• Nenhum resultado encontrado

1.1. Expansão do ensino superior: conceito e características

1.1.1. Os programas de fomento e incentivos

Acompanhando a ampliação do número de vagas para matrículas no ensino superior, outros programas visaram ampliar o acesso e fortalecer a permanência dos estudantes no ensino superior privado e público. Serão citados, a seguir, os principais, separados entre os que são destinados às universidades privadas e os que são destinados às universidades públicas.

O Prouni– Programa Universidade para Todos25 – consiste na concessão de

bolsas (descontos nas mensalidades, que podem ser parciais ou mesmo integrais), para o estudo em instituições privadas de ensino superior (Fonte: MEC. <http://siteprouni.mec.gov.br/o_prouni.php>. Acesso em fev. 2013). As instituições que oferecem as bolsas obtêm abatimentos nos impostos e contribuições estatais e, muitas vezes, utilizam suas vagas ociosas (não preenchidas por meio de processo seletivo) para tal demanda (Catani e Hey, 2007).

Já o FIES – Fundo de Financiamento Estudantil26 – consiste em uma variação

do Crédito Educativo27 para o financiamento da graduação em instituição privada que deverá ser pago, pelo estudante, após a conclusão da graduação. Em linhas gerais, o estado financia o curso do estudante que ressarcirá o estado após a conclusão do curso (Fonte: MEC - FIES). O FIES abrangia, em 2011, cerca de 10,5% dos ingressantes nas instituições de ensino superior privadas (MEC – Relatório de Gestão

de 2012.

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_details&gid=1425 3&Itemid=>. Acesso em: Fev. 2014).

Por meio destes programas, Prouni e FIES, existe o financiamento público para execução do curso em instituições privadas de ensino. Se, por um lado, isso favorece aos estudantes poderem escolher dentre estas instituições (que são em maior número) aquela que é de mais fácil acesso, ou que tem o curso desejado em horário mais conveniente, por exemplo, por outro lado promove, além da injeção do dinheiro público na iniciativa privada, a diminuição dos recursos que deveriam ser

25

Instituído pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005.

26

Instituído pela Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001.

27 Programa aprovado pela presidência da República em Agosto de 1975, passando a vigorar em 1976

destinados à ampliação e à melhoria do ensino público, bem como a possibilidade de ingresso em instituições de ensino superior de baixa procura e, muitas vezes, aquelas que têm corpo docente com menor qualificação e menor investimento em pesquisas (Catani e Hey, 2007). Outro debate que vem sendo explorado, que diz respeito especialmente ao Prouni, é que o acesso às universidades privadas de maior prestígio continua sendo àqueles estudantes com melhores condições socioeconômicas28. Além destes programas que fomentam o acesso e permanência

em instituições de ensino superior privadas, foram criados os programas voltados às instituições públicas de ensino superior, tais como o Reuni (2007), o PNAES (2010) e o Programa de Cotas (2012).

O aumento nas vagas do ensino superior federal é divulgado tendo como carro-chefe uma política de governo implantada a partir do ano 2003, o Programa de Expansão Fase 1, que foi posteriormente denominado REUNI29, é uma das ações integrantes do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e consiste na expansão física, acadêmica e pedagógica das universidades federais. Segundo o site do MEC, suas frentes de ação contemplam aumento de vagas no ES, com atenção aos cursos noturnos, inovações pedagógicas e combate à evasão, visando à diminuição das desigualdades sociais30.

Além do Reuni, que fomenta o acesso ao ampliar a disponibilidade de vagas, uma ação afirmativa que está sendo implementada é a política de cotas nas universidades federais (201231), que consiste na reserva de 50% das vagas das

universidades federais para cotistas. Esse percentual será alcançado paulatinamente, no decorrer de quatro anos a partir de 2013 (quando ocorreu a reserva de 12,5% das vagas na Unifesp).

As cotas são assim destinadas ou divididas: 1) metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar per capita igual ou inferior a um salário mínimo e meio; 2) metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar superior ao anteriormente estipulado. Em ambos os casos, considera-se o percentual estadual de

28

Debate Desafios da Conjuntura: 10 anos de ProUni - balanços e perspectivas do acesso ao ensino

superior no Brasil.Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2Q_lKwRpm-8>

29 Instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007.

30 Fonte: <http://reuni.mec.gov.br/component/content/article?id=25>. Acesso em: Fev. 2013. 31

pretos, pardos e indígenas (em conformidade com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE32), o que em São Paulo equivale

ao que se segue:

Tabela 2- Percentual de cor da pele no estado de São Paulo.

Branco(a) Preto(a) Pardo(a) Amarelo(a) ou Indígena

São Paulo 64,4 5,8 28,3 1,4

Sudeste 56,7 7,7 34,6 0,9

Brasil 48,2 6,9 44,2 0,7

Fonte: Censo demográfico IBGE 2010.

O PNAES33 visa à permanência de estudantes de baixa renda que fazem

cursos de graduação presenciais em universidades federais, por meio de assistência à moradia, alimentação, saúde e ao transporte. Isto porque, apesar do financiamento às instituições privadas e da expansão nas instituições públicas, que facilitam o acesso ao ensino superior, para as famílias com renda baixa, os gastos para a manutenção na graduação (livros, cópias, transporte, alimentação, moradia) são obstáculos à permanência do estudante até a conclusão do curso.

Além dos programas citados, o incentivo à abertura de cursos em período noturno representa, para a universidade pública, uma possibilidade de ampliação de vagas a baixos custos, pois implicam no uso das estruturas já disponíveis (físicas – salas de aula, bibliotecas, laboratórios etc – e humanas – servidores em geral: docentes e técnicos) em outro período do dia. Afora o aproveitamento da estrutura universitária, também propicia o acesso de estudantes que trabalham no período diurno. Entretanto, isto resulta na consequente competição deste nicho mercadológico das universidades privadas, confrontando o interesse destas em manter, como um dos diferenciais em relação às universidades públicas, a oferta de diversos cursos privados no período noturno (Oliveira et al, 2008; p. 5).

Outra mudança significativa visando ao acesso às IES públicas federais se deu na metodologia de avaliação para o ingresso nas universidades federais. No ano de 1998, foi criado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que, segundo o site do Ministério da Educação, visava avaliar os conhecimentos adquiridos no final da educação básica.

32Importante observar que estes dados são oriundos de autodeclaração, ou seja, da impressão ou da

percepção declarada pela própria pessoa.

33

Algumas universidades públicas passaram a utilizá-lo como parte da avaliação para ingresso em cursos de graduação. Em 2009, o ENEM foi instituído como “mecanismo de seleção para o ensino superior” nas universidades federais, resguardada a autonomia de cada instituição, seja em fase única ou combinado com outras metodologias de avaliação34. A Unifesp, por sua vez, possui cursos cujo

ingresso se dá exclusivamente pelo Sistema de Seleção Unificado (SiSU) enquanto em outros isso ocorre por meio de sistema denominado “Misto”, que contempla a pontuação obtida no Enem, mas também conta com a aplicação de uma prova suplementar – vestibular.

O Sistema de Seleção Unificado (SiSU), é o “sistema informatizado, gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC), no qual instituições públicas de ensino superior oferecem vagas para candidatos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)35”. Ao se cadastrar neste sistema, o candidato escolhe duas opções de cursos e universidades disponíveis e também seleciona se concorre a vagas de “ampla concorrência” (não cotistas) ou por meio de “cotas”. São classificados os candidatos que tiverem maior pontuação nas notas do Enem até que se complete o número de vagas disponibilizado pela instituição àquele curso, nas duas modalidades, cotistas e não cotistas. Os candidatos podem se inscrever para ingressar em instituições de diversas partes do país sem que, para isso, precisem sair de sua região para realizar a prova de avaliação, pois o Enem é aplicado em território nacional e o SiSU disponibiliza vagas de instituições de todo o país. Isto amplia a possibilidade de acesso a instituições menos concorridas e, também, permite intercâmbios regionais (estas possibilidades, de acesso, não contemplam as possíveis dificuldades geradas para a permanência, nestes casos).