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Com a criação do Agrupamento de estudos de Cartografia Antiga, integrado na Junta de Investigações do Ultramar195, Armando Cortesão irá ser o responsável da Secção de Coimbra, anexa à Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, em funcionamento desde 1960. Virá a ser seu director, proposto pela Universidade e nomeado pelo Governo a partir de 1961. A Secção de Lisboa era dirigida por Teixeira da Mota que ao tempo também era professor na Escola Naval. Desde os finais da década de 50 que Cortesão vinha a leccionar matérias no âmbito da História da Cartografia, curso que ganha consistência formal a partir do ano lectivo de 1961-1962, sendo ministrado em vinte palestras. Em 1963-1964, o curso de História da Cartografia, será estruturado em dez lições, com seis palestras da responsabilidade de Cortesão, sendo duas de Luís de Albuquerque196 e as restantes duas de Teixeira da Mota197. Da sua actividade docente, que se prolongou por mais de uma década, temos em 1969, o programa de um curso de História da Cartografia Portuguesa para estudantes e pós-graduados, composto de oito conferências e no ano lectivo de 1970-1971, com a colaboração de Luís de Albuquerque, um curso de História da Cartografia e da Náutica, também dirigido a estudantes e pós-graduados198.

Em 23 Abril 1961, a Universidade de Coimbra concederá a Armando Cortesão o título de Doutor Honoris Causa em Ciências Matemáticas, em reconhecimento académico

195 A Junta de Investigações do Ultramar foi criada pela Portaria nº 19766, de 18 de Março de 1963, para

funcionar junto do Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina. Passou por várias designações e é herdeira da antiga Comissão de Cartografia criada em 1883, que seria Junta das Missões Geográficas e Investigação Coloniais desde 1936, com reestruturação em 1945.

http://memoria-africa.ua.pt/collections/JIU/tabid/221/language/pt-PT/Default.aspx [consultado em 12-1-2013].

196 Luís Guilherme Mendonça de Albuquerque (1917-1992). Licenciado em Ciências Matemáticas e Engenharia

Geográfica. Doutorado pela Universidade de Coimbra. Aí exerceu funções de docente, com especial destaque para a História dos Descobrimentos. A sua formação científica, permitiu que se distinguisse no estudo sistemático da ciência náutica, que os navegadores portugueses conheciam e aperfeiçoaram durante os séculos XV a XVII, contribuindo com novos princípios e métodos de investigação historiográfica, que permitiram novas abordagens e conhecimentos no âmbito da expansão marítima portuguesa. Regeu diversos cursos universitários sobre a História da Náutica, no Brasil, Holanda e Inglaterra. Sobre esta temática deixou uma vastíssima obra, desde trabalhos de referência e estudos, à organização do Dicionário de História dos Descobrimentos

Portugueses. Foi colaborador de vários periódicos e fundador da revista Mare Liberum, no âmbito da Comissão

para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses. Foi consultor da Imago Mundi e conselheiro editorial do primeiro volume da History of Cartography. Dirigiu a Biblioteca da Expansão Portuguesa, o Agrupamento de Estudos de Cartografia Antiga e integrou a Junta de Investigações do Ultramar.

197 A. Cortesão, L. Albuquerque e A. Teixeira da Mota, “Curso de História da Cartografia – 1964”, Boletim do

Centro de Estudos Geográficos, vol. III, nº 29, Coimbra, 1964, pp. 140-190; “Curso de História da Cartografia –

1964 (Resumo de Lições)”, Esparsos, vol. II, 1975, pp. 221-259.

198 A. Cortesão, “Curso de História da Cartografia Portuguesa (para estudantes e pós-graduados)”, [Coimbra],

[Universidade de Coimbra], [1969] e A. Cortesão e L. Albuquerque, “Curso de História de Cartografia e da Náutica 1970-1971 (para estudantes e pós-graduados)”, [Coimbra], [Universidade de Coimbra], [1970].

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pelos seus estudos da cartografia dos descobrimentos, mas também pela ligação da sua actividade intelectual à Secção de Matemática da Faculdade de Ciências199. No discurso de agradecimento, diria Cortesão de si próprio:

“encontro-me aqui como historiador duma ciência, a cartografia, intimamente associada à náutica. A publicação em curso da Portvgaliae Monvmenta Cartographica, mais veio evidenciar a importância que para nós tem o estudo da cartografia antiga, tanto pelo aspecto cultural como pela afirmação de direitos numa hora grave da nossa história de nação civilizadora. Hora de injustiça e ingratidão, em que certas gentes se esquecem de que foram os portugueses quem lhes ensinou o caminho para o resto do mundo, e outras gentes pretendem ignorar que sobretudo a nós devem os benefícios incontestáveis da civilização ocidental, que disfrutam”200

.

Em Outubro de 1961 Cortesão receberia idêntica graduação Honoris Causa, pela St. John University do Canadá201.

Nesse ano, pelas mãos do presidente da República, Américo Thomaz, será agraciado com a mais elevada distinção, a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique202, que visa distinguir os que prestaram serviços relevantes a Portugal, no país ou no estrangeiro, na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua história e dos seus valores. No entanto, mesmo com a confirmação do reconhecimento pelo mais alto representante do Estado, Cortesão será mantido sob vigilância por parte da PIDE, apesar da sua mais dedicada e convicta defesa das posições de Salazar em relação às colónias, era ainda considerado “oposicionista”203

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199

[Carlos M.S. Peres], Doutoramento “Honoris Causa” de Armando Cortesão, Lisboa, Litografia de Portugal, 1961.

200 Idem, ibidem, [p. 15]. 201

Conferido o grau honorário de “Doctor of Letters”. Vide Honorary graduates of Memorial University of 1960-Present. http://www.mun.ca/senate/honorary_degrees_by_convocation.pdf [consultado em 5-11-2013].

202 Cf. Ordens Honoríficas Portuguesas, http://www.ordens.presidencia.pt [consultado em 6-2-2013].

203 Cf. Boletim de Informação da PIDE, nº 302372 de 15 Fevereiro de 1961, Coimbra, sobre Armando de Freitas

Zuzarte Cortesão que contém Filiação, Local e data nascimento, Casado, BI nº 43854-A emitido em 3-12-1951, Arq. Id. Coimbra, Residente em Quinta das Rosas – S. João do Campo, com a seguinte informação: “Embora nesta Subdelegação não estejam indicadas quaisquer actividades políticas sabe-se que é um elemento oposicionista. Quanto ao seu porte moral nada consta em seu desabono”, Coimbra, 27 de Fevereiro de 1961. O Inspector-adjunto, José Barreto Sacchetti, A.N.T.T., Cadastro Político nº 5.356, SC PIDE/DGS, Armando Cortezão.