Caixa 1: Mecanismos de Transmissão Monetária
8. Projecções dos Principais Indicadores Económicos e Financeiros
O cenário central das actuais projecções para a economia nacional aponta para um crescimento económico entre um e dois por cento em 2014 e um fortalecimento da dinâmica da actividade económica em 2015 (em termos reais o produto interno bruto deverá crescer entre dois e três por cento).
A evolução dos principais indicadores da conjuntura até Setembro, aquém das expectativas, justifica a revisão em baixa das perspectivas económicas para 2014.
Contrariamente ao antecipado, as condições internas de financiamento do sector privado mantiveram‐se globalmente restritivas, limitando o crescimento do investimento e do consumo. Não obstante, o significativo crescimento dos investimentos do sector empresarial do Estado (financiado com recursos externos captados pelo Estado em condições concessionais), aliado a um crescimento mais expressivo do investimento directo estrangeiro e a um ligeiro aumento do consumo privado (suportado principalmente pelo crescimento das remessas de emigrantes e redução de pressões inflacionistas, apesar do mau ano agrícola), deverá compensar a evolução desfavorável do investimento e menos favorável do consumo públicos, garantindo assim um crescimento da procura interna em torno de três por cento (‐4,6 por cento em 2013). A evolução desfavorável da procura externa dirigida a Cabo Verde, em particular das exportações de turismo, não obstante as expectativas mais favoráveis para o quarto trimestre do ano, associadas ao aumento da oferta hoteleira, num contexto de aumento das importações em linha com o aumento da procura interna, deverá restringir um crescimento mais acelerado da actividade económica. Para 2015 projecta‐se alguma aceleração do ritmo de crescimento económico, com a perspectiva de manutenção do cenário de recuperação do enquadramento externo.
Prevê‐se, igualmente, uma contínua recuperação do poder de compra das famílias, em função de expectativas positivas quanto às transferências externas para apoio familiar, embora em desaceleração, e de um aumento dos benefícios e apoios sociais suportados pelo Governo.
O investimento deverá continuar a crescer, sustentado pelo arranque e a aceleração de alguns projectos privados e públicos em pipeline desde 2014.
As restrições ao consumo público deverão ser algo afrouxadas pelo previsto incremento das receitas fiscais, em resultado das reformas tributárias em curso, e por algum aumento dos gastos inerentes à preparação das eleições legislativas de 2016.
As exportações de bens e serviços deverão beneficiar da recuperação económica dos principais mercados de exportação cabo‐verdiana e do aumento da oferta hoteleira.
Relatório de Política Monetária
Não obstante, antecipa‐se que os desenvolvimentos relacionados com a epidemia do ébola na sub‐região possam produzir ainda alguns efeitos negativos na evolução do turismo no primeiro trimestre de 2015 e que um crescimento mais robusto da procura turística deverá continuar a ser limitado pela desvantagem competitiva relacionada com o défice estrutural de oferta de serviços turísticos complementares a sol e praia.
Do lado da oferta, o sector da construção deverá continuar a impulsionar o crescimento económico em 2015 e o sector dos serviços deverá apresentar uma ligeira melhoria. Não obstante o funcionamento de mais duas barragens, o sector primário deverá ressentir‐se da fraca precipitação de 2014. O valor acrescentado bruto das manufacturas, após uma expressiva recuperação em 2014, deverá tender para uma estabilização em 2015.
A evolução prevista das componentes da procura, a par do aumento dos dividendos distribuídos aos investidores externos e dos juros do serviço da dívida pública, deverá traduzir‐se num forte agravamento do défice da conta corrente em 2014.
Em 2015, a balança corrente deverá evoluir em linha com as perspectivas de crescimento da procura global. No entanto, antecipa‐se uma melhoria da balança de serviços em função da recuperação das exportações de turismo.
O financiamento da economia com recursos externos deverá continuar a processar‐se principalmente pela via do endividamento público junto a parceiros multilaterais e bilaterais, não obstante a prevista aceleração dos influxos de investimento directo estrangeiro.
A balança de pagamentos deverá permanecer excedentária e as reservas internacionais líquidas deverão garantir pelo menos 4,5 meses das importações de bens e serviços projectadas para 2015. O aumento das reservas externas deverá impulsionar a melhoria da posição monetária externa do país, contribuindo, a par do crescimento do crédito ao sector público administrativo, para um aumento da oferta monetária em cerca de 4,6 por cento em 2015. O crédito à economia deverá, Figura 10: O reforço da dinâmica do crescimento económico deverá ser acompanhado por um agravamento do défice da balança corrente. Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas; Banco de Cabo Verde. Nota: E – Estimativas; P – Projecções; p.p.‐ pontos percentuais. ‐15,0 ‐10,0 ‐5,0 0,0 5,0 10,0 15,0 2010 2011 2012E 2013E 2014P 2015P Co n tr ibut os pa ra o cr es ci m en to do PI B a pr eç os do an o an te ri or (e m p. p. ) Consumo Investimento Exportações Líquidas PIB real (t.v. %) ‐90,0 ‐70,0 ‐50,0 ‐30,0 ‐10,0 10,0 30,0 50,0 2010 2011 2012 2013 2014P 2015P em % do PI B
Juros da Dívida (Governo, bancos e outros sectores) Donativos
Remessas de Emigrantes Receitas de Turismo Importações de Bens e Serviços Balança Corrente
contudo, aumentar moderadamente (cerca de dois por cento), restringido pelo sentimento de aversão aos riscos dos bancos residentes, numa conjuntura de contínuo crescimento do crédito em risco.
A projecção actual aponta para uma descida da taxa de inflação média anual, de 1,5 por cento registado em 2013 para cerca de zero por cento em 2014. Contudo, a probabilidade de deflação em 2014 é elevada, apesar do impacto do mau ano agrícola nos preços dos bens alimentares não transformados.
O actual cenário corresponde a uma revisão em baixa das projecções de Maio, justificada pela evolução da inflação importada (contínua queda dos preços dos alimentos nos mercados internacionais, além da desinflação dos principais fornecedores do país), numa conjuntura de relativamente fraco crescimento económico.
Perspectiva‐se que a inflação permaneça relativamente baixa em 2015 (no intervalo 0,7 e 1,4 por cento).
O perfil descendente da inflação importada e a expectativa de aumentos salariais contidos, conjugados com alguma recuperação da procura interna, num quadro de alguma redução da produção interna de frescos, fundamentam a projecção da inflação para 2015. Os riscos à materialização das actuais projecções são preponderantemente descendentes, estando relacionados principalmente com a elevada probabilidade de uma evolução menor que antecipada: da procura externa dirigida à economia de Cabo Verde em função tanto da performance da Área do Euro como da evolução da epidemia do ébola na África Ocidental; das receitas fiscais; e do crédito à economia.
A probabilidade das tensões se intensificarem entre a Rússia e a União Europeia, com foco em Quadro 6: Programação Monetária Fonte: Banco de Cabo Verde. Nota: P‐Projecções. 2013 2014P 2015P 2013 2014P 2015P Activos Externos Líquidos 36.168 38.650 39.646 34,2 6,9 2,6 Banco de Cabo Verde 38.006 39.907 41.101 17,7 5,0 3,0 RIL 38.280 39.913 41.076 16,8 4,3 2,9 Bancos Comerciais ‐1.838 ‐1.258 ‐1.455 ‐65,5 ‐31,6 15,7 Activo Interno Líquido 99.912 107.274 113.072 4,5 7,4 5,4 Crédito Interno Total 120.749 128.110 133.909 3,7 6,1 4,5 Crédito Líquido ao Sector Público Administrativo 25.285 31.692 35.562 10,7 25,3 12,2 Crédito à Economia 95.463 96.418 98.346 2,0 1,0 2,0 Outros Activos Líquidos ‐20.836 ‐20.836 ‐20.836 0,1 0,0 0,0 M2 136.080 145.924 152.719 11,0 7,2 4,7 Va ri a çã o Homól ga e m % Mi l hões de CVE
Relatório de Política Monetária
interesses geopolíticos sobre a Ucrânia, é moderada a elevada, e os impactos no desempenho económico do maior parceiro do país, na eventualidade da materialização do risco, seriam não menosprezáveis. Adicionalmente, a efectivação dos riscos associados a necessidades adicionais de consolidação orçamental e à desalavancagem do sector privado nas economias mais vulneráveis da Área do Euro, também induzidos pela eventualidade de deflação com impactos adversos na transmissão monetária, resultariam num aumento dos constrangimentos à sua recuperação económica, com consequências negativas para a economia cabo‐verdiana.
O risco de propagação do ébola na sub‐região, embora tenha amainado mais recentemente, constitui uma ameaça à evolução da procura de Cabo Verde como destino turístico. Note‐se que a evolução da epidemia na região Oeste Africana poderá também influenciar negativamente, dada a proximidade de Cabo Verde aos países mais afectados, as relações comerciais, bem como as decisões de investimento externo e a confiança dos agentes económicos.
Em 2014, as receitas fiscais têm evoluído muito abaixo das expectativas do OE 2014. A persistência deste comportamento até finais de 2015 poderá traduzir‐se em impactos negativos no crescimento das despesas públicas, quer de consumo quer de investimento, com algum efeito negativo na actividade de outros sectores.
Não obstante os reforços recentes de medidas acomodatícias, a transmissão monetária deverá permanecer em certa medida condicionada pela aversão ao risco macro‐económico por parte dos bancos residentes, pela situação financeira desfavorável das empresas (algumas excessivamente alavancadas) e pelo défice de procura solvável (nomeadamente, projectos bancáveis). Neste quadro, o risco associado a um aumento menos expressivo do crédito à economia é relevante, com impacto não menosprezável no crescimento. Refira‐se que a probabilidade de materialização deste risco descendente poderá ser reforçada com o agravamento das incertezas dos agentes económicos quanto à evolução do ambiente económico e político, no horizonte da projecção.
9. Política Monetária para os Próximos Meses
A política monetária manteve, nos últimos dezassete meses, uma orientação acomodatícia, ancorada na manutenção de níveis de reservas externas consistentes com o objectivo estratégico de garantir a estabilidade macroeconómica e financeira do país, no contexto do regime de paridade fixa com o euro.
Neste quadro e num ambiente macro‐financeiro ainda pouco favorável, mas de ausência de pressões inflacionistas, bem como de pressões na balança de pagamentos, o Banco de Cabo Verde reforçou em Agosto (pela segunda vez este ano) a sua política de afrouxamento monetário, reduzindo em mais 50 pontos base as suas taxas de referência e implementando um conjunto de medidas de gestão de liquidez, visando o fortalecimento dos mecanismos da transmissão monetária.19
O impacto da política monetária permanece, entretanto, muito condicionado ao comportamento das instituições bancárias, que continuam a manifestar um sentimento de elevada aversão aos riscos, bem como à implementação de medidas de reestruturação de empresas sobreendividadas, perspectivando a redução da sua dívida e a viabilização do seu plano de negócios.
Nos próximos meses, a política monetária deverá manter a orientação acomodatícia, com o objectivo de estimular a viabilidade de projectos de investimento produtivos, sem descurar a abordagem prudente necessária para garantir a preservação das reservas externas em níveis adequados ao perfil de risco do país e à estabilidade macroeconómica e financeira do país.
As limitações intrínsecas da política monetária, que se focaliza em objectivos macro‐económicos de incentivo/desincentivo à procura interna, aliadas às deficiências estruturais dos mecanismos de transmissão, impõem, numa conjuntura de phasing‐out do Programa Pluri‐anual de Investimentos Públicos, a superação qualitativa e estrutural da economia na sua globalidade (sector financeiro e agentes económicos públicos e privados), objectivando a redução dos riscos de investimento no país e o aumento do seu potencial de crescimento. 19 As medidas visando o fortalecimento dos mecanismos da transmissão monetária, por via de uma gestão mais activa e eficaz da liquidez adoptadas em Agosto, referem‐se: ao levantamento da restrição de 1.000 milhões de escudos para o stock de emissões de títulos do BCV; a programação de leilões diários/semanais de títulos de regularização monetária e de intervenção monetária, em função dos resultados do exercício de previsão de liquidez; a permissão do acesso aos bancos às facilidades permanentes de absorção e de cedência de liquidez, numa base regular; e a fixação de uma percentagem mínima diária de 20 por cento do montante de reservas mínimas que as instituições financeiras devem manter nas contas de depósito à ordem no BCV.
Relatório de Política Monetária