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4 GEOGRAFIZAÇÃO SOCIAL: DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO

4.3 Bolsa Família: programa do “neo-liberalismo familiarista”?

4.3.1 Programa Bolsa Família: avanços e desafios diante das garantias sociais

O Programa Bolsa Família foi criado em outubro de 2003, por meio de uma medida provisória, sendo convertida na Lei Nº 10.836, de janeiro de 2004. A princípio está significou a unificação de outros programas sociais, que já tinham sido implementados, como a Bolsa Escola, Cartão Alimentação, Auxílio-Gás e Bolsa Alimentação.

Apesar de estar vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o PBF tem caráter intersetorial, visto que necessita da articulação com outras escalas de poderes e atividades. Castro e Modesto (2010, p.15) ressaltam que “as condicionalidades em educação, saúde e assistência social dão ao Programa um caráter intersetorial e exigem articulação estreita entre diferentes Ministérios, Secretarias de Estado e Secretarias municipais”.

Algumas condicionalidades são necessárias, para que as famílias se beneficiem do programa, contendo este uma subdivisão interna, como discorre Soares et. al. (2010, p.26).

Existem duas modalidades de benefícios: i) o Benefício Básico, destinado as famílias em condições de extrema pobreza e; ii) os Benefícios Variáveis, dedicados às famílias em situação de pobreza e que contém em sua composição com gestantes, nutrizes, crianças entre 0 e 12 anos ou adolescentes até 17 anos. Este segundo benefício contempla duas modalidades: a primeira, relacionada à presença de crianças ou adolescentes de até 15 anos, é limitada a até três benefícios por família; e a segunda, destinada aos jovens de 16 e 17 anos, é restrita a até dois benefícios por família.

Algumas modificações do PBF são mais recentes, como o benefício variável para adolescentes até 17 anos, que foi inserido no ano de 2007. Ainda de acordo com a autora supracitada, o respectivo programa só perde em termos de abrangência, para o Sistema Único de Saúde (SUS), no qual abarca toda a população, a educação pública com mais de 52,8 milhões

de matriculados, e, a Previdência Social com cerca de 21,2 milhões de beneficiários, estando o Bolsa Família com 13.969.391 famílias beneficiárias, segundo os dados de 2016 do MDS (Gráfico 01).

Fonte: Data Social 2.0/MDS

Além das condicionalidades já descritas, a renda familiar necessita está de acordo com o que é estabelecido pelo PBF. Destarte, as famílias tem que ter renda per capita por membro de até R$ 77,00 mensais; e, caso as famílias tenham crianças e/ou adolescentes, entre 0 e 17 anos, está renda per capita por membro familiar varia entre R$ 77,01 e R$ 154,00 mensais.

Na busca por maiores informações e registros das famílias que se encontram em situação de pobreza e/ou extrema pobreza, o Governo Federal implementa o Cadastro Único, em 2007. Este trabalha na concentração das informações das famílias que ganham até meio salário mínimo por pessoa mensal, ou, que ganhe até três salários mínimos de renda total mensal. As famílias que se encontram dentro desta faixa de renda estabelecida, procuram o Cadastro Único para repassar as informações familiares e realizar o cadastro. Em todos os Municípios é possível o cadastramento, estando muitas vezes vinculado ao Centro de Referência em Assistência Social – CRAS.

As informações referentes à renda familiar no Cadastro Único é do tipo declaratória, ou seja, não há obrigatoriedade em o responsável familiar apresentar comprovantes de renda, ou, qualquer outro documento comprobatório. Dito isto, ao final o usuário assina o cadastro, apresentando-se ciente, e, responsável pelas informações. Logo, pelo fato de não se exigir

13.969.391 1.715.930 7.029.598 3.559.989 937.589 726.285 0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 BRASIL NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-OESTE

Gráfico 01: Quantidade de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF)

nenhum documento que comprove a renda, isso acaba gerando alguns debates em torno da veracidade dos fatos.

Destaca-se que não são todas as famílias, registradas no Cadastro Único, que são beneficiárias do Programa Bolsa Família. As informações não servem exclusivamente a um programa, mas, possibilita a identificação das famílias em situação de vulnerabilidade e assim as direcionam para qualquer outro programa social, no qual a família se adeque as suas normas, garantindo as condições mínimas de reprodução dessas relações (Tabela 01).

Fonte: Data Social 2.0/MDS

Após o cadastramento há um período em média de três meses para avaliação dessas famílias, se estas compõem ou não o quadro de exigências do PBF. Passado o período de análise, a família, caso se adeque ao programa, receberá uma correspondência emitida pela Caixa Econômica Federal, convocando-a a comparecer a agência mais próxima, para criar uma conta e senha e, assim, poder receber o valor correspondente a sua estrutura familiar.

Isto posto, o responsável familiar só necessitara comparecer ao Cadastro Único a cada dois anos, para atualização do mesmo, ou, caso haja nesse período alguma modificação na estrutura familiar, como por exemplo, inserção de um novo membro, ou mudanças na renda familiar per capita, ou, entre outras modificações, este devera atualizar o cadastro, mesmo que o período de dois anos ainda esteja em voga.

26.281.478 2.722.763 11.117.134 7.913.467 2.634.107 1.894.007 0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000 25.000.000 30.000.000

Tabela 1: Quantidade de famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico)

Várias foram e são as discussões levantadas em meio a implementação e desenvolvimento do PBF, no qual direciona-se para a efetividade do mesmo diante das famílias em condição de pobreza e extrema pobreza. É sabido que o valor repassado as famílias ainda encontra-se muito aquém das necessidades desses indivíduos, contudo, os dados estatísticos têm apresentado modificações significativas na diminuição das desigualdades socioeconômicas, como aponta a pesquisadora Tânia Bacelar.

Segundo a autora supracitada (2014), ao analisar o desenvolvimento territorial do Nordeste, esta é enfática ao concluir, que, apesar da importância, o PBF não foi o único responsável pelo desenvolvimento da região, podendo elencar também o aumento do salário mínimo, a abertura ao crédito, a interiorização das universidades, investimento em infraestrutura, enfim. Contudo, e, por concentrar boa parte da renda direcionada ao pagamento dos benefícios da Bolsa Família, a região Nordeste, foi a mais impactada pelo programa, pois possibilitou a dinamicidade de algumas cidades interioranas, como discorrer a autora.

Uma observação interessante deve ser feita sobre o impacto diferenciado do PBF, quando analisado em termos regionais. O Nordeste, por concentrar mais de metade da população muito pobre do país, capta 55% dos recursos desse programa. Nessa região, concentra-se a pobreza rural, e ela tem como endereço principal os pequenos municípios, em especial os do grande espaço semiárido. Nesses municípios, foi interessante observar que, como as bases produtivas locais são muito modestas, o novo e sistemático fluxo de renda não só dava cobertura social aos beneficiados diretos, como também dinamizava as lojas, as farmácias, as padarias, as feiras semanais. (op. cit. 2014, p.09)

Impulsionando a renda das famílias nordestinas, o Programa, pode proporcionar melhorias, não apenas no setor econômico, de inserção dos indivíduos no mercado de consumo, mas, por ser um programa intersetorial, proporcionou avanços nas áreas da educação, saúde e assistência social. A classe social mais pauperizada, após a transferência de renda direta aos indivíduos pode ter maior acesso aos bens e serviços, como ressalta Cohn (2010, p.213), “...significa que estariam se abrindo portas para que os pobres ingressassem na sociedade com um novo status, o de cidadãos, com acesso ao mercado e à dignidade social, sendo, assim, capazes de assumir sua individualidade como portadores de direitos”.

De fato, o PBF a partir da transferência direta da renda, possibilitou um combate a fome, a diminuição das desigualdades sociais. Como já ressaltado, é um programa Federal que se materializa em escalas municipais, exigindo parcerias em escalas governamentais, de poderes, visto que há necessidade de bases para realização dos cadastros, bem como seu

acompanhamento, atualizações. No Munícipio de Campina Grande – PB, a coordenação do PBF, fica localizada no mesmo ambiente que o Cadastro Único, na sede do Fome Zero, com parceria com a Secretaria de Assistência Social (SEMAS).

Como um programa focalizado na família em situação de vulnerabilidade social, o Bolsa Família significa um importante programa, pois possibilita o acesso dos indivíduos a um item básico de sobrevivência, a alimentação. Em Campina Grande, junto com a Rede de proteção, esse programa atua de forma contributiva, para que a garantia dessa população infanto-juvenil em espaços que possibilitem seus desenvolvimento físico, psicológico e social, como as escolas, a família, o bairro, dentre outros, como será discutido no subitem seguinte.

4.3.2 De sujeitos violados à sujeitos de direitos: a contribuição do PBF a população infanto-