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1.1. Caracterização da Associação Cultural d´Orfeu

1.1.1. Programação cultural

A programação de uma associação centra-se principalmente na delineação de um conjunto de ações que se irão implementar, devidamente planeadas inseridas num processo de atuação coerente com os seus objetivos (Silva, 2001).

O que caracteriza a d’Orfeu como instituição única é o facto de concentrar, num só organismo, uma grande diversidade de oferta cultural e artística, toda ela consistente e reconhecida, nomeadamente: Formação, Criação, Programação e Edição. E tal acontece com uma vocação de complementaridade e transversalidade entre a música e as outras artes do espetáculo, assumindo-se como uma estrutura promotora de iniciativas assumidamente transdisciplinares em todas as suas facetas.

A Associação pretende alcançar uma fidelização e renovação efetiva de públicos, através de uma programação consistente e regular, por um lado, e da inclusão da comunidade nas atividades paralelas, por outro.

A Associação procura constantemente redefinir o seu modelo associativo e cultural a cada momento, numa busca de um caráter promotor e criador, investidor na “fruição do público” e na estrutura, e ainda apostar em atividades mais estruturadas, mas também informais”, “com uma análise prévia da realidade social, tendo em conta as suas necessidades e potencialidades” de forma a definir a “situação atual real e a situação ideal que se pretende alcançar” (Silva, 2001).

Por outro lado, constata-se que a Associação procura descentralizar a sua programação cultural, ocupando outros espaços de forma oferecer os seus eventos a novos públicos e em novos

espaços, o que supõe a criação de “um instrumento eficaz de democratização da cultura, na medida em que permite o acesso às atividades de formação, aos programas artísticos e aos projetos culturais (Silva, 2001)

Atualmente, são quatro os principais eventos públicos da d’Orfeu em termos de programação:

O Gesto Orelhudo

Define-se como um festival pioneiro de fusão músico-teatral em Portugal, consagrando uma programação internacional de espetáculos interdisciplinares, na fusão da música, teatro, novo circo e humor. Se há inúmero trabalho desenvolvido, quer a nível nacional quer a nível internacional, com recomendáveis resultados na fusão da música com o teatro, este evento é um festival assumidamente músico-teatral. “O Gesto Orelhudo”, com significativos resultados nas edições já realizadas, assume-se como incontornável espaço de difusão do universo artístico transdisciplinar, com a apresentação de propostas internacionais inéditas.

OuTonalidades

Este evento integra um circuito português de música ao vivo que percorre, de Setembro a Dezembro, diversos espaços em todo o país, realizando-se ininterruptamente desde a criação da associação. Este projeto, iniciado em 1997, começou por ser inicialmente um pequeno roteiro musical nos bares de Águeda, mas a sua vocação de promoção de redes atraiu cada vez mais grupos e espaços, expandindo-se a toda a geografia nacional.

Entre 2009 e 2011, estabelecem-se pontes com a Galiza, consolidando uma expansão transfronteiriça que representa o convénio estabelecido com a AGADIC - Axencia Galega das Indústrias Culturais, de cooperação entre o circuito português e a Rede Galega de Música ao Vivo, permitindo a mobilidade de inúmeros grupos portugueses e galegos. Apesar da descontinuidade do intercâmbio galaico-português em 2012, a vocação transfronteiriça mantém-se atual com parcerias com a Bélgica e Catalunha, reiterando o reconhecimento de uma estrutura na promoção e circulação musical em Portugal, à qual já não é possível prever fronteiras.

Festim

O “Festim - Festival Intermunicipal de Músicas do Mundo” define-se como um festival de músicas do mundo, que ocorre a cada fim de-semana de Junho e Julho numa programação partilhada em rede com distintos e chegou ao público no Verão de 2009, recebendo a herança do “Festival Temático de Músicas do Mundo” (2002-2008), que havia vinculado cada edição a um tema específico: a “Cimeira do Fole” dedicou-se aos grandes intérpretes mundiais da concertina, o “Festival das Músicas do Mundo Cigano” trouxe a saga musical desta etnia aos palcos, o “Mestiçal

Peninsular” consagrou um cartaz atento às expressões musicais ibéricas.

O Festim, estruturado numa programação em rede, representa uma mais-valia com vista a uma oferta cultural de referência, com benefícios locais associados à projeção exterior de cada um dos municípios envolvidos. A intervenção da d’Orfeu nos municípios que partilham o Festim resulta de dois fatores distintos, mas complementares. Por um lado, a existência de um contexto quase exclusivamente amador de prática artística e cultural, sendo a d’Orfeu um dos raros agentes culturais e profissionais da região, portador de uma vocação de envolvimento interassociativo com os grupos e coletividades locais. Por outro, a aposta dos municípios na apresentação de propostas de carácter inovador à escala local, numa estratégia de qualificação de novos públicos. Será pois, um parceiro estratégico e dinâmico para o débito cultural da região, respeitando por um lado as suas idiossincrasias e, por outro, estimulando a educação cultural das populações, em complemento das políticas culturais locais.

O sucesso alcançado em 2009 lançou as sementes para a sua expansão a novos municípios, fazendo do Festim um projeto de alcance verdadeiramente regional e com crescente projeção mediática a nível nacional. O Festim tem um orçamento de cerca de 100 mil euros repartidos por seis municípios – Águeda, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga, Ovar, Estarreja e Oliveira do Bairro – unidos num protocolo que contempla várias atividades ao longo do ano. É o único festival português a integrar a rede europeia European Forum of Worldwide Music Festivals, estimando-se que se possa realizar até 2016.

Festival i

O Festival i caracteriza-se como um evento que aposta nas artes performativas e é inteiramente dedicado ao público infantil e familiar. Com crescente adesão de público a cada edição, o “Festival i ” é a iniciativa por excelência para público infantil e familiar no calendário da d’Orfeu, com uma programação específica desde 2009, que deriva das experiências anteriores de programação para esse segmento, como as participadas tardadas non-stop do festival “O Gesto Orelhudo” (Outubro 2007) e do “Solstício de Orfeu” (Junho 2008). Evoluiu-se o formato, assumindo nome e calendário próprio. Multiplicou-se a celebração artística com uma programação pluri e transdisciplinar, simultaneamente educativa e com caráter de fruição, que congrega teatro, dança, música e artes circenses. O evento, que é já uma referência na programação infantil a nível nacional, tem por princípio a ocupação das ruas e de diversos espaços culturais de Águeda, assumindo-se como um verdadeiro roteiro cultural constante durante todo o fim-de-semana e potenciando, assim, uma vivência artística plena do público infantil e de toda a família.

O motivo que leva a Associação a apostar sobretudo nas áreas de música e teatro prende-se com o facto da mesma ter sido fundada por músicos, cujas capacidades e competências criativas e

formativas se baseiam na área da música, o que permite, desde logo, estabelecer uma ligação forte com outras artes, como o teatro (sempre relacionados com o humor, a música tradicional, a dança, etc.). Luís Fernandes defende que no "seu campo de batalha" se conjugam três artes do espetáculo: a música, pela génese e pela vocação, e a dança e o teatro como "artes performativas "ou "artes do palco", fundindo-se e “intersecionando-se”.

A importância de realizar eventos no exterior, nomeadamente, na Galiza foi provocada pela extensão do Outonalidades, significando automaticamente mais 20 concertos na Galiza com grupos portugueses, colocando a d´Orfeu e o Outonalidades como uma "plataforma dos grupos portugueses", facilitando o intercâmbio de bandas com o compromisso da vinda de grupos galegos a Portugal. Esta situação criou um evento geograficamente expandido e, em termos de escala, maior e com mais impacto, fator essencial para o "Outonalidades" cuja sustentabilidade depende da quantidade dos concertos programados: "quanto mais escala, quanto mais concerto, quanto mais número de concertos, de grupos e de espaços, mais visibilidade e mais resultados para quem adere ao evento", ou seja, abre-se um conjunto de possibilidades, de contatos, de conexões, que poderão, no futuro, surtir efeitos em termos de agenda de concertos para bandas portuguesas e estrangeiras. Segundo Luís Fernandes " é um evento que vive da quantidade (...) sendo que a qualidade deste evento mede-se pelo número de adesões e de concertos que se consegue e a Galiza, durante 4 anos, significou automaticamente esse acrescento geográfico e de número de concertos, o que foi bom"(Luís Fernandes, 201213). Segundo o estudo Gomes et al (2006), "é sensível o esforço de algumas entidades (...) na dinamização de equipamentos e espaços culturais através da programação de festivais e outros eventos de caráter internacional (...). Estas iniciativas tendem a suscitar a realização de intercâmbios e coproduções, podendo abrir espaço para relações de trabalho regulares (Gomes et al, 2006:131). A urgência em criar intercâmbios é defendida por

T

oni Puig (2010): “ As organizações para a cultura que não se “intercambiam” , que não se criam redes com os cidadãos, que fazem e que consomem, sua responsabilidade social é teoria. Padecem de irresponsabilidade aguda. São autistas” (Puig, 2010:40)

A parceria com a AGADIC terminou em 2011, pois o organismo ficou sem meios financeiros, não dando continuidade ao protocolo, que durou 4 anos (teve início em 2008). Todavia, ficou estabelecido o contacto, e reflexo disso é que o Outonalidades continua a ter a participação de grupos galegos e, por sua vez, a levar concertos, pontualmente, à Galiza. O esforço de expansão, a relação e o intercâmbio com outras regiões resulta em fortes ligações, em termos artísticos, para o futuro, sendo que, em 2012, "isso vai ser feito com o sul de frança, no próximo ano com a Catalunha e a Bélgica, portanto Galiza foi a primeira experiência sobre como o Outonalidades pode

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não se cingir ao território nacional" (Luís Fernandes, 2012)