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PROEJA como instrumento de ampliação de saberes

PARTICIPANTES DA PESQUISA

6. ANÁLISE E RESULTADOS: O PROEJA NA VISÃO DE GESTORES E EDUCADORES

6.1 CONTRIBUIÇÕES DO PROEJA

6.1.4 PROEJA como instrumento de ampliação de saberes

Uma outra questão ressaltada nas entrevistas foi a da aprendizagem alcançada pelos alunos. Segundo os entrevistados, ocorreram mudanças na vida dos estudantes por intermédio de sua inserção no universo do projeto educacional do PROEJA. Alguns professores externaram o quanto foi gratificante verificar o crescimento

dos estudantes no tocante à aprendizagem. Seguem alguns trechos que apontam isso:

[...] com relação a, por exemplo, a escrita mesmo e a leitura, muitos chegaram aqui praticamente sem saber escrever. Eles tinham muita dificuldade e a gente percebe que, ao longo do curso, que eles desenvolveram muito essa parte tanto de escrita, quanto leitura. (E1)

[...] a experiência que eu tive como professora na primeira série e na terceira, eu achei ela fantástica, porque, na primeira série, como eu ministrava Língua Portuguesa, os alunos tinham uma grande dificuldade de ler pequenos textos, de interpretar, de conseguir ler um poema e fazer uma análise, uma pequena reflexão, num era uma análise literária, de conseguir ler textos verbais e não verbais, os textos mistos, de charges e principalmente textos políticos [...]. Então, assim, eu insisti muito na primeira série [...]. Na segunda série, eu não trabalhei com o PROEJA. No terceiro ano, com essa mesma turma, eu percebi um progresso assim imenso. Então, assim, quando eu falei que foi fantástico, assim, o desenvolvimento dos alunos, porque eles perceberam, inclusive, eu tive a oportunidade de retomar isso com eles, que, no transcorrer das disciplinas, no decorrer dos anos, dos semestres, eles evoluíram muito. E tive a oportunidade de trabalhar novamente com esses mesmos textos, o que eles achavam uma coisa totalmente impossível, no terceiro ano, já era uma prática comum. (E4)

[...] tinha uma aluna que tinha uma dificuldade enorme em matemática e aí ela superou e foi muito emocionante pra ela e pra gente também [...]. Então, assim, eu acho que, nesse aspecto, da descoberta individual, quebraram aí, quebraram uma resistência que tinha também os alunos do PROEJA. Eles são muito resistentes, alguns deles acham que não vão aprender e quando eles

aprendem e conseguem dizer pra eles mesmos que eles são capazes, não a gente falando, eles mesmos, aí é muito interessante. (E7)

A fala de E7 chama a atenção para a resistência dos educandos frente aos desafios do retorno a escola, da necessidade de transpor barreiras e as dificuldades de aprendizado. Neste sentido, Barcelos (2009) ressalta que em Educação de Jovens e Adultos, se trabalha com um grupo de pessoas - alguns casos deste público – que internalizaram que são incapazes de aprender, são velhas demais para aprender, ou mesmo que o aprendizado não mudará em nada suas vidas. Deste modo, entende-se que é na escola, através da inclusão educacional, firmada em uma relação dialógica e de respeito entre os diferentes indivíduos, que jovens e adultos devem ser provocados a romper com os estigmas construídos histórica e culturalmente sobre a EJA e sobre si mesmos, enquanto educandos de EJA.

Sobre esta questão, na relação ensino-aprendizagem, são observados os acertos do Programa no que se refere à (re)construção significativa do conhecimento pelos educandos. Somam-se a este fato as oportunidades das vivências que os educandos tiveram, tanto no ambiente escolar, quanto em outros espaços de produção de conhecimentos:

[...] a gente foi a uma excursão com eles aqui, com os alunos do PROEJA, e a gente foi a BH visitar dois museus. Eu acho que foi uma das experiências mais significativas que eles tiveram. Primeiro, por conhecer uma cidade grande, nem todos conheciam. O museu, eles não conheciam museu, conhecer um espaço de aprendizado diferente. Então, foi muito importante, a princípio tinha uma resistência, depois eles chegaram lá e acharam muito interessante. Eu acho que é importante trabalhar essas questões assim sabe, e isso também foi importante para essa questão de influenciar, interferir na vida deles. Acho que passaram a levar isso como uma parte do conhecimento deles. (E7)

[...] você pegar uma pessoa que já tinha parado de estudar durante tanto tempo e você volta a colocar os novos desafios na vida dele, que é

aprender mais, que é vivenciar algo novo na vida deles, é a primeira coisa. Quantas pessoas que eu vi aqui no nosso Instituto e que quando começaram a ter aula falaram assim “nossa, eu não tô nem acreditando que eu estou estudando de novo, pra mim minha vida de estudo já tinha acabado”. Então, isso é gratificante, quando você vê aquelas pessoas formando e fala assim “nossa, eu consegui um curso”, isso é maravilhoso. (E10) Desse modo, o Documento Orientador do PROEJA cita que, muitas vezes, o público de EJA não tem oportunidade ou condições de participar de espaços sociais de produção de saberes que proporcionam o acesso aos bens culturais historicamente produzidos, como museus, teatros, exposições de arte, etc. Sendo assim, faz-se necessário que o currículo contemple este aspecto como parte do processo formativo do discente (BRASIL, 2007).

Diante da afirmativa, a escola deve promover a diversificação dos espaços formativos, utilizando metodologias dinâmicas que viabilizem as aprendizagens dos educandos, de forma a valorizar sua cultura, suas vivências e experiências, tornando-os mais participativos no percurso escolar. A fala de E8 corrobora esta ideia e evidencia que os conhecimentos pregressos que os estudantes traziam para a escola foram valorizados e considerados nas suas trajetórias escolares.

[...] respeitar o conhecimento prévio dos alunos, acho que isso foi um acerto [...] esses momentos também que exploravam a criatividade delas, igual a gente teve aqui a Mostra Cultural, em novembro de 2011, que elas fizeram, as duas turmas estudando sobre medicina alternativa, sobre plantas medicinais, arrasaram e eu aprendi muito com o estudo que elas fizeram e apresentaram. Então, isso também é um conhecimento que, provavelmente, elas já tinham e a gente aqui valorizou. (E8)

Desta maneira, é possível verificar um movimento em direção a uma formação no PROEJA que possibilita o desenvolvimento do indivíduo nos vários aspectos: cultural, social, ético, político, dentre outros, sem deixar de considerar toda uma bagagem de saberes

construída pelas diversas vivências nos diferentes espaços em que estes indivíduos transitam. O respeito e articulação desta gama de saberes, para (re)construção conjunta dos conhecimentos entre educando e educador, constitui-se em uma das premissas da EJA.

Assim, considerando as entrevistas, nota-se que, na visão de professores e gestores, o PROEJA promoveu mudanças significativas na vida dos jovens e adultos que concluíram os cursos. Foi ressaltado que um dos benefícios do PROEJA é a possibilidade de socialização que o retorno à escola traz aos estudantes, a importância do convívio, da interação em sala de aula para o desenvolvimento humano, social e cultural dessas pessoas. Entende-se que o maior acesso a informações, a melhoria da autoestima, a autoafirmação enquanto cidadão, um maior grau de escolaridade e o despertar para a educação continuada podem propiciar uma série de outros benefícios e de oportunidades e, deste modo, alargar os horizontes desses estudantes.