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CAPÍTULO 2 – O REGIME JURÍDICO DO DIREITO FUNDAMENTAL À

2.4 O Sistema Único de Saúde – SUS

2.4.4 Programa Mais Médicos

Dentro da atualidade do SUS, convém mencionar que a Lei n. 12.871, de 22 de outubro de 2013, instituiu o “Programa Mais Médicos”, pacto do Governo no sentido da melhoria do atendimento aos usuários do sistema, incluindo, basicamente, investimentos em infraestrutura de hospitais e unidades de saúde e a colocação de novos médicos nas regiões do País em que haja escassez de tais profissionais.

O artigo 1º da Lei n. 12.871/2013 esclarece os objetivos da instituição do Programa Mais Médicos, nos seguintes termos:

“Art. 1º É instituído o Programa Mais Médicos, com a finalidade de formar recursos humanos na área médica para o Sistema Único de Saúde (SUS) e com os seguintes objetivos:

I - diminuir a carência de médicos nas regiões prioritárias para o SUS, a fim de reduzir as desigualdades regionais na área da saúde; II - fortalecer a prestação de serviços de atenção básica em saúde no País;

III - aprimorar a formação médica no País e proporcionar maior experiência no campo de prática médica durante o processo de formação;

IV - ampliar a inserção do médico em formação nas unidades de atendimento do SUS, desenvolvendo seu conhecimento sobre a realidade da saúde da população brasileira;

V - fortalecer a política de educação permanente com a integração ensino-serviço, por meio da atuação das instituições de educação superior na supervisão acadêmica das atividades desempenhadas pelos médicos;

VI - promover a troca de conhecimentos e experiências entre profissionais da saúde brasileiros e médicos formados em instituições estrangeiras;

VII - aperfeiçoar médicos para atuação nas políticas públicas de saúde do País e na organização e no funcionamento do SUS; e VIII - estimular a realização de pesquisas aplicadas ao SUS.”

Não obstante estabeleça outras metas secundárias, o Programa Mais Médicos possui como finalidade mais conhecida a de recrutar, em caráter urgente, temporário e preventivo, profissionais médicos para trabalhar na atenção básica à saúde, com prioridade para as áreas periféricas de grandes cidades e municípios do interior do país.

Conforme o artigo 13 da Lei n. 12.871/2013, os médicos brasileiros têm prioridade em relação às vagas ofertadas, mas, ante a ausência ou insuficiência de interessados, serão aceitas candidaturas de interessados, haja vista o caráter

emergencial atribuído à saúde da população que reside nas áreas e regiões mencionadas.117

Atualmente, estima-se que, no Brasil, existem 1,8 médicos por 1000 habitantes, índice considerado baixo quando comparado com o de países vizinhos, como Argentina (3,2) e Uruguai (3,7), e de países europeus, como Portugal (3,9) e Espanha (4). A situação brasileira passa não somente pela carência de médicos, como também pela distribuição regional irregular de tais profissionais, pois 22 estados estão abaixo da média nacional em número de médicos.118

As principais ações destinadas à concretização dos referidos objetivos do Programa Mais Médicos são apontadas no artigo 2º da Lei n. 12.871/2013, que assim dispõe:

“Art. 2º Para a consecução dos objetivos do Programa Mais Médicos, serão adotadas, entre outras, as seguintes ações: I - reordenação da oferta de cursos de Medicina e de vagas para residência médica, priorizando regiões de saúde com menor relação de vagas e médicos por habitante e com estrutura de serviços de saúde em condições de ofertar campo de prática suficiente e de qualidade para os alunos;

II - estabelecimento de novos parâmetros para a formação médica no País; e

117 “Art. 13. É instituído, no âmbito do Programa Mais Médicos, o Projeto Mais Médicos para o

Brasil, que será oferecido:

I - aos médicos formados em instituições de educação superior brasileiras ou com diploma revalidado no País; e

II - aos médicos formados em instituições de educação superior estrangeiras, por meio de intercâmbio médico internacional.

§ 1º A seleção e a ocupação das vagas ofertadas no âmbito do Projeto Mais Médicos para o Brasil observarão a seguinte ordem de prioridade:

I - médicos formados em instituições de educação superior brasileiras ou com diploma revalidado no País, inclusive os aposentados;

II - médicos brasileiros formados em instituições estrangeiras com habilitação para exercício da Medicina no exterior; e

III - médicos estrangeiros com habilitação para exercício da Medicina no exterior. § 2º Para fins do Projeto Mais Médicos para o Brasil, considera-se:

I - médico participante: médico intercambista ou médico formado em instituição de educação superior brasileira ou com diploma revalidado; e

II - médico intercambista: médico formado em instituição de educação superior estrangeira com habilitação para exercício da Medicina no exterior.”

III - promoção, nas regiões prioritárias do SUS, de aperfeiçoamento de médicos na área de atenção básica em saúde, mediante integração ensino-serviço, inclusive por meio de intercâmbio internacional.”

O Programa Mais Médicos também envolve o investimento em infraestrutura de hospitais e unidades de saúde, tais como a realização de obras e a compra de equipamentos para milhares de Unidades Básicas de Saúde (UBS); obras e aquisição de equipamentos para hospitais públicos, hospitais universitários e Unidades de Pronto Atendimento (UPA).119

Consoante o artigo 23 da Lei n. 12.871/2013, para a execução das ações do Programa Mais Médicos, os Ministérios da Educação e da Saúde estão autorizador a firmar acordos e demais instrumentos de cooperação com “organismos internacionais, instituições de educação superior nacionais e estrangeiras, órgãos e entidades da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, consórcios públicos e entidades privadas”, sendo permitida, para tanto, a “transferência de recursos”.

Além de dividir as opiniões da sociedade brasileira, a Lei 12.871/2013 tem sua constitucionalidade atualmente questionada no Supremo Tribunal Federal por meio de ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas contra a Medida Provisória n. 621/2013, convertida na referida lei, já tendo havido audiência pública para o debate do tema.

Cite-se, por exemplo, a ADI n. 5.035/DF proposta pela Associação Médica Brasileira e pelo Conselho Federal de Medicina, os quais sustentam vícios como: violação do direito à saúde; ofensa aos direitos sociais dos trabalhadores e ao princípio do concurso público; contrariedade ao princípio da isonomia; malferimento da autonomia universitária; dispensa de comprovação de proficiência na língua portuguesa; e afronta ao princípio da licitação pública e à proteção do mercado interno como patrimônio nacional.

Aponte-se, ainda, a ADI 5.037/DF proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados, a qual aponta outros vícios como: mitigação do princípio do concurso público; precarização das relações de trabalho, sem reconhecimento de vínculo empregatício; imposição de serviço civil obrigatório aos estudantes do curso de graduação em Medicina; violação à liberdade profissional e exercício ilegal da Medicina, sem revalidação do diploma dos médicos estrangeiros; inexigência de reciprocidade dos direitos assegurados aos estrangeiros; e violação ao princípio da isonomia quanto à residência dos pacientes alcançados, se nos centros urbanos ou nas zonas rurais.120

É preciso concordar que a efetivação do direito fundamental à saúde é relevante, sendo, ao menos em tese e se bem cumprida, pertinente a essência do objetivo do Programa Mais Médicos, voltada a suprir a falta de profissionais no âmbito do SUS e enfatizar a prevenção da saúde. Ademais, as diferenças socioeconômicas entre as regiões brasileiras e a progressiva redução dessas disparidades regionais são objeto de expressa preocupação constitucional, sendo abordadas, em relação à saúde, no artigo 198, parágrafo 3º, inciso II, da Constituição.

120 STF. ADI n. 5.035/DF e ADI n. 5.037/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO, pendentes de

CAPÍTULO

3

A

EXIGIBILIDADE

DO

DIREITO