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4.2 Tecendo histórias e constituindo a identidade docente no AEE

4.2.1 Professora Heley de Abreu: “eu me sinto realizada enquanto professora, porque gosto

muito do que eu faço e o faço com muito amor

A minha infância foi marcada por uma fase bem bacana, porque se deu toda na zona rural e foi bem legal, brinquei muito com os meus irmãos, nós fomos criados na fazenda, sendo assim, eu tive uma infância e adolescência muito saudáveis.

Estudei na fazenda, na escola Sobradinho. Desse modo, a gente teve uma infância muito boa, brincou muito e teve vários momentos de lazer juntos.

Na escolha da profissão, não tive motivação. Acho que não tive nada não. Na infância e adolescência nada me inspirou na minha profissão, porque, na verdade, meu pai sempre quis que eu fizesse medicina, por isso, eu não fui motivada na escolha de fazer pedagogia.

Eu fiz cursinho durante seis anos para passar em medicina, aí de uma hora para outra eu resolvi fazer pedagogia, entretanto não contei para meus pais, porque eu sabia que eles não iam querer que eu fizesse pedagogia. Mas eu fui e fiz. Passei na primeira fase, segunda fase, e depois eu contei que havia passado na UFU em terceiro lugar. Fui bem classificada, aí já comecei a gostar.

Comecei a trabalhar assim que saí da faculdade. Comecei em 2008, meu primeiro trabalho foi como professora mesmo. O que me motivou a trabalhar foi que eu sempre gostei muito de criança, é uma fase pela qual tenho muita admiração e que me chama atenção.

Eu já esperava ser professora. Nessa fase dos primeiros anos, sempre existem muitos desafios em nossa vida profissional e pessoal. Porém, todos esses desafios me serviram de aprendizado. Meus pais não aceitaram muito bem, não houve bem uma aceitação, porém eu continuei firme.

No último ano de pedagogia, já comecei a trabalhar e comecei a me encantar pela profissão. Depois comecei a trabalhar na escola particular, sempre trabalhei em escola particular e na púbica. Aprendi muito com isso.

Aprendi a ser professora no ensino privado, porque é no ensino privado que a gente tem vários desafios. Os desafios são muito maiores em relação à cobrança. Aprendi muito com isso, eu sempre gostei da educação. Sendo assim, para mim, foi muito inspirador trabalhar na educação. Amo muito o que faço e sempre fiz dando o máximo de mim.

Trabalhei na escola particular, depois passei no concurso da prefeitura e lá atuei como educadora infantil e no segundo ano eu passei para professora. Comecei a ser professora nos dois turnos e depois passei na escola do Estado também e assumi os dois cargos, no estado e prefeitura

Naquela época, houve um recrutamento interno. Sempre quis atuar no AEE também, por causa da minha iniciação científica. A minha Pós foi nessa área, na área da deficiência. Desse modo, eu já tinha algum conhecimento sobre, mas precisava passar no recrutamento.

Fiz o primeiro recrutamento oficial. Na época, não consegui, pois não queria ficar, meu cargo ia ficar lotado: metade do cargo na minha escola e o outro em outra escola. Preferi assumir quando tivesse oportunidade de ter meu cargo na mesma escola. Só no ano passado

(2018) tive a oportunidade de fazer recrutamento, aí comecei a trabalhar com a minha profissão na sala de aula regular.

No AEE também existem vários desafios diários, porque cada aluno é um ser, é um indivíduo. O AEE precisa ter o planejamento para cada aluno. Não é um planejamento coletivo, é um planejamento individual.

Desde o início da profissão tive contato com esse público, esse “povo” sempre existiu. Às vezes a gente tenta não ver esses alunos dentro da sala do ensino regular, porém eles sempre existiram. Eu acho que não temos é formação para lidar com esse tipo de público.

Às vezes precisamos mesmo correr atrás e não só esperar da escola, eu acho que se você não procurar alternativas e outros meios para incluir verdadeiramente o aluno, não promoverá a inclusão, que é incluir todos e não só alguns alunos da Educação Especial.

A sala de recurso é um é um espaço no qual a gente acolhe esses alunos e que é um serviço da Educação Especial. Eu acho que quando o trabalho é feito articulado com a escola, o trabalho é maravilhoso, entretanto infelizmente encontramos dentro das escolas muitas barreiras ainda e principalmente as barreiras atitudinais. A gente tem que refletir sobre as barreiras atitudinais, que são as barreiras das pessoas no ensino regular, das pessoas que estão na escola e até mesmo na sua vida.

No que se refere à questão da formação, acho que a formação da gente nunca é suficiente, estamos sempre em busca de mais, porque cada dia é uma novidade, cada dia é uma deficiência com a qual você às vezes não sabe lidar, é uma atividade que você precisa adaptar para aquela criança e a nossa formação tem que ser constante. Nossa escuta tem que ser atenta, tem que ser constante. Porque senão, infelizmente não vamos incluir verdadeiramente. A gente vai, como se diz, segregar ou apenas integrar. E essa não é nossa função integral. Nossa função é incluir todos.

O público da educação especial são também todos os alunos que estão na escola. Para mim, é muito importante realizar esse trabalho, porque são desafios que estão colocados para nós enquanto profissionais e para lidar também com as pessoas que estão na escola.

Os professores do ensino regular às vezes ainda encontram muitas barreiras, principalmente iguais às que eu te falei, as barreiras atitudinais. Eles também não buscam a formação necessária, nem mesmo materiais adaptados, provas; isso acontece muito ainda.

Eu acho que a inclusão ainda não acontece verdadeiramente, por conta de todos esses entraves que ainda existem na sociedade e dentro da escola. É preciso saber buscar todos os dias novos conhecimentos porque a área e o trabalho da educação especial requerem uma

busca de materiais, uma busca de conhecimento, de teoria e prática que precisa ver o aluno na individualidade de cada ser.

O AEE é apenas um complemento disso, nós não estamos aqui para substituir o ensino regular, nós estamos aqui para complementar as habilidades que o aluno necessita no ensino regular. Nós temos alunos com todos os tipos de deficiências, temos também autismo e altas habilidades, além de outros alunos que a gente atende o relatório circunstanciado que é o TOD - Transtorno Opositivo Desafiador, que é também o TDH. Também temos contato com os alunos que estão fora do público da Educação Especial.

Sim, nós temos o CEMEPE que oferece a formação dos professores. Eu também participo todos os meses como professora formadora. Eu busco me informar por que o trabalho feito na sala de recurso AEE é um trabalho que precisa ser uma constante busca de aprendizado, busca de um saber fazer adaptar um material. Sendo assim, a gente precisa estar sempre estudando para entender melhor o aluno, as especificidades e as barreiras.

As barreiras são os entraves que apresentam. Mas o que eu acho que é maior ainda nas escolas são as barreiras atitudinais, que são as das pessoas que têm as barreiras de comunicação.

Quanto ao subsídio que a formação oferece, eu acho que ela traz bastante teoria. Hoje, até comentei com outro professor que a gente precisava de coisas mais práticas, como fazer um material, montar uma prancha de comunicação. Como eu vou construir? Como eu vou fazer? Eu acho que isso aí é muito pouco. Falo para quem está iniciando, principalmente. Agora quem já tem mais contato, já tem mais experiência com esse público da educação, não. Eu acho que às vezes é mais fácil, não sei. Estou generalizando, não estou falando por mim. Entendeu?!

Eu me considero realizada em todos os sentidos. Enquanto sala de AEE e no ensino regular, porque faço o que gosto, faço com muito amor e muita dedicação e acho que é assim que a gente pode fazer para que nosso objetivo seja alcançado dentro da sala de aula para o ensino-aprendizagem. E quando a gente vê que conseguiu um nível de pelo menos 95% dessa aprendizagem, acho que nos sentimos realizados. Eu me sinto realizada enquanto professora, porque gosto muito do que eu faço e o faço com muito amor.

Quanto aos aspectos legais da educação inclusiva, a teoria é linda. Ela traz tudo que a gente queria que acontecesse na realidade, mas quando vamos para a sala, para a escola, vemos que às vezes muitas coisas que estão ali na teoria não acontecem. Às vezes a gente acaba excluindo. Excluímos às vezes por não sabermos lidar com essa diferença, a gente não sabe lidar com todas as diferenças. O que é que a gente precisa fazer? A gente também não

corre atrás. Acho que a política está aí para nos auxiliar, mas às vezes o como fazer dentro da sala de aula a Política não traz. A lei e a política nacional trazem tudo que a gente precisa fazer, mas isso acontece realmente dentro da sala de aula, dentro da escola?

No que se refere às minhas perspectivas futuras em termos profissionais do AEE, tenho muitas porque isso é um novo cargo que está aí. Eu acho que esses alunos precisam desse atendimento, eles precisam desse complemento ou suplemento, no caso de Altas Habilidades. Eu acho que é muito importante quando isso é feito articulado com toda a equipe escolar. Sendo assim, eu acho que sim, o trabalho e o resultado são de muito sucesso. É para isso que a gente tem lutado muito, é para verdadeira inclusão.