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Entre as contribuições que a EaD, efetivada nos ambientes virtuais de aprendizagem, pode trazer para a prática do professor destaca-se a recuperação dos registros, das produções e das interações ocorridas e gravadas no sistema. Pela Internet, de qualquer lugar e a qualquer hora, é possível resgatar a trajetória e os diálogos para análise e intervenção no processo de aprendizagem do aluno, fornecendo subsídios que podem ser utilizados também para a reflexão e a ação docente (ALMEIDA, 2003). Na modalidade de educação presencial, o professor fica restrito a um registro que é produzido a partir da memória, pois a intervenção usual faz uso da linguagem oral e não fica gravada em algum dispositivo que permita recuperar e analisar as informações.

Cada abordagem educacional reivindica um perfil distinto de professor. No modelo de abordagem de cunho auto-instrucional as atribuições do profissional que responde aos alunos no ambiente virtual, habitualmente denominado tutor44, são limitadas ao acompanhamento e esclarecimento de dúvidas operacionais e organizacionais, sem atenção para o processo de aprendizagem, cabendo-lhe a tutela do aluno sem o comprometimento com o processo educacional.

44 Essa é a nomenclatura mais comum encontrada na literatura se bem que também é possível

observar a de “instrutor”, “facilitador”, “moderador”, entre outros termos, dependendo da ênfase adotada.

Em oposição a esta configuração, tem-se a abordagem marcada pela construção do conhecimento, na qual se espera que a mediação pedagógica seja dinâmica, vivenciada em todas as interfaces do ambiente virtual de aprendizagem, com a utilização de variados recursos e estratégias, estimulando a interação e a interlocução bem como a expressão do pensamento e a construção do conhecimento entre os participantes. Essa permeabilidade educativa, marcada pela organização do espaço de aprendizagem e a construção de referenciais de pertencimento, estimula o diálogo e cria condições para potencializar a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal do aluno.

Nessa perspectiva, Almeida pautada em diferentes experiências afirma que:

Ensinar em ambientes digitais e interativos de aprendizagem significa: organizar situações de aprendizagem, planejar e propor atividades; disponibilizar materiais de apoio com o uso de múltiplas mídias e linguagens; ter um professor que atue como mediador e orientador do aluno, procurando identificar suas representações de pensamento; fornecer informações relevantes, incentivar a busca de distintas fontes de informações e a realização de experimentações; provocar a reflexão sobre processos e produtos; favorecer a formalização de conceitos; propiciar a interaprendizagem e a aprendizagem significativa do aluno (ALMEIDA, 2003, p. 334-335).

Esse “conjunto de ações educativas, que contribuem para desenvolver e potencializar as capacidades básicas dos alunos” com vistas ao “crescimento intelectual e autonomia” (SOUZA, 2004, p. 5), dimensiona a complexidade da prática pedagógica em abordagens interativas virtuais na perspectiva de superar as próprias condições adversas da distância, da falta do “olho no olho”.

O docente, que habitualmente assume uma turma de alunos em ambiente virtual de aprendizagem, traz como referência “práticas desenvolvidas em sala de aula convencional” com funções e papéis “sedimentados há muito tempo” como atesta Almeida (2004, p. 3). No contexto a distância, não se pode perder de vista as possibilidades de explorar as interfaces e os recursos comunicacionais e tecnológicos que propiciam inovações e subvertem o padrão educacional tradicional. Do ponto de vista do aspecto relacional, a presença sistemática do professor no ambiente usando “linguagem coloquial e afetiva que permite romper com o tratamento formal” (ALMEIDA, 2004, p. 4), as estratégias interativas e motivacionais são alguns aspectos que a experiência tem evidenciado como determinantes para o

sucesso do ensino e da aprendizagem a distância como o uso de som e imagem, criação de fóruns para assuntos extracurriculares.

O aspecto relacional embasado pela teoria sociointeracionista “de aceitação e convite à participação mútua que funciona como referência para as atitudes dos alunos” (ALMEIDA, 2004, p. 4), numa concepção de tempo assíncrono e síncrono no espaço virtual mediatizado pelas tecnologias da comunicação e informação na perspectiva da abordagem colaborativa aponta para um novo desenho dos processos de ensino e de aprendizagem. Indicia a construção do conhecimento, definido no âmbito da co-autoria, numa relação que favorece a eqüidade em contraposição ao autoritarismo.

Nessa ótica, além dos procedimentos habituais de planejamento que qualquer situação educacional requer para se atingir os objetivos traçados como, por exemplo, conhecer o grupo, seus interesses e necessidades, há também que se dar atenção especial - na modalidade a distância - ao uso da linguagem informal e afetiva para o estabelecimento de um clima acolhedor que favoreça o envolvimento do aluno com vistas à participação e a construção do conhecimento.

Nessa modalidade de educação, a ênfase na aprendizagem requer que os professores se tornem “mais atentos aos interesses e ao desempenho individual de cada aluno, os professores passam a se preocupar mais com a eficiência do “seu” método de ensino, passam a atuar mais como “treinadores” (como num time de esportes), mentores e guias dos seus alunos” (SOUSA, 1996, p. 10). Em grande parte, a presença e participação do aluno se definem de acordo com o clima estabelecido pelo professor no ambiente virtual, isto é, a qualidade que se instala na relação pessoal e interpessoal entre professor-aluno e aluno-aluno. Desse modo, o aspecto relacional caracteriza-se como fator determinante na construção do grupo de maneira a facilitar o desenvolvimento da aprendizagem.

Na modalidade a distância, o papel do professor no ambiente digital sofre redefinição significativa na relação com o aluno como a oportunidade de “compreender a importância de ser parceiro de seus alunos” além de “escritor de suas idéias e propostas, aquele que navega junto com os alunos, apontando as possibilidades dos novos caminhos” (ALMEIDA, 2003, p. 335). Diante destas inovações e exigências muitos profissionais da área educacional, sedimentados no modelo tradicional de educação mais formal, deparam-se com dificuldades para estabelecerem uma relação professor-aluno informal e descontraída, inviabilizando a

atuação docente na modalidade a distância. Enquanto outros mais flexíveis e arrojados sentem-se atraídos pelas novidades e possibilidades de estabelecer uma relação de ensino e de aprendizagem pautada em trocas e eqüidade.

Nessa ambiência, o aluno tem oportunidade de perceber que é “lido para compartilhar idéias, saberes e sentimentos e não apenas ser corrigido” (id, p. 335), cabendo ao professor a função de provocar a curiosidade, a expressão do pensamento e o partilhar de idéias.

Vale ressaltar, mais uma vez, a relevância da comunicação como fator preponderante na educação com lugar de destaque no ambiente digital e interativo, pois “a comunicação se dá essencialmente pela leitura e interpretação de materiais didáticos textuais e hipertextuais, pela leitura da escrita do pensamento do outro, pela expressão do próprio pensamento por meio da escrita.” (ALMEIDA, 2003, p. 338). Nas propostas interativas, todos os participantes têm oportunidade de emitir e receber informações, ler e reler os registros disponíveis e organizados nas interfaces numa possível e rica dinâmica de trocas que favorece a mediação pedagógica e/ou a “co-mediação”, “intervenção relacional e multidirecional (intermediação) com intencionalidade dando espaço à polifonia dos sujeitos envolvidos (CERQUEIRA, 2005, p. 129), modelo impraticável na educação convencional.

O papel do professor como “facilitador, supervisor, consultor do aluno no processo de resolver o seu problema“ (VALENTE, 199, p. 43) aponta para a complexidade de suas atribuições no exercício profissional, “chamado a desempenhar múltiplas funções, para muitas das quais não se sente, e não foi preparado” (BELLONI,1999, p. 79). Nesta análise a formação do capital humano para atuar em EaD distingue-se do modelo vigente de formação de professores que, por enquanto, não “oferece condições de preparar o professor para atuar nesse novo meio e poder alavancar o sucesso da EaD” (MEBIUS, 2005, p. 109).