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Professor/aluno

No documento 2014CarinaCopatti (páginas 148-151)

5.2 Relações interpessoais na escola

5.2.2 Professor/aluno

Essa essência emergiu a partir das observações em sala de aula onde a relação professor/aluno acontece cotidianamente. A construção de um diálogo professor/aluno durante a aula não ficou evidente, pois os alunos mantinham-se somente copiando e realizando suas tarefas, sozinhos, ou solicitando auxílio dos colegas, sem questionar, opinar ou expor seu ponto de vista, reagindo constantemente de forma passiva, receptiva e respeitosa em relação ao professor titular.

Nota-se que são alunos tranquilos, alegres e bastante sorridentes, porém, a maioria se distrai com facilidade. Demonstram gostar de observar as outras crianças, e algumas vezes, levantam-se e se dirigem até a janela, onde observam os alunos que circulam do lado de fora da escola, na quadra de esportes. Alguns alunos de outras turmas ficam observando do lado de fora da janela o que a turma faz em sala de aula, acompanhando sem comunicar-se com eles, apenas observam o desenvolvimento da aula. O educador, diante disso, não costuma solicitar que os mesmos voltem aos seus lugares, pois acredita-se que as crianças tem seu tempo e

devem organizar-se para as atividades de acordo com suas próprias considerações.

Os alunos geralmente se comunicam dirigindo-se diretamente a algum colega, somente se dirigem ao professor quando julgam muito necessário. O professor comentou que a maioria dos alunos tem como característica a timidez, o que é bastante comum na cultura kaingang. Nesse contexto, Faustino salienta que:

Os alunos têm bastante familiaridade com os professores, têm liberdade de entrar e sair na hora que desejam da sala de aula, conversam muito entre si na língua materna, brincam bastante no pátio e nas instalações da escola, se alimentam bem no horário das refeições e riem o tempo todo. A questão do silenciamento parece estar relacionada à dificuldade de transposição entre o conhecimento espontâneo com o conhecimento sistematizado e sua aquisição via escola, pois não há desenvoltura dos Kaingang nas atividades de escrita e leitura, independentemente do conteúdo que se está trabalhando. Esse elemento demonstra a emergência da escola rever seus métodos de ensino e aprendizagem. (2010, p. 216).

As considerações feitas pelo autor partem das observações em sala da aula. Apesar de alguns não gostarem muito de estar na escola e de realizar várias atividades, mostrando-se um pouco demorados ao iniciar, logo se motivam a participar, sempre contentes e receptivos.

Um fator que, por vezes, acaba desmotivando o trabalho dos educadores é a infrequência dos alunos, isso porque causa descontinuidade no processo de ensino- aprendizagem. Sendo assim, o professor precisa construir um processo educativo baseado no diálogo, instigando a curiosidade do educando a partir de considerações do seu contexto cultural. Para Freire “a autoridade docente mandonista, rígida, não conta com nenhuma criatividade do educando. Não faz parte de sua forma de ser, esperar, sequer, que o educando revele o gosto de aventurar-se” (1996, p. 104).

Kullok afirma que, no processo de aprender, quando se deixa de pensar no ensino e preocupa-se com o aprender do aluno, a ação do professor se modifica, importando-se com o desenvolvimento e com o crescimento dele em sua totalidade, o que significa, por meio do seu trabalho, atentar para o conhecimento, as habilidades, as atitudes ou valores do educando (2002, p. 16). Para Kaercher, o ensino continua desacreditado, os alunos, de modo geral, não têm mais paciência para ouvir os professores. E é preciso fazer com que o aluno compreenda a importância do espaço na construção da sua individualidade e da sociedade da qual faz parte. É necessário, portanto, considerar o saber e a realidade do aluno como referência para o estudo do espaço geográfico (2009, p. 223).

costumes do seu povo, os quais estão presentes também no ambiente escolar. A utilização da língua kaingang na escola é frequente, vista como necessidade, a fim de fortalecer a identidade cultural, a qual é abordada frequentemente por todos os professores de etnia indígena através da realização de várias atividades que utilizem a língua materna nas aulas.

Em relação ao convívio professor/aluno, através das observações participantes realizadas durante as oficinas, passou-se a um contato mais direto com os alunos, onde foi observado o carinho destes na relação com os colegas e com os professores. Os alunos mostram-se bastante curiosos, apesar de inicialmente, tímidos e retraídos, sendo que as meninas demoraram mais tempo para começar a participar das atividades propostas. Já os meninos, mostram-se mais comunicativos, gostando de contar do seu dia a dia fora da escola e das atividades que realizam.

Kullok afirma que “quando os alunos percebem que a aula é interessante, eles participam. O que ocorre, na maioria das vezes, é que as aulas são desinteressantes, o professor utiliza o mesmo material por anos seguidos, não busca novas informações, não se atualiza” (2002, p. 20). Percebemos que, quando é disponibilizado espaço para conversas no ambiente da sala de aula kaingang, os alunos contam várias histórias, demonstrando interesse pelas atividades propostas e comentando quando a atividade lhe agrada.

Ao encontrar dificuldades, não hesitam em demonstrar certo descontentamento, mas sempre com palavras calmas e atitudes alegres. Em nenhum momento, percebeu-se irritação, críticas ou tristeza entre eles. Sendo assim, compreendemos, a partir das considerações de Delors, a importância em fundamentar a aprendizagem, que se constituiu nos pilares da educação para o homem viver em sociedade:

Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. É claro que estas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta (DELORS, 2003, p.89-90).

Os risos fáceis, as conversas, o contato com os colegas foram algumas das percepções destes encontros em que ficou evidente um processo educativo harmônico e um ambiente de tranquilidade, demonstrando empatia entre professor e alunos, cada qual com suas

características. Freire considera que:

O diálogo entre professoras ou professores e alunos ou alunas não os torna iguais, mas marca a posição democrática entre eles ou elas. Os professores não são iguais aos alunos por n razões, entre elas porque a diferença entre eles os faz ser como estão sendo. Se fossem iguais um se converteria no outro. O diálogo tem significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro. O diálogo, por isso mesmo, não nivela, não reduz um ao outro. Nem é favor que um faz ao outro. [...] Implica, ao contrário, um respeito fundamental aos sujeitos nele engajados, que o autoritarismo rompe ou não permite que se constitua. (1992, p. 117-118).

No desenvolvimento das atividades práticas com os alunos, a partir das oficinas, ressalta-se a participação destes, interagindo, dialogando com mais facilidade e analisando as imagens durante a observação solicitada. Notadamente, alguns alunos tem mais facilidade em se comunicar, outros são mais tímidos, mas a maioria participou cantando junto as músicas escolhidas para apreciação e lendo os textos.

No desenvolvimento destas atividades, mostraram-se atentos, participativos e acessíveis para a aprendizagem, apesar de apresentarem dificuldades de concentração no processo de reflexão e na criação de suas próprias conclusões, fato relacionado às dificuldades de leitura, interpretação e compreensão da língua portuguesa.

No documento 2014CarinaCopatti (páginas 148-151)