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O Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA) foi lançado em dezembro de 2000 pela Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação (SEF/MEC) e implementado a partir de 2001 nos estados e municípios brasileiros que a ele fizeram adesão, dentre os quais, Cachoeiras de Macacu (RJ).

O PROFA tinha como objetivo oferecer novas técnicas de alfabetização, originadas de estudos realizados por vários educadores de diversos países. A proposta dos estudos surgiu a partir das mudanças ocorridas no processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita oriundas da década de 1980, influenciadas pelas pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, principalmente pela obra Psicogênese da

Língua Escrita (1999).

A proposta do Programa era levar o aluno a ler e a escrever de maneira adequada a norma culta da Língua Portuguesa, conduzindo-o a refletir, inferir, estabelecer relações e compreender informações, não desconsiderando o conhecimento anterior antes de adentrarem na escola, os ditos prévios, assim como respeitando sua forma de registrar a escrita ortográfica, ou seja, sua escrita espontânea (FERREIRO, 1985).

E a sua elaboração contou com alguns aspectos inseridos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), buscando a utilização de metodologias adequadas às necessidades discentes, visto que os documentos orientadores supracitados são fonte de análise da educação básica pública em sua diversidade. Tal proposta buscou ações voltadas à realidade dos alunos, propondo medidas para superar o fracasso escolar existente, visando a melhoras nos índices de aprendizagem, principalmente os relacionados à leitura e escrita. Conforme o Guia do Formador16,

As competências relacionadas a seguir referem-se ao trabalho de alfabetização e, portanto, espera-se que progressivamente sejam desenvolvidas pelos professores que alfabetizam crianças, jovens e adultos. Para que os alunos possam ter assegurado o seu direito de aprender a ler e escrever, é preciso que os professores se tornem cada vez mais capazes de: • encará-los como pessoas que precisam ter sucesso em suas aprendizagens para se desenvolver pessoalmente e para ter uma imagem positiva de si mesmos, orientando-se por esse pressuposto; • desenvolver um trabalho de

16 Guia do Formador, Módulo I. Disponível em:

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alfabetização adequado às necessidades de aprendizagem dos alunos, acreditando que todos são capazes de aprender; • reconhecer-se como modelo de referência para os alunos: como leitor, como usuário da escrita e como parceiro durante as atividades; • utilizar o conhecimento disponível sobre os processos de aprendizagem dos quais depende a alfabetização, para planejar as atividades de leitura e escrita; • observar o desempenho dos alunos durante as atividades, bem como as suas interações nas situações de parceria, para fazer intervenções pedagógicas adequadas; • planejar atividades de alfabetização desafiadoras, considerando o nível de conhecimento real dos alunos; • formar agrupamentos produtivos de alunos, considerando seus conhecimentos e suas características pessoais; • selecionar diferentes tipos de texto, que sejam apropriados para o trabalho; • utilizar instrumentos funcionais de registro do desempenho e da evolução dos alunos, de planejamento e de documentação do trabalho pedagógico; • responsabilizar- se pelos resultados obtidos em relação às aprendizagens dos alunos.

A principal proposta baseou-se na formação docente, onde foram oferecidos cursos de capacitação aos professores alfabetizadores. Essa formação foi desenvolvida por meio de convênios entre as Secretarias de Educação e organizações já participantes do programa Parâmetros em Ação17, além de apoio de universidades.

O curso, com duração de um ano, prioriza os professores alfabetizadores que atuam na Educação Infantil, nas séries iniciais do Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos. Possui uma carga horária de 160 horas, da qual 75% em conjunto com os demais professores participantes e 25% de forma individual por meio de leituras, com literatura ampla, incluindo a apresentação do programa, o guia de orientações metodológicas e coletânea de textos; e vídeos com 30 programas aglutinados em três módulos: Processo de Aprendizagem, Propostas Didáticas 1 e 2. O seu objetivo é desenvolver nos participantes a construção da cidadania, com foco no aluno e no professor.

Esperava-se que, com o PROFA, o professor se preparasse, tornando-se capaz de se conscientizar do seu papel enquanto facilitador da aprendizagem, aberto às novas propostas, tendo empatia com seus alunos e, assim, pudesse analisar e compreender os anseios e as dificuldades desses, buscando levá-los à autorrealização.

Compreende-se que o curso oportunizou mudanças significativas nas práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores, contanto que estes considerassem a possibilidade de alterações nos planos de ensino dos conteúdos; maior comprometimento em relação ao seu trabalho no que diz respeito à qualidade das aulas e compromisso significativo em sua preparação; atitudes respeitosas no tratamento com

17 Ação desenvolvida a partir de 1998 pela Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação (SEF/MEC), objetivando a formação de professores, com a intenção de promover a leitura, análise, discussão e implementação dos Parâmetros e dos Referenciais Curriculares Nacionais (PCN’s).

os alunos; maior possibilidade para que estes participem da construção de uma prática pedagógica melhor qualificada.

O PROFA, no tocante à escrita, teve grande contribuição; porém, alguns professores alfabetizadores, mesmo tendo participado do curso, ainda lançam mão, para efeito de sua atuação em sala de aula, de métodos tradicionais de alfabetização, isto é, processos mecânicos em que o aluno é tido como um ser passivo no processo de ensino- aprendizagem, compreendido como um depósito de conteúdos universais, sem nenhuma reflexão acerca destes. Outros professores buscaram refletir mais sobre sua prática, aderindo de forma mais ampla ao que foi oferecido no curso, utilizaram a proposta filosófica de alfabetização construtivista, porém, em certos momentos, demonstraram ainda estar presos a antigas práticas pedagógicas tradicionais, por meio das quais foram alfabetizados. Vale ressaltar que o fato de alguns professores utilizarem os métodos mecanicistas não quer dizer que este, em algum momento histórico da educação, não tenha sido considerado adequado, afinal o conceito de alfabetização vem transformando-se com a crescente modificação da sociedade. Mas é preciso refletir o que é estar alfabetizado no século XXI e qual o papel social da leitura e da escrita.

O PROFA foi uma proposta que teve como centro a atuação do professor em reflexões teóricas sobre o processo educacional brasileiro. Em um país com uma enormidade cultural como o Brasil, onde a leitura e a escrita possuem variantes regionais (BAGNO, 1999), o programa em questão não conseguiu atenuar as diferenças, afinal se fez de um material pronto, emanado do Ministério da Educação, apenas para ser implementado nas redes de ensino. Mas e as variantes linguísticas, marcadas pela regionalidade do país? Cabia ao professor a tentativa de contextualizar o material recebido.

Outro ponto a ser analisado, em nossa percepção, é a centralidade do processo, que se dá no educador que assume o protagonismo no programa. O aluno, cerne do processo de ensino-aprendizagem na própria perspectiva construtivista de alfabetização, não teve sua realidade amplamente considerada: era o sujeito a ser pensado no processo, mas nem sempre considerado no material previamente elaborado por determinados estudiosos, os quais eram responsáveis pela estruturação e viabilidade das ações.

No entanto, é fundamental considerar que, apesar da descontextualização da proposta apresentada, o PROFA teve sua importância, pois permitiu que um número considerável de professores refletisse acerca da educação em uma perspectiva outra, cabendo-lhes a transcendência das aprendizagens para a práxis, refletindo sobre suas

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ações. Com relação a Cachoeiras de Macacu, segundo os dados da SME, participaram da formação, aproximadamente, 150 professores.

2005 – PRÓ-LETRAMENTO

Programa de formação continuada de professores de 1ª a 4ª Séries (equivalente aos atuais 1º a 5º Anos Escolares), em que um tutor – obrigatoriamente professor efetivo da rede pública com experiência em alfabetização – tornava-se, para os professores, multiplicador da formação recebida da universidade pública. O curso foi organizado em dez encontros anuais, com 8 horas cada, acrescido de mais 40 horas, na modalidade à distância, totalizando 120 horas de formação. Havia, ainda, material didático para todos os participantes, elaborado por universidades públicas.

As formações desenvolvidas no Pró-Letramento tinham como foco atividades voltadas ao letramento em Língua Portuguesa e Matemática. Segundo o portal do MEC, os seus objetivos são:

* oferecer suporte à ação pedagógica dos professores dos anos/séries iniciais do ensino fundamental, contribuindo para elevar a qualidade do ensino e da aprendizagem de língua portuguesa e matemática;

* propor situações que incentivem a reflexão e a construção do conhecimento como processo contínuo de formação docente;

* desenvolver conhecimentos que possibilitem a compreensão da matemática e da linguagem e de seus processos de ensino e aprendizagem;

* contribuir para que se desenvolva nas escolas uma cultura de formação continuada;

* desencadear ações de formação continuada em rede, envolvendo Universidades, Secretarias de Educação e Escolas Públicas dos Sistemas de Ensino (BRASIL, 2007)18.

Conforme dispõe a Resolução CD/FNDE nº 24, de 16 de agosto de 2010, que “estabelece orientações e diretrizes para o pagamento de bolsas de estudo e de pesquisa a participantes dos programas de formação inicial e continuada de professores e demais profissionais de educação, implementados pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC) e pagas pelo FNDE”, na esfera municipal, havia pagamento de bolsa somente para o tutor, conforme artigo 8º, §2º:

Art. 8º As bolsas de estudo e pesquisa de que trata esta Resolução serão concedidas a participantes dos programas de formação inicial e continuada e

capacitação de professores e demais profissionais da educação que cumpram os critérios e os requisitos estabelecidos pela SEB/MEC e pelo FNDE. § 2º A título de bolsa de estudo e pesquisa, o FNDE pagará aos bolsistas dos programas de formação de professores e profissionais da educação os seguintes valores:

I – ao coordenador-geral, R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) mensais; II – ao coordenador-adjunto, R$ 1.400,00 (mil e quatrocentos reais) mensais; III – ao professor pesquisador, R$ 1. 300,00 (mil e trezentos reais) mensais; IV – ao supervisor de curso, R$ 1.100,00 (mil e cem reais) mensais; V – ao formador, R$ 1.100,00 (mil e cem reais) mensais;

VI – ao tutor, R$ 765,00 (setecentos e sessenta e cinco reais) mensais.

O programa em questão, emanado pelo Ministério da Educação e Cultura, sem diálogo prévio com a escola básica, não possuía como estratégia de avaliação das ações o acompanhamento in loco. A universidade responsável pelo desenvolvimento das formações, bem como o MEC só tinham acesso ao efetivo trabalho docente por relatos escritos pelo tutor. Tais relatórios seguiam juntamente com atividades dos alunos, desenvolvidas no dia a dia da rotina escolar. Desta forma, havia um grande distanciamento entre a teoria e a prática.

Outra análise necessária é a proximidade excessiva entre o Pró-Letramento com o programa governamental passado, PROFA, evidenciando que sua criação se deu por interesses meramente políticos sem considerar elementos indispensáveis ao sucesso ou insucesso da política, como a análise dos resultados do seu precursor.

Figura 11: Médias de desempenho das séries iniciais do Ensino Fundamental conforme Saeb/Prova Brasil – de 2001 a 2011. Fonte: <http://portal.mec.gov.br>.

Considerando que, segundo o INEP, o crescimento do resultado de desempenho dos alunos, na escala do Saeb/Prova Brasil, pode ser medido pela equivalência de que

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20 pontos correspondem a aproximadamente um ano de escolarização. Portanto, ao longo de dez anos, de 2001 a 2011, em Língua Portuguesa, os resultados cresceram correspondendo à evolução de apenas um ano de escolarização.

Ao longo desta década, o PROFA subsistia como programa que objetivava a difusão de novas técnicas de alfabetização, voltadas à melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e matemática, obtendo o resultado pífio disposto no gráfico acima. Então por que criar o Pró-Letramento nos mesmos moldes, diante de resultados insuficientes?

Apesar de todas as mazelas encontradas desde a implementação até o desenvolvimento do programa, ressalta-se que ele contribuiu para que se desenvolvesse nas escolas uma cultura de formação continuada, com acompanhamento da universidade pública, carecendo apenas de fortalecer o diálogo entre as instituições e, nessa dialética, construir propostas mais efetivas no que concerne ao desenvolvimento de um processo de alfabetização multifacetado, pautado na análise linguística e no ato político da ação.