• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 Tecendo as relações entre Juventudes, Formação e Trabalho

2.3. Programa Jovem Aprendiz

Ao longo da história do nosso País, várias Políticas Públicas foram postas em prática tendo em vista a inserção do jovem no Mercado de Trabalho, contudo, por muito tempo, as iniciativas do Governo em ensinar ofícios aos adolescentes e jovens, estavam pautadas na filosofia de filantropia, alívio da pobreza e controle da violência. Nesse contexto, segundo Macêdo (2006), os ofícios aprendidos não traziam nenhuma possibilidade de ingresso em postos bem remunerados, não possibilitavam ascensão social e mantinham o ciclo vicioso da pobreza.

Com o intuito de responder às exigências crescentes de qualificação profissional, de experiência e às poucas oportunidades no mundo do trabalho, diferentes experiências governamentais vêm sendo empreendidas por meio de programas destinados a contribuir para o futuro ingresso dos segmentos jovens no mercado de trabalho. Nessa direção, surgem ou são reformulados diversos programas de formação ou incentivo à contratação de jovens. Dentre eles destacam-se o PROJOVEM Trabalhador, o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego e o Programa da Aprendizagem. Sendo este último objeto de estudo desta Tese.

O Programa da Aprendizagem, tal como o concebemos hoje, é fruto desse longo caminho de evoluções e retrocessos de Políticas Públicas de incentivo ao trabalho e à formação de jovens cidadãos. Inclusive das conquistas logradas a partir da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, que passou a ver a criança e o adolescente como sujeitos de direito.

Entende-se que a Lei nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000 (a Lei do Aprendiz, como ficou conhecida), nasceu para reavivar os princípios e regras normatizados no Decreto-Lei nº 4.481 e no Decreto-Lei nº. 8.622 homologados nos anos 40, aperfeiçoando-os. A Lei do Aprendiz alterou dispositivos na CLT, para a inserção de

normas protetoras ao menor de 18 anos, necessárias a sua capacitação profissional e obtenção de sua primeira experiência laboral.

A aprendizagem profissional consiste em formação técnico-profissional metódica que permite ao jovem aprender uma profissão e obter sua primeira experiência como trabalhador, primando pela Proteção Integral do Jovem, que não pode exercer função não adequada ao seu nível de desenvolvimento. Esse Programa foi regulamentado através da Lei 10.097 de 19 de dezembro de 2000, que passou a obrigar os estabelecimentos de qualquer natureza (excluindo-se as microempresas e empresas de pequeno porte e as entidades sem fins lucrativos) a empregar e matricular nos cursos e Instituições formadoras número de aprendizes equivalente a 5%, no mínimo, e 15%, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional.

Segundo o SENAI (2006), para a definição das funções que demandam formação profissional, deverá ser considerada a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). E o cálculo do número de aprendizes a serem contratados terá por base o total de trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional, excluindo-se aquelas que exijam para seu exercício habilitação profissional de nível técnico ou superior; e as funções caracterizadas como cargos de direção, de gerência ou de confiança.

O público são jovens sem experiências profissionais e geralmente vindos de famílias menos favorecidas, que são contratados por empresas como celetistas por dois anos, período em que recebem capacitação na sua área de atuação, com cursos teóricos ministrado concomitantemente a atividade prática. Um aspecto que tem sido destacado por autores que trabalham com a aprendizagem é que as oportunidades geradas são limitadas por práticas correntes na sociedade que contribuem para a segregação da

pobreza, reservando aos jovens socialmente carentes acesso restrito até mesmo aos benefícios gerados pela ação pública (Belluzzo & Victorino, 2008).

Nesse sentido, os autores completam que a discriminação social da pobreza explícita e naturalmente aceita no século XIX nas ações direcionadas às crianças e aos adolescentes termina por limitar a conquista e efetivação dos direitos civis dos segmentos juvenis. Ou seja, em alguns programas, inclusive o Jovem Aprendiz, evidenciam-se processos seletivos, ou por indicação ou por concursos nos quais predomina a lógica meritocrática, favorecendo os jovens que tiveram maiores condições de acesso à educação e não contemplando o público alvo do Programa. Nesses casos, a pobreza e a vulnerabilidade social prosseguem restringindo a efetivação dos direitos e adiando, uma vez mais, a oportunidade de esses segmentos exercerem plenamente seu papel de sujeito, independentemente de gênero, cor e, sobretudo, de renda familiar.

De acordo com a "Cartilha do Adolescente Aprendiz", elaborada pelo MTE e SRTE/PB (MTE, 2003), o contrato de aprendizagem é um contrato especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscritos em programas de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica, compatível com seu desenvolvimento físico, moral e psicológico. E o aprendiz se compromete a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação.

A CLT garante aos aprendizes os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários de todos os demais empregados, ou seja: remuneração mínima prevista em lei, férias, décimo terceiro salário e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Além disso, deverá ter sua Carteira de Trabalho e Previdência Social anotada quanto a seu contrato de trabalho, num prazo máximo de 48 horas, ou seja, em situação de Aprendiz. O direito de acesso à escola também é garantido. Por esse motivo, o horário de trabalho é especial, de forma a não prejudicar os estudos.

Nesse sentido, alguns dos objetivos do Programa são: Garantir o acesso dos adolescentes e jovens com perfil de maior exclusão social3 à qualificação profissional, propiciando a inserção no mercado de trabalho; Contribuir para melhoria da qualidade de vida dos adolescentes aprendizes; Conceder oportunidades de condições de desenvolvimento de potencialidades individuais; Oferecer condições à família do adolescente aprendiz no que diz respeito ao seu crescimento e desenvolvimento com o objetivo de fortalecer o núcleo familiar; dentre outros.

Em outubro de 2003, através da lei 10.748, o governo federal criou o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego de Jovens (PNPE), tendo como principal objetivo promover a inserção profissional de jovens, de 16 a 24 anos, de famílias de baixa renda e com pouca escolaridade, no Mercado de Trabalho, com registro em carteira (Andrade, 2005; Leite, 2008; Ribeiro & Juliano, 2005). Nesse sentido, ele funcionaria como complementar ao Programa Jovem Aprendiz. Enquanto o Jovem Aprendiz possibilitaria a qualificação e a primeira experiência do jovem com o Trabalho; o Primeiro Emprego está voltado para o ingresso no Mercado, subsidiando empresas para que elas contratem esses jovens que se encaixam no perfil do Programa. Os critérios de inclusão do jovem no Programa Primeiro Emprego são: jovens que não tivessem histórico de vínculo empregatício formal, renda per capita de até ½ salário mínimo e que estivessem frequentando o ensino fundamental e médio.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, o Programa Primeiro Emprego é a primeira iniciativa do Governo Federal em organizar uma política social permanente voltada para a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Sendo este voltado à qualificar e inserção dos jovens no mercado de trabalho, facilitando a obtenção de seu primeiro emprego. Diante das dificuldades de implementação do programa, alterou a lei

3 Segundo perfil definido pela Lei nº10.748/03, que cria o PNPE, devem ser beneficiários dos Programas,

em 2004, passando a permitir que jovens com ensino médio completo também participassem do programa.

Os principais eixos do PNPE são: 1) qualificação e preparação da mão-de-obra juvenil para o primeiro emprego, 2) geração de postos de trabalho formal (com duas linhas de ação: parcerias empresariais e responsabilidade social), 3) estímulo ao empreendedorismo juvenil, e 4) articulação com a sociedade civil (através dos Consórcios Sociais da Juventude).

O MTE, com o objetivo de estimular a abertura de novos postos de trabalho destinados a esse público, criou a subvenção econômica, onde o empresário que contratar um jovem com o perfil do PNPE, recebe um estímulo financeiro de seis parcelas de R$ 250,00 por vaga, durante um ano. Foi criado também o selo de responsabilidade social para aquelas empresas que preferirem aderir dispensando o auxílio financeiro.

Tendo em vista a necessidade de unificar as faixas de idade das políticas de juventude voltadas à formação e inserção no Mercado, em Junho de 2005, foi sancionada pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva a Proposta de Medida Provisória que ampliou a faixa etária do “menor aprendiz” na CLT, passando a ser de 14 a 24 anos. Houve então a mudança de nome de Adolescente Aprendiz para Jovem Aprendiz.

De acordo com o próprio Governo Federal, a Lei nº10.748/03 foi editada com a ideia de ampliar o cumprimento da lei de aprendizagem. Porém, quando se faz um comparativo entre elas, fica difícil observar essas articulações. Um primeiro conflito entre as leis é com relação à faixa etária. O contrato de aprendizagem abrange os menores de 14 até 18 anos, enquanto que os jovens a partir de 16 anos já podem fazer parte do programa de primeiro emprego.

Nesse sentido, a contratação de menores aprendizes é obrigatória, devendo os empregadores cumprir quota determinada legalmente, mediante a contratação de jovens

que, dentre outros requisitos, estejam matriculados em cursos profissionalizantes e que deverão realizar atividades profissionais relacionadas a esses cursos. Em contrapartida, agora os empregadores podem contratar os jovens pelo PNPE que não precisam estar em cursos profissionalizantes, o que implica a ausência de restrições de atividades a serem realizadas por esse trabalhador, excetuando-se apenas as atividades domésticas.

Apesar de a contratação de jovens dentro dos moldes do Programa do Primeiro Emprego não afastar a obrigatoriedade do cumprimento das determinações previstas na lei do contrato de aprendizagem, quando o Governo impede que os jovens sejam beneficiados por dois programas, está cerceando as possibilidades de que as empresas contratem aqueles jovens que são formados para uma determinada função dentro da empresa e que já estão adaptados para tal.

Assim, o jovem formado é relançado no Mercado de Trabalho em busca de vagas que não tenham qualquer tipo de benefício advindo do Governo. Assim se tem de um lado jovens com formação profissional, em busca de emprego; e de outro incentivo à contratação de jovens que, mesmo tendo características sócio-demográficas semelhantes as dos aprendizes, não possuem exigência de formação, limitações quanto às funções ou carga horária.

De modo geral, a OIT observa em seu documento sobre Trabalho Decente e juventude no Brasil que, no período recente, importantes alterações foram introduzidas nas políticas voltadas para a juventude em nosso país. Como já fora mencionado, em 2003, o Governo Federal lançou o PNPE, com o objetivo de contribuir para a geração de mais e melhores empregos para a juventude brasileira.

Em 2005 foi instituída a Política Nacional da Juventude, por meio da Medida Provisória 238, assinada pelo Presidente da República em 1º de fevereiro de 2005. No mesmo ato o Presidente propôs reformulações ao Programa Jovem Aprendiz, criou a SNJ, o CONJUVE e o PROJOVEM, que tem como objetivo propiciar aos jovens a

conclusão do ensino fundamental, o aprendizado de uma profissão e o desenvolvimento de ações comunitárias.

Leite (2008) reflete que a promoção do trabalho digno implica políticas ativas de investimentos e ampliação das oportunidades de trabalho que dialoguem entre si, de modo a permitir a permanente adaptabilidade e empregabilidade dos jovens.

No ano de 2011, com a posse da presidenta Dilma Rousseff, houve uma consolidação da política de formação aos jovens estudantes. No corrente ano, o governo enviou ao Congresso um projeto que cria o Programa Nacional de acesso ao ensino técnico (PRONATEC), que tem por objetivo ampliar as vagas e o acesso de estudantes e trabalhadores a cursos técnicos.

O programa visa atuar em duas frentes: oferecer cursos de formação e qualificação para quem já está no mercado de trabalho; e oferecer formação profissionalizante para o estudante de ensino médio. Para tanto, segundo a presidenta, em entrevista no programa café com a presidenta em maio de 20114, para alcançar as metas do programa, haverá a ampliação da rede de escolas técnicas até o ano de 2014, assim como uma participação efetiva do Sistema S, ampliando o acesso desses cursos às populações de baixa renda e o aumento do número de vagas gratuitas.

Contudo, não fica claro que tipo de relação esse novo programa terá com os já vigentes, como o PNPE e o Programa Jovem Aprendiz, por exemplo. Outro aspecto a ser levantado é que mais uma vez a política concentra-se na formação, dando a idéia de responsabilização dos sujeitos por sua empregabilidade. Mas não há incentivos ou ações destinadas à contratação do jovem, de modo que ele consiga se inserir no mercado de trabalho formal.