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PROGRAMA INSTITUCIONAL DE AÇÕES RELATIVAS ÀS PESSOAS

5. O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

5.3 PROGRAMA INSTITUCIONAL DE AÇÕES RELATIVAS ÀS PESSOAS

Neste subcapítulo, tem-se como objetivo delimitar as ações já desenvolvidas e as que se encontram em desenvolvimento no Programa Institucional de Ações Relativas às Pessoas com Necessidades Especiais (PEE)36, desde a sua implantação no ano de 1997 até o ano de 2009.

Historicamente, pode-se dizer que o Programa de Educação Especial nasceu na medida em que as pessoas com deficiência foram aos poucos transpondo barreiras no campo educacional e o ingresso na UNIOESTE tornou-se um objetivo possível. Assim, procurando atender a essa demanda, a Universidade iniciou ações no sentido de trabalhar com o acesso e a permanência dessas pessoas no ensino superior.

O Programa de Educação Especial, ao longo desses anos, tem procurado desenvolver as suas atividades em conjunto com a organização social das pessoas com deficiência e com instituições das redes municipal e estadual de ensino. No interior da Universidade, está articulado com o Núcleo de Inovações Tecnológicas (NIT), o Núcleo de Estudos Interdisciplinares (NEI), o Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA), as Pró-Reitorias de Extensão e Graduação e com a Direção Geral dos Campi37.

O programa encontra-se estruturado no formato multicampi, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão (PROEX). Possui uma coordenação geral em Cascavel, locus com o maior número de profissionais, quatro subcoordenadores38, oito docentes lotados no Centro de Educação, Comunicação e Artes que desenvolvem projetos de ensino, pesquisa e extensão voltados à área da educação especial, quatro técnicos administrativos da Universidade que contribuem para o desenvolvimento de atividades propostas pelo programa, doze alunos regularmente matriculados em cursos de graduação ou pós-graduação, dez membros da comunidade externa que participam das reuniões e dois estagiários que desenvolvem as atividades de

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Conhecido como Programa de Educação Especial. 37

Tais articulações permitem, em conjunto com os demais órgãos da Universidade, viabilizar suporte técnico, científico e acadêmico necessários às atividades de ensino, pesquisa e extensão, desenvolvidas na área da educação.

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cunho administrativo e confeccionam matérias para os alunos com deficiência. A maioria dos seus integrantes é constituída de pessoas com deficiência formadas na própria UNIOESTE.

As deliberações são tomadas em um colegiado do qual participam a coordenação geral, os subcoordenadores, os professores, alunos e funcionários ligados ao programa, assim como pessoas externas à Universidade, mas que fazem parte do movimento das pessoas com deficiência no município.

Para suprir suas necessidades básicas, o PEE conta com uma dotação orçamentária anual aprovada pelo Conselho Universitária (COU), oriunda do concurso vestibular. É importante mencionar que todas as atividades realizadas têm como pressuposto, além de dar apoio ao ingresso e à permanência das pessoas com deficiência nos diversos cursos de graduação e de pós- graduação da Universidade, romper com a idéia de incapacidade ainda presente na nossa sociedade acerca dessas pessoas.

Quando nos referimos, portanto, à educação especial e ao trato com pessoas com deficiência, parte-se de uma concepção que busca superar os modelos assistencialistas e clínico-terapêuticos que historicamente têm prevalecido em muitos ambientes. Trata-se de uma concepção que toma como referência a compreensão de que o homem é um ser histórico-social que se constitui enquanto determinado e determinante no âmbito da vida coletiva e cujo conhecimento é oriundo de ações socialmente mediadas.

Nesse sentido, tem sido proposto ao Programa desenvolver tarefas que ampliem a discussão sobre as pessoas com deficiência, para que as concepções preconceituosas sejam superadas. Tanto, que um dos grandes desafios é sempre trazer à tona elementos constituintes das condições de vida dessas pessoas, ou seja, elas apresentam características diferenciadas referentes a aspectos físicos, sensoriais, de inteligência, de comportamento, mas não são esses elementos de forma isolada que os definem como sujeitos. Por outro lado, não se trata de negar as características individuais, mas relacioná-las a um conjunto de condições que fazem parte do ser humano, inserido num determinado momento histórico, como pontua Jannuzzi (1997).

Historicamente, o trabalho acerca da educação especial na UNIOESTE teve início em 1995, quando uma pessoa com visão reduzida, ao prestar o

concurso vestibular para o curso de Pedagogia, solicitou prova ampliada, sendo-lhe negado o pedido. No ano seguinte, a mesma candidata, ao efetuar sua inscrição, refez o pedido, insistindo para que a Universidade providenciasse as condições necessárias para que realizasse as provas, o que culminou no ingresso da estudante na Instituição.

No ano de 1997, foi aprovado no concurso vestibular, também para o curso de Pedagogia, um estudante cego. Na primeira semana de aula, a Associação Cascavelense de Pessoas com Deficiência Visual (ACADEVI) organizou uma manifestação junto às instâncias internas da Universidade39, exigindo atendimento a esses dois alunos. Dessa forma, a Pró-Reitoria de Graduação providenciou um espaço e um funcionário para gravar os textos em fitas cassetes, “lidos” auditivamente pelo aluno. Encaminhou-se a compra de uma impressora Braille, de um computador e do programa Dosvox. Essas providências, naquele momento, supriam as necessidades dos dois alunos. Isso confirma a importância das Associações de e para pessoas com deficiência para garantir condições de acesso e permanência desses estudantes na Universidade.

Nesse mesmo ano, através de um movimento de reivindicações por parte desses dois alunos, apoiados pela ACADEVI, foi instituído pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), através da Resolução nº. 323/1997, o Programa de Ações Relativas às Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (PEE). A partir daí, inúmeras ações passaram a ser realizadas internamente e externamente junto às associações de pessoas com deficiência e aos órgãos públicos que atuam na área. Atualmente, o programa é regulamentado pela Resolução nº 127/2002 (CEPE), que aprovou o Regulamento dos Procedimentos para Ingresso e Permanência de Pessoas com Necessidades Especiais na UNIOESTE (Concurso Vestibular) e a Resolução n 319/2005, que aprovou o Regulamento do Programa Institucional de Ações Relativas às Pessoas com Necessidades Especiais (envolve todas as demais ações desenvolvidas).

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Pró-Reitoria de Graduação, Direção do Campus e do Centro de Educação, Comunicação e Artes, Departamento de Educação, Colegiado do Curso de Pedagogia.

A criação do referido programa exigiu ações novas na Universidade. Estas diziam respeito, em um primeiro momento, à confecção de materiais adaptados aos alunos com deficiência visual já freqüentando o curso de Pedagogia, bem como iniciativas elaboradas a partir de princípios e concepções acerca de quem é a pessoa com deficiência.

Com referência aos candidatos com necessidades especiais inscritos no concurso vestibular, o PEE avalia a necessidade da banca especial, organizando e coordenando todo o processo. As atividades da banca especial têm a finalidade de assegurar as condições adequadas aos vestibulandos com necessidades educacionais especiais, possibilitando metodologias e recursos pedagógicos específicos, conforme as necessidades de cada candidato. Para suprir essas necessidades podem ser disponibilizados recursos como: intérpretes para usuários de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS); ledor e materiais com caracteres ampliados; exercícios com material gráfico; computadores com programa Dosvox; professores para cada uma das áreas específicas; equipamentos adaptados e orientações a todos os membros da comunidade universitária sobre a melhor forma de se relacionar com os candidatos com deficiência no decorrer do concurso.

Com a aprovação dos candidatos no concurso vestibular, já na matrícula são indicadas quais necessidades o aluno apresenta, para que sejam tomadas as medidas adequadas à sua permanência na graduação, criando condições que possibilitem a aprendizagem e a participação desses alunos na vida acadêmica da Universidade. Uma das grandes preocupações do programa centra-se na apropriação do conhecimento desses alunos que ingressam na Universidade. Para tanto, tem viabilizado momentos de reflexões e discussões entre a coordenação do setor, professores, alunos e coordenadores dos colegiados dos cursos que possuem acadêmicos com deficiência.

Uma das atividades desenvolvidas no decorrer desses anos refere-se à formação de professores que, em função do respaldo legal dado pela Portaria nº 1793/1997-MEC, sugere que os cursos de licenciaturas contemplem, em seu projeto político pedagógico, conteúdos acerca dos fundamentos da educação especial. Este aspecto é priorizado através de iniciativas por parte do programa junto aos colegiados e à pró-reitoria de graduação da Universidade. Tanto, que o curso de pedagogia do campus de Cascavel conta com a disciplina

Fundamentos da Educação Especial com carga horária de 120 horas e, a partir de 2009, a disciplina Iniciação em LIBRAS.

Mesmo não sendo de sua atribuição específica, o programa tem contribuído com a Universidade no que diz respeito ao ingresso das pessoas com deficiência para além do alunado, como é o caso da contratação de funcionários com deficiência mediante concurso público, conforme prevê tanto a legislação nacional como a legislação estadual.

Retomando o relato acerca dos dois alunos anteriormente citados, após a entrada de ambos na Universidade, inúmeros outros alunos prestaram concurso vestibular e passaram por diversos cursos de graduação e pós- graduação sendo, em sua maioria, cegos e com visão reduzida. Entretanto, um dos maiores desafios enfrentados pelo programa, desde a sua implantação em 1997, deu-se com o ingresso de uma aluna surda no curso de Pedagogia, em 2002. A contratação de uma professora intérprete configurou-se em uma resposta da Universidade às necessidades dessa aluna. Sabe-se, entretanto, que somente a atuação desse profissional não é suficiente para garantir a permanência do aluno surdo na instituição. Outras ações neste sentido tornaram-se necessárias resultando em dois encontros40, cuja finalidade foi buscar orientações de cunho teórico-metodológico sobre a educação do surdo no ensino superior. A partir daí, outros alunos surdos fazem parte do quadro acadêmico da Universidade, todos atendidos por intérpretes.

Historicamente, o Programa de Educação Especial também tem se ocupado de diversas atividades de extensão, como por exemplo, no ano de 2006 e de 2007 promoveu o curso "Formação Continuada em Educação Especial e Tecnologias nas Áreas das Deficiências Física e Visual para Professores do Ensino Básico". O PEE, em conjunto com a ACADEVI e a Secretaria do Trabalho, Emprego e Promoção Social (SETP),promoveu no ano de 2005 o “V Seminário de Cegos: A Inserção dos Cegos na Sociedade”; em 2006, o “VI Seminário de Cegos: trabalho educação e assistência social”; no ano de 2007, o “VII Seminário de Cegos: o trabalho e a educação da pessoa cega e com visão reduzida na sociedade capitalista contemporânea”; e em

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Um com a professora Ronice Quadros Muller (UFSC-SC) e outro com o professor José Geraldo Silveira Bueno (PUC-SP).

2009, o “VIII Seminário: o trabalho e a educação da pessoa cega e com visão reduzida diante da atual crise econômica mundial do capitalismo”.

A realização desses seminários possibilitou a articulação entre o movimento de cegos no Estado do Paraná e os profissionais que atuam na área da deficiência visual, contemplando também estudantes e outros profissionais. As discussões foram centradas na educação, no trabalho e na assistência social. A participação efetiva desse segmento junto à sociedade, neste caso no contexto da UNIOESTE, visa à superação de conceitos historicamente constituídos no processo de desenvolvimento das pessoas cegas e deficientes visuais, como incapazes e não produtivos, para uma visão de emancipação social, econômica e educacional.

No ano de 2006, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, o Programa de Educação Especial desenvolveu o curso de LIBRAS tendo como público-alvo professores e funcionários da rede municipal do ensino fundamental (1ª a 4ª séries), tornando-se uma atividade permanente do programa e estendendo-se a diversos profissionais e comunidade externa.

Ainda no decorrer desses últimos anos, juntamente com a Assessoria de Políticas Publicas e Inclusão Social da pessoa com deficiência (APPIS), o programa tem promovido cursos permanentes de extensão sobre como se relacionar com a pessoa com deficiência e temas afins relacionados à área da educação especial.

Nesse mesmo movimento, como parte das ações, foram organizados diversos eventos que deram prioridade a várias temáticas relacionadas, entre os quais merecem destaque os seguintes seminários41: “Princípios para a educação especial e a formação de professores na perspectiva da inclusão”; “Educação Inclusiva: concepções, perspectivas e desafios”; “Educação Especial: aspectos históricos e pressupostos de aprendizagem e desenvolvimento da pessoa com deficiência na abordagem Vigotskiana”; “O papel da escola frente aos desafios da sociedade contemporânea”; “A teoria de Vigotski e a escolarização da pessoa com deficiência”; “As bases do capital e

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Estes seminários caracterizam-se como uma atividade permanente do programa desde 2003, ocorrendo sempre no segundo semestre do período letivo.

suas determinações na qualidade da educação da pessoa com deficiência42”; “Educação e inclusão na perspectiva histórico-cultural”.

Buscando articular atividades de extensão e extrapolar o espaço universitário, alguns integrantes do programa participam do Fórum Municipal em Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, da Comissão de Acessibilidade Municipal, da Associação Cascavelense de Pessoas com Deficiência Visual, da Assessoria de Políticas Públicas e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência, Agência do Trabalhador e Secretaria Municipal de Educação. Por considerar os fóruns como espaços importantes de mobilização e de reflexão, o PEE participava, desde sua origem, do Fórum Nacional de Educação Especial das Universidades Brasileiras e do Fórum Paranaense das Universidades.

Voltando-se também para a pesquisa, o programa conta com um grupo de estudos na área de educação especial, envolvendo professores não só da UNIOESTE, mas professores das redes municipal e estadual de ensino de Cascavel, acadêmicos dos diferentes cursos de graduação e pós-graduação e colaboradores, dentre os quais se encontram pessoas com deficiência. Este grupo nasceu da necessidade de fomentar experiências com pares que pesquisam, estudam e atuam na educação especial e têm como objetivo estudar a obra de Vigotski intitulada Fundamentos de Defectologia - Tomo V (1983). Com isso, busca-se compreender a base teórica do desenvolvimento da Pedagogia especial e suas implicações para a educação das pessoas com deficiência.

Assim, fundamentando-se na teoria histórico-cultural, a equipe do programa de educação especial procura desenvolver ações com vistas a refletir sobre as contradições presentes na educação e na sociedade, trabalhando com elementos postos no cotidiano que influenciam a vida das pessoas com deficiência.

Dentre os diversos trabalhos desenvolvidos no decorrer desses anos, destacam-se a publicação de dois livros: "Pessoas com Deficiência: aspectos

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teóricos e práticos”; “A Pessoa com Deficiência na Sociedade Contemporânea: problematizando o debate43”.

5.4 QUADRO ILUSTRATIVO DOS ACADÊMICOS COM DEFICIÊNCIA