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PRODUTIVIDADE NO TRABALHO DA ADVOCACIA

4 CAPÍTULO – OS IMPACTOS NA ADVOCACIA

4.6 PRODUTIVIDADE NO TRABALHO DA ADVOCACIA

Dos cinquenta e cinco respondentes, trinta e oito (69,09%) entendem que há considerável aumento na produtividade dos(as) advogados(as). E este percentual aumenta, na medida em que se verificam as respostas nacionais (71,43%) e as locais (93,33%).

Tabela 11 – QUANTO À PRODUTIVIDADE NO TRABALHO DO(A) ADVOGADO(A)

Advogado(a)s Percepção de:

Há aumento ou diminuição na produtividade trabalho dos(as) advogados(as)? Primeira Etapa Nacional Segunda Etapa Local Professore(a)s

Universitários Magistrado(a)s Servidore(a)s da Justiça

Respostas n % n % n % n % n % n % Aumento 38 69,09% 15 71,43% 14 93,33% 3 30,00% 3 60,00% 3 75,00% Não aumentou, nem diminuiu 8 14,55% 3 14,29% 1 6,67% 4 40,00% 0 0,00% 0 0,00% Diminuição 1 1,82% 1 4,76% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% Depende do volume de processos 2 3,64% 0 0,00% 0 0,00% 1 10,00% 0 0,00% 1 25,00% Não responderam 6 10,91% 2 9,52% 0 0,00% 2 20,00% 2 40,00% 0 0,00% TOTAL 55 100% 21 100% 15 100% 10 100% 5 100% 4 100%

Há oito respondentes que argumentam no sentido de que não haveria nem aumento, nem diminuição, e outras duas respostas conduzem seus pareceres explicitando que isto dependeria diretamente do volume de processos de cada escritório, nada tendo a ver com a implantação do Processo Judicial Eletrônico. A tabela 11 apresenta a consolidação destes dados:

Trinta e oito respondentes percebem um aumento considerável na produtividade dos(as) advogados(as). Segundo o respondente, André Albuquerque de Souza, Advogado em Votuporanga/SP, nos escritórios menores, em que o(a) advogado(a) atua sozinho, por exemplo, passa a ocorrer um grande aumento na produtividade, tendo em vista o aproveitamento do tempo, pois não se faz mais necessário o constante deslocamento para fóruns e tribunais. Assim, quando utilizada com eficiência, essa nova ferramenta (o PJE), tanto por parte de quem envia os documentos, tanto por parte da acessibilidade dos sistemas, apresenta um nítido aumento na produtividade. Todavia, diante dos inúmeros problemas técnicos que aparecem, às vezes, de difícil solução, há perda de eficiência e produtividade, além de causar estresse no ambiente de trabalho, prejudicando a todos.

De qualquer forma, a produtividade tem aumentado porque a tecnologia da informação permite melhor organização do trabalho, melhor gestão e controle, rapidez na pesquisa de precedentes e na produção dos documentos:

Existe evidente aumento da produtividade, principalmente pela redução de tempo (Rondineli Reis, Advogado em Pará de Minas/MG).

Aumentou, pois a facilidade após a adaptação inicial é grande (Silvia Paz, Advogada em Manaus/AM).

Aumenta em dobro ou até mesmo em triplo (Tiago Romano, Advogado em Araraquara/SP).

Produz-se mais num curto tempo (Wesley Roberto de Paula, Advogado em Belo Horizonte/MG).

A produtividade aumentou pela intensificação (Juan Carlos, Advogado em Curitiba/PR).

A meu sentir a produtividade aumentou em razão da otimização do tempo na produção de peças processuais e, principalmente, pela otimização e facilidade de transmissão das peças processuais, sem a necessidade de deslocamento físico, mas apenas de dados (Luiz Bailão, Advogado em Goiânia/GO).

Observa-se, porém, que enquanto para alguns isto tem significado mais qualidade no trabalho, para outros, não, como se pode constatar na resposta abaixo:

A produtividade aumentou, mas isso não significa que esse processo tenha sido acompanhado de um incremento qualitativo. Na prática, as petições avolumaram- se em razão da colagens de argumentos, aproveitados de outras peças. Esse movimento, via de regra, é irrefletido, o que se comprova em inúmeras situações nas quais as peças recorrem a argumentos inadequados à hipótese e, não raro, a partes e processos distintos. Nesse sentido, não é temerário afirmar que o causídico que lida com o dia-a-dia de um escritório, sobretudo no âmbito contencioso, está a se tornar verdadeiro operário que, numa concepção tradicional de linha de montagem, não possui nenhum vínculo ou conhecimento acerca da dimensão do todo no qual se insere (José Nalini, Desembargador do TJ-SP).

Portanto, a produtividade tende a aumentar, visto que no tempo em que, antes era praticado um ato processual, hoje haveria a possibilidade de praticar cinco ou seis atos.

O que chama atenção, e serve como alerta, a partir do ponto em que se constada que há um aumento de produtividade - conforme pondera José Nalini, Desembargador do TJ-SP - é o fato de que com o Processo Judicial Eletrônico, agilizando as etapas do processamento, encurtando diversas etapas, o(a) advogado(a) “está a se tornar verdadeiro operário (...) numa concepção tradicional de linha de montagem”. Tal constatação relaciona-se diretamente com uma intensificação no trabalho do(a) advogado(a) que venha a “escravizá-lo”, nas palavras da respondente Mayara Araújo, Advogada na Paraíba.

Um pouco mais ponderados estão dois respondentes que argumentam ser impossível aumentar a produtividade, visto que esta dependeria diretamente do volume de clientes dos escritórios, e não da forma com que se realiza o trabalho:

É relativo, pois depende muito da rotina e atuação de cada advogado, mas podemos afirmar que o Processo Eletrônico, por ainda não estar 100% operante, não afasta a necessidade de acompanhamento pessoal pelos profissionais (Felippe Breda, Professor na PUC-SP, grifo nosso).

(...) na atividade da advocacia não há aumento de produtividade porque não trabalhamos com produtos, pois não fabricamos os problemas sociais que nos chegam (Fernando Horta, Professor na PUC-MG).

Assim, em relação ao volume de trabalho em si, não haveria alteração qualquer e, portanto, para estes respondentes, na média, a produtividade permaneceu a mesma, visto que os processos não são produtos, não são “fabricados” - surgem e agora têm, apenas, um instrumento mais rápido (o PJE) para solucioná-los.

Veja-se que, embora quantitativamente estes dois respondendes não representem a maioria – qualitativamente, a ponderação deles é razoável. De fato, como já estudado nos fundamentos desta dissertação, a produtividade não se confunde com a intensificação. Assim, o aumento na intensificação no fluxo processual não significa, necessariamente, que a produção tenha aumentado.

Noutros termos, como a produtividade relaciona-se diretamente com o processo do trabalho, há, agora apenas a possibilidade do aumento na produtividade, porém, este aumento, inserido dentro de uma visão taylorista, é apenas potencial. Efetivamente não há aumento na produtividade, visto que a quantidade de processos permanece a mesma. Portanto, mantendo-se a produção constante, o tempo de trabalho diminui, pois o fluxo é mais intenso.

A explicação da confusão entre intensidade e produtividade, feita pelos respondentes (e que é perfeitamente aceitável), é a de que como eles consideraram inconscientemente a utilização de seu “tempo livre” em outras atividades (aprender a lidar com o PJE, por exemplo), a totalidade destas ações foram contabilizadas instintivamente como “suposto aumento de produtividade”. Porém, especificamente em relação ao Processo Judicial Eletrônico, o que aumentou foi a

intensificação do fluxo do processo do trabalho, e não a produtividade.

Ou seja, o Processo Judicial Eletrônico passa a ser, apenas, uma nova ferramenta com o propósito de resolver, de forma mais ágil, as demandas sociais, que não são produtos e que, portanto, não serão maiores apenas por existir o Processo Judicial Eletrônico.