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Muitas são as dimensões com as quais estamos comprometidos: prevenir, cuidar, proteger, tratar, recuperar, promover, enfim, produzir saúde (BRASIL, 2009, p. 3).

O Programa de Saúde da Família surgiu como uma proposta do Ministério da Saúde (MS) para reorganizar a atenção básica, sendo esta a sua estratégia prioritária. De acordo com esta lógica, devem ser priorizadas as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família, como forma de substituir o modelo de cura centrado na prática hospitalar.

Essa estratégia teve início em 1991, sendo chamado, nesse período, de Programa de Agentes Comunitário em Saúde (PACS). Este se ampliou e as primeiras equipes de saúde da família foram formadas em 1994. Nele, o cuidado à saúde é centrado na família, sendo esta compreendida dentro do seu contexto social (BRASIL, 2001).

Dentre os objetivos propostos para o PSF estão (BRASIL, 1997, p. 10):

Prestar, na unidade de saúde e no domicílio, assistência integral, contínua, com resolubilidade e boa qualidade às necessidades de saúde da população adscrita; Intervir sobre os fatores de risco aos quais a população está exposta;

Eleger a família e o seu espaço social como núcleo básico de abordagem no atendimento à saúde;

Humanizar as práticas de saúde, através do estabelecimento de um vínculo entre os profissionais de saúde e a população;

Proporcionar o estabelecimento de parcerias, através do desenvolvimento de ações intersetoriais;

Contribuir para a democratização do conhecimento do processo saúde/doença, da organização dos serviços e da produção social da saúde;

Fazer com que a saúde seja reconhecida como um direito de cidadania e, portanto, expressão da qualidade de vida.

Estimular a organização da comunidade para o efetivo exercício do controle social.

Além disso, a estratégia de saúde da família busca mudar a forma de atuação do setor saúde que compreendia “o indivíduo de forma isolada de seu contexto familiar e dos valores sócio-culturais, com tendência generalizante, fragmentando-o e compartimentando-o, descontextualizando-o de suas realidades familiar e comunitária”. Assim era no modelo antigo: o usuário do serviço era “visto de forma fragmentada, sem considerar que manifestação da doença não ocorre em partes do corpo, devendo ser observadas suas diferentes dimensões.” Como resultado disso, o indivíduo perde sua integralidade e acaba relacionando-se, repartidamente, com os serviços de saúde (BRASIL, 2000, p. 9).

A Unidade de Saúde da Família (USF) é “o novo ou antigo Posto ou Centro de Saúde, reestruturado, trabalhando dentro de uma nova lógica, que lhe atribui maior capacidade de resposta às necessidades básicas de saúde da população de sua área de abrangência”. (BRASIL, 2000, p. 9). Nela, são atendidas as pessoas que pertencem a um território de abrangência, o que significa a área sob sua responsabilidade.

A Unidade deve possuir “equipamentos e materiais adequados ao elenco de ações programadas, de forma a garantir a resolutividade da Atenção Básica à saúde”; bem como contar com a “existência e manutenção regular de estoque dos insumos necessários para o funcionamento da UBS” (BRASIL, 2007, p. 26).

A garantia da infra-estrutura necessária ao funcionamento das equipes de saúde da família, de saúde bucal e das unidades básicas de referência dos agentes comunitários de saúde (ACS), dotando-as de recursos materiais, equipamentos e insumos suficientes para o conjunto de ações propostas é uma competência das Secretarias Municipais de Saúde (SMS).

A equipe de saúde da família é multiprofissional e a sua formação básica é composta por um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Essa equipe assume a responsabilidade de uma determinada população adscrita no território de abrangência, chegando a no máximo 4.500 pessoas ou 600 a 1000 famílias (BRASIL, 2000).

O número de ACS que cada equipe possui deve ser suficiente para cobrir 100% das famílias cadastradas, sendo que o número máximo de pessoas acompanhadas pela ACS deve ser 750 e o número máximo por equipe deve ser 12 (BRASIL, 2007).

A equipe de saúde da família possui diversas atribuições, estando incluídas entre elas “conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, com ênfase nas suas características sociais, demográficas e epidemiológicas” e participar de “grupos comunitários - a equipe deve estimular e participar de reuniões de grupo, discutindo os temas relativos ao diagnóstico bem como alternativas para a resolução dos problemas” (BRASIL, 1997, p. 14).

Além disso, são atribuições comuns a todos os profissionais da equipe de PSF:

· “realizar a escuta qualificada das necessidades dos usuários em todas as ações, proporcionando atendimento humanizado e viabilizando o estabelecimento do vínculo” (BRASIL, 2007, p. 44);

· “valorizar a relação com o usuário e com a família para a criação de vínculo de confiança, que é fundamental no processo de cuidar”;

· “resolver a maior parte dos problemas de saúde detectados e, quando não for possível, garantir a continuidade do tratamento, através da adequada referência do caso”;

· “promover, através da educação continuada, a qualidade de vida e contribuir para que o meio ambiente se torne mais saudável” (BRASIL, 2000, p. 15-16). O processo de trabalho no PSF requer um “trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando áreas técnicas e profissionais de diferentes formações”, bem como, a “valorização dos diversos saberes e práticas na perspectiva de uma abordagem integral e resolutiva, possibilitando a criação de vínculos de confiança com ética, compromisso e respeito” (BRASIL, 2007, p. 28).

Assim, é evidente que um dos fundamentos para a efetivação dessa proposta é o estabelecimento de “vínculo e responsabilização entre as equipes e a população adscrita, garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado” (BRASIL, 2007, p. 13). E, para que isso ocorra, é necessária a formação de uma relação de confiança entre quem presta o cuidado e quem o recebe. Isso se torna possível quando se exercita um comportamento que demonstre compromisso com o que se faz.

O vínculo da equipe com a comunidade se inicia no momento do cadastramento das famílias, através de visitas ao domicílio. É neste primeiro contato, para identificação dos componentes familiares e outros dados, que o profissional deve informar à família a “oferta de serviços disponíveis e os locais, dentro do sistema de saúde, que, prioritariamente, deverão ser a sua referência” (BRASIL, 1997, p. 12). Com esse gesto, se inicia a aproximação do usuário com o serviço.

Para Monteiro, Figueiredo e Machado (2009, p. 362, 363) “a noção de vínculo nos faz refletir sobre a responsabilidade e o compromisso”. Para os autores, “a confiança, o compromisso, o respeito, a empatia e a organização do serviço são elementos indispensáveis para que haja a formação do vínculo, pois possibilitam maior conhecimento da comunidade a quem prestam serviço”.

Além do vínculo, a humanização, através do acolhimento, também é uma prerrogativa do PSF e uma coisa está diretamente relacionada à outra porque “o acolhimento [...] favorece a construção de uma relação de confiança e compromisso dos usuários com as equipes e os serviços”. O acolhimento é entendido como o “ato ou efeito de acolher que se expressa, em suas várias definições, como uma ação de aproximação, um ‘estar com’ e um ‘estar perto de’, ou seja, uma atitude de inclusão” (BRASIL, 2009, p. 3, 6).

O acolhimento não diz respeito apenas à forma como a pessoa é recebida no serviço, como muitos profissionais imaginam, mas “requer uma nova atitude de mudança no fazer em saúde e implica uma postura de escuta e compromisso em dar respostas às necessidades de saúde trazidas pelo usuário” (BRASIL, 2009, p. 21).

Essa estratégia tem sido, atualmente, uma importante área de atuação para enfermeiros, daí a necessidade de se ampliar o conhecimento sobre o agir desses profissionais neste campo de trabalho. Tal pensamento é compartilhado por Marques e Silva (2004, p. 545) que consideram que “o PSF se constitui em um importante mercado de trabalho para os profissionais de enfermagem no país. A atuação da enfermagem na saúde da família vem- se consolidando na prática e na experiência adquirida pelos profissionais”.

Nessa área, o enfermeiro também teve as suas obrigações ampliadas, porque, além de ter que cuidar da saúde de um determinado número de pessoas, passou a assumir as funções de gerência da unidade básica de saúde da família e da equipe, coordenando um número significativo de profissionais.

De acordo com a legislação, as atribuições básicas do enfermeiro na equipe de PSF são (BRASIL, 2007, p. 46-47):

I - realizar assistência integral às pessoas e famílias na USF e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários.

II - realizar consultas de enfermagem, solicitar exames complementares e prescrever medicações, observadas as disposições legais da profissão e conforme os protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, os gestores estaduais, os municipais ou os do Distrito Federal.

III - planejar, gerenciar, coordenar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS; IV - supervisionar, coordenar e realizar atividades de educação permanente dos ACS e da equipe de enfermagem;

V - contribuir e participar das atividades de Educação Permanente do Auxiliar de Enfermagem, ACD e THD; e

VI - participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da USF.

Dentre essas atribuições, a que mais foi discutida pelos profissionais foi a possibilidade de realizar prescrições de medicamentos e solicitação de exames. Esta atividade é regulamentada pela Resolução nº 271/2002 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) que a descreve, no Artigo 1º, como ação do enfermeiro, desde que integrante da equipe de saúde. O Artigo 2º esclarece o exposto afirmando que “os limites legais para a prática desta ação são os Programas de Saúde Pública e rotinas que tenham sido aprovadas em Instituições de Saúde, pública ou privada”. Assim, é possível perceber que o enfermeiro tem respaldo legal para esta prática, que integra sua competência profissional.

O compromisso do enfermeiro de PSF é de fundamental importância, pois ele realiza o acompanhamento das famílias, devendo resolver os problemas que elas apresentam. Além disso, ele pode contribuir na efetivação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo uma assistência com qualidade e a melhoria das condições de vida da população.

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