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Projecções dos Principais Indicadores Económicos e Financeiros 

No documento RELATÓRIO DE POLÍTICA MONETÁRIA (páginas 31-36)

Caixa 1:  Mecanismos de Transmissão Monetária 

8.  Projecções dos Principais Indicadores Económicos e Financeiros 

O  cenário  central  das  actuais  projecções  para  a  economia  nacional  aponta  para  um  crescimento  económico  entre  um  e  dois  por  cento  em  2014  e  um  fortalecimento  da  dinâmica  da  actividade  económica em 2015 (em termos reais o produto interno bruto deverá crescer entre dois e três por  cento). 

A  evolução  dos  principais  indicadores  da  conjuntura  até  Setembro,  aquém  das  expectativas,  justifica a revisão em baixa das perspectivas económicas para 2014.   

Contrariamente  ao  antecipado,  as  condições  internas  de  financiamento  do  sector  privado  mantiveram‐se globalmente restritivas, limitando o crescimento do investimento e do consumo. Não  obstante, o significativo crescimento dos investimentos do sector empresarial do Estado (financiado  com recursos externos captados pelo Estado em condições concessionais), aliado a um crescimento  mais  expressivo  do  investimento  directo  estrangeiro  e  a  um  ligeiro  aumento  do  consumo  privado  (suportado  principalmente  pelo  crescimento  das  remessas  de  emigrantes  e  redução  de  pressões  inflacionistas,  apesar  do  mau  ano  agrícola),  deverá  compensar  a  evolução  desfavorável  do  investimento e menos favorável do consumo públicos, garantindo assim um crescimento da procura  interna em torno de três por cento (‐4,6 por cento em 2013).  A evolução desfavorável da procura externa dirigida a Cabo Verde, em particular das exportações de  turismo, não obstante as expectativas mais favoráveis para o quarto trimestre do ano, associadas ao  aumento da oferta hoteleira, num contexto de aumento das importações em linha com o aumento  da procura interna, deverá restringir um crescimento mais acelerado da actividade económica.  Para 2015 projecta‐se alguma aceleração do ritmo de crescimento económico, com a perspectiva  de manutenção do cenário de recuperação do enquadramento externo.   

Prevê‐se,  igualmente,  uma  contínua  recuperação  do  poder  de  compra  das  famílias,  em  função  de  expectativas  positivas  quanto  às  transferências  externas  para  apoio  familiar,  embora  em  desaceleração, e de um aumento dos benefícios e apoios sociais suportados pelo Governo.   

O  investimento  deverá  continuar  a  crescer,  sustentado  pelo  arranque  e  a  aceleração  de  alguns  projectos privados e públicos em pipeline desde 2014. 

As restrições ao consumo público deverão ser algo afrouxadas pelo previsto incremento das receitas  fiscais, em resultado das reformas tributárias em curso, e por algum aumento dos gastos inerentes à  preparação das eleições legislativas de 2016. 

As  exportações  de  bens  e  serviços  deverão  beneficiar  da  recuperação  económica  dos  principais  mercados de exportação cabo‐verdiana e do aumento da oferta hoteleira.   

   

Relatório de Política Monetária  

Não  obstante,  antecipa‐se  que  os  desenvolvimentos  relacionados  com  a  epidemia  do  ébola  na  sub‐região  possam  produzir  ainda  alguns  efeitos  negativos  na  evolução  do  turismo  no  primeiro  trimestre  de  2015  e  que  um  crescimento  mais  robusto  da  procura  turística  deverá  continuar  a  ser  limitado  pela  desvantagem  competitiva  relacionada  com  o  défice  estrutural  de  oferta  de  serviços  turísticos complementares a sol e praia.   

Do lado da oferta, o sector da construção deverá continuar a impulsionar o crescimento económico  em  2015  e  o  sector  dos  serviços  deverá  apresentar  uma  ligeira  melhoria.  Não  obstante  o  funcionamento de mais duas barragens, o sector primário deverá ressentir‐se da fraca precipitação  de 2014. O valor acrescentado bruto das manufacturas, após uma expressiva recuperação em 2014,  deverá tender para uma estabilização em 2015. 

A evolução prevista das componentes da procura, a par do aumento dos dividendos distribuídos aos  investidores  externos  e  dos  juros  do  serviço  da  dívida  pública,  deverá  traduzir‐se  num  forte  agravamento do défice da conta corrente em 2014.   

Em 2015, a balança corrente deverá evoluir em linha com as perspectivas de crescimento da procura  global. No entanto, antecipa‐se uma melhoria da balança de serviços em função da recuperação das  exportações de turismo. 

O  financiamento  da  economia  com  recursos  externos  deverá  continuar  a  processar‐se  principalmente  pela  via  do  endividamento  público  junto  a  parceiros  multilaterais  e  bilaterais,  não  obstante a prevista aceleração dos influxos de investimento directo estrangeiro.   

A  balança  de  pagamentos  deverá  permanecer  excedentária  e  as  reservas  internacionais  líquidas  deverão garantir pelo menos 4,5 meses das importações de bens e serviços projectadas para 2015.    O  aumento  das  reservas  externas  deverá  impulsionar  a  melhoria  da  posição  monetária  externa  do  país,  contribuindo,  a  par  do  crescimento  do  crédito  ao  sector  público  administrativo,  para  um  aumento  da  oferta  monetária  em  cerca  de  4,6  por  cento  em  2015.  O  crédito  à  economia  deverá,  Figura 10: O reforço da dinâmica do crescimento económico deverá ser acompanhado por um agravamento do défice  da balança corrente.          Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas; Banco de Cabo Verde.    Nota: E – Estimativas; P – Projecções; p.p.‐ pontos percentuais.  ‐15,0 ‐10,0 ‐5,0 0,0 5,0 10,0 15,0 2010 2011 2012E 2013E 2014P 2015P Co n tr ibut os  pa ra  o  cr es ci m en to  do  PI B  a   pr eç os  do  an o  an te ri or  (e m  p. p. ) Consumo Investimento Exportações Líquidas PIB real (t.v. %) ‐90,0 ‐70,0 ‐50,0 ‐30,0 ‐10,0 10,0 30,0 50,0 2010 2011 2012 2013 2014P 2015P em  %  do  PI B

Juros da Dívida (Governo, bancos  e outros  sectores) Donativos

Remessas de Emigrantes Receitas de Turismo Importações de Bens e Serviços Balança Corrente

 

contudo,  aumentar  moderadamente  (cerca  de  dois  por  cento),  restringido  pelo  sentimento  de  aversão aos riscos dos bancos residentes, numa conjuntura de contínuo crescimento do crédito em  risco. 

A  projecção  actual  aponta  para  uma  descida  da  taxa  de  inflação  média  anual,  de  1,5  por  cento  registado em 2013 para cerca de zero por cento em 2014. Contudo, a probabilidade de deflação em  2014  é  elevada,  apesar  do  impacto  do  mau  ano  agrícola  nos  preços  dos  bens  alimentares  não  transformados. 

O  actual  cenário  corresponde  a  uma  revisão  em  baixa  das  projecções  de  Maio,  justificada  pela  evolução  da  inflação  importada  (contínua  queda  dos  preços  dos  alimentos  nos  mercados  internacionais,  além  da  desinflação  dos  principais  fornecedores  do  país),  numa  conjuntura  de  relativamente fraco crescimento económico. 

Perspectiva‐se que a inflação permaneça relativamente baixa em 2015 (no intervalo 0,7 e 1,4 por  cento).   

O  perfil  descendente  da  inflação  importada  e  a  expectativa  de  aumentos  salariais  contidos,  conjugados  com  alguma  recuperação  da  procura  interna,  num  quadro  de  alguma  redução  da  produção interna de frescos, fundamentam a projecção da inflação para 2015.    Os riscos à materialização das actuais projecções são preponderantemente descendentes, estando  relacionados principalmente com a elevada probabilidade de uma evolução menor que antecipada:   da procura externa dirigida à economia de Cabo Verde em função tanto da performance da  Área do Euro como da evolução da epidemia do ébola na África Ocidental;     das receitas fiscais; e   do crédito à economia. 

A  probabilidade  das  tensões  se  intensificarem  entre  a  Rússia  e  a  União  Europeia,  com  foco  em  Quadro 6: Programação Monetária     Fonte: Banco de Cabo Verde.  Nota: P‐Projecções.  2013 2014P 2015P 2013 2014P 2015P Activos Externos Líquidos  36.168 38.650 39.646 34,2 6,9 2,6 Banco de Cabo Verde  38.006 39.907 41.101 17,7 5,0 3,0 RIL  38.280 39.913 41.076 16,8 4,3 2,9 Bancos Comerciais  ‐1.838 ‐1.258 ‐1.455 ‐65,5 ‐31,6 15,7  Activo Interno Líquido 99.912 107.274 113.072 4,5 7,4 5,4 Crédito Interno Total  120.749 128.110 133.909 3,7 6,1 4,5 Crédito Líquido ao Sector Público Administrativo 25.285 31.692 35.562 10,7 25,3 12,2 Crédito à Economia  95.463 96.418 98.346 2,0 1,0 2,0 Outros Activos Líquidos ‐20.836 ‐20.836 ‐20.836 0,1 0,0 0,0 M2 136.080 145.924 152.719 11,0 7,2 4,7 Va ri a çã o Homól ga  e m % Mi l hões  de CVE

Relatório de Política Monetária  

interesses  geopolíticos  sobre  a  Ucrânia,  é  moderada  a  elevada,  e  os  impactos  no  desempenho  económico  do  maior  parceiro  do  país,  na  eventualidade  da  materialização  do  risco,  seriam  não  menosprezáveis.  Adicionalmente,  a  efectivação  dos  riscos  associados  a  necessidades  adicionais  de  consolidação orçamental e à desalavancagem do sector privado nas economias mais vulneráveis da  Área  do  Euro,  também  induzidos  pela  eventualidade  de  deflação  com  impactos  adversos  na  transmissão  monetária,  resultariam  num  aumento  dos  constrangimentos  à  sua  recuperação  económica, com consequências negativas para a economia cabo‐verdiana.   

O risco de propagação do ébola na sub‐região, embora tenha amainado mais recentemente, constitui  uma ameaça à evolução da procura de Cabo Verde como destino turístico. Note‐se que a evolução da  epidemia na região Oeste Africana poderá também influenciar negativamente, dada a proximidade  de  Cabo  Verde  aos  países  mais  afectados,  as  relações  comerciais,  bem  como  as  decisões  de  investimento externo e a confiança dos agentes económicos.   

Em 2014, as receitas fiscais têm evoluído muito abaixo das expectativas do OE 2014. A persistência  deste comportamento até finais de 2015 poderá traduzir‐se em impactos negativos no crescimento  das  despesas  públicas,  quer  de  consumo  quer  de  investimento,  com  algum  efeito  negativo  na  actividade de outros sectores.   

Não  obstante  os  reforços  recentes  de  medidas  acomodatícias,  a  transmissão  monetária  deverá  permanecer  em  certa  medida  condicionada  pela  aversão  ao  risco  macro‐económico  por  parte  dos  bancos  residentes,  pela  situação  financeira  desfavorável  das  empresas  (algumas  excessivamente  alavancadas) e pelo défice de procura solvável (nomeadamente, projectos bancáveis). Neste quadro,  o risco associado a um aumento menos expressivo do crédito à economia é relevante, com impacto  não  menosprezável  no  crescimento.  Refira‐se  que  a  probabilidade  de  materialização  deste  risco  descendente  poderá  ser  reforçada  com  o  agravamento  das  incertezas  dos  agentes  económicos  quanto à evolução do ambiente económico e político, no horizonte da projecção. 

 

 

9. Política Monetária para os Próximos Meses

 

A política monetária manteve, nos últimos dezassete meses, uma orientação acomodatícia, ancorada  na manutenção de níveis de reservas externas consistentes com o objectivo estratégico de garantir a  estabilidade  macroeconómica  e  financeira  do  país,  no  contexto  do  regime  de  paridade  fixa  com  o  euro. 

Neste quadro e num ambiente macro‐financeiro ainda pouco favorável, mas de ausência de pressões  inflacionistas, bem como de pressões na balança de pagamentos, o Banco de Cabo Verde reforçou  em  Agosto  (pela  segunda  vez  este  ano)  a  sua  política  de  afrouxamento  monetário,  reduzindo  em  mais  50  pontos  base  as  suas  taxas  de  referência  e  implementando  um  conjunto  de  medidas  de  gestão de liquidez, visando o fortalecimento dos mecanismos da transmissão monetária.19 

O impacto da política monetária permanece, entretanto, muito condicionado ao comportamento das  instituições  bancárias,  que  continuam  a  manifestar  um  sentimento  de  elevada  aversão  aos  riscos,  bem  como  à  implementação  de  medidas  de  reestruturação  de  empresas  sobreendividadas,  perspectivando a redução da sua dívida e a viabilização do seu plano de negócios. 

Nos próximos meses, a política monetária deverá manter a orientação acomodatícia, com o objectivo  de  estimular  a  viabilidade  de  projectos  de  investimento  produtivos,  sem  descurar  a  abordagem  prudente necessária para garantir a preservação das reservas externas em níveis adequados ao perfil  de risco do país e à estabilidade macroeconómica e financeira do país.   

As limitações intrínsecas da política monetária, que se focaliza em objectivos macro‐económicos de  incentivo/desincentivo  à  procura  interna,  aliadas  às  deficiências  estruturais  dos  mecanismos  de  transmissão,  impõem,  numa  conjuntura  de  phasing‐out  do  Programa  Pluri‐anual  de  Investimentos  Públicos,  a  superação  qualitativa  e  estrutural  da  economia  na  sua  globalidade  (sector  financeiro  e  agentes económicos públicos e privados), objectivando a redução dos riscos de investimento no país  e o aumento do seu potencial de crescimento.               19   As medidas visando o fortalecimento dos mecanismos da transmissão monetária, por via de uma gestão mais activa e eficaz da liquidez  adoptadas em Agosto, referem‐se: ao levantamento da restrição de 1.000 milhões de escudos para o stock de emissões de títulos do BCV;  a programação de leilões diários/semanais de títulos de regularização monetária e de intervenção monetária, em função dos resultados do  exercício  de  previsão  de  liquidez;  a permissão  do  acesso  aos  bancos  às  facilidades  permanentes  de  absorção  e  de  cedência  de  liquidez,  numa base regular; e a fixação de uma percentagem mínima diária de 20 por cento do montante de reservas mínimas que as instituições  financeiras devem manter nas contas de depósito à ordem no BCV. 

Relatório de Política Monetária  

No documento RELATÓRIO DE POLÍTICA MONETÁRIA (páginas 31-36)

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