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2 DESENVOLVIMENTO URBANO, POLÍTICAS DE TRANSPORTE E

2.3 PROGRAMAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO BRASIL

Na década de 70, depois do primeiro choque do petróleo, iniciou-se a preocupação dos governos com o suprimento de recursos energéticos. No Brasil, o uso de energia começou a aumentar consideravelmente após 1945, devido à urbanização acelerada no processo de industrialização e aumento da infraestrutura de modal rodoviário. Desde 1984, as políticas de eficiência energética tem desempenhado um papel importante na economia brasileira. O objetivo tem sido o de conter o rápido crescimento do consumo de energia e atenuar o esgotamento dos recursos energéticos, além de contribuir para a redução das emissões de dióxido de carbono. O uso eficiente de energia é um tema mundial e recorrente, que tem implicações ambientais e sociais para as cidades.

As bases para as ações de eficiência energética no Brasil foram iniciadas em 1984, com a adoção do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE). Esse programa coordenado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) tem a finalidade de contribuir para a racionalização do uso da energia elétrica, informando aos consumidores sobre a eficiência energética de cada produto (INMETRO, 2014). Os produtos recebem etiquetas com faixas coloridas para informar o consumo de energia dos equipamentos. Fazem parte do PBE, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), criado em 1985, e o Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (CONPET) de 1991. O PROCEL promove a racionalização do consumo de energia elétrica, por meio do Selo PROCEL de economia de energia, enquanto o Conpet busca incentivar o uso eficiente dos derivados de petróleo e do gás natural entre todos os setores. Ambos os programas integravam o Grupo Técnico (GT) para composição do regulamento técnico para as proposições da eficientização de energia em edificações, resultado da Lei de Eficiência Energética2, que dispõe da Política Nacional de

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Conservação e Uso Racional de Energia. Outras medidas governamentais com reflexos na eficiência energética em áreas urbanas são o Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf)3, que visa metas de economia de energia, e os Planos Decenais de Energia (PDEs), que estabelecem a conservação de energia elétrica. Desse modo, o Brasil tem se colocado por um longo período com referência internacional de temas de política de eficiência energética e gerenciamento da demanda.

Os regulamentos técnicos buscam gerar condições para etiquetagem da eficiência das edificações residenciais, comerciais e públicas. Estes regulamentos estabelecem requisitos mínimos de conforto térmico e desempenho energético, promovendo benefícios para toda a sociedade. O Programa Brasileiro de Etiquetagem para Edifícios do PROCEL, o chamado PROCEL Edifica,4 define o Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos. O objetivo principal é promover a eficiência energética e o conforto térmico dessas edificações por meio do programa nacional de etiquetagem. A Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), para edifícios comerciais, de serviços e públicos, por exemplo, apresenta três pontos que devem ser analisados sobre a eficiência energética: o sistema de envoltória (paredes, cobertura e janelas), iluminação e condicionamento de ar. A etiqueta classifica estas edificações em diferentes níveis: A, sendo o edifício mais eficiente, até o E, menos eficiente, portanto os edifícios que consomem mais energia.

Uma iniciativa na área de transportes foi o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular para veículos leves (PBEV)5. Este foi inserido dentre da Lei de Eficiência Energética e classifica o consumo de combustível conforme a categoria definida a partir do tamanho ou uso do veículo. A Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) recebe uma nota de A (veículo mais eficiente) a E (veículo menos eficiente). Esse programa visa comparar as características de eficiência energética dos modelos dos veículos disponíveis no mercado (INMETRO, 2014).

A política energética brasileira é enfatizada pelo estímulo a diversificação das fontes de energia. O Programa Nacional do Álcool6 (PROÁLCOOL) incentivou a substituição dos

3 Portaria 594/2011. 4 Portaria 163/2009. 5 Portaria 391/2008. 6 Decreto 76.593/1975.

combustíveis derivados de petróleo por etanol. O Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia Elétrica7 (PROINFA) foi instituído a fim de diversificar a matriz energética nacional e aumentar a participação da energia elétrica produzida a partir das fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCH) no Sistema Interligado Nacional (SIN). Esse programa sinalizava a segurança do abastecimento posterior à crise energética e o consequente racionamento de 2001. Outro programa foi o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel8 (PNPB), lançado para inserir o biodiesel na matriz energética nacional, que ainda passa por dificuldades (BRASIL, 2014). Outras medidas complementares foram colocadas em prática na tentativa de diversificar a matriz energética e diminuir a dependência dos combustíveis fósseis, como a cogeração de energia elétrica a partir do bagaço da cana-de- açúcar. Desse modo, a nível internacional o Brasil sempre se colocou como uma das maiores fronteiras de diversificação energética.

Em face da necessidade de se buscar formas racionais do uso de energia, as fontes alternativas como eólica, solar, biomassa são importantes para a redução da dependência dos combustíveis fósseis. Essa dependência deve-se principalmente pela concentração dos transportes rodoviários na matriz energética. As projeções para 2030 mostram que a fonte de energia petróleo e derivados diminuirá a participação na composição da matriz nacional. Conforme o Gráfico 10, essa participação diminuirá de 39,0% em 2005, para 29,0% em 2030 (EPE, 2007). No entanto, Pimentel (2011) mostra que o grande potencial do pré-sal e também das fontes renováveis de energia garantirão a segurança energética do Brasil. A substituição de energia elétrica por gás natural tem aumentando nos últimos anos e, até 2030 essa fonte de energia aumentará sua participação para 16,0%. Destaca-se também o acréscimo da participação dos derivados da cana de açúcar na matriz energética nacional. Ademais, a lenha e o carvão vegetal que representavam 13,0% em 2005, terão participação reduzida a 6,0% em 2030. Comparado aos padrões internacionais, o Brasil apresenta uma considerável diversificação da matriz energética. Uma política energética voltada para as cidades poderia tornar a distribuição do uso de energia, entre as respectivas fontes ainda mais sustentáveis.

7 Lei 10.438/2002.

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Gráfico 10 - Evolução da matriz energética brasileira, 2005 e 2030

Fonte: EPE, 2007

A análise nesta seção descreveu as medidas e políticas brasileiras de eficiência energética que vêm sendo praticadas para conter o rápido aumento do consumo e estimular a diversificação das fontes de energia. Os dados do Balanço Energético Nacional (BEN) (2013) indicam que persiste a participação do óleo diesel e da gasolina na composição do setor de transportes. Como consequência, ocorre o aumento da poluição local (ares urbanos), regional e global. No entanto, as medidas mitigadoras para a redução da poluição não tem sido suficientes para conter o crescimento dos combustíveis fósseis utilizados. Como esta questão se relaciona com o crescimento populacional e ao crescimento das cidades, é importante também que sejam analisadas questões como: desenvolvimento urbano, transportes e energia conjuntamente. Para tanto, a próxima seção explora a forma urbana do consumo de energia, sobretudo para os serviços de transporte urbano.