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Parte II: Monografia – Enterite infeciosa por parvovírus canino

2. Parvovirose Canina

2.6. Prognóstico

As taxas de sobrevivência, para animais em que o diagnóstico, a hospitalização e o tratamento de suporte tenham sido feitos atempadamente, são iguais ou superiores a 90% (Sullivan et al., 2019).

A Aristotle University of Thessaloniki, na Grécia, realizou um estudo no qual o objetivo foi tentar compreender se a sintomatologia e alterações clinicopatológicas dos pacientes poderiam ser indicadores do prognóstico nos mesmos. Concluiu-se que animais que apresentassem sintomatologia compatível com síndrome de resposta inflamatória sistémica (SIRS), isto é, frequência cardíaca superiores a 140 bpm/min, frequência respiratória superior a 30 rpm/min, temperatura corporal superior a 39.2°C ou inferior a 37.8°C, tinham maior risco de mortalidade (Iris Kalli et al., 2010).

A monitorização dos valores de leucócitos e deteção das suas possíveis alterações ao longo do período de hospitalização, isto é, à data de admissão, após 24 e 48 horas após internamento, podem fornecer informações acerca do prognóstico e do percurso da infeção (Iris Kalli et al., 2010; Greene & Decaro, 2013). Nos cães em que a doença é fatal, os valores dos leucócitos são frequentemente iguais ou inferiores a 1030 células/µL e linfopénia, monocitopénia e eosinopénia persistem nos primeiros três dias de hospitalização (Greene & Decaro, 2013). A alta taxa de mortalidade de animais com leucopénia severa pode ser explicada pela sua elevada suscetibilidade a infeção bacteriana secundária, com consequente septicémia (Goddard et al., 2008). Num estudo em que foram monitorizadas as alterações dos leucócitos durante o tempo de hospitalização por enterite parvovírica, concluiu-se que cachorros que apresentem valores de

Figura 18: Imagem fotomicrográfica do intestino delgado de um cão que faleceu por enterite por parvovírus.

As vilosidades apresentam-se colapsadas, as criptas dilatadas e com detritos necróticos. Fonte: Greene & Decaro 2013

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contagem de leucócitos igual ou superior a 4.5×103/µL, linfócitos igual ou superior a 1.0×103/µL,

monócitos igual ou superior a 0.15×103/µL e eosinófilos igual ou superior a 0.10×103/µL, bem

como a presença de desvio à esquerda, nas 24h após o início de tratamento, são indicadores de um prognóstico favorável. No mesmo estudo, os cães que sobreviveram à doença, apresentaram um aumento da contagem de linfócitos nas primeiras 24 horas. Em virtude dos monócitos e neutrófilos provirem da mesma célula progenitora e o tempo de produção de monócitos ser inferior, a monitorização de alterações nos valores de contagem dos monócitos, pode antecipar a alteração nos valores de neutrófilos. Nos cães em que a doença foi fatal, a monocitopénia foi mais severa e as contagens dos eosinófilos foram inferiores a 0.1×103/µL, durante todos os dias

de internamento (Goddard et al., 2008).

A hipoalbuminémia está relacionada com uma maior morbilidade e mortalidade (Iris Kalli et al., 2010).

Num estudo prospetivo realizado no hospital veterinário académico da University of Pretoria, na África do Sul, concluiu-se que valores elevados de cortisol e baixos valores de tiroxina, 24 e 48 horas após a hospitalização, estão associados a maior mortalidade em animais com enterite infeciosa por parvovírus canino e, portanto, a um pior prognóstico (Schoeman et al., 2007; Greene & Decaro, 2013). Os valores de tiroxina sérica de cães vitímas de parvovirose canina foram diminuindo ao longo do tempo de hospitalização, enquanto que os animais sobreviventes apresentaram uma ligeira subida. Quanto ao cortisol sérico, os cães saudáveis apresentaram valores médios de cortisol sérico de 77 nmol/L, enquanto que cães afetados por diarreia parvovírica tiveram valores médios de 248 nm/L no momento de admissão do animal no hospital, antes de ser iniciado qualquer tratamento. Além disso, os valores de cortisol sérico dos animais não sobreviventes, foram, durante os três dias, superiores aos valores dos animais que sobreviveram à doença. Também, durante esses três dias de internamento, os valores de cortisol dos cães que não sobreviveram não variaram muito, já que aqueles que resistiram à doença, diminuíram significativamente os seus valores de cortisol sérico, do primeiro para o terceiro dia. Concluindo, os cães em que o valor de cortisol sérico não normalizou, nos primeiros três dias de internamento, apresentaram um prognóstico mais reservado. Cães com diarreia parvovírica, no dia de admissão no hospital, apresentaram valores médios de tiroxina sérica inferiores ao valor médio de cães saudáveis, 8.12 nmol/L e 35 nmol/L, respetivamente. Sendo que animais não sobreviventes apresentaram valores ainda mais baixos, com um valor médio de 4.41 nmol/L (Schoeman et al., 2007).

Também os baixos níveis séricos de colesterol total parecem estar associados à severidade da doença, sendo que nos animais em que a doença é fatal, os valores de colesterol tendem a ser mais baixos (Yilmaz & Senturk, 2007).

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A infeção bacteriana secundária com desenvolvimento de septicémia e endotoxémia são também indicadores de prognóstico reservado, visto que aumentam o risco de morte, bem como a presença de outras infeções concomitantes (virais, bacterianas ou parasitárias) (Ling et al., 2012).

Os cachorros com doença severa, que desenvolvam sépsis secundária ou outras complicações, geralmente requerem um tempo de internamento mais prolongado (Greene & Decaro, 2013).

Os casos de cachorros em que a doença não é severa e que sobrevivem nos primeiros três a quatro dias de enterite infeciosa por parvovírus canino, geralmente recuperam rapidamente numa semana (Greene & Decaro, 2013).

As perceções dos médicos veterinários quanto à mortalidade e ao prognóstico da doença variam muito, com base na experiência prévia em casos de parvovirose canina. Num estudo realizado na Austrália (Kelman et al., 2020) concluiu-se que as perceções de prognóstico, por parte dos médicos veterinários, são piores que a realidade e a noção dos valores de taxa de mortalidade é 2,74 vezes superior à taxa de mortalidade real documentada na Austrália. Também valores de estimativas de tratamento superiores ao necessário, poderão refletir-se em números elevados de eutanásia. Assim, visto que os veterinários são uma fonte de informação e aconselhamento para os tutores, influenciando as decisões dos mesmos quanto ao tratamento ou eutanásia dos seus animais, estes têm um papel importante no prognóstico do doente, podendo ajudar na redução das taxas de mortalidade dos pacientes (Kelman et al., 2020).

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