece plenas condições de irrigação, este fato garante a produtividade o ano inteiro e tem sido o principal responsável pelo polo agroindustrial de Petrolina/Juazeiro.

Nesse polo existe uma grande disponibilidade de terra e água de boa qualidade que permitem a produção de frutas como manga e uva, sendo, atualmente, o maior produtor nacional. Em função desses fatores nessa região houve uma concentração de empresas com grande infraestrutura e altas tecnologias em produção de mangas, atendendo prontamente os rigorosos mercados internacionais e também os grandes centros nacionais. Os pequenos produtores que não conseguem se enquadrar nessa estrutura são assistidos pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Paraíba (CODEVASF) ou fazem parte de associações como a APROVALE. Os produtores dessa região podem contar com o apoio logístico da Associação dos Produtores e Exportadores de Frutas do Vale do São Francisco (VALEXPORT, 2006).

Do total da área cultivada com manga, na Bahia, segundo a CODEVASF, 72% dos plantios correspondem a uma única variedade que é a “Tommy Atkins”. A segunda variedade mais plantada é a “Haden” com cerca de 10% da área cultivada. Contudo, existem plantios menores explorando cerca de outras 22 variedades das quais apenas quatro delas apresentam características e potencial para exportação, ou seja: “Keitt”, “Kent”, “Palmer” e “Van Dyke”. (SEBRAE, 2005). A manga Palmer tem sido a mais procurada para novos plantios e como substituição dos velhos pomares. Esta manga reúne as melhores qualidades para atender mercados distantes, os pomares na microrregião de Livramento do Brumado na Bahia, estão substituindo gradativamente as variedades de manga por esta, por ser mais adequada a exportação.

No Vale do São Francisco há uma convivência entre grandes, médios e pequenos produtores. De acordo com a CODEVASF (2002), a maioria dos produtores nordestinos possui entre médias a grandes áreas de manga, sendo que os pequenos produtores ocupam uma área média de 6,5 hectares, enquanto os grandes ocupam áreas que variam entre 50 a 500 hectares. A microrregião de Livramento do Brumado tem uma realidade distinta, pois 81% das propriedades dentro do perímetro irrigado são compostas por pequenos produtores. Os lotes apresentam uma boa distribuição da terra, variando entre 5 a 10 hectares.

A manga produzida na Bahia é destinada às principais regiões metropolitanas do Brasil, chegando até o Rio Grande do Sul. O fruto é mais consumido no verão tanto por ser

uma época de safra como também é uma estação mais favorável ao consumo. Segundo PAM/IBGE (2008), a produção de frutas em 2007 foi de 41,5 milhões de toneladas gerando um valor de R$ 16,6 bilhões de reais. Estes números, em relação a 2002, representam um incremento de 8% no volume e de 51% em valor de área colhida. O aumento da produção no período deveu-se principalmente aos ganhos de produtividade. O bom desempenho da manga surpreendeu a todos os prognósticos negativos e o Brasil se posicionou como forte produtor desta fruta em períodos de entressafra na Europa, inclusive chegou a apresentar excesso de oferta em 2008 comprometendo o preço nos mercados internacionais e nacionais.