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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 PROFESSOR DE ENSINO SUPERIOR

2.3.1 Funções do professor do ensino superior

Conforme pode-se observar no item anterior, tão somente o conhecimento técnico, ou seja, o domínio do conteúdo por si só, não é suficiente para o atual e re- querido desempenho da função docente.

Assim, de acordo com Rodrigues e Esteves (1993, p. 41), consegue-se vis- lumbrar algumas outras funções requeridas de um professor do ensino superior:

O professor é visto como um especialista no desenvolvimento social do alu- no, devendo estar aberto ao mundo exterior à escola e constituir-se como mediador entre ela e o mundo. Espera-se que o professor exerça as fun- ções de instrutor e formador, transmitindo informações e valores fundamen- tais e ajudando o jovem a adoptar (sic) valores próprios e a desenvolver a capacidade de tecer juízos críticos sobre as informações alternativas. Neste âmbito, deve ser sensível às transformações econômicas, sociais e cultu- rais, tomando em consideração as novas e diversificadas necessidades da sociedade.

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Nesse mesmo sentido, em sua tese de doutorado Abud (1999), ao investigar as características de qualidade de um grupo de professores1 da Universidade de

Taubaté, constatou que para os professores objeto da pesquisa, tão somente o co- nhecimento técnico, ou seja, o domínio do conteúdo por si só, não é suficiente para desempenhar a função docente.

Complementando essa idéia, Formosinho (2001, p. 37) considera que:

a docência implica, ao mesmo tempo, um desempenho intelectual e um de- sempenho técnico, um desempenho relacional e um desempenho moral, que exige o empenhamento cívico dos professores e o seu compromisso com os outros. Isto é, assume-se que a docência é uma actividade (sic) de serviço, que o professor é, para além de especialista numa área do saber, também um profissional de ajuda, um agente de desenvolvimento humano.

Destacando o compromisso ético e a função social do professor, Imbernón (apud GAETA, 2001 p. 56) afirma que:

la función docente esta entonces en un equilíbrio entre las tereas profisiona- les en la aplicación el un conocimento, el contexto en que se aplican, el compromiso ético de su función social y la estrutura de participación social existente en esse momento y en la que se está comprometido.

Assumindo que realmente houveram recentes transformações nas funções do professor universitário, deixando de centrar-se somente no ensino, pesquisa e admi- nistração, Zabalza (2004, p.109) menciona outras novas funções que atualmente são exigidas dos professores de ensino superior:

Ainda que, na visão de alguns, o papel do professor universitário continue sendo o mesmo, não há dúvida de que estamos diante de uma expressiva transformação, seja das características formais da dedicação dos professo- res (com uma presença ampla de professores associados e em tempo par- cial), seja das exigências que são impostas a eles. (...)Muitas vezes, atribu- íram-se aos professores universitários três funções: o ensino (ou a docên- cia), a pesquisa e a administração (nos diversos setores institucionais: dos departamentos e faculdades às diversas comissões e à direção da universi- dade). Atualmente novas funções agregam-se a estas, as quais ampliam e tornam cada vez mais complexo seu exercício profissional: o que alguns chamaram business (busca de financiamento, negociação de projetos e

1 Esse grupo de professores recebeu, com base em uma pesquisa de avaliação de desempenho do-

cente abrangendo 6.800 alunos dos diversos cursos da instituição e realizada pela Pró-Reitoria de Graduação nos anos de 1994 e 1995, o conceito de “bons professores”.

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convênios com empresas e instituições, assessorias, participação como es- pecialistas em diversas instâncias científicas, etc.) e as relações institucio- nais (que são entendidas de diferentes maneiras: da representação da pró- pria universidade nas inúmeras áreas em que é exigida até a criação e a manutenção de uma ampla rede de relações com outras universidades, em- presas e instituições buscando reforçar o caráter teórico e prático da sua formação e, em alguns casos, seu caráter internacional).

Comenta ainda o autor ao referir-se especificamente à docência, que em fun- ção das diversas mudanças ocorridas no cenário universitário, esta também sofreu significativas transformações, sendo que a tradicional missão de transmissor de co- nhecimentos foi substituída pelo papel de facilitador da aprendizagem de seus alu- nos.

Para que o professor cumpra com seu papel como profissional da educação, eis aí o grande desafio, mister se faz, que esse possua uma série de características traduzidas em conhecimentos, competências, saberes ou habilidades (termos mais freqüentemente utilizados pelos diversos autores), as quais serão discutidas na se- qüência.

2.3.2 Características, conhecimentos, competências, saberes e habilidades e- xigidas.

Da mesma maneira que em qualquer outra profissão, a docência para que cumpra honrosamente com seu papel diante das necessidades clamadas pela evo- lução e transformação do mundo capitalista e da sociedade, bem como de seus va- lores, torna-se imperativo que dela seja exigido uma série de conhecimentos.

Sendo assim, o exercício dessa nobre profissão exige de seu profissional “co- nhecimentos e competências próprios, preparação específica, requisitos de ingresso, plano de carreira profissional, etc.” (ZABALZA, 2004 p. 109)

Como competência profissional, Contreras (2002, p. 85) entende que:

é uma dimensão necessária para o desenvolvimento do compromisso ético e social, porque proporciona os recursos que a tornam possível. Mas, é ao mesmo tempo, a conseqüência destes compromissos, posto que se alimen- ta das experiências nas quais está em jogo o sentimento educativo e as conseqüências da prática escolar. Da mesma maneira, podemos dizer que a competência profissional é o que capacita o professor para assumir respon- sabilidades, mas que dificilmente pode desenvolver sua competência sem exercitá-la (...).

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Considerando que ocorreram transformações tanto nas universidades como nos professores (conforme já comentado no item 2.3.1), a questão dos saberes do- centes agora surge com outra perspectiva levando em conta influências da literatura estrangeira e nacional, as quais passam a considerar que o professor adquire e de- senvolve conhecimentos a partir de sua prática e no confronto com as condições da profissão (NUNES, 2001).

Diversos são os autores que abordam em seus trabalhos os “saberes” exigi- dos do professor de ensino superior, para o pleno desenvolvimento de suas funções.

“Saberes” estes que assumem as mais variadas denominações (tais como: conhecimento dos professores, competências profissionais, competências, caracte- rísticas dos bons professores, exigências intelectuais, saberes, etc), de acordo com a concepção de cada autor. Desta maneira, constam no quadro 1 (pág. 61),os que- sitos exigidos dos professores de ensino superior, sob a ótica de alguns autores e suas denominações.

Essa nova pedagogia exige que o professor seja muito mais do que um a- nimador competente para expor cativando a atenção do aluno. Ele precisará adquirir a necessária competência para, com base nas leituras da realidade e no conhecimento dos saberes tácitos e experiências do alunos, selecionar conteúdos, organizar situações de aprendizagem em que as interações en- tre aluno e conhecimento se estabeleçam de modo a desenvolver as capa- cidades de leitura e interpretação do texto e da realidade, comunicação, a- nálise, síntese, crítica, criação, trabalho em equipe e assim por diante. En- fim, ele deverá promover situações para que seus alunos transitem do sen- so comum para o comportamento científico. Para tanto ao professor, não basta conhecer o conteúdo específico de sua área. Ele deverá ser capaz de transpô-lo para situações educativas, para que deverá conhecer os modos como se dá a aprendizagem em cada etapa do desenvolvimento humano, as formas de organizar o processo de aprendizagem e os procedimentos metodológicos próprios a cada conteúdo.(KUENZER, 1999, p. 171-72

Conforme pode-se observar no quadro 1, são diversos os quesitos exigidos de um professor de ensino superior, não bastando tão só e simplesmente títulos de “professor”, “especialista”, “mestre” ou “doutor”, mas sim, conhecimentos, habilida- des e atitudes materializados e aplicados no processo de ensino-aprendizagem, os quais devem ou deveriam ser adquiridos durante a formação de um professor do ensino superior.

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AUTORES DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO DOS ITENS

Rabaçal (1998) Conhecimentos dos professores Conhecimentos próprios da disciplina que leciona; conhecimento sobre metodologia e didática de ensino; conhecimento da prática da pesquisa científica.

Centra (apud Garcia, 1999) Características dos bons professores universitários

Capacidade de comunicação; atitudes favoráveis aos alunos; conhecimento do conteúdo; boa organização do conteúdo e do curso; entusiasmo com a matéria; justo nos exames; disposição para a inovação; estimular o pensamento dos alunos; capacidade de reflexão.

Contreras (1999) Competências profissionais Capacidade de reflexão sobre a prática; capacidade de compreensão e quando necessário intervenção dos contextos intra e extra sala-de-aula; intuição, improvisação e orientação entre os sentidos próprios e os alheios.

Ramsden (apud Zabalza, 2004) Características dos bons professores

Desejo de compartilhar com os estudantes seu amor pelos conteúdos da disciplina; habilidade para fazer com que o mate- rial que deve ser ensinado seja estimulante e interessante; facilidade de contato com os estudantes e busca de seu nível de compreensão; capacidade para explicar o material de uma maneira clara; compromisso de deixar absolutamente claro o que se aprendeu, em que nível e por quê; demonstração de interesse e respeito pelos estudantes; responsabilidade de estimular a autonomia dos estudantes; capacidade de improvisar e de se adaptar às novas demandas; uso de métodos de ensino e tarefas acadêmicas que exijam dos estudantes o envolvimento ativo na aprendizagem, assumindo responsabili- dades e trabalhando cooperativamente; uso de métodos de avaliação comparativos; visão centrada nos conceitos-chave dos temas e nos erros conceituais dos estudantes antes da tentativa de dominar, a todo custo, todos os temas do progra- ma; oferta de um feedback da máxima qualidade aos estudantes sobre seus trabalhos; desejo dos estudantes (e de outras fontes) de aprender como funciona o ensino e o que se poderia fazer para melhorá-lo.

Conselho Geral de Ensino da Escócia

(apud Zabalza, 2004) Linhas fundamentais que definem o bom profissional do ensino Preocupação com os outros; competência nas tarefas próprias da atividade que desempenha e; compromisso pessoal com a transformação que desenvolve. Davies (apud Zabalza, 2004) Competências Capacidade de pesquisa e de ensino; alto domínio das tecnologias da informação e da internet; habilidades no desenvol-vimento de trabalho em equipes e na direção de projetos; familiaridade com amplo campo de métodos pedagógicos; habi-

lidade de assessoramento.

Gaeta ( 2001) Perfil do bom professor universitário Capacidade de docência; capacidade de investigação; capacidade de gestão; condições de analisar, compreender e interpretar o contexto em que desenvolve sua atividade de modo a poder partilhar com seus alunos a possibilidade de intervenção nessa realidade.

Perrenoud (2002) Saberes e competências Organizador de uma pedagogia construtivista; garantia do sentido dos saberes; criador de situações de aprendizagem; administrador da heterogeneidade; regulador dos processos e percursos de formação.

Perrenoud (2002) Perfil do professor contemporâneo Pessoa confiável; mediador intercultural; mediador de uma comunidade educativa; garantia de Lei; organizador de uma vida democrática; transmissor cultural; intelectual.

Moses (apud Zabalza, 2004) Competências Fundamentais atribuí-das ao professor competente

Alto nível de conhecimento de sua disciplina; habilidades comunicativas (conexão entre os conteúdos, clareza na exposi- ção oral ou escrita deles, materiais bem elaborados, etc.); envolvimento e compromisso com a aprendizagem dos estudan- tes: buscar meio de facilitá-la, estimular o interesse deles, oferecer-lhes possibilidades de uma formação exitosa, motivá- los para trabalhar arduamente, etc.; interesse e preocupação com cada um dos estudantes: ser acessível, ter atitude positiva, reforçar positivamente os alunos, entre outros.

Brown e Atkins (apud Zabalza, 2004) Exigências Intelectuais Analisar e resolver problemas; analisar um tópico até detalhá-lo e torná-lo compreensível; observar qual é a melhor manei-ra de se aproximar dos conteúdos e de abordá-los nas circunstâncias atuais; selecionar as estratégias metodológicas adequadas e os recursos que maior impacto possam ter como facilitadores da aprendizagem; organizar as idéias, a infor- mação e as tarefas para os estudantes.

Zabalza (2004) Competências

Saber identificar o que o aluno já sabe (e o que não sabe e deveria saber); saber estabelecer uma boa comunicação com seus alunos (individual e coletivamente); dar explicações claras, manter uma relação cordial com eles; saber agir de acor- do com as condições e características apresentadas pelo grupo de estudantes com que se tenha de trabalhar; saber estimulá-los a aprender, a pensar e a trabalhar em grupo; transmitir-lhes a paixão pelo conhecimento, pelo rigor científico, pela atualização, etc.

Quadro 1 – Quesitos exigidos dos professores de ensino superior Fonte: elaborado pelo autor

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