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Nesta modalidade de educação, os professores podem assumir várias funções e os estudantes, necessariamente, precisam desenvolver uma consciência mais ampla de sua atuação.

Assim como nas escolas e universidades presenciais, há toda uma equipe responsável pela elaboração e execução dos cursos, na EaD observa-se o mesmo e é exatamente por isso que os professores podem assumir funções diferenciadas. Contudo, na EaD, observam-se algumas funções distintas das

observadas na educação presencial. Antes de se explanar a respeito das funções dos professores na EaD, é conveniente retomar o papel do professor e como as concepções sobre o papel do professor se instalaram na modalidade de educação em questão, retomando também algumas considerações acerca da atuação dos estudantes.

Revendo a história da EaD, observa-se que o papel dos professores nesta modalidade de educação está muito mais ligado às propostas educacionais predominantes do que propriamente ao fato do curso ser conduzido a distância ou presencialmente.

Tanto na educação presencial, quanto na EaD, o papel do professor e dos demais atores do processo ensino-aprendizagem será definido pelos projetos pedagógicos e pelas propostas educacionais vigentes. Supondo um curso de especialização presencial, o professor poderá assumir uma postura de mediador do conhecimento ou de comunicador de massa, isso dependerá da proposta que subsidia o curso e também do engajamento do professor. Ou seja, o professor pode atuar como um educador, orientador e instigador do desenvolvimento, ou pode atuar como um repetidor e reprodutor de conteúdos.

Assim como na história da educação presencial observou-se uma fase (segunda metade do séc. XIX – Revolução Industrial) em que predominou uma proposta de ensino padronizado e de massa, caracterizada pela divisão e especialização das disciplinas e pela atuação do professor baseada nos modelos das linhas de montagem das fábricas, com o intuito de formar mão-de-obra (Hocking, 1998); na EaD também é possível observar uma forte influência do modelo fordista de produção industrial. O que implica desenvolver cursos a distância embasados na racionalização, na divisão acentuada do trabalho, no alto controle de processos de trabalho, na produção em massa de “pacotes educacionais”, na concentração e na centralização da produção e na burocratização (Peters,2006; Belloni, 2006).

Segundo Belloni (2006), a conseqüência destas propostas na ação dos professores é a realização de um trabalho fragmentado e estandardizado, a

desumanização do ensino com a mediatização e a burocratização das tarefas de ensino e aprendizagem.

Contudo, as mudanças econômicas, sociais e tecnológicas associadas ao processo de globalização impuseram transformações também na forma de se pensar e planejar a educação em todas as suas modalidades, e o que se observa, então, é o aparecimento de concepções de formação inspiradas na idéia de uma “sociedade do saber e da informação”. A ênfase está colocada na formação dos indivíduos, dos cidadãos, numa concepção de educação ao longo da vida (Peters, 2006; Belloni, 2006).

Essa tendência rearranja os papéis dos professores e dos estudantes no cenário da educação. Os professores, em qualquer uma das modalidades de educação, deverão assumir uma postura de educadores e desenvolvedores do conhecimento e dos sujeitos com os quais se relacionam, e os estudantes, deverão abdicar a postura passiva de receptores e repetidores do conhecimento, para reivindicarem um papel mais ativo na sua própria formação.

Peters (2006), Belloni (2006) e outros teóricos defendem a idéia de que os modelos de produção capitalista influenciam significativamente os modelos e as concepções educacionais. Assim sendo, o fordismo influenciou um momento da EaD e agora é possível observar uma influência do pós-fordismo.

O pós-fordismo caracteriza-se pela ruptura das estruturas industriais hierarquizadas e burocratizadas, propondo a inovação do produto, a variabilidade do processo e a responsabilidade do trabalho, conseqüentemente, exigindo qualificação e responsabilização da força de trabalho (Peters, 2006; Belloni, 2006).

Os reflexos destas questões na educação, e na EaD em particular, são bastante relevantes (Peters, 2006; Belloni, 2006). Espera-se que a educação seja capaz de auxiliar os sujeitos a lidarem com as novas exigências do mercado, para tanto a própria educação e os sujeitos precisam transformar as concepções que embasam as práticas educativas. No âmbito da EaD, Peters (2006) e Belloni (2006) consideram a necessidade de se desenvolver propostas que valorizem a qualidade, bem como a assunção de um processo ensino-aprendizagem centrado no estudante.

Nesta perspectiva, o papel dos professores não deve ser repensado apenas na EaD, mas em toda a educação, o que já foi discutido nesta tese, no tópico relacionado aos paradigmas educacionais.

Desta forma, é possível aprofundar no que atualmente é concebido como papel do professor na EaD.

Segundo Belloni (2006), a inserção mais intensa dos meios tecnológicos de comunicação e informação propiciou um nível de estruturação mais complexo para os cursos a distância, daí a necessidade de segmentar o ato de ensinar em múltiplas tarefas, o que caracteriza, na EaD, a promoção de um desdobramento da função docente.

Belloni (2006) destaca três subdivisões da função docente na EaD: • Concepção e realização dos cursos e materiais;

• Planejamento e organização da distribuição dos materiais e da administração acadêmica (matrícula, avaliação);

• Acompanhamento dos discentes no processo ensino-aprendizagem.

Dentro dessas três categorias, a autora apresenta sete possíveis funções dos docentes: professor-formador, conceptor e realizador de cursos e materiais, professor-pesquisador, professor-tutor, tecnólogo educacional, professor-recurso e monitor. Lembrando que cada curso tem seu projeto e design instrucional e que a observação ou não de todas estas funções depende disso.

Das sete funções apresentadas por Belloni (2006), as que mais encontram eco na literatura são a de conceptor e realizador de cursos e materiais (muitas vezes chamado de professor-autor ou conteudista) e a de professor-tutor.

O professor-autor (conceptor e realizador de cursos e materiais) é aquele que elabora os textos, seleciona artigos e publicações para serem utilizados na elaboração do material do curso, ou ainda, redige, especificamente para o curso, um texto que será utilizado como material. É comum também, a existência de equipes técnicas, especializadas em transformar o texto original do autor em um texto mais apropriado para a educação a distância, mais interativo e atraente (Machado e Machado, 2004; Belloni, 2006).

O professor-tutor é aquele que é responsável pelo acompanhamento dos alunos ao longo do curso. Cabe ao professor-tutor a responsabilidade de mediar todo o desenvolvimento do curso. Ele deve orientar os alunos em seus estudos, esclarecer dúvidas, explicar questões relativas aos conteúdos abordados e avaliar o desempenho dos alunos em todo o processo (Martins, 2003; Machado e Machado, 2004; Gonzalez, 2005; Belloni, 2006).

O presente estudo debruçar-se-á especificamente sobre o papel do professor-tutor.