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SUB-ESCALAS

3) Programa de Intervenção

Em meio às discussões sobre os temas de interesse dos pais, com apoio dos textos, a pesquisadora teve oportunidade de esclarecer diversas dúvidas importantes. As mães, no geral, perguntavam mais sobre como estimular e como disciplinar. Os pais não perguntavam muito, mas relatavam suas atitudes para estimular e disciplinar os filhos. A partir dos relatos, a pesquisadora pôde reforçar comportamentos adequados dos pais ou discutir alternativas para comportamentos que ela julgava inadequados.

O pai 3, por exemplo, havia relatado, em entrevista, que falava ‘não’ e dava tapa na mão da criança em resposta aos tapas que a criança dava no rosto das pessoas. A pesquisadora, ao terminar a entrevista, sugeriu algumas alternativas para lidar com o comportamento da criança, como prever o tapa da criança e impedir fisicamente que ele se concretizasse, redirecionando a criança para outro comportamento fisicamente incompatível. Ela explicou que o ‘não’ deveria ser usado apenas para chamar a atenção da criança em situações em que os pais não pudessem alcançá-la a tempo de impedir algum comportamento de risco ou que prejudicasse outra pessoa e que a punição física não ensinava o comportamento adequado esperado pelos pais e ainda gerava produtos indesejáveis, como modelo de comportamento inadequado, raiva e medo da criança, arrependimento dos pais, etc.

Posteriormente, na discussão dos textos sobre manejo de comportamento, a pesquisadora ouviu desse pai: “então você discorda da Bíblia, porque nela fala para

bater de vara”. Ele se referia ao Provérbio 23:13-14: “Não poupes ao menino a

correção: se tu o castigares com a vara, ele não morrerá; castigando-o com a vara salvarás sua vida da morada dos mortos” (Bíblia Sagrada, Provérbios 23:13-14). A pesquisadora contra-argumentou que suas discussões eram baseadas em estudos de especialistas em desenvolvimento infantil com famílias do mundo todo e que as informações levadas eram as que considerava mais adequadas para um bom relacionamento pai-filho e para um bom desenvolvimento da criança, já que sua proposta de intervenção era obter bons resultados para a criança.

Os resultados do treino dos pais com as crianças podem ser observados na Figura 5 a seguir. Ela ilustra a porcentagem acumulada dos comportamentos prescritos, dos comportamentos aprendidos com o treino e aqueles aprendidos em um intervalo de visita. Os intervalos de visitas eram de uma semana na maioria das vezes, contudo, isso

não pôde ser garantido porque muitas vezes havia impedimentos para a visita semanal, como já comentado no procedimento.

Família 1 Família 2

Família 3 Família 4

Família 5 Família 6

Figura 5. Porcentagem acumulada de comportamentos por intervalos de visitas.

Podemos observar que a maioria dos pais teve dificuldades no início do treino, pois a aprendizagem dos comportamentos prescritos para treino demorou para ter início.

Apenas os pais 4 e 6 conseguiram ensinar os primeiros comportamentos para seus filhos em apenas um intervalo de visita.

As crianças aprenderam uma variedade de novos comportamentos alcançando níveis desenvolvimentais mais próximos de sua idade cronológica (como evidenciado pela Figura 4), com exceção da criança 5.

A criança 1 aprendeu 85% dos novos comportamentos ensinados por seu pai, 54% dos comportamentos prescritos em um intervalo de visita e 64% dos comportamentos aprendidos em um intervalo de visita.

A criança 2 aprendeu 86,7% dos novos comportamentos ensinados por seu pai, 56,7% dos comportamentos prescritos em um intervalo de visita e 65,4% dos comportamentos aprendidos em um intervalo de visita.

A criança 3 aprendeu 79,2% dos novos comportamentos ensinados por seu pai, 54,2% dos comportamentos prescritos em um intervalo de visita e 68,4% dos comportamentos aprendidos em um intervalo de visita.

A criança 4 aprendeu 65% dos novos comportamentos ensinados por seu pai, 35% dos comportamentos prescritos em um intervalo de visita e 53,8% dos comportamentos aprendidos em um intervalo de visita.

A criança 5 aprendeu 64% dos novos comportamentos ensinados por seu pai, 32% dos comportamentos prescritos em um intervalo de visita e 50% dos comportamentos aprendidos em um intervalo de visita.

A criança 6 aprendeu 50% dos comportamentos ensinados por seu pai, 38,5% dos comportamentos prescritos em um intervalo de visita e 76,9% dos comportamentos aprendidos em um intervalo de visita.

Os pais 1, 2 e 3, tiveram mais sucesso no treino, de acordo com as taxas de aprendizagem descritas.

A criança 2, cuja família teve menos problemas em manter a regularidade das sessões com a pesquisadora e os treinos semanais, obteve os maiores progressos, visto que faltavam apenas 20 itens (sendo 11 da área de Linguagem, a área na qual as crianças apresentaram maior dificuldade, assim como relatado na literatura sobre síndrome de Down) para que a criança alcançasse sua faixa etária, no pós-teste. Contudo, todas as crianças obtiveram ganhos de sua participação no treino, como explicado a seguir.

Entre 50% e 77% dos novos comportamentos das crianças foram adquiridos dentro de um intervalo de visita, o que pode ser um indicativo de que as aquisições de

novos comportamentos estavam relacionadas aos esforços dos treinos. Um outro indicativo seria a quantidade de habilidades aprendidas no geral que tinham sido objetivos de treino: 33% para a criança 1; 28% para a criança 2; 32% para a criança 3; 26% para a criança 4; 40% para a criança 5 e 31% para a crança 6. Mais especificamente, notou-se uma maioria de comportamentos adquiridos que tinham sido treinados pelo pai em:

- Socialização para as crianças 1 e 3 (66,7% entre a sondagem e o pós-teste); - Cognição para as crianças 2 (80% entre o pré-teste e a sondagem), 3 (100% entre a sondagem e o pós-teste), 5 (66,7% entre o pré-teste e a sondagem) e 6 (100% entre a sondagem de retorno do treino e o pós-teste final);

- Linguagem para as crianças 1 (83,3% entre a sondagem e o pós-teste), 4 (66,7% entre o pré-teste e a sondagem e entre esta e o pós-teste), 5 (100% entre a sondagem e o pós-teste) e 6 (75% entre o pré-teste e o pós-teste parcial);

- Desenvolvimento motor para a criança 5 (75% entre a sondagem e o pós-teste). As áreas de Linguagem e Cognição foram aquelas nas quais houve mais novos comportamentos adquiridos que haviam sido objetivos de treino (46,6% e 42,6%, respectivamente). Percebeu-se que à medida que o repertório das crianças se desenvolvia em uma área, outras áreas tendiam a melhorar igualmente. Além disso, o fracasso no ensino dos comportamentos às crianças quando ocorria, devia-se muito mais à falta de repetição diária dos pais, dificuldade da pesquisadora em quebrar alguns comportamentos em repertórios menores a fim de se atingir os comportamentos descritos no IPO e problemas de saúde das crianças que as deixaram debilitadas dificultando ou impedindo o treino por parte dos pais.

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