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8. PROGRAMAS E PROJETOS DESENVOLVIDOS PELA SECRETARIA

8.1. PROGRAMA DE EDUCAÇÃO ESCOLAR POMERANO/PROEPO

Em 2004, um grupo de professores e representantes de cinco municípios, preocupados com a manutenção e o fortalecimento da língua pomerana e de seus falantes, criou o Projeto de Educação Escolar Pomerana (PROEPO), que foi implantado nos municípios de Santa Maria de Jetibá, Laranja da Terra, Vila Pavão, Domingos Martins e Pancas.

O programa consiste no “Ensino da língua Pomerana como forma de resgate e valorização da Cultura”. Após vários estudos pedagógicos com a participação dos municípios anteriormente citados, o Dr. Ismael Tressmann, formado em Linguística, concretizou a elaboração do Dicionário Enciclopédico Pomerano e do livro-texto. O referido material foi publicado pela Secretaria Estadual de Educação (SEDU) em parceria com a Secretaria Estadual de Cultura (SECULT) e prefeituras. Após a publicação deste material, cada município organizou as suas formações, sendo necessária a contratação do referido linguista.

Estes cinco municípios aderiram ao programa por terem uma grande parcela da população descendente de pomeranos, dos quais muitos ainda falam a língua e junto com a mesma guardam uma série de manifestações culturais notadamente visíveis na culinária, na arquitetura, na música com a concertina, na dança, no folclore, no artesanato, na agricultura familiar, nos casamentos típicos, na sua vida religiosa e no seu dia a dia. No entanto, de acordo com Tressmann (2009, p. 46), “para que a língua pomerana continue viva, é preciso muito mais do que a atuação da escola. O uso da língua escrita e falada na escola, por si só, não garante a preservação do idioma nativo”. Para isso, os pais devem continuar a ensinar o Pomerano aos filhos como primeira língua, desde a primeira infância, e incentivá-los a falá-la no lar.

No Gráfico 1 encontramos a distribuição do estudo das línguas em Domingos Martins. A diversidade linguística é considerada e preservada nas mais diferentes áreas. O gráfico demonstra ainda a distribuição do número de alunos da Educação

Infantil no quinto ano do Ensino Fundamental e as respectivas línguas que são estudadas.

Gráfico 1. Distribuição do estudo das línguas em Domingos Martins. Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora a partir de dados obtidos na

secretaria municipal de educação.

Exemplo desse engajamento foi a pesquisa de Tressmann, que resultou na compilação do livro-texto em Língua Pomerana, intitulado Upm Land – Up Pomerisch Sprak (Na roça em língua pomerana) e do Dicionário Pomerano- Português. Estes foram publicados em 2006 e receberam o auxílio financeiro do Governo do Estado do Espírito Santo, por meio da SEDU.

Direcionado às comunidades pomeranas do Brasil e a todos que buscam informações sobre a língua pomerana, o Dicionário Enciclopédico Pomerano- Português contém cerca de 16 mil verbetes em ordem alfabética, abrangendo o vocabulário geral corrente da Língua Pomerana falada no Brasil e os vocábulos de diversas áreas(Figura 4).

As obras constituem um decisivo incentivo para a manutenção e o fortalecimento da Língua Pomerana e de seus falantes, particularmente num momento em que o mundo – científico ou não – se volta para o problema da extinção de línguas minoritárias e da urgência de intervenções de políticas públicas para garantir sua sobrevivência e vitalidade.

O vocabulário e as informações etnográficas e similares têm por base o Pomerano falado no Espírito Santo e em Rondônia. O Dicionário Pomerano e o livro-texto Upm Land, além de apresentarem uma proposta de grafia da Língua Pomerana, é um instrumento de auxílio na pesquisa e no aprendizado da língua e da cultura desse povo, em nível nacional e internacional, pois, nessas obras, estão contidas informações sobre as tradições culturais dos pomeranos. A publicação destes materiais representa um passo importante rumo a uma educação que reconhece e valoriza a diversidade linguística e cultural do Espírito Santo, preconizada nos princípios legislativos do nosso país.

Em Domingos Martins, o programa é desenvolvido juntamente com professores da rede municipal desde o ano de 2005. São realizados encontros mensais, com a participação dos professores falantes ou não da língua, mas que lecionam o Pomerano nas escolas municipais. De 2005 a 2012, foram elaborados diversos materiais pelos grupos que servem de auxílio nas práticas diárias dos docentes.

Figura 4 - Dicionário Enciclopédico Pomerano (à esquerda) e livro texto (à direita).

A partir de 2005, o Programa recebeu apoio das prefeituras e foi implantado nos municípios capixabas. Desde então, professores das redes municipais passaram a participar do curso de capacitação em Língua Pomerana, ofertado em cada município citado, e sendo assessorado pelo Professor Dr. Ismael Tressmann.

Figura 5 - Mapa do Espírito Santo representando os municípios em que a língua pomerana já foi co- oficializada (de baixo para cima): Domingos Martins, Santa Maria de Jetibá, Laranja da Terra, Pancas, e Vila Pavão.

No Curso de Capacitação, os professores aprendiam a escrita da Língua Pomerana, além de conhecimentos específicos sobre cultura e antropologia, proporcionando- lhes um outro olhar sobre essa etnia e de seus alunos descendentes, bem como o respeito à diversidade.

Entretanto, nem sempre a escola se mostrou receptiva a esta diversidade. Até pouco tempo, proibia-se o uso da Língua Pomerana em sala de aula, mas o PROEPO proporcionou a abertura para o ensino do Pomerano e, consequentemente, seu uso no processo de ensino-aprendizagem. Assim, esse Projeto ajudou na conscientização de que a língua de uma criança não pode se tornar um empecilho para o aprendizado do Português, pelo contrário, ela deve fornecer subsídios à diversidade.

Identificamos que essas mudanças que ocorreram e estão acontecendo nos municípios envolvidos com o PROEPO têm colaborado para o fortalecimento da identidade étnica e cultural dos pomeranos. Por meio de relatos e conversas

informais, muitos pais mostraram grande contentamento ao ouvirem dos filhos uma canção ou uma história ensinada pela professora. Notamos ser de extrema relevância que as escolas da rede pública estimulem os alunos a valorizarem sua cultura e a língua materna. No entanto, para que a Língua Pomerana continue viva é preciso que, além do uso desta na escrita e na fala em sala de aula, os pais continuem a ensiná-la para seus filhos.

Quando de sua implantação, o PROEPO propunha várias ações: formação de educadores falantes da Língua Pomerana para assumirem o ensino das escolas das comunidades pomeranas; contratação, por parte dos órgãos públicos e/ou privados, de funcionários e educadores falantes do Pomerano; execução de concurso diferenciado para estes educadores; fortalecimento da cultura e da Língua Pomerana; edição de dicionários bilíngues (atualização do dicionário existente e publicação de um dicionário infantil, construção de material pedagógico, edição de livro didático com atividades em Pomerano), ensino interdisciplinar, co-oficialização e regulamentação da Língua Pomerana; extensão da carga horária para professores participantes do PROEPO; construção de proposta pedagógica diferenciada. Em Domingos Martins, algumas dessas ações já foram e estão sendo realizadas; outras estão em andamento ou ainda não foram concretizadas.

De acordo com pesquisa realizada por Hartuwig (2011, p. 118), o Programa de Educação Pomerana se configura como uma iniciativa que

[...] rompe com o modelo pedagógico baseado no paradigma da privação cultural, onde o aluno sempre é o problema, onde a cultura do diferente é que não se adequa ao modelo hegemônico, ao modelo de cultura idealista elitista onde o é aluno visto como o não civilizado e a escola, com a tarefa de civilizar, acaba excluindo e acentuando o preconceito.

Com a consolidação do PROEPO nos municípios anteriormente mencionados, novas concepções foram estudadas e difundidas, transformando-se em propostas balizadoras de políticas públicas, que visam garantir a reafirmação cultural e linguística. Essa iniciativa de co-oficializar uma língua de imigração foi pioneira no Brasil, visto que o primeiro município brasileiro a ter, além do Português, outras línguas com o status de oficial foi São Gabriel da Cachoeira no Amazonas, porém trata-se de línguas indígenas (Tukano, Baniwa e Nheengatu).

Em Domingos Martins, a co-oficialização da Língua Pomerana ocorreu no mês de outubro de 2011, por meio do projeto de lei municipal 2.356/2011. Com a co- oficialização do Pomerano, o município de Domingos Martins passou a rever as suas obrigações frente ao projeto de lei e aos seus cidadãos descendetes de pomeranos, destacando-se no segundo artigo:

I - Manter os atendimentos ao público, nos órgãos da administração municipal, na língua oficial e na língua co-oficializada;

II - Produzir a documentação pública, bem como campanhas publicitárias institucionais na língua oficial e na língua co-oficial;

III - Incentivar e apoiar o aprendizado e o uso da língua co-oficial nas escolas que atendem aos descendetes dos povos tradicionais e nos meios de comunicação.

Outro detalhe importante está exposto no 4º artigo, o qual retrata que o uso da Língua Pomerana não será motivo de discriminação, no exercício dos direitos de cidadania, que assegurados pela Constituição Federal.