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3.2 Os Jovens nas Políticas de Juventude

3.2.2 Programas Governamentais Voltados à Juventude

Os programas serão apresentados de forma agrupada em quatro quadros. Optamos em agrupar os programas por semelhança temática por uma questão didática e de formato.

31A pesquisa documental realizada mostrou que um projeto de lei destinado a instituir o Plano Nacional da

Observamos que os programas recentes considerados de inclusão podem ser agrupados em quatro campos de focalização: no ensino superior, ações voltadas para jovens habitantes do campo, no ensino profissionalizante e programas que objetivam o combate à violência, garantia de segurança e integração dos jovens nos espaços de participação política.

Nas últimas décadas houve uma expansão do ensino superior no Brasil, possibilitando que jovens pobres tenham acesso a este nível de ensino. Como mostram as informações do quadro 1 esta expansão tem se materializado por meio de programas focalizados, como o Programa de Cotas, o Fies e o ProUni.Esses programas são endereçados especificamente para as juventudes consideradas excluídas, suas ações, assim como as das demais políticas de inclusão educacional na modernidade, funcionam como dispositivos biopolíticos. Através de processos de integração e aproximação entre os “diferentes” e os normais as políticas de inclusão têm reforçado a negação da diferença e exaltado a homogeneização. Esta espécie de

integração, deve garantir melhor controle das condutas e evitar riscos na sociedade. Ou seja, as políticas de inclusão, que deveriam garantir educação para todos, são elas mesmas, geradoras de exclusões. (VEIGA-NETO E LOPES, 2007).

Pesquisa desenvolvida pela Fundação Perseu Abramo aponta que, entre 2005 e 2014, houve de fato esta ampliação; contudo, o acesso dos jovens ao ensino superior é ainda muito restrito e concentrado nas camadas mais ricas da população. Dentre as ações explicitadas no quadro 1 o Prouni, junto com o Fies e as Cotas no ensino superior, destacam-se como estratégias voltadas para as juventudes pobres. São contemplados, por tais programas, alunos que comprovarem ter cursado o ensino médio em escolas públicas ou terem sido alunos de escolas privadas como bolsistas integrais.

A produção acadêmica que privilegia a juventude rural como objeto de investigação ainda é muito escassa se comparada as que tratam das juventudes de áreas urbanas. Castro (2009) afirma que os poucos estudos realizados sobre a juventude rural no Brasil têm demonstrado que o fenômeno da “migração” e a “invisibilidade” são temas recorrentes. Mesmo

que os programas governamentais primem pela permanência dos mesmos no meio rural, há uma tendência de supervalorização da cultura urbana que é expressa pela sociedade e que acaba sendo, em parte, assimilada pelos jovens. Nesse sentido, parece que eles desejam cada vez mais irem para o meio urbano como forma de serem (re)conhecidos.

Contudo, a Secretaria Nacional de Juventude tem uma pasta específica denominada Juventude Rural que desenvolve ações consideradas piloto desde 2012. Seu objetivo é potencializar e agregar políticas e ações endereçadas a este grupo específico. São ações que preveem a melhoria da formação dos jovens do campo, considerando as especificidades do meio rural. Existe um consenso de que há uma necessidade de elaboração de materiais didáticos e de formação de educadores que dialoguem de alguma forma com esses territórios. Por outro lado, não nos parece tarefa fácil definir de maneira objetiva um perfil único destes territórios, e da mesma forma, das juventudes do campo. O que entende-se por rural na atualidade, quais as diversidades de compreensões sobre as culturas do campo e as maneiras “como se expressa a ruralidade nas diferentes regiões do país” (CARNEIRO, 2008) são questões que devem ser levadas em conta na problematização das juventudes pertencentes a estes espaços.

A pasta juventude rural busca facilitar a permanência dos jovens no campo, tendo como referências os preceitos agroecológicos e sustentáveis32. Como podemos observar no quadro 2, a maioria dos programas estão relacionados, prioritariamente, à geração de renda e a educação escolar. Segundo Carneiro (2008), as juventudes rurais são pautadas com frequência sob o viés do trabalho ou do sustento da família. Ou seja, esta “categoria fluida, imprecisa, variável e extremamente heterogênea – permanece na invisibilidade quanto a sua participação nas demais esferas da vida social” (Idem p.244).

O Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), são consideradas ações emblemáticas das preocupações governamentais, a partir dos anos 2000, (OLIVEIRA, 2011). Nesse sentido, eles expressam os modos pelos quais as juventudes urbanas têm sido tratadas fundamentalmente sob a categoria - aluno ou como futuro trabalhador. Os programas dispostos no quadro 3 são direcionados à aceleração da formação básica, tendo como ênfase a educação para o mundo do trabalho, bem como a inserção no mercado. Desenvolvem ações, segundo discursos oficiais, consideradas de “inclusão”. O ProJovem trabalhador visa a preparação dos jovens desempregados e com renda familiar de até um salário mínimo e prepara par outras ocupações geradoras de renda. O programa Pronatec se volta para a melhoria do ensino médio e para o fortalecimento da formação profissional e tecnológica. Podem ser alunos do Pronatec jovens

que cursam ou que já concluíram o ensino médio na rede pública, contemplando também a Educação de Jovens e Adultos.

É nesse sentido, que (SPOSITO, 2008) destaca que a condição juvenil é frequentemente pensada de forma diretamente relacionada aos processos de escolarização e a inserção no mercado de trabalho. Isto se deve a compreensão de que esta é uma fase da vida marcada pela busca de certa autonomia e de construção de elementos da identidade, bem como, de momentos de experimentação. Contudo, esses caminhos não devem ser tomados de maneira linear. Segundo a autora, mesmo que os jovens ainda valorizem a escola como instituição tradicional responsável, em parte, pelos processos de socialização, há, por outro lado, certa descrença e desinteresse nesta instituição. A escola não garante mais a entrada no mercado e parece não alcançar a pluralidade de interesses das juventudes. Os jovens têm buscado outros espaços socializadores e formativos através de redes e de coletivos, por exemplo.

Os ProJovens e o Pronatec são endereçados ao contingente populacional juvenil que foi excluído de alguma forma do ensino regular. Muitas vezes o próprio formato institucional, o expulsa. Observamos que a juventude continua sendo objeto das políticas governamentais, com um enfoque que não deixa de privilegiar a questão da “inclusão” e da “vulnerabilidade”, questões estas discutidas anteriormente. O desafio posto é que não raramente as ações dos programas acontecem em espaços e formatos idênticos aos que foram rejeitados pelos jovens ou espaços/práticas que os rejeitaram.

Não fugindo aos propósitos dos programas até aqui comentados, situando –se os do quadro 4. É interessante observar como suas descrições aparentam absorverem a classificação que é feita pelo imaginário social, de que existem territórios mais perigosos do que outros, e estes devem ser foco de suas ações. A noção de perigo aparece atrelada a condição de pobreza. Nesta mesma direção, a maioria dos programas do quadro 4 tem como objetivo principal

garantir uma espécie de inclusão, que deve evitar a violência e garantir a segurança dos jovens pobres.

A partir de diagnósticos elaborados sobre os jovens pobres e os lugares onde moram, é que os formuladores dos programas pensam suas práticas. A garantia de direitos, a assistência social e a promoção da cidadania através de atividades culturais, aparecem fortemente em suas metas.

Além dos jovens que moram em territórios considerados de alta periculosidade, podem participar de certas ações, redes, coletivos, movimentos sociais, gestores e parlamentares que tenham algum interesse na formulação de políticas de juventude. Em certa medida, se diferem dos demais programas, por reconhecerem espaços outros de socialização e formação.