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Programa Nacional de Crédito Fundiário na atualidade

2.1 Acesso ao crédito no meio rural: os programas de compra e venda de

2.1.5 Programa Nacional de Crédito Fundiário na atualidade

Atualmente o PNCF se organiza com base nos princípios da reforma agrária de mercado e conta com aporte financeiro do Fundo de Terras e da reforma agrária, passando a ser desenvolvido com recursos da União, após a assinatura do Decreto nº 6.672, de 2 de dezembro de 2008. Adaptações foram implementadas em algumas de suas modalidades, com vistas a ampliar sua abrangência e direcionar a focalização para as ações afirmativas do governo federal (BRASIL, 2009).

O PNCF constitui-se em um mecanismo de acesso a terra, programa complementar ao Plano Nacional de Reforma Agrária, que contribui para a ampliação e a consolidação da agricultura familiar. Busca, como resultado, a criação de ocupações produtivas permanentes para as famílias beneficiadas, o aumento da renda e a consequente melhoria das condições de vida da população rural, por meio do acesso a terra, investimentos produtivos e em infraestrutura (BRASIL, 2009).

Direcionado ao público prioritário das políticas de combate à fome e de inclusão social do governo federal, este programa atua com três diferentes linhas de financiamento: 1) Combate à Pobreza Rural (CPR), dirigida aos trabalhadores rurais mais pobres, com renda anual de R$9.000,00, patrimônio inferior a R$15.000,00 e com, pelo menos, cinco anos de experiência na agricultura; 2) Consolidação da Agricultura Familiar (CAF), focalizada nos agricultores familiares sem terra ou com pouca terra, com renda anual de até R$15.000,00 e patrimônio de até R$30.000,00, com, pelo menos, cinco anos de experiência na agricultura e área de atuação em todo o Brasil; e 3) Nossa Primeira Terra (NPT), dirigida aos jovens agricultores entre 18 e 28 anos, com renda anual de R$5.800,00 e patrimônio de até R$10.000,00, que tenham frequentado a escola por, no mínimo, cinco anos. A área de atuação é em todo o Brasil (BRASIL, 2009).

Conforme o Manual de operações (BRASIL, 2009), os elementos essenciais do PNCF são a descentralização das ações para os Estados e a participação efetiva e voluntária das comunidades. Para assegurar o controle social, o PNCF atribui um conjunto de decisões aos Conselhos de Desenvolvimento Rural, dando às associações ampla autonomia, envolvendo desde a seleção dos participantes até a escolha e negociação da terra. Cabe ao governo de Estado a elaboração do Plano Operativo Anual, no qual serão definidos os objetivos, as diretrizes, as metas, as regiões prioritárias, o público e a estratégia de ação. A esfera estadual (CEDRS) também avalia e aprova as propostas de financiamento dos beneficiários qualificados. Os mecanismos de descentralização e participação da sociedade

civil destinam-se a contribuir para uma maior sinergia com ações e programas locais de desenvolvimento, como aqueles voltados para a infraestrutura, com vistas à melhoria das condições de vida da população no combate à pobreza rural.

Para isso, exige-se dos Conselhos de Desenvolvimento Rural Sustentável exercer seus papéis, de modo que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CONDRAF) estabeleça, no âmbito nacional, as diretrizes globais e as metas do programa, além de aprovar o Regulamento operativo e os Manuais de operações, visando à harmonia entre este e os demais programas de reforma agrária e de desenvolvimento rural. Parte da sua função também se concentra na avaliação da execução do PNCF (BRASIL, 2009).

Como determina o Manual de operações do PNCF (BRASIL, 2009, p. 68):

Cabe ao Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável (CEDRS) apreciar e aprovar o Plano Operativo Anual (POA) [...], assegurar articulação com as demais políticas e programas existentes no Estado [...] e aprovar as propostas de financiamento de compra e venda de propriedades com recursos do PNCF.

Ainda como determina o referido manual (BRASIL, 2009, p. 69):

Cabe aos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS): a) emitir parecer sobre as solicitações iniciais dos grupos de beneficiários, em particular no que diz respeito à elegibilidade dos beneficiários [...]; [...] c) assegurar a articulação do PNCF com os demais programas e políticas públicas [...]; [...].

De acordo com o Manual (BRASIL, 2009, p. 63), a Unidade Técnica Estadual (UTE):

[...] é o principal ente responsável pela execução do Projeto no respectivo estado, em todos os seus aspectos, incluindo a difusão, o acompanhamento da elaboração das propostas de financiamento, a tramitação e a análise destas propostas, a análise e aprovação dos subprojetos de investimentos comunitários (SIC), a capacitação dos beneficiários e a assistência técnica, as liberações de recursos e o monitoramento da execução dos projetos pelas comunidades.

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Portanto, a UTE gerencia e implementa o Programa Nacional de Crédito Fundiário e tem como missão a análise dos pedidos de financiamento para liberação dos créditos e acompanhamento do programa (BRASIL, 2009)

A Unidade Técnica Nacional se apresenta como o elemento de ligação entre as UTEs e as diferentes instituições e instâncias, tendo como atribuições o acompanhamento, monitoramento, avaliação e elaboração de sugestões para alterações normativas, e a ampliação da rede de apoio do PNCF, como assistência técnica, ONGs, parcerias diversas, as quais também se concretizam, em grande parte, por intermédio ou com o auxílio da UTN (BRASIL, 2009).

Já as associações comunitárias são constituídas livremente pelos trabalhadores rurais e têm uma grande responsabilidade, pois é por meio delas que são elaborados os

projetos produtivos e os contratos com os agentes financeiros, consideradas as principais bases de apoio ao PNCF.

Os beneficiários escolhem os imóveis a serem financiados pelo PNCF dentre aqueles que se encontrem nas seguintes condições: a) não sejam passiveis de desapropriação; b) sejam imóveis cujos proprietários possuam título legal e legítimo de propriedade e de posse e sobre os quais não conste nenhuma dívida que impeça sua transferência legal; c) não se situem em reservas indígenas ou em áreas protegidas por legislação ambiental ou não confinem com as referidas áreas; d) tenham preços condizentes com os de mercado e apresentem condições que permitam o seu uso sustentável. Para auxiliar no processo, o PNCF tem a sua disposição o Sistema de Monitoramento do Mercado de Terras (SMMT) (SPAROVEK, 2006).

Dessa forma, o desafio da Secretaria de Reordenamento Agrário (SRA) consistiu em organizar um programa nacional que atendesse às diversas reivindicações da sociedade e abrisse oportunidade para novos públicos, cuja ocorrência requereu a realização de amplos debates sobre o tema do crédito fundiário como política pública de acesso a terra. “Até o primeiro semestre deste ano [2009], o total de famílias beneficiadas no Estado atingiu 2.317 famílias, em área adquirida de quase 70 mil hectares” (ALMEIDA, 2009, p. 19).

Como se percebe, no entanto, a partir de 1997, o governo do Estado do Ceará reduziu significativamente o processo de criação de assentamentos tal como previsto no Estatuto da Terra e na Constituição Federal de 1988, enveredando para o processo de aquisição de terras no mercado.