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7 DISCUSSÕES

7.2 Análise de processos Assistência Farmacêutica

7.2.3 Programação, armazenamento e dispensação

As farmácias que atendem a demanda de pacientes da Saúde Mental declararam possuir controle de estoque e funcionário responsável pela programação dos medicamentos. Na maioria dos casos o funcionário responsável pela programação de medicamentos era o farmacêutico. O envolvimento deste profissional e a realização do método de programação adequado é um fator que favorece a baixa ocorrência de desabastecimentos dos medicamentos em função de falhas no processo de programação (MARIN et al.,2003).

Estes resultados são positivos frente a uma pesquisa nacional que apontou a realização de controle de estoque em apenas 31,7% das unidades de saúde (OPAS, 2005). No estudo de Vieira, Lorandi e Bousquat (2008), realizado em um município de São Paulo, os resultados também foram inferiores, já que os desabastecimentos de medicamentos eram frequentes, havia a rotatividade de profissionais nesta função e os funcionários dedicados a esta atividade não possuíam treinamento para desempenho desta atividade. A diferença entre os resultados pode ser explicada em função da realização do controle de estoque e ainda sugerem que o envolvimento do farmacêutico pode contribuir para o melhor desempenho das atividades de programação da Assistência Farmacêutica.

As condições de armazenamento nos CAPS apresentaram bons resultados, uma vez que mais de 90% dos serviços ofereciam instalações e condições de limpeza adequadas. Um estudo de avaliação nacional da Assistência Farmacêutica indicou nota média de 61,1 para as condições de armazenamento em uma escala de zero a 100 (OPAS, 2005). O estudo de Oliveira, realizado em unidades de dispensação de antirretrovirais do município do Rio de Janeiro encontrou o valor médio de 51% para

o cumprimento de requisitos relacionados à estocagem de medicamentos (OLIVEIRA et al., 2002).

Os resultados para as condições de armazenamento indicam uma média superior dos CAPS da Região do Médio Paraopeba-MG em relação aos demais serviços da atenção básica avaliados em outros estudos. No entanto, é necessário considerar a diferença marcante de demanda e volume de atendimentos em cada um destes estabelecimentos, fator que dificulta e limita esta comparação.

A dispensação também apresentou espaço físico adequado na maioria dos serviços avaliados, conforme resultados do check list da área de dispensação. As unidades de dispensação de quase todos os CAPS e as farmácias de referência dos CAPS I eram assistidas por farmacêuticos, mesmo que em curto período de tempo. Ressalta-se, porém, poucas práticas de atendimento diferenciado a pacientes da Saúde Mental e intervenções farmacêuticas nas farmácias pertencentes à atenção básica, assim como discutido nos estudos de Camuri e Dimenstein (2010) e no estudo de Luccheta e Mastroianni (2012).

O paciente egresso do CAPS geralmente possui dificuldades em buscar a medicação, comprometendo o trabalho desenvolvido no serviço de Saúde Mental (SCHNEIDER et al., 2009). Na atenção básica o problema se agrava visto que geralmente não existe um acompanhamento da utilização de medicamentos, com o emprego exclusivo da renovação de receitas e encaminhamento a um especialista (DIMENSTEIN, 2009; CAMURI; DIMENSTEIN, 2010; ALENCAR, 2013).

Além disso, destaca-se o perfil polimedicamentoso dos pacientes e a declaração dos serviços sobre erros quanto ao uso de medicamentos. Em resposta a um cenário preocupante em nível nacional, a Portaria nº 529/2013 lançou o Programa Nacional de Segurança do Paciente dirigido a todos os estabelecimentos de saúde criando vários protocolos, dentre eles o de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e outras instituições (BRASIL, 2013d). As ações de farmacovigilância também devem ser reforçadas frente ao consumo crescente e crônico dos medicamentos psicotrópicos (CARLINI; NAPPO, 2003).

A necessidade de adequação dos CAPS à legislação sanitária é um requisito básico para consolidação destes estabelecimentos como parte integrante e porta de entrada do SUS. Essa organização se faz necessária para correto referenciamento dos pacientes, qualidade e continuidade do tratamento do paciente na atenção básica e na Saúde Mental (CAMURI; DIMENSTEIN 2010). Especificamente na área de dispensação, a participação do farmacêutico nestas atividades ultrapassa o cumprimento da legislação vigente e começa a criar possibilidades da atuação deste profissional no cuidado desta população, desenvolvendo atividades assistenciais e contribuindo para a implantação adequada e efetiva da Assistência Farmacêutica nos CAPS.

Estudos apontam que serviços farmacêuticos na Saúde Mental são extremamente relevantes em outros países e demonstram resultados positivos tanto na clinica quanto na percepção e reconhecimento dos pacientes (LUCCHETA; MASTROIANNI, 2012; BLACK; MURPHY; GARDNER, 2009). Assim, iniciativas para a incorporação deste tipo de trabalho são necessárias para o avanço e consolidação da reorientação da Assistência Farmacêutica, além de representar uma alternativa à superação de problemas frequente dos pacientes da Saúde Mental, como a melhoria na adesão ao tratamento farmacológico (ALENCAR, 2013; CARDOSO; GALERA, 2006).

Verificou-se ainda como fator crítico desta etapa, a falta de informações que impossibilitam a rastreabilidade dos medicamentos dispensados, recomendada pela legislação vigente (BRASIL, 1998b). Apenas 15,4% dos serviços declarou a realização de escrituração das prescrições em livro manual, ou seja, controle rígido da quantidade de medicamentos psicotrópicos movimentados. Quanto à identificação e cruzamento de dados sobre os medicamentos dispensados, nenhum dos serviços relatou controle.

Esta questão é extensa por afetar todo o setor público e necessitar de uma articulação da vigilância sanitária no estabelecimento de normas e principalmente adequações desta legislação para os serviços de Saúde Mental. Muitas das legislações sanitárias foram criadas antes mesmo da implementação dos CAPS e consolidação da reforma psiquiátrica, abrangendo assim serviços baseados no

modelo hospitalocêntrico, em um contexto diferente do atual, onde a sociedade enfrenta realidades como abuso de substâncias psicoativas, aumento da prevalência de transtornos mentais e envelhecimento da população (OMS, 2001).

Mesmo diante de muitos desafios, o estudo de Souza et al. (2011) apontou melhor avaliação dos CAPS quando comparado a serviços da atenção básica, unidade de saúde, e hospitais ao avaliar as etapas de prescrição e dispensação da Assistência Farmacêutica. Estes resultados podem indicar que mesmo com limitações, os gestores da Assistência Farmacêutica reconhecem ou tentam priorizar a adequação destas atividades nos CAPS.

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