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CNPq54.

2.6 Produtividade na pesquisa em Comunicação ---

Nesta investigação sobre o Panorama da Comunicação no Brasil a modalidade de Bolsa de Produtividade em Pesquisa (PQ)55 é um dos mais tradicionais instrumentos de apoio a pesquisa

no Brasil. Concedida pelo CNPq foi instituído em 1951, com a finalidade de “distinguir o pesquisador, valorizando sua produção científica segundo critérios normativos, estabelecidos pelo CNPq, e específicos, pelos Comitês de Assessoramento da Instituição”. Concedida para quem tem o título de doutor ou perfil científico equivalente, considera como critérios de seleção a produção científica, participação na formação de recursos humanos e sua contribuição para a área, entre outros. A análise é comparativa e os bolsistas são distribuídos em cinco níveis: 1A, 1B, 1C, 1D e 256, sendo o 1ª o mais alto.

Em 2010 mais de 3.230 pesquisadores receberam bolsas. São no total 12.100 bolsistas de Produtividade, nas oito áreas de concentração do CNPq, representando um crescimento de 18% em relação ao ano de 2008. “Desde o início de 2003, já foram concedidas 4.300 novas bolsas PQ, significando uma ampliação do número de pesquisadores atendidos nesse programa em 55%”57.

Embora interessante essa modalidade de estímulo, os critérios de avaliação vem sofrendo várias críticas, especialmente com referência a homogeneidade das análises, quer dos pesquisadores ou de sua produção, para a concessão da bolsa. Mais quantitativos que qualitativos, ainda estão muito ligados a quantidade de publicação, levando em consideração um padrão igual para todos os pesquisadores atuantes em qualquer centro de pesquisa do país, passando a ideia que todos os pesquisadores possuem as mesmas condições de pesquisa nos centros onde atuam.

Para o professor Carpinteiro58, o CNPq pressupõe que todos os

pesquisadores atuam em centros que possuam, pelo menos, programas de mestrado, doutorado e grupos de pesquisa consolidados. E que em função disso possam “desenvolver pesquisas conjuntas com outros pesquisadores e seus orientados”.

Em um país de dimensões como o Brasil, com tantas desigualdades (como já demonstrado anteriormente), é natural que isso não aconteça.

Outro alerta feito pelo pesquisador é que não se pode medir a produtividade apenas pelo número

54 Convém observar que no Diretório de Grupos de Pesquisa há uma infinidade de informações, permitindo os mais variados cruzamentos. Os dados ali disponibilizados dariam, por si só, uma grande pesquisa.

55 Também há a modalidade de bolsa em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DT), em cujos critérios são semelhantes a bolsa PQ.

56 A classificação, o enquadramento e a progressão do bolsista de Produtividade em Pesquisa, por categoria e nível, bem como as recomendações de rebaixamento de nível e/ou exclusão do sistema, são atribuições dos Comitês de Assessoramento. Os critérios adotados pelos CAs para atender o item acima serão revistos a cada 3 (três) anos. Disponível no site do CNPq (http://www.cnpq.br).

57 Informações da Assessoria de Comunicação Social do CNPq.

58Otávio A. S. Carpinteiro é pesquisador da Universidade Federal de Itajubá. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”, disposível em: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=54272. As bolsas de produtividade são estímulos. É necessário definir critérios claros e transparentes, não somente para contemplar o pesquisa, mas para

a manutenção da bolsa.

de publicações. Um exemplo em seu artigo faz referência aqueles pesquisadores que mesmo não tendo as condições mínimas para o desenvolvimento de pesquisas ou para um número grande de publicações, mesmo assim criam e desenvolvem essas condições nos centros onde atuam, melhorando a qualidade e expandindo o ingresso de muitos. Para ele os critérios são “insensatos e injustos” vêm, “nestes últimos anos (...) tornando-se critérios iníquos e perversos”. Tal critica, segundo o professor, é que as avaliações não estão amparadas na qualidade das pesquisas. Elas ocorrem, igualmente, com base na "qualidade dos pesquisadores, auferida, obviamente, por intermédio da aplicação dos critérios quantitativos e universais”. Neste sentido aqueles que atuam nos pequenos centros “mesmo confeccionando excelentes projetos, porque são também bons pesquisadores, têm muito pouca chance de vê-los aprovados”.

O fato é que há profundas diferenças nas condições de pesquisa existentes nos diversos centros do país. E essa é uma característica que não pode passar despercebida nas avaliações. A tabela abaixo demonstra a atual concessão de bolsas (incluindo o ano de 2010), na área da Comunicação, corroborando com números as afirmações anteriores.

Tabela 10

Bolsas de produtividade (PQ) do CNPq, Comunicação, por região – até 2010

Bolsas Bolsas novas Pedido de

Região até 2009 concedidas 2010 renovação 2010 Totais

Totais 96 60 26 182 Centro-Oeste 3 5 1 9 Nordeste 11 6 3 20 Norte - - - 0 Sudeste 53 36 14 103 Sul 29 13 8 50

Fonte: Dados dos autores, dezembro de 2010

Na área da Comunicação são 182 bolsas (no total) concedidas. Na região Norte não há nenhuma bolsa PQ. Para as outras regiões, as representatividades são: Centro-Oeste, 5% (9); Nordeste, 11% (20); Sudeste, 57% (103) e Sul, 27% (50). Esses números demonstram a grande concentração de pesquisadores e de pesquisas nas Regiões Sudeste e Sul, como já apontados anteriormente.

Fazendo o detalhamento por Estados da Federação, a tabela abaixo demonstra essa divisão e as grandes disparidades.

Tabela 11

Bolsas de produtividade (PQ) do CNPq, Comunicação, por Estado - até 2010 Total Geral 182

Total Centro-oeste 9 Distrito Federal 8

Goiás 1

Mato Grosso do Sul - Mato Grosso - Total Nordeste 20

Bahia 12 Ceará - Maranhão - Paraíba 1 Pernambuco 6 Piauí - Rio Grande do Norte 1 Sergipe - Total Norte - Total Sudeste 103 Espírito Santo 1 Minas Gerais 14 Rio de Janeiro 43 São Paulo 45 Total Sul 50 Paraná 3

Rio Grande do Sul 41 Santa Catarina 6

Fonte: Dados dos autores, dezembro de 2010

Como pode ser observado há vários Estados que não têm nenhum bolsista, especialmente nas Regiões Centro-Oeste e Nordeste, evidenciando que grande parte dos centros de excelência em pesquisa estão localizados nas Regiões e nos Estados mais desenvolvidos economicamente. Infelizmente não temos disponibilizado a quantidade de bolsas solicitadas por pesquisador, tão pouco a divisão por Regiões desses pedidos ou mesmo o número de solicitações não aceitas. Também não foi possível encontrar estatísticas dos anos anteriores. Esses números, talvez, pudessem evidenciar se não há demanda para algumas regiões-estados, como por exemplo, no caso da Região Norte onde não há nenhum bolsista PQ ou se essa ausência pode ser justificada em função dos critérios de seleção do CNPq. De qualquer forma o questionamento que deve ser feito é se de fato pode-se usar a homogeneidade de critérios para avaliar a produtividade do País na área da Comunicação, como tem sido o formato adotado pela agência de fomento. Outro dado interessante é com referência as instituições contempladas com esses pesquisadores PQ. São 29 no total do País. No Centro-Oeste a Universidade de Brasília (UnB) tem 8 pesquisadores e 1 na Universidade Federal de Goiás. No Nordeste, a Universidade Federal da Bahia, que responde por 12 dos 20 pesquisadores com bolsa PQ, representa 60% da Região e 7% do total; a Universidade Federal de Pernambuco tem 6 (30% da Região), na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e na Universidade Federal da Paraíba há 1 (5%) pesquisador, cada uma.

O Sudeste, onde há 103 bolsistas PQ, maior representatividade, 56% do total, esses estão distribuídos em 16 instituições. A Universidade Federal do Rio de Janeiro tem a maior representatividade, com 22 bolsistas, representando 21% do total da Região e 12% do total geral. Na Universidade de São Paulo há 20 bolsas, 19% do total da Região e 11% sobre o total geral. A terceira em número de bolsistas é a Universidade Federal de Minas Gerais, com 12, representando 11% da Região e 7% do total geral. As outras instituições são59 Fio-Cruz (1 –

1%); Pontifícia Universidade Católica nos estados de Minas Gerais (1 – 1%), São Paulo (8 – 8%) e Rio de Janeiro (3 – 3%); Universidade Estadual do Rio de Janeiro (6 – 6%); Universidade Federal Fluminense (9 – 9%); Universidade Metodista de São Paulo (2 – 2%); Universidade Estadual Paulista (2 – 2%); Universidade de Campinas (11 – 11%); Universidade Paulista (2 – 2%); Universidade do Rio de Janeiro (2 – 2%); Universidade Federal do Espírito Santo (1 – 1%) e Universidade de Uberlândia (1 – 1%).

Na Região Sul há 7 instituições representadas. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem 15 bolsistas, 30% do total da Região e 8% do total geral, tem a maior representatividade. Seguida pela Universidade da Região do Vale dos Sinos, tem 11, 22% da Região (6% do total); Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul com 10, com 20% da região (5% do total); na Universidade Federal de Santa Catarina e na Universidade Federal de Santa Maria há 5 bolsistas cada, que representam 10% do total da Região e 3% do total geral; Universidade Tuiuti do Paraná, com 3, sendo 6% da Região (2% do geral) e na Universidade do Estado de Santa Catarina, há 1 bolsista, 2% da Região e 1% do total geral.

É interessante observar que das 29 instituições contempladas, 9 são particulares, 6 são Estaduais, sendo uma delas a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e 14 são Federais.

Dois alertas são importantes com referência a esses dados, tendo por base os critérios de seleção do CNPq. O primeiro é que não há um estímulo para novos pesquisadores e o outro é com referência a não rotatividade dos bolsistas, uma vez que as condições de ascensão da bolsa devem satisfazer: “(...) Pesquisador Sênior: 15 (quinze) anos, no mínimo, com bolsa de Produtividade em Pesquisa na categoria 1, nível A ou B, do CNPq;

Pesquisador 1: 8 (oito) anos, no mínimo, de doutorado por ocasião da implementação da bolsa; Pesquisador 2: 3 (três) anos, no mínimo, de doutorado por ocasião da implementação da bolsa”60.

Podemos afiançar que para aqueles que conquistam a bolsa de produtividade, esta se constitui, de fato, em um grande estímulo. Mas é importante a ampliação dessa possibilidade, especialmente para aqueles cientistas em início de carreira e outros tantos que desbravam o ensino e a pesquisa em regiões, muitas vezes, inóspitas. Mais que

bons pesquisadores, esses espaços necessitam de homens e mulheres de coragem para o desafio do ensino e da pesquisa.

Muitas vezes esses pesquisadores ficam em localidades de difícil acesso aos centros mais desenvolvidos, o que se ocorresse possibilitaria um intercâmbio, não só com outros pesquisadores, mas com as múltiplas possibilidades de fomento. Também ficam em regiões mais distantes, com poucos alunos dispostos a fazer pesquisa, quer pela própria necessidade da região por mão de obra ou mesmo por imperativo individual desses estudantes, que precisam conciliar estudo e trabalho. É fundamental repensar as condições de concessão e os critérios de avaliação dessas bolsas de produtividade.

2.7 Pós-Graduação no Brasil ---

Estendendo as análises para os Programas de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom), credenciados pela Capes, esses números trazem outras distorções com referência a formação

60 Disponível no site do CNPq (http://www.cnpq.br), acesso em dezembro de 2010.

As regiões Norte e Nordeste que mais necessitam desse tipo de estímulo são

as menos contempladas.

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