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1.3. Principais instrumentos legais recentes relacionados ao aces-

1.3.3. Programas de crédito fundiário

3,1 milhões de famílias. Os dados do Censo Agropecuário de 1995 a- pontavam para cerca de 3,4 milhões de estabelecimentos com insufici- ência de área, o que correspondia a 70% dos estabelecimentos agrope- cuários do país, geralmente agricultores com acesso precário à terra (parceiros, arrendatários, ocupantes) e os dados apontados pela Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), neste mesmo ano chegou um total de 3 milhões que possuem terra com área insuficiente. O Censo demográfico de 2000 aponta que existem 5 milhões de famílias pobres no espaço rural que se pode considerar como potencialmente demandan- tes da reforma agrária, as quais possuem renda mensal inferior a dois salários mínimos, ou seja, em média, seus componentes contam com até meio salário mínimo para sobreviver (PNRA, 2003, p.18).

Estes são alguns dados que demonstram a necessidade e a imensa demanda por terra no país, através de uma ampla reforma agrária. Frente a esta situação, o II PNRA aponta como elemento central a concentração da estrutura fundiária brasileira, e o instrumento de desapropriação por interesse social como mecanismo principal, mas reconhece que as pos- sibilidades de obtenção de terras e a situação dos potenciais beneficiá- rios são diferenciadas, justificando a combinação dos vários instrumen- tos de que o poder público dispõe para democratizar o acesso à terra, superar as dificuldades que o acesso precário impõe à integração produ- tiva e promover um novo padrão de desenvolvimento rural.

O II PNRA continuou embasado em seu plano antecessor, utili- zando-se de mecanismos de mercado para o acesso a terra como uma ação complementar.

1.3.3. Programas de crédito fundiário

O crédito fundiário é o acesso à terra através de políticas públicas por mecanismos de mercado, ou seja, através da compra e venda por intermédio de financiamentos com prazos pré-estabelecidos para paga- mentos, de longo prazo e subsidiado. No histórico abordado sobre a trajetória do acesso à terra no Brasil, pode-se perceber que a primeira ação recorrente ao mecanismo de mercado no Brasil teve início com Lei nº 601 de 1850 - lei de Terras de 1850, onde o valor “escravo” é grada- tivamente substituído pelo valor “terra” (PANINI, 1990). O diferencial adotado foi a não-intervenção do Estado, na ocasião, o imperador havia feito uma total transferência do domínio do território aos proprietários privados, com objetivo de dificultar o acesso aos agricultores que se

encontrava em condições de precariedade (ex-escravos, posseiros, meei- ros) e, também, aos colonos recém-chegados, mesmo sendo o público preferencial, através dos projetos de colonização. “No entanto a consoli- dação desse mercado apenas aconteceu com o fim do regime escravocra- ta, seguido da formação dos mercados de trabalho, da produção e do crédito agrícola” (Condé, 2005, p. 160). Além de não haver a participa- ção do Estado, a lei veio beneficiar somente as oligarquias agrárias vi- gentes na época, porque acabou por ensejar a oferta de mão-de-obra e a manutenção e ampliação de seus domínios.

Uma segunda iniciativa deste mecanismo foi a intencionalidade do uso do crédito fundiário prevista na elaboração do Estatuto da Terra, que previa, no artigo 81, empréstimos para o trabalhador rural. O valor correspondia ao salário mínimo anual da região, para aquisição de terra destinada ao trabalhador e sua família. O empréstimo seria financiado pelo Fundo Nacional de Reforma Agrária, com prazo de 20 anos para pagamento, acrescido de juro de 6% ao ano. O parágrafo único deste mesmo artigo previa que poderiam acumular empréstimo dois ou mais trabalhadores rurais que optassem pela aquisição de propriedade com área superior àquela estabelecida pelo Estatuto da Terra, por unidade familiar, sob a administração comum ou em forma de cooperativa. Esta modalidade de crédito fundiário não foi colocada em prática, o que tam- bém não foi justificado (CONDÉ, 2005).

A recorrência ao mercado para obtenção de terras foi uma prática utilizada por alguns governos estaduais do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo e outros, no final do regime militar e mesmo na Nova República, para obter um estoque capaz de garantir o assenta- mento de algumas famílias e amainar alguns conflitos emergentes. Im- pedidos de desapropriar por interesse social (e, consequentemente, pagar as terras em Títulos da Dívida Agrária), os governadores lançaram mão de diversos recursos para obter terras, entre eles a compra. No entanto, tratava-se de expedientes limitados e não de algo que pudesse ser carac- terizado como um programa efetivo de acesso a terra (MEDEIROS, 2002). Aqui cabe salientar a experiência do Fundo de Terras elaborada em 1983 em SC como experiência pioneira na modalidade.

Esforços no sentido de que o crédito fundiário se conformasse como uma política pública foi especialmente debatido no I PNRA, em 1985 e na Assembléia Constituinte em 1988 e defendidos pela bancada ruralista como proposta alternativa à desapropriação por interesse social. Foi proposto um anteprojeto que respaldava a criação do crédito fundiá- rio como um instrumento de política fundiária como substitutivo ao

título de reforma agrária, contida no artigo 5º, aliena c. No entanto, as medidas propostas não se traduziram em fatos concretos (CONDÉ, 2005). Entre as iniciativas recentes de compra e venda de terra através do crédito fundiário contempladas nos referidos planos podemos desta- car o Programa Cédula da Terra, Banco da Terra e o Programa Nacional de Crédito Fundiário que serão apresentados no capítulo 04 desta disser- tação.

2. A REGIÃO SERRANA DE SANTA CATARINA E O