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O Programa de Controle da Hanseníase no Município de Ilhéus (PCH)

4.2 O Programa Nacional de Controle da Hanseníase (PNCH)

4.2.1 O Programa de Controle da Hanseníase no Município de Ilhéus (PCH)

O Município de Ilhéus localiza-se, na zona fisiográfica denominada Região Cacaueira da Bahia e Região Econômica Litoral Sul do Estado da Bahia a 462 km de Salvador, capital do estado. Possui uma área de 1.841km. Segundo dados censitários apresenta uma população de 184.236 habitantes. Há uma predominância de pessoas do sexo feminino, sendo 89.440 homens e 94.794 mulheres (IBGE, 2010).

A rede de atenção à saúde é constituída por 228 estabelecimentos de saúde distribuídos entre unidades da atenção básica, e serviços de média e alta complexidade pertencentes ao sistema público e privado e três unidades móveis de nível pré-hospitalar (SAMU), sendo uma Avançada e as duas restantes de Suporte Básico.

Segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES/DATASUS, 2012), a rede de atenção à saúde do município é constituída de

dezesseis (16) unidades básicas de saúde (UBS), dezoito (18) unidades da estratégia de saúde da família (UESF), doze (12) centros de saúde (CS), cento e setenta e cinco (175) estabelecimentos que realizam procedimentos de média complexidade definidos pela NOAS como 1º, 2º e/ou 3º nível de referência. Ainda de acordo a mesma fonte os atendimentos de alta complexidade estão distribuídos em sete (7) unidades hospitalares, sendo uma (1) pública, quatro (4) da rede conveniada e contratada do SUS e duas (2) privadas perfazendo uma oferta de 435 leitos e apenas 100 destes não estão vinculados ao SUS.

As ações de descentralização do Programa Nacional de Controle da Hanseníase fazem parte do atual contexto das políticas de saúde contempladas no SUS com relação às ações programáticas da Atenção Básica. O serviço de atenção ao portador de hanseníase toma como referência protocolos que direcionam as ações desenvolvidas pelo PNCH que estabelecem normas cuja ênfase maior está centrada, principalmente, nos aspectos epidemiológicos, visando o diagnóstico precoce de casos, tratamento e controle de contatos.

Por outro lado, observa-se que a detecção de casos novos e o monitoramento de incapacidades causadas pela hanseníase ainda representam um desafio para os serviços de saúde. É fundamental a implementação de um sistema de vigilância em áreas prioritárias, com maior taxa de endemicidade, para que a estimativa real da carga de hanseníase seja determinada, para que subsidiar as medidas de controle da cadeia de transmissão.

É imprescindível a necessidade de qualificação técnica das equipes cuidadoras da rede básica de saúde para o cuidado as pessoas vivendo com hanseníase. A falta de apoio da gestão, nesse sentido, dificulta o processo de descentralização. Esse fato contribui para a manutenção de indicadores desfavoráveis ao controle desta endemia, como o aumento da prevalência, além de fortalecer o estigma frente à presença de incapacidades físicas decorrentes do diagnóstico tardio.

Outro aspecto relevante, a ser considerado, diz respeito à existência de fragmentação da rede de atenção à saúde, fato que dificulta a produção do cuidado integral e fortalece, dessa forma, um cuidado negligenciado em que as necessidades das pessoas vivendo com hanseníase não são contempladas em sua inteireza.

O Centro de Referência para o tratamento da hanseníase no Município de Ilhéus está localizado no CAE III - Centro de Atenção Especializada III. Apesar do

Ministério da Saúde preconizar a descentralização das ações de controle desta endemia e o município dispor de uma ampla rede de Unidades de Estratégia de Saúde da Família, a atenção aos portadores de hanseníase ocorre de forma centralizada, fato que dificulta o acesso dos usuários que em sua maioria são de baixa renda e residem em locais distantes.

Segundo os protocolos da Atenção Básica os Centros de Referência deveriam tratar apenas os casos de maior complexidade, como por exemplo, reações adversas, estados reacionais, incapacidades físicas graves, e doentes com co-morbidades, dentre outros.

O CAE III além de abrigar o PCH, atende aos portadores das seguintes morbidades: Infecções Sexualmente Transmissíveis e Aids, Tuberculose, Leishmaniose Tegumentar Americana. Também é referência para o atendimento profilático da raiva humana além de oferecer alguns atendimentos básicos (curativos e imunizações).

Apesar da demanda significativamente maior, o espaço destinado aos atendimentos de hanseníase e de tuberculose é menor e funcionam em um mesmo local. Para evitar a sobrecarga de doentes no mesmo horário em um espaço físico inadequado, a equipe optou em dividir em dois turnos os atendimentos médicos de ambos os programas funcionando da seguinte forma: as consultas médicas aos portadores de tuberculose ocorrem diariamente pelas manhãs e aos portadores de hanseníase duas vezes por semana no período da tarde (segundas e quartas - feiras) visando também, no caso do PCH, atender a disponibilidade da agenda do profissional médico que também atua em outro serviço.

O atendimento ao portador de hanseníase é realizado por um médico, três enfermeiras (duas no período da manhã e uma no período da trade), quatro técnicas de enfermagem (duas por turno), uma terapeuta ocupacional responsável pelo exame neural e prevenção de incapacidades, dois biomédicos (um por turno) e uma auxiliar administrativa.

A equipe de enfermagem é responsável pelo atendimento subsequente de casos que estão em tratamento regular, visitas domiciliares aos portadores de hanseníase faltosos e controle dos contatos domiciliares. Quando há a necessidade de tratamento fisioterápico e/ou psicológico, os pacientes são encaminhados para o NAE (Núcleo de Atenção Especializada), onde existe a dificuldade frequente para se conseguir o agendamento ficando o doente, na maioria das vezes, sem o

atendimento especializado sendo, dessa forma, negado o princípio da integralidade da atenção.

Quanto a infraestrutura física o ambiente é inadequado, com mobiliários danificados e com relativa frequência faltam materiais de apoio administrativo (formulários, ficha de atendimento médico, cartões de aprazamento, etc.) havendo também solução de continuidade no fornecimento das cartelas dos esquemas terapêuticos e/ou para o tratamento dos estados reacionais.

Frente a dificuldades de diferentes ordens, o PCH no Município de Ilhéus não atende de forma plena as diretrizes que estão descritas na Portaria nº 3.125 de 7 de outubro de 2010 que aprova as Diretrizes para Vigilância, Atenção e Controle da Hanseníase e que determina o fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica, a organização da rede de atenção integral e a promoção da saúde. Nessa Portaria estão contempladas as seguintes ações: diagnóstico precoce, tratamento dos casos diagnosticados, prevenção e tratamento de incapacidades e o controle dos contatos domiciliares, além de ações educativas visando à detecção precoce de casos.

5 A trajetória metodológica: os

caminhos por onde andei, eu e os

meus companheiros de viagem

Quanto mais afetos permitirmos falar sobre uma coisa, quanto mais olhos, diferentes olhos, soubermos utilizar para essa coisa, tanto mais completo será o nosso “conceito” dela, nossa “objetividade.” (Nietzsche,1998, p. 109)