• Nenhum resultado encontrado

O Programa Proposto para Ensinar Habilidades Sociais Educativas a Mães de Crianças Deficientes Visuais

O modelo de programa para pais, proposto nessa pesquisa-intervenção, contribuiu para que, gradativamente, os déficits identificados nos desempenhos das mães fossem reduzidos visando mudanças nos comportamentos de seus filhos. A estrutura do programa de intervenção pretendeu indicar ações norteadoras para outros pesquisadores, bem como técnicos e clínicos, estudarem e intervirem junto a outras populações.

Guralnick (1997) considera que após vinte e cinco anos de pesquisa e estudos no campo de intervenções precoces junto a crianças com necessidades especiais, já foi reunido um conjunto importante de atividades, abordagens terapêuticas, programas de apoio e serviços para a família. Atualmente, é esperado que um conjunto de valores e de princípios sejam estabelecidos como norteadores de propostas nesse campo, com outras mais contemporâneas e que privilegiem medidas para prevenir ou minimizar problemas que crianças com deficiência apresentam ao longo do seu desenvolvimento. Ainda segundo esse mesmo autor, no escopo das mudanças nos princípios norteadores das ações preventivas, estão alguns critérios que as pesquisas ao longo de décadas pontuaram como relevantes, a saber: serem focadas nas necessidades da família, serem desenvolvidas em locais próximos e do convívio dos participantes, serem capazes de integrar contribuições de diversas agências de atendimento à população-alvo e de planejar e coordenar ações efetivas desses diversos órgãos de apoio.

Nesse sentido, pode-se afirmar que a proposta de programa abordada nessa pesquisa contribui para uma parte das mudanças descritas nessa nova geração de programas de intervenção. Guralnick (1997) também pondera que um primeiro conjunto de pesquisas, conduzido até meados da década de 80, consideradas como da primeira geração, discutiam mais pontualmente questões referentes à relevância de se trabalhar ou não com intervenções

precoces no caso de atendimento a crianças com deficiências, disfunções ou patologias específicas. Para a atualidade, esse autor considera que as pesquisas devam ser conceituadas como pesquisas da segunda geração, pois as necessidades presentes são diferentes daquelas estudadas anteriormente. No momento, as pesquisas precisam nortear clínicos, educadores e cuidadores em geral, assim como a família, a detalhar e estruturar programas que cubram amplamente todas as redes de apoio e atenção maior à criança que requer atendimento especial ao seu desenvolvimento.

Essa foi também a proposta do programa proposto, preparando a mãe para identificar as necessidades do filho e para atuar de forma mais efetiva na promoção da qualidade de vida dessa criança. Além disso, o programa proposto adotou cuidados metodológicos que asseguraram maior confiabilidade aos resultados obtidos.

Com relação não só aos resultados, mas também com relação ao impacto da proposta, foi possível identificar que o programa descrito e desenvolvido nessa pesquisa atendeu o que Cozby (2003) apontou como pontos relevantes a serem considerados em um programa de intervenção. Em primeiro lugar, esse programa buscou focalizar comportamentos relevantes para a população-alvo. Além disso, foi possível identificar que a racional sobre habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem de crianças em geral e de deficientes visuais em específico, embasou adequada e substancialmente as análises realizadas. O monitoramento do programa foi eficaz no sentido de estar avaliando integralmente, durante todo procedimento, a relevância que os comportamentos-alvo tiveram para os participantes. Nesse item é importante destacar que, embora se promova monitoramento, deve-se compreender que a resistência às mudanças sempre estará presente em populações que culturalmente compreendem programas de prevenção como ações assistencialistas. A mudança, na compreensão cultural que pais têm sobre programas sociais e sobre o papel da família, precisa ser desenvolvida desde o início dos atendimentos, para que pais ou cuidadores se conscientizem que sua parceria, definida em ações educativas junto ao filho, é condição essencial na inclusão social e escolar do filho.

Com relação aos resultados do programa, foi possível constatar que os objetivos foram alcançados e que as melhores e mais efetivas mudanças identificadas no desempenho das mães afetaram, positivamente, o desempenho de diversos comportamentos da criança. Essas mudanças identificadas no desempenho de mães e crianças expostas ao programa de intervenção, mas não para os integrantes do grupo controle, indicaram a validade interna do programa.

É importante destacar também que, embora o GE e o GC1 tenham sido compostos de crianças deficientes visuais, em algumas análises pré-intervenção, o desempenho do GC1 foi superior ao do GE. Um dos motivos para isso, pode estar relacionado à prioridade estabelecida para a formação dos grupos que foi selecionar crianças deficientes visuais e sem comorbidade, que compreendessem a faixa etária entre sete e doze anos e cursassem de primeira a quarta série do ensino fundamental. Dessa forma, não foi possível manter a homogeneidade das amostras, embora não tenham diferenças significativas de proporções, conforme atestou a análise estatística. É importante destacar que essas diferenças não se sobrepuseram às semelhanças priorizadas como fundamentais para o alcance dos objetivos propostos nessa pesquisa. Além disso, pode-se considerar que, como a diferença foi favorável ao GC1, e não ao GE, os efeitos positivos da intervenção sobre os comportamentos do GE foram realmente efetivos.

Com relação a validade externa, as avaliações de seguimento, que indicaram escores elevados de freqüência dos comportamentos-alvo das mães e também das crianças, mesmo após o término da intervenção, atestam que os aprendizados foram eficazes e relevantes para continuarem integrando o conjunto de comportamentos que adotam no seu cotidiano. Efetivamente, com relação ao valor social da proposta, é pertinente considerar que os objetivos e ações adotadas enfocaram questões relevantes e necessidades prementes dessa população. Essa validade se apoiou empiricamente na avaliação, antes do início do programa, sobre a importância que as mães e professoras das crianças deficientes visuais atribuíam às habilidades sociais que estavam sendo avaliadas como relevantes para as crianças dessa faixa etária, de um modo geral. Não obstante o impacto da proposta na comunidade não tenha ainda sido avaliado, por limitações da própria pesquisa, as solicitações da escola, onde o programa foi desenvolvido, para que programa similar seja desenvolvido com as professoras, indicam que os efeitos e o valor social da proposta estão sendo reconhecidos, pelo menos no plano local mais imediato.