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4 CAPÍTULO – OS IMPACTOS NA ADVOCACIA

4.5 RESISTÊNCIA DOS(AS) ADVOGADOS(AS)

Enquanto na pesquisa nacional, quatorze dos vinte e um respondentes informam que há muita resistência às mudanças trazidas pelo Processo Judicial Eletrônico, localmente, em

Araucária, oito dos quinze advogados(as) responderam ao questionário de maneira diversa, pois, segundo estes, não haveria qualquer tipo de resistência a estas mudanças (veja tabela 10).

A consolidação das respostas aponta que vinte e cinco dos respondentes afirmam não haver qualquer tipo de resistência, enquanto outros vinte e três admitem que há, sim, certa resistência às mudanças trazidas pelo Processo Judicial Eletrônico.

Há advogados(as) que ainda não conseguem conceber que um documento enviado eletronicamente possa ter a mesma “validade” de um documento com a chancela do setor de protocolo dos fóruns, mesmo porque muitos(as) advogados(as) são da época das máquinas de escrever, e não conseguiram (ainda) se adaptar às novas ferramentas tecnológicas.

Tabela 10 - RESISTÊNCIA DOS(AS) ADVOGADOS(AS) AO “USO” DO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO

Advogado(a)s Percepção de:

Há muita resistência, pelos(as) advogados(as), às mudanças trazidas pelo PJE?

Primeira Etapa Nacional Segunda Etapa Local Professore(a)s

Universitários Magistrado(a)s Servidore(a)s da Justiça

Respostas n % n % n % n % n % n % Não 25 45,45% 7 33,33% 8 53,33% 6 60,00% 2 40,00% 2 50,00% Sim 23 41,82% 14 66,67% 4 26,67% 2 20,00% 1 20,00% 2 50,00% Não Responderam 7 12,73% 0 0,00% 3 20,00% 2 20,00% 2 40,00% 0 0,00% TOTAL 55 100% 21 100% 15 100% 10 100% 5 100% 4 100%

Fonte: pesquisa de campo

Luiz Carlos Santana Delazzari, assessor de Juiz na 1ª Vara Cível da comarca de Ponte Nova – MG, comenta: “Mas é natural, acredito, a resistência ao que é novo, desconhecido. Sabe- se que foi assim também com a chegada das máquinas de escrever”45. Abaixo, algumas declarações dos respondentes:

45 Acerca da resistência dos advogados ao PJE, o professor Fábio Ulhoa Coelho destaca que nos primórdios do uso

da máquina de escrever e do computador ela já existia: “Em 1929, a Câmara Criminal do Tribunal da Relação de Minas Gerais anulou uma sentença judicial porque não tinha sido escrita pelo juiz de próprio punho. A decisão havia sido datilografada! O tribunal considerou, naquela oportunidade, que o uso da máquina de escrever era incompatível com um dos valores basilares do processo penal, o do sigilo das decisões antes da publicação. No fim da década de 1980, várias sentenças foram anuladas porque os juízes haviam usado o microcomputador. Os tribunais receavam que o novo equipamento, na medida em que permitia a reprodução de sentenças “em série”, pudesse prejudicar a devida atenção do magistrado para as particularidades de cada caso. Outro dia, um colega advogado contou que, ainda estagiário, teve dificuldade ao protocolar uma petição num Fórum do interior de São Paulo porque a peça tinha sido impressa em impressora a laser, despertando a desconfiança do escrivão, que só conhecia, até então, a impressão matricial. Aconteceu uns 12 anos atrás. Esses relatos não provocam, hoje, senão estranheza. Ninguém mais acha que a máquina de escrever, o microcomputador ou a impressora a jato de tinta

Sobretudo os advogados mais velhos, aqueles que são oriundos das petições

escritas em máquinas de escrever resistem bastante, o que não ocorre com os mais novos (Fernando Belfort, Professora da UFMA, grifo nosso).

Acredito que com os mais antigos, principalmente aqueles não familiarizados com a informática (Firmino Alves Lima, Juiz do Trabalho em Piracicaba/SP). Quanto a isto posso responder com convicção. Existe sim resistência ao

processo eletrônico em muitos setores, não apenas na Advocacia, mas também na Magistratura e no Ministério Público. No julgamento do REsp.

n.º 844.736/DF, por exemplo, um dos Ministros do STJ chegou a dizer que “detesta tecnologia” e que não se sentia confortável com alguns recursos tecnológicos. Por outro lado, alguns setores da sociedade estão fortemente engajados em aprimorar e estender o alcance do processo eletrônico (Leonardo Parentoni, Advogado da União em Divinópolis/MG, grifo nosso).

As respostas supracitadas revelam que ainda há muita resistência, não só dos(as) advogados(as), ao uso das novas tecnologias, como também dos próprios servidores e demais operadores do Direito. Percebe-se que não são poucos os que olham com certa desconfiança a chegada do Processo Judicial Eletrônico.

Por outro lado, vinte e cinco respondentes, concordam com a mudança. Apesar de algumas dificuldades nas primeiras operações - como a falta de alguns softwares, problemas de versão de navegador e falhas de procedimento - a continuidade de seus trabalhos passa a ser fluida e tranquila. Ponderam, argumentando que advogados(as) que iniciam neste novo método conseguem compreender rapidamente as vantagens do Processo Judicial Eletrônico:

Não vemos resistências dos advogados, mas sim, a dificuldade da ferramenta, a compreensão do modelo e alargamento do horizonte para que constantemente progrida no seu atributo profissional (Carlos Abrão, Desembargador do TJ-SP). Não percebo muita resistência entre os membros mais novos (a média de idade dos membros é de 35-40 anos). Cada vez mais quem entra já nasceu tendo à mão o computador e o celular (Ela Wiecko, Professora de Direito da UnB).

Desconheço. Talvez, as dificuldades se referem a advogados que não

buscaram capacitação em conhecimentos de informática (Ezequiel,

Advogado em Horizontina/RS, grifo nosso).

possam lesionar direitos ou comprometer, de algum modo, a validade de atos ou decisões judiciais. Não houve prejuízos nestes casos. O magistrado mineiro, em 1929, copiou de próprio punho a sentença datilografada, os juízes pioneiros no emprego do microcomputador mandaram trazer de volta ao seu gabinete a máquina de escrever elétrica e o meu colega, após o empenho característico dos bons profissionais, conseguiu protocolar a petição impressa a laser”. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2007-set- 08/judiciario_ainda_reluta_avancos_tecnologicos Acesso feito pelo entrevistado em 29 de setembro de 2009, e anexado à sua entrevista.

A resistência já foi maior: antes de 2006, ano da lei, era marcante. Atualmente com as vivencias e experiências a resistência tem sido menor,

apesar de haver certa descrença em razão de dificuldades econômicas dos Tribunais (Fernanda, Advogada em São Paulo/SP, grifo nosso).

Vê-se, portanto, que este grupo de respondentes trata o Processo Judicial Eletrônico como um processo de aprendizado, constituindo uma mudança de cultura e como toda mudança importa na adaptação do hábito, via estudo e prática na operação dos sistemas.

É a partir desta constatação, que a Profa. Dra. Thereza Christina Nahas, da Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo-SP, sugeri que o mais importante seria as universidades alterarem seus currículos dos cursos de direito, para constar neles o treinamento e a capacitação acadêmica em Processo Judicial Eletrônico.