Banco de Cabo Verde
RELATÓRIO DE POLÍTICA MONETÁRIA
(ao abrigo do nº 3 do art.º 18.º da Lei Orgânica do BCV)
Novembro de 2014
RELATÓRIO DE POLÍTICA MONETÁRIA
(ao abrigo do n.º 3 do art.º 18º da Lei Orgânica)
Banco de Cabo Verde
Novembro de 2014
BANCO DE CABO VERDE
Departamento de Estudos Económicos e Estatísticas Avenida Amílcar Cabral, 27 CP 7600‐101 ‐ Praia ‐ Cabo Verde Tel: +238 2607000 / Fax: +238 2607197 http://www.bcv.cv
Índice
Sumário Executivo 2 I. Evolução da Actividade Económica 4 1. Enquadramento Externo da Economia de Cabo Verde 5 2. Indicadores da Procura e da Produção 9 3. Inflação 12 4. Contas Externas 14 5. Situação Monetária e Financeira 16 Caixa 1: Mecanismos de Transmissão Monetária 19 6. Situação Orçamental 21 II. Perspectivas de Evolução da Economia 23 7. Hipóteses de Enquadramento das Projecções Macroeconómicas para 2014 e 2015 24 8. Projecções dos Principais Indicadores Económicos e Financeiros 28 9. Política Monetária para os Próximos Meses 32 Caixa 2: Orçamento do Estado de Cabo Verde para 2015 33 III. Anexo Estatístico 34
Sumário Executivo
A melhoria do enquadramento externo da economia cabo‐verdiana favoreceu a procura externa de bens transacionáveis produzidos internamente, as remessas dos emigrantes e a recuperação do investimento directo estrangeiro no país.
Neste contexto, a procura interna apresentou um perfil ascendente, nos últimos seis meses, suportada por investimentos empresariais públicos e privados externos, que terão compensado a moderação dos gastos do governo central e as fragilidades do sector privado nacional. A procura externa líquida, contudo, evoluiu em sentido contrário, para sustentar a maior procura interna e como reflexo de um comportamento menos favorável da procura de serviços de turismo dirigida ao país.
A evolução ao longo do ano dos indicadores de conjuntura do Instituto Nacional de Estatística, no entanto, sugere que a actividade económica continua restringida pela insuficiência de procura, pela persistência de dificuldades financeiras e excesso de burocracia.
As pressões inflacionistas, numa conjuntura de redução da inflação importada e num contexto de crescimento da economia abaixo do potencial, estiveram largamente contidas ao longo do ano, efectivando a partir de Setembro um cenário de deflação.
Reflectindo a evolução da procura interna, o desequilíbrio externo estrutural da economia cabo‐verdiana agravou‐se nos primeiros nove meses do ano. Entretanto, e não obstante os crescentes desafios de gestão de reservas impostos pela política monetária da Área do Euro, as reservas externas do país mantiveram‐se num nível adequado à sustentabilidade do regime cambial em vigor e à estabilidade macroeconómica e financeira.
O espaço conferido pela redução da inflação e por um nível de reservas internacionais estável, possibilitou ao Banco de Cabo Verde reforçar as medidas de estímulo à economia, não só através da redução das suas taxas de juro, como também através da adopção de medidas de gestão de liquidez visando o fortalecimento do mecanismo de transmissão da política monetária.
Nos próximos meses, a política monetária deverá manter a orientação acomodatícia, com o objectivo de estimular a viabilidade de projectos de investimento produtivos, sem descurar a abordagem prudente necessária para garantir a preservação das reservas externas em níveis adequados ao perfil de risco do país e à estabilidade macroeconómica e financeira do país.
Este quadro, aliado ao contexto de contínua e contida recuperação da economia dos principais parceiros, embora de phasing‐out da política orçamental expansionista, deverá possibilitar algum fortalecimento da dinâmica de crescimento económico, perspectivando‐se um crescimento real entre um e dois por cento para 2014 e entre dois e três por cento para 2015.
A materialização das actuais projecções do Banco de Cabo Verde estará, entretanto, condicionada pelo desenvolvimento dos riscos, preponderantemente descendentes. A estagnação da economia da Área do Euro, a contínua deterioração da confiança dos agentes económicos nacionais, uma eventual degradação das contas públicas, além da contínua propagação do vírus do ébola na sub‐região onde o país está inserido (com efeito, em particular, na procura turística) são apontados como riscos que, a se concretizarem, teriam impactos não menosprezáveis na economia nacional. A médio prazo, a necessidade de sustentar e reforçar os ganhos económicos e sociais conquistados pelo país, atendendo às limitações intrínsecas da política monetária, que se focaliza em objectivos macro‐económicos de incentivo/desincentivo à procura interna, e ao reduzido espaço orçamental, impõe a superação qualitativa e estrutural da economia, com destaque para a melhoria significativa da competitividade do país e o reforço da sustentabilidade. Quadro 1: Indicadores Económicos Seleccionados Fonte: Banco de Cabo Verde. Nota: E – Estimativas; P – Projecções. Maio/14 2014P 2014P 2015P Contas Nacionais e Inflação Produto Interno Bruto variação real em % 1,2 0,5 [1,5 2,5] [1,0 2,0] [2,0 3,0] Índice de Preços no Consumidor variação anual em % 2,5 1,5 [0,25 1,0] [0,2 0,4] [0,7 1,4] Sector Externo Défice Corrente em % do PIB 10,9 4,0 4,1 9,0 8,4 RIL/Importações meses 4,0 4,9 4,9 4,9 4,8 Sector Monetário Activo Externo Líquido variação em % 16,9 34,2 4,4 6,9 2,6 Crédito à Economia variação em % 0,3 2,0 2,5 1,0 2,0 Massa Monetária variação em % 6,3 11,0 5,4 7,2 4,7 Unidade 2012E 2013E Novembro/14
Evolução da Actividade Económica
1. Enquadramento Externo da Economia de Cabo Verde
Enquadramento externo da economia cabo‐verdiana marcado por uma recuperação mais lenta dos principais parceiros do país.1 As estatísticas disponíveis apontam para a continuidade da recuperação da economia global, embora a um ritmo inferior ao antecipado em Abril e geograficamente desigual. O desempenho das economias avançadas, ainda muito condicionado pelos legados do ciclo de boom económico que antecedeu a crise financeira (nomeadamente pelas políticas consequentes de ajustamento dos balanços dos Estados, das empresas e das famílias sobreendividadas), enfraqueceu no primeiro semestre, em larga medida devido a factores temporários (rigoroso inverno nos EUA e correcção das existências no primeiro trimestre), à persistência de vulnerabilidades no sector financeiro (na Área do Euro) e à implementação de políticas de consolidação orçamental (aumento da taxa de imposto ao consumo no Japão).As economias emergentes e em desenvolvimento, por seu turno, continuaram a impulsionar o crescimento global, apesar do ajustamento da sua performance a um potencial de crescimento mais contido e mais centrado na procura doméstica. As tensões geopolíticas na Europa de Leste (entre a Rússia e a Ucrânia), afectando o investimento externo na região, têm igualmente contribuído para um enfraquecimento do desempenho das economias emergentes.
Focalizando os principais parceiros do país, a economia da Área do Euro permaneceu, ao longo de 2014, em recuperação da mais longa recessão da sua curta história, não obstante a estagnação em cadeia ocorrida no segundo trimestre. O desempenho económico mais favorável da região (nomeadamente o crescimento homólogo de 0,9 por cento no primeiro semestre, que compara a ‐0,9 por cento do primeiro semestre de 2013, e a descida da taxa de desemprego em 0,5 pontos percentuais entre Agosto de 2013 e Agosto de 2014) tem sido suportado pela melhoria do
1
A análise foi feita com base em informações disponíveis até 31 de Outubro.
Figura 1: A recuperação das economias dos EUA e da Área do Euro, embora em ritmo desigual, permitiu uma evolução favorável do mercado de trabalho ao longo do ano. Fonte: Eurostat; Federal Reserve; US Department of Labor. Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga. 0,8 2,3 ‐2,0 ‐1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 1º T 11 2º T 11 3º T 11 4º T 11 1º T 12 2º T 12 3º T 12 4º T 12 1º T 13 2º T 13 3º T 13 4º T 13 1º T 14 2º T 14 3º T 14 Pr od ut o In te rn o Br ut o (t .v .h . em %) EUA Zona Euro 3,0 5,0 7,0 9,0 11,0 13,0 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 De se m pr eg o (% da p op ul aç ão ac ti va ) EUA Zona Euro 11,5 5,9
sentimento económico e por algum alívio na política de consolidação orçamental. A política monetária excepcionalmente acomodatícia, anunciada pelo Banco Central Europeu (particularmente em Setembro quando, além de baixar a taxa de juro da facilidade de depósitos para ‐0,2 por cento, deu início a um programa de compra de activos), para estimular o crédito à economia poderá, por seu turno, fortalecer o crescimento, não obstante a transmissão monetária permanecer condicionada pela fragmentação financeira na região.
Sustentado por um desempenho favorável da economia, pese embora a contracção em cadeia do PIB dos EUA no primeiro trimestre (‐2,1 por cento), e por uma descida gradual, mas consistente, da taxa de desemprego (de 6,7 por cento em Dezembro de 2013 para 5,9 por cento em Setembro de 2014), o Federal Reserve (FED) adoptou uma abordagem contrária à do BCE, anunciando em Outubro passado o fim do terceiro programa de aquisição de títulos do Tesouro e de garantias dos empréstimos hipotecários. Todavia, o FED irá manter a sua taxa em mínimos históricos entre zero e 0,25 por cento, pelo menos, até meados de 2015.
A fraca dinâmica da actividade e do comércio mundial, num contexto de aumento da produção de
commoditties, tem resultado numa redução das pressões inflacionistas.
O aumento considerável da produção de petróleo de xisto pelos Estados Unidos, cuja capacidade se aproxima da da Arábia Saudita, e a consequente disputa de quota de mercado pelos maiores produtores, num contexto de fraca procura particularmente dos mercados emergentes, explicam o perfil decrescente do preço do petróleo no terceiro trimestre, não obstante a persistência das tensões políticas na Ucrânia e no Médio Oriente. Neste quadro, entre Janeiro e Setembro, o preço de barril de brent, que serve de referência para o mercado cabo‐verdiano, cresceu 1,2 por cento face ao período homólogo, aquém da taxa de crescimento anualizada até finais do segundo trimestre (de 1,6 por cento), altura em que a tensão entre a Ucrânia e a Rússia agudizou. Figura 2: O abrandamento da recuperação económica da Área Euro, que contrasta com o maior dinamismo dos EUA, bem como as reduções das taxas de referência do BCE, têm pressionado no sentido descendente as taxas Euribor e o câmbio do euro. Fonte: Eurostat; BCE; Federal Reserve; US Department of Labor. Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga. 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 Mé di a Me ns al fed funds rate (FED) refi rate (BCE) 1,10 1,15 1,20 1,25 1,30 1,35 1,40 1,45 1,50 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 Mé di a Me ns al Câmbio Euro/Dólar (eixo dto.) Euribor 3 meses
Registe‐se igualmente que, reflectindo as boas perspectivas de produção e, particularmente, a elevada disponibilidade de cereais para exportação, numa conjuntura de procura contida, os preços dos bens alimentares seguidos pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) acentuaram, ao longo de 2014, o perfil descendente que vinham registando desde o terceiro trimestre de 2013.
A redução da inflação pelos custos tem acentuado o perfil desinflacionista dos preços no consumidor, principalmente nas economias avançadas, cujo output gap continua elevado. No caso particular da Área do Euro, a inflação homóloga permanece em mais de um ponto percentual abaixo do target de dois por cento, desde Outubro de 2013, com impactos adversos na transmissão monetária.2
2
Dada a impossibilidade de redução das taxas de juro nominais do mercado de crédito abaixo de zero por cento, a redução da inflação poderá aumentar as taxas de juro reais, as que servem de referência para os investidores, para valores não comportáveis, induzindo, contrariamente ao preconizado pela política monetária acomodatícia do BCE, a uma redução do crédito. 3 Atendendo ao mandato do BCE, que é um banco central essencialmente inflation averse. Figura 3: A desaceleração dos preços no consumidor nos principais parceiros económicos do país foi o principal factor de desinflação dos preços internos ao longo do ano. Fonte: FAO; Bloomberg; Eurostat; US Department of Labor. Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga.
Política Monetária do Banco Central Europeu
Com o despoletar da crise soberana na Área do Euro, a política monetária assumiu o papel de principal impulsionador do crescimento económico na região.
Entretanto, a política monetária de cariz acomodatício, em curso desde finais do terceiro trimestre de 2008, foi largamente condicionada, por um lado, pelo impacto das pressões inflacionistas dos mercados de commodities nos preços no consumidor da região monetária até meados de 2011.3 Por outro lado, a fragmentação financeira, consubstanciada num prémio de risco e numa maior escassez de liquidez das economias mais frágeis, tem enfraquecido o mecanismo de transmissão monetária, particularmente nos últimos vinte e quatro meses.
A conjuntura de reduzidas pressões inflacionistas (e de aumento do risco de desancoragem das
‐15,0 0,0 15,0 30,0 45,0 60,0 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 Pre ço de Ma té ri as ‐Pr im as (t .v .h . em %) Brent Food Price Index ‐1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 Ja n‐ 11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Ja n‐ 12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Ja n‐ 13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Ja n‐ 14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 Ta xa de In fl aç ão Ho mó lo ga (%) Zona Euro EUA EUA Cabo Verde
4 Em Setembro, o BCE voltou a baixar em dez pontos base as taxas de principais operações de refinanciamento, de facilidade de cedência de liquidez e de facilidade de depósitos para 0,05, 0,3 e ‐0,2 por cento, respectivamente.
expectativas de inflação de médio e longo prazos dos objectivos do Banco Central) favoreceu a adopção, a partir de Junho de 2014, de mais medidas de política acomodatícias não convencionais. Pela primeira vez em Junho último, o Banco Central Europeu fixou a taxa que remunera as facilidades permanentes de depósitos num valor negativo (‐0,1 por cento), quando reduziu em dez pontos base todas as suas taxas de referência.4 Adicionalmente, visando estimular o financiamento bancário ao sector privado não financeiro, o Conselho do BCE decidiu realizar por um período de dois anos uma série de operações adicionais de refinanciamento da banca por empréstimos concedidos às sociedades não financeiras e particulares (excluindo os empréstimos às famílias para aquisição de habitação) e suspendeu o programa de esterilização da liquidez criada no âmbito do programa de intervenções nos mercados de títulos da dívida. Este pacote de medidas, focalizado na melhoria da eficácia da transmissão monetária, foi alargado em Setembro, com a decisão de aquisição a partir de meados de Outubro de instrumentos de dívida titularizados cujos activos subjacentes consistam em créditos sobre o sector privado não financeiro da Área do Euro, bem como de covered bonds (obrigações hipotecárias e obrigações sobre o setor público) denominadas em euros e emitidas por instituições financeiras monetárias estabelecidas na Área do Euro.
Se, por um lado, a redução das taxas de juro no eurosistema poderá beneficiar as sociedades cabo‐verdianas com o serviço da dívida externa indexada ao Euribor, por outro lado, dadas as restrições normativas, a redução das taxas de depósitos dos bancos centrais para valores negativos impõe um grande desafio à gestão das reservas externas do país, que se rege principalmente pelos princípios de segurança (preservação de capital) e de liquidez. Não obstante, se os empreendedores e as autoridades públicas forem capazes de desenhar e propor aos investidores europeus planos de negócios atractivos, alguma da liquidez disponibilizada pelo actual programa de quantitative easing do BCE poderá ser canalizada para investimentos produtivos no país, compensando as potenciais perdas de rendimento de reservas.
2. Indicadores da Procura e da Produção
Indicadores de tendência da actividade económica apontam para alguma revitalização da procura interna e deterioração da procura externa líquida.
Impulsionado pelo comportamento muito favorável do investimento, o indicador de procura interna do Banco de Cabo Verde (BCV) reforçou nos últimos dois trimestres o perfil ascendente que vinha registando desde Março.
O crescimento acelerado das componentes da formação bruta de capital fixo, principalmente nos últimos seis meses, tem sido em larga medida induzido pelos investimentos das empresas públicas, financiados sobretudo com recursos externos (empréstimos concessionais e donativos), bem como por um maior dinamismo dos investimentos externos.5
Registe‐se, contudo, que os investimentos empresariais e residenciais do sector privado na economia nacional permanecem condicionados pelas restrições financeiras internas e externas, conforme sugerem a estagnação do crédito à economia, não obstante o reforço da política de afrouxamento monetário, e a contínua redução dos influxos de dívida externa privada, em certa medida determinada pelo impacto nos principais financiadores do investimento privado no país da persistente fragmentação financeira na Europa. Note‐se ainda que, segundo os inquéritos qualitativos do Instituto Nacional de Estatística (INE), as incertezas quanto às perspectivas económicas e financeiras, a aversão ao risco e a persistência de condicionamentos burocráticos, administrativos, fiscais e institucionais ao ambiente de negócios continuaram a contribuir para o agravamento da confiança dos empresários. Por seu turno, o indicador do BCV sugere alguma melhoria do consumo privado nos últimos meses. 5 A necessidade de renovação do stock de capital, após um longo período de queda do investimento privado, poderá estar também na origem da evolução do indicador de investimento. Figura 4: Os indicadores de conjuntura do BCV sugerem alguma recuperação da procura interna, mas uma contração da procura externa líquida. Fonte: Banco de Cabo Verde; Instituto Nacional de Estatísticas. Nota: t.v.h. mm3 – taxa de variação homóloga de média móvel dos últimos três meses. ‐60,0 ‐40,0 ‐20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 Ag o ‐11 Ou t‐ 11 De z‐ 11 Fe v‐ 12 Ab r‐ 12 Ju n ‐12 Ag o ‐12 Ou t‐ 12 De z‐ 12 Fe v‐ 13 Ab r‐ 13 Ju n ‐13 Ag o ‐13 Ou t‐ 13 De z‐ 13 Fe v‐ 14 Ab r‐ 14 Ju n ‐14 Ag o ‐14 t. v. h . de mm 3 em % Indicador de Consumo Indicador de Investimento ‐60,0 ‐40,0 ‐20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 De z‐ 11 Fe v‐ 12 Ab r‐ 12 Ju n ‐12 Ag o ‐12 Ou t‐ 12 De z‐ 12 Fe v‐ 13 Ab r‐ 13 Ju n ‐13 Ag o ‐13 Ou t‐ 13 De z‐ 13 Fe v‐ 14 Ab r‐ 14 Ju n ‐14 Ag o ‐14 t. v. h . de mm 3 em % Indicador de Procura Externa Líquida
O impacto no rendimento disponível real das famílias dos aumentos das remessas dos emigrantes (4,5 por cento em termos homólogos até Setembro) e dos benefícios sociais (5,8 por cento em termos homólogos até Agosto), conjugados com algum aumento dos rendimentos salariais (em função da implementação gradual do Plano de Cargos, Carreiras e Salários na Administração Pública) e dos decorrentes de algum aumento da produção de frescos, bem como a redução dos preços no consumidor, explicam em larga medida o ligeiro aumento estimado do consumo privado. Contrariamente à procura interna, o contributo da procura externa líquida para o crescimento tem sido negativo e tende a agravar‐se. Com efeito, o perfil decrescente do indicador de procura externa líquida, que perdura desde Março de 2014, acentuou‐se a partir de Julho, devido ao crescimento das importações de mercadorias (em 6,7 por cento até Setembro, em termos homólogos) e à redução das receitas de turismo (em cerca de 10 por cento, de acordo com os dados preliminares disponíveis). No que concerne à oferta agregada, a evolução do indicador coincidente da actividade económica do BCV sugere que os contributos positivos dos sectores da construção, indústria e agricultura e pesca tenham mais que compensado o contributo negativo dos serviços. A evolução desfavorável do valor acrescentado bruto (VAB) dos serviços estará sendo determinada, por um lado, pelo contínuo abrandamento da procura turística e, por outro, pela redução dos preços dos pacotes praticados pelos operadores turísticos, assente na estratégia de competição pela quota de mercado europeu, num contexto de atenuação das instabilidades políticas e sociais no Norte de África e de descida dos preços de outros destinos concorrenciais.
Figura 5: O sentimento dos agentes económicos permanece deteriorado, não obstante a evolução positiva da actividade dos sectores da construção, indústria e agricultura e pescas. Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas; Banco de Cabo Verde. Nota: s.r.e mm3 – saldo de respostas extremas em média móvel dos últimos três meses; p.p.‐ pontos percentuais. 10,0 13,0 16,0 19,0 22,0 25,0 28,0 ‐12,0 ‐10,0 ‐8,0 ‐6,0 ‐4,0 ‐2,0 0,0 2,0 4,0 De z‐ 11 Ma r‐ 12 Ju n ‐12 Se t‐ 12 De z‐ 12 Ma r‐ 13 Ju n ‐13 Se t‐ 13 De z‐ 13 Ma r‐ 14 Ju n ‐14 Se t‐ 14 s. r. e . mm 3 s. r. e. mm 3 Clima Económico (eixo esq.) Confiança dos Consumidores (eixo dto.) ‐3,0 ‐1,5 0,0 1,5 3,0 4,5 6,0
Jan‐Set 12 Jan‐Set 13 Jan‐Set 14
Co nt ri bu to s pa ra o cr es ci m e nt o do VAB (p .p .) Agricultura e Pesca Indústria Construção Serviços VAB
O comportamento menos favorável da procura turística terá sido, igualmente, influenciado por algum receio incentivado pela propagação do ébola na sub‐região onde o país está inserido, bem como pela realização da copa do mundo de futebol no Brasil, país que registou um aumento das receitas de turismo internacional na ordem dos dez por cento nos primeiros sete meses do ano. A insuficiente oferta complementar ao segmento sol e praia poderá também ter influenciado na redução da estadia média dos turistas no país. Quadro 2: Procura Turística Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas. Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga.
valor absoluto t.v.h. (%) valor absoluto t.v.h. (%) valor absoluto t.v.h. (%)
Hóspedes 249.615 14,0 272.070 9,0 273.459 0,5 Dormidas 1.527.198 28,4 1.600.637 4,8 1.635.285 2,2 Estadia Média (n.º de noites) 6,1 11,9 6,0 ‐1,6 5,9 ‐1,7 Taxa de Ocupação (em percentagem) 58,0 4,5 56,5 ‐2,6 55,0 ‐2,7 1º Semestre 2013 1º Semestre 2014 1º Semestre 2012
3. Inflação
Preços no consumidor acentuaram o perfil descendente nos últimos seis meses.
Os preços no consumidor vêm apresentando, desde Maio de 2013, uma tendência consistente de desagravamento, culminando na redução da inflação média anual e da inflação homóloga, respectivamente, para ‐0,1 e ‐1,1 por cento em Setembro último.
O comportamento da inflação, em particular nos últimos seis meses, continuou a reflectir, em larga medida, a redução dos preços internacionais de bens alimentares, o aumento contido dos preços do petróleo nos mercados internacionais e a redução da inflação dos principais fornecedores do país, num contexto de alguma revitalização da procura interna, mas de contracção da procura externa.
Com efeito, a análise por contributos sugere que o comportamento da inflação cabo‐verdiana entre Setembro de 2013 e Setembro de 2014 foi, sobretudo, determinado pela redução do preço do gás butano (em média em 2,6 por cento, em função da evolução, ainda que desfasada, dos preços internacionais), pela diminuição dos preços de bens alimentares (tanto dos transformados, essencialmente importados, como dos não transformados, crescentemente produzidos internamente), bem como pela dissipação dos efeitos do ajustamento da taxa do imposto sobre o valor acrescentado nos bens e serviços administrados em inícios de 2013. Refira‐se ainda que o impacto da inflação importada na evolução da inflação cabo‐verdiana foi ampliado, nos últimos meses, pela expressiva desaceleração dos preços no produtor e no consumidor de Portugal, Holanda, França e Espanha, países de origem de cerca de 74 por cento das importações de bens cabo‐verdianas.6
6
Cerca de 58 por cento do cabaz de consumo dos cabo‐verdianos é constituído por bens e serviços transacionáveis, sendo a grande maioria destes bens e serviços importados da Área do Euro. Neste quadro e atendendo ao regime cambial de peg fixo ao Euro vigente em Cabo Verde e ao facto do país ser um price taker, devido à reduzida expressão da sua economia nos mercados mundiais, a evolução dos preços na Área do Euro afecta necessariamente e em larga medida os preços no consumidor e no produtor de Cabo Verde. Quadro 3: Contributos para a variação da Inflação Homóloga Fonte: INE. Cálculos do Banco de Cabo Verde. Figura 6: Determinados pela inflação importada e pela produção local de frescos, os preços no consumidor registaram uma forte desaceleração.
Ma r‐13 Jun‐13 Set‐13 Dez‐13 Ma r‐14 Jun‐14 Set‐14
Inflação Homóloga 2,6 1,2 1,1 0,1 0,6 ‐0,1 ‐1,1 100%
C1. Produtos a l i menta res e bebi da s nã o a lcoól i ca s 41% 2,1 0,7 ‐0,7 ‐1,9 0,2 ‐1,5 ‐2,9 39,5%
C2. Bebi da s a l coól i ca s e ta ba co 2% 5,7 4,0 3,8 2,3 1,5 1,5 0,4 2,9%
C3. Ves tuá ri o e ca l ça do 6% ‐0,4 2,6 2,3 0,3 1,9 1,6 0,6 4,3%
C4. Renda s de ha bita çã o, à gua , electri ci da de,… 16% 5,9 3,0 6,2 4,4 1,1 0,7 ‐0,2 44,7%
C5. Aces s óri os , equi pa mentos domés ticos … 6% 3,9 5,1 3,0 2,6 2,3 0,8 ‐0,3 9,2%
C6. Sa úde 2% 0,3 0,3 1,4 1,0 1,0 1,6 1,1 0,2%
C7. Tra ns portes 11% ‐1,9 ‐5,0 ‐2,3 ‐3,8 ‐1,3 ‐1,2 ‐2,9 2,9%
C8. Comuni ca ções 4% 4,5 4,5 4,5 4,5 0,0 0,0 0,0 8,0%
C9. La zer, recrea çã o 3% ‐4,5 ‐8,3 ‐5,4 ‐4,1 ‐4,3 1,0 ‐0,8 ‐6,8%
C10. Ens ino 1% 0,0 0,0 0,0 0,2 0,2 ‐0,7 ‐1,6 0,8%
C11. Hotéi s , res ta ura ntes ,… 3% 11,5 9,6 2,2 ‐0,6 ‐1,3 ‐0,2 0,7 1,8%
C12. Bens e s ervi ços di vers os 6% 5,0 5,1 4,0 5,4 4,9 4,8 6,9 ‐7,4%
Pes o no Ca ba z
Infla çã o Homól oga (%) Contributos pa ra a va ri a çã o da infl a çã o nos úl ti mos 12 mes es
Focalizando os determinantes da inflação cabo‐verdiana, a evolução da actividade económica nacional aquém do potencial, por influenciar as expectativas dos agentes económicos, estará igualmente a contribuir para o desagravamento dos preços em Cabo Verde.
A descida da inflação é consistente com as expectativas dos consumidores e dos empresários. Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas; Banco de Cabo Verde. Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga. ‐1,5 0,0 1,5 3,0 4,5 6,0 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 em % Taxa de variação homóloga Taxa de variação média 12 meses Taxa de variação mensal ‐1,5 0,0 1,5 3,0 4,5 6,0 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 t. v. h . em % IPC Agregado excluindo Energia, Alimentares e Bebidas, Álcool e Tabaco IPC Agregado IPC Agregado excluindo Energia IPC Agregado excluindo Energia e Alimentares não Transformados 50 55 60 65 70 75 80 85 90 1ºT 12 2ºT 12 3ºT 12 4ºT 12 1ºT 13 2ºT 13 3ºT 13 4ºT 13 1ºT 14 2ºT 14 3ºT 14 Sa ld o da s Re sp os ta s Ex tr em as Percepção da evolução dos preços e das expectativas pelos consumidores Evolução Actual Evolução Futura ‐60 ‐40 ‐20 0 20 40 60 80 1º T 12 2º T 12 3º T 12 4º T 12 1º T 13 2º T 13 3º T 13 4º T 13 1º T 14 2º T 14 3º T 14 Sa ld o da s Re sp os ta s Ex tr em as Percepção da evolução dos preços pelos produtores/fornecedores Comércio em Estabelecimento Turismo Indústria Transformadora Transportes
4. Contas Externas
Estimativas preliminares apontam para uma performance menos favorável das contas externas nos primeiros nove meses do ano.
Após uma assinalável redução em 2013, as necessidades de financiamento da economia (medidas pelo saldo agregado das balanças correntes e de capital) registaram um significativo crescimento nos primeiros nove meses do ano, impulsionadas pelo agravamento do défice da balança corrente. As estimativas da balança de pagamentos para o primeiro semestre apontam para um crescimento do défice da conta corrente em cerca de 11 por cento (‐79 por cento no período homólogo), principalmente induzido pelo aumento das importações de mercadorias (em cerca de um por cento, quando em período homólogo decresciam 11 por cento), pela queda das exportações dos serviços turísticos (em cerca de três por cento) e pelo acentuado crescimento dos rendimentos de investimento externo expatriados (em mais de 90 por cento).7
Os dados preliminares para o terceiro trimestre sugerem, entretanto, um agravamento adicional do défice da balança corrente, não obstante o expressivo crescimento das exportações de mercadorias (em cerca de 30 por cento até Setembro, em termos homólogos) e a manutenção do perfil ascendente das remessas dos emigrantes (cresceram seis por cento em termos homólogos, desde o início do ano, suportadas, sobretudo, pela melhor performance económica dos Países Baixos, Portugal e Reino Unido).
O contínuo aumento do serviço da dívida pública, em linha com a evolução das despesas de investimento do Estado desde 2009, aliado à redução dos donativos aos governos central e local, igualmente condicionou o desempenho das contas externas até Setembro.
Figura 7: A aceleração da procura interna, num contexto de abrandamento da procura turística, explica o agravamento da balança corrente nos primeiros nove meses do ano. Fonte: Banco de Cabo Verde. Nota: t.v.h. – taxa de variação homóloga. No gráfico foram destacadas as performances das principais rubricas da balança corrente. 7 Explicado essencialmente pelo expatriamento de reservas acumuladas por uma empresa de capital externo do ramo da construção civil. ‐80,0 ‐60,0 ‐40,0 ‐20,0 0,0 20,0 40,0 2010 2011 2012 2013 2014 (Jan‐Set) em % do PI B Juros da Dívida (Governo, bancos e outros sectores) Dividendos do IDE Expatriados Remessas dos Emigrantes Receitas do Turismo Importações de Bens e Serviços Balança Corrente
Os desenvolvimentos mais recentes nas contas externas reflectem, por um lado, a conjuntura de abrandamento da procura turística e a redução consequente dos preços dos pacotes turísticos e, por outro, uma revitalização do investimento de outros sectores (de empresas públicas e privadas), cuja componente de bens e serviços importados é expressiva. O aumento das necessidades de financiamento da economia foi acompanhado por um aumento dos influxos do investimento directo estrangeiro e por uma diminuição dos activos financeiros aplicados pelos bancos no exterior. Registe‐se que o equipamento de um dos maiores resorts turísticos do país, principalmente no terceiro trimestre, contribuiu em larga medida para o crescimento dos influxos do investimento directo estrangeiro na ordem dos 23 por cento. Adicionalmente, a redução dos fluxos de amortização da dívida de algumas empresas dos sectores turístico e financeiro com o seu investidor externo directo concorreu para reverter a tendência de queda dos investimentos externos no país que perdurava desde 2009 (até Setembro o saldo total aumentou seis por cento em termos homólogos).8
A par do investimento direto estrangeiro, a desmobilização dos activos externos dos bancos, em certa medida impulsionada pelo agravamento das condições de investimento na Área do Euro (nomeadamente pela redução das taxas de juro dos depósitos a prazo, instrumento preferencial de aplicação da liquidez no exterior pelos bancos), compensando a queda dos desembolsos líquidos da dívida pública (na ordem dos 1,3 mil milhões desde o início do ano), contribuiu em boa medida para o financiamento da economia nos últimos meses. Neste quadro, as reservas externas aumentaram para 359 milhões de euros em finais de Setembro, passando a garantir 4,75 meses de importação de bens e serviços projectados para 2014.
Figura 8: O financiamento da economia processou‐se principalmente via aumento dos influxos financeiros não geradores de dívida. Fonte: Banco de Cabo Verde. 8 De acordo com a metodologia do 5º Manual da Balança de Pagamentos e Investimento Internacional do Fundo Monetário Internacional, são registados como operações de investimento externo, os passivos contratados pela instituição residente com os seus investidores externos. Quando estes passivos são desembolsados, por determinarem um influxo financeiro para o país, são registados com sinal positivo, tendendo a aumentar o valor total do investimento realizado no país. Quando são reembolsados, o registo na balança é feito com sinal negativo, por implicar um fluxo financeiro do país para o exterior. Igualmente, são registados como fluxo de investimento externo os créditos concedidos pelas empresas nacionais à sua casa mãe residente no exterior (fenómeno recente observado na economia cabo‐verdiana). ‐3.000 ‐1.500 0 1.500 3.000 4.500 6.000 7.500 9.000 1ºT 12 2ºT 12 3ºT 12 4ºT 12 1ºT 13 2ºT 13 3ºT 13 4ºT 13 1ºT 14 2ºT 14 3ºT 14 mi lh õe s de e sc udos IDE Dívida Externa Pública Dívida Externa Privada Activos Líquidos de Bancos 4,0 4,3 4,4 4,3 4,9 4,6 4,6 4,8 0 1 2 3 4 5 6 0 50 100 150 200 250 300 350 400 De z‐ 12 Ma r‐ 13 Ju n‐ 13 Se t‐ 13 De z‐ 13 Ma r‐ 14 Ju n‐ 14 Se t‐ 14 me se s mi lh õ es de e sc udos Stock Reservas em milhões de euros Meses de importação
5. Situação Monetária e Financeira
Desenvolvimentos nas contas externas e o maior recurso ao endividamento interno pelo Estado continuaram a impulsionar a expansão monetária.
A oferta monetária, expressa pelo agregado M2, cresceu, em termos homólogos, cerca de sete por cento até Setembro, determinada pelo contínuo aumento das reservas internacionais líquidas do país (em cerca de 18 por cento) e do crédito ao Governo Central (na ordem dos 27 por cento).
Num contexto de agravamento da balança corrente, o comportamento das reservas cambiais do país reflectiu o aumento dos investimentos externos e a aquisição de divisas pelo Banco de Cabo Verde aos bancos comerciais. Registe‐se a desmobilização por parte dos bancos, entre Janeiro e Setembro de 2014, de recursos anteriormente aplicados em depósitos a prazo em instituições bancárias da Área do Euro. A redução dos activos externos dos bancos comerciais contribuiu para o agravamento da sua posição externa líquida deficitária e, consequentemente, determinou um crescimento mais moderado das disponibilidades líquidas do país sobre o exterior.
Por seu turno, o expressivo aumento do crédito ao Governo, contratado principalmente com as instituições bancárias do país, pode ser explicado pela evolução desfavorável das receitas fiscais (‐4,9 por cento até Agosto, muito aquém do programado aumento de 10,5 por cento para o conjunto do ano), numa conjuntura de contínua redução dos donativos e desembolsos líquidos da dívida pública. Não obstante o aumento significativo do crédito ao Sector Público Administrativo, o crédito interno líquido continuou a crescer moderadamente, em consequência da ligeira contracção do crédito à economia. Depois de ter registado um crescimento em torno de dois por cento em finais de 2013, o crédito à Quadro 4: Principais Indicadores da Situação Monetária Fonte: Bancos Comerciais; Banco de Cabo Verde. Notas: BT‐ Bilhetes do Tesouro; TRM– Título de Regularização Monetária.
Dez‐11 Dez‐12 Dez‐13 Mar‐14 Jun‐14 Set‐14
Dez‐13 Set‐14 Posição Externa 23.060 26.958 36.133 37.132 33.639 36.869 34,0 15,4 Activos Externos Líq. BCV 27.659 32.288 38.006 37.456 37.699 39.557 17,7 18,3 Reservas Internacionais Líq. 28.752 32.778 38.280 37.697 37.781 39.607 16,8 17,6 Crédito Interno Líquido 112.326 116.452 120.749 121.811 124.801 123.996 3,7 3,7 Crédito Líquido ao SPA 18.992 22.851 25.191 27.212 30.322 30.125 10,2 18,7 Crédito à Economia 93.334 93.601 95.463 94.504 94.284 93.871 2,0 ‐0,4 Massa Monetária 115.325 122.590 136.080 138.337 137.395 139.048 11,0 6,9 Base Monetária 24.439 32.574 38.427 40.131 40.727 40.197 18,0 14,0 Memo Itens Inflação (var. média anual IPC em %) 4,5 2,5 1,5 0,8 0,3 ‐0,1 Tx. dos BT (a 91 dias, média em %) 4,10 4,08 2,13 2,13 1,44 1,44 TRM (14 dias em %) 4,25 5,75 0,69 0,74 0,63 0,56 Variação homóloga Saldos em milhões de escudos
economia passou a apresentar uma tendência descendente, passando a registar desde Julho taxas de crescimento negativas, não obstante o reforço das medidas de política monetária de carácter acomodatício. As estatísticas disponíveis sugerem que a evolução do crédito à economia estará muito relacionada com a efectivação dos riscos de crédito (o crédito mal parado continuou a aumentar ao longo de 2014) e o aumento das incertezas e riscos que condicionam a dinâmica da actividade económica, bem como à persistência de constrangimentos estruturais que condicionam o ambiente de negócios. Com efeito, a redução do crédito concedido a particulares para consumo e outros fins (em 5,3 por cento), bem como do crédito às empresas dos ramos da construção civil e obras públicas (em 15,1 por cento), foi determinante para a evolução negativa do crédito à economia nos últimos meses, segmentos classificados como de maior risco de crédito e que têm registado maiores níveis de incumprimento. Registe‐se que o crédito às empresas não financeiras aumentou 0,3 por cento até Setembro.9
Igualmente, factores de ordem processual estarão a condicionar a retoma do crédito e a melhoria do enquadramento empresarial, na perspectiva das instituições financeiras, nomeadamente os constrangimentos no processo de bonificação dos empréstimos à habitação (que permanecem com um crescimento contido e em desaceleração) e na efectivação do fundo de contragarantia (que deverá possibilitar o funcionamento pleno da CV Garante enquanto entidade de partilha de riscos de financiamento de projectos de micro, pequenas e médias empresas).
9
Em termos agregados, o crédito às empresas não financeiras associado ao financiamento de investimentos produtivos representa somente 50 por cento do total do crédito à economia e 36 por cento do total do financiamento bancário da economia.
Evolução do Crédito às Empresas não Financeiras
O tecido empresarial cabo‐verdiano é constituído sobretudo por micro e pequenas empresas (dos quais 75 por cento são firmas familiares constituídas em nome individual), consideravelmente mais dependentes do financiamento com capital alheio do que as empresas de maior dimensão. Porém, o contexto de crescimento reduzido, de perspectivas económicas globalmente fracas, de continuação da necessidade de reestruturação dos balanços das empresas e de persistência da aversão aos riscos, aumentaram a restritividade das condições de crédito nos últimos anos.
De acordo com os resultados do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, realizado pelo Banco de Cabo Verde e referente ao terceiro trimestre de 2014, os bancos mantiveram a restritividade das condições de acesso ao crédito, reflexo principalmente das suas preocupações relativamente ao nível de incumprimento dos seus clientes e dos riscos associados a empresas sem contabilidade organizada. Ainda segundo este inquérito, a procura de créditos, sobretudo de curto prazo, manteve contudo os sinais de recuperação registados no trimestre anterior.
A substituição do crédito bancário por fontes alternativas de financiamento, tais como fundos gerados internamente e acesso ao mercado de capitais, tem sido difícil na medida em que as empresas ainda têm necessidade de desalavancagem e, dada a dimensão da maior parte delas, a emissão de dívida no mercado financeiro poderia ser demasiado dispendiosa.
A evolução do funding dos bancos é contrária à evolução do crédito, reforçando a posição de liquidez dos mesmos. Com efeito, os depósitos mantiveram um crescimento acelerado, nos primeiros nove meses do ano, impulsionados tanto pelo contínuo aumento dos depósitos à ordem e a prazo dos residentes (respectivamente, em 8,6 e 14,4 por cento), como pelo estável crescimento dos depósitos dos emigrantes na ordem dos nove por cento.
Numa conjuntura de redução das taxas de juro dos títulos do Banco de Cabo Verde e do Tesouro, das taxas de facilidade permanente de depósitos (instrumentos actualmente mais procurados pelos bancos residentes para aplicação de fundos) e do contínuo aumento das provisões do crédito em risco, o aumento do funding dos bancos tem pressionado em larga medida a sua rentabilidade. Neste contexto, a melhoria da referida rentabilidade, dificultada pela persistência de constrangimentos judiciais e de entraves legais, deverá passar por estratégias criativas e inovadoras de recuperação do crédito e de financiamento de projectos produtivos viáveis. Fonte: Banco de Cabo Verde.
O facto de o crédito bancário ser a principal fonte de financiamento das empresas cabo‐verdianas tem levado a que estas sejam mais afectadas pela contracção do crédito bancário e, por conseguinte, que a recuperação do investimento empresarial em Cabo Verde permaneça modesta. A eliminação do obstáculo do acesso ao financiamento dependerá, no curto prazo, em boa medida da percepção de diminuição do risco de crédito por parte dos bancos, da melhoria do sentimento dos agentes relativamente às perspectivas macroeconómicas e de condicionantes específicas das empresas, bem como do desenvolvimento do sistema financeiro e da melhoria da envolvente estrutural, no médio e longo prazos. ‐20 ‐10 0 10 20 30 40 50 60 1º T ‐12 2º T ‐12 3º T ‐12 4º T ‐12 1º T ‐13 2º T ‐13 3º T ‐13 4º T ‐13 1º T ‐14 2º T ‐14 3º T ‐14 4º T ‐14 * Índic e de di fu sã o Empréstimos de Curto Prazo Oferta Procura * Expectativas dos Bancos inquiridos ‐50 ‐30 ‐10 10 30 50 70 1º T ‐12 2º T ‐12 3º T ‐12 4º T ‐12 1º T ‐13 2º T ‐13 3º T ‐13 4º T ‐13 1º T ‐14 2º T ‐14 3º T ‐14 4º T ‐14 * Ín d ic e de di fu sã o Empréstimos de Longo Prazo Oferta Procura * Expectativas dos Bancos inquiridos
Caixa 1: Mecanismos de Transmissão Monetária
O Banco de Cabo Verde vem implementando, desde meados de 2013, uma política monetária moderadamente acomodatícia, ancorada numa abordagem prudente de estabilização das reservas internacionais líquidas do país.
Depois de ter reduzido a taxa directora, a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez e a taxa de redesconto em 150 pontos base em Março de 2014, o BCV baixou em Agosto último, em cinquenta pontos base, todas as suas taxas de referência. Além da redução das taxas de juro, o BCV adoptou um conjunto de medidas visando o fortalecimento do mecanismo de transmissão da política monetária. Neste quadro, propondo‐se a reduzir o excedente de liquidez no sistema e a dinamizar o mercado monetário interbancário, a autoridade monetária cabo‐verdiana: i. passou a permitir o acesso irrestrito e diário dos bancos às facilidades permanentes de absorção e cedência de liquidez; e ii. fixou uma percentagem mínima diária de 20 por cento do montante das reservas mínimas que as instituições devem manter nas contas de depósito à ordem no BCV.
Contudo, o impacto das medidas de política monetária na economia permanece reduzido, refletindo a aversão aos riscos de crédito e macro‐económicos pelos bancos, por um lado, e o insuficiente desenvolvimento do sistema financeiro nacional, por outro.10
De facto, contrariamente ao esperado, a taxa média de juro aplicada nas operações de crédito bancário registou um crescimento na ordem dos 0,3 pontos percentuais desde o início do ano e o crédito à economia registou uma inflexão na tendência de evolução, passando a decrescer desde Julho.11
A transmissão das decisões de política monetária às taxas de depósito tem sido entretanto efectiva, embora aquém do antecipado. Em termos médios, as taxas que remuneram o funding dos bancos decresceram 0,8 pontos percentuais desde Dezembro de 2013, enquanto a taxa directora reduziu 200 pontos base (dois pontos percentuais, desde então). Fonte: Banco de Cabo Verde. 10 Refira‐se, igualmente que as evidências empíricas apontam para um natural desfasamento temporal entre o momento da adopção das medidas de política monetária e o do seu impacto efectivo, decorrente do ajustamento das taxas de juro das carteiras de crédito e depósitos já negociadas.
11
A análise tem em conta dois dos canais mais relevantes de transmissão monetária para Cabo Verde, o canal de juros e o canal de crédito. Abstraiu‐se dos efeitos da política monetária na economia por via dos canais taxas de câmbio, preços dos activos, expectativas dos agentes e o wealth channel. Estes canais são pouco significativos, atendendo ao regime cambial em vigor, ao estádio ainda pouco desenvolvido do sistema financeiro e ao diminuto grau de integração financeira do país no sistema financeiro global. 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 De z‐ 11 Ma r‐ 12 Ju n‐ 12 Se t‐ 12 De z‐ 12 Ma r‐ 13 Ju n‐ 13 Se t‐ 13 De z‐ 13 Ma r‐ 14 Ju n‐ 14 Se t‐ 14 Ta xa s de Ju ro em % Taxa de Juro Média Efectiva de Depósitos Taxa de Juro Média Efectiva de Crédito Taxa Directora do BCV ‐2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 De z‐ 11 Se t‐ 12 Fe v‐ 13 Ma i‐ 13 Ag o‐ 13 No v‐ 13 Fe v‐ 14 Ma i‐ 14 Ag o‐ 14 Tax as de v ar iaç ão ho m ól og a em % Depósitos Totais Crédito ao Sector Privado
Adicionalmente, não obstante terem contribuído para uma expressiva redução da liquidez excedentária no sistema, as medidas de gestão da liquidez implementadas não contribuíram para criar algum défice ou alguma assimetria na posição de liquidez dos bancos, capaz de levar à dinamização do mercado monetário interbancário. A inoperância do mercado secundário da dívida pública concorre com a iliquidez do mercado monetário interbancário para condicionar fortemente a transmissão monetária através do canal taxas de juro.12
Por seu turno, a transmissão monetária tem sido em larga medida condicionada pelo limitado acesso das famílias e empresas a fontes de financiamento alternativas ao empréstimo bancário e pela elevada dependência dos bancos aos recursos dos emigrantes. O primeiro factor torna confortável a posição dos bancos, que também ponderam no pricing dos seus activos, os custos operacionais e de funding relativamente elevados, bem como o crescente prémio de risco, devido ao contínuo aumento do crédito mal parado. A difícil substituibilidade dos depósitos dos emigrantes, enquanto funding dos bancos nacionais, obriga‐os a uma competição acirrada pelos mesmos e explica o lento ajustamento das taxas de depósitos. A transmissão monetária estará também a ser condicionada, do lado da procura de crédito, por algum défice de projectos bancáveis e por constrangimentos à melhoria do ambiente de negócios.
Importa ainda referir que a relativa ineficácia dos mecanismos de transmissão, acima abordada, erige eventualmente o desafio dum melhor ajustamento do quadro operacional da política monetária às especificidades económicas e financeiras do país para suplantar alguns dos constrangimentos conjunturais e estruturais mencionados. 12
O canal de juros transmite as alterações na policy rate às relevantes taxas de juro de mercado, tais como taxas que remuneram os títulos de curto e longo prazos, bem como as taxas bancárias de depósitos e empréstimos. A sua eficácia requer que o mercado interbancário seja relativamente desenvolvido e que haja um mercado secundário de títulos do Tesouro (risk free securities) efectivamente operacional. Um mercado interbancário funcional é necessário para sinalizar o custo marginal de financiamento dos bancos, enquanto o mercado secundário dos bilhetes e obrigações do Tesouro serve de referência a juros de outros títulos e activos de diferentes maturidades. O canal de crédito transfere o impacto das alterações da taxa directora e da taxa de reserva obrigatória à oferta do crédito bancário. Para que o canal seja eficaz, os empréstimos bancários e outras fontes de financiamento devem ser substitutos imperfeitos para as famílias e as empresas e os depósitos bancários e outras fontes de financiamento devem ser substitutos imperfeitos para os intermediários financeiros.
6. Situação Orçamental
Situação orçamental deteriorou com a redução das receitas fiscais. Apesar do alargamento das fontes de receita e da implementação de medidas visando o reforço da eficiência e da eficácia tributária, no quadro das reformas fiscais em curso desde 2013, as receitas de impostos registaram um decréscimo homólogo de 4,9 por cento nos primeiros oito meses do ano.13 A redução das receitas, a par do aumento ainda que contido das despesas correntes, determinou o agravamento do défice orçamental, em cerca de mil milhões de escudos comparativamente a Agosto de 2013. A execução das receitas fiscais aquém dos valores orçados estará a reflectir, por um lado, a extensão das isenções fiscais aos mobiliários e demais mercadorias importadas para equipamento de hotéis e outras empresas com capital externo, bem como a redução do valor aduaneiro de combustíveis e demais mercadorias importadas e, por outro, a fraca dinâmica da actividade económica no ano anterior.De notar a queda do valor colectado do imposto sobre o valor acrescentado pelas Alfândegas (‐10,5 por cento), a diminuição do valor arrecadado dos impostos sobre as transacções internacionais (menos quatro por cento) e a contração do montante colectado do imposto único sobre o rendimento de pessoas colectivas (‐12,0 por cento). 13 Os dados das contas públicas disponíveis referem‐se a Agosto de 2014. Quadro 5: Situação Orçamental Fonte: Ministério das Finanças e do Planeamento. Cálculos do Banco de Cabo Verde.
Março Junho Agosto Setembro Dezembro Março Junho Agosto
Receitas de impostos ‐6,0 ‐3,6 ‐0,4 0,0 2,2 0,6 0,1 ‐4,9 das quais: Imposto s/ Valor Acrescentado (IVA) ‐7,0 ‐0,6 0,7 1,2 1,1 5,8 0,5 ‐5,4 Imposto Único s/ Rendimento (IUR) ‐6,4 ‐10,5 ‐6,3 ‐5,8 0,2 ‐7,6 ‐4,1 ‐7,1 Donativos ‐1,0 51,6 47,3 90,5 ‐9,8 ‐35,6 ‐52,7 ‐49,0 Despesas de Funcionamento 6,9 5,4 7,2 3,8 4,9 0,4 3,8 1,2 das quais: Despesas com Pessoal 7,5 2,0 8,2 ‐0,3 3,7 1,8 4,4 2,1 Transferências Correntes 3,2 17,7 2,6 4,4 1,3 ‐4,2 ‐1,4 ‐1,2 Benefícios Sociais 17,7 13,4 7,4 5,1 6,2 ‐0,6 2,3 5,8 Activos não Financeiros ‐13,2 ‐36,5 ‐33,1 ‐31,6 ‐11,7 ‐26,8 ‐21,3 ‐16,0 dos quais: Programa de Investimento ‐13,3 ‐36,8 ‐33,4 ‐31,8 ‐11,5 ‐26,9 ‐22,1 ‐16,5 Saldo Global (incluindo Donativos) ‐1.691 ‐3.985 ‐6.637 ‐6.265 ‐13.911 ‐1.622 ‐4.682 ‐7.673 Saldo Primário (incluindo Donativos) ‐988 ‐2.285 ‐4.460 ‐3.841 ‐10.485 ‐878 ‐2.924 ‐5.406 Saldo Global (incluindo Donativos) ‐1,1 ‐2,6 ‐4,4 ‐4,1 ‐9,1 ‐1,0 ‐3,0 ‐4,9 Saldo Primário (incluindo Donativos) ‐0,6 ‐1,5 ‐2,9 ‐2,5 ‐6,9 ‐0,6 ‐1,9 ‐3,5 percentagem do PIB 2013 2014 taxas de variação homólogas milhões de escudos
De acordo com a actual estratégia de gestão orçamental, a redução das receitas fiscais, aliada à expressiva diminuição dos donativos (na ordem dos 49 por cento, não obstante os desembolsos da ajuda orçamental de Luxemburgo e Portugal), induziu a uma contenção adicional das despesas de funcionamento. Estas cresceram cerca de 1,2 por cento (+7,2 por cento em período homólogo), impulsionadas sobretudo pelo crescimento das despesas obrigatórias, como sejam salários e encargos com a segurança social (em 2,1 por cento, devido à implementação gradual do Plano de Cargos e Carreiras da Administração Pública e à contratação de pessoal de acordo com os Orçamentos de 2013 e 2014, entre outros factores), benefícios sociais (5,8 por cento, justificado pelo aumento do número de beneficiários das pensões de aposentação e do regime não contributivo) e juros da dívida (em 4,2 por cento, principalmente devido ao aumento significativo da dívida interna no decurso de 2014). Em linha com a política de phasing‐out do Programa Pluri‐Anual de Investimentos Públicos, a par dos atrasos na execução de alguns projectos e da extensão das medidas de contenção ao programa, as despesas de investimento (com a aquisição de activos não financeiros) reduziram 16,5 por cento, contribuindo para conter em certa medida o desequilíbrio das contas públicas.
Não obstante o esforço de contenção, o défice orçamental acumulado nos primeiros oito meses do ano atingiu os 7,8 mil milhões de escudos, tendo sido financiado maioritariamente com recursos externos, pese embora o acentuado aumento das emissões de títulos do Tesouro junto ao sistema bancário nacional, a um custo efectivo médio de quatro por cento (que compara à taxa de juro de 1,2 por cento dos empréstimos contratados externamente). Consequentemente, o stock da dívida bruta do Estado até Agosto aumentou cerca de oito por cento, desde o início do ano, para 167,6 mil milhões de escudos.
Perspectivas de Evolução da Economia
7. Hipóteses de Enquadramento das Projecções Macroeconómicas para 2014 e 2015
As actuais projecções para 2014 e 2015 baseiam‐se em pressupostos teóricos e no conhecimento empírico que fundamentam o exercício da programação financeira do Banco de Cabo Verde. Enquadram os desenvolvimentos económicos e financeiros recentes, bem como as hipóteses de evolução futura das variáveis determinantes do crescimento da economia cabo‐verdiana.
As hipóteses técnicas sobre o enquadramento externo da economia e a orientação orçamental, apresentadas de seguida, são variáveis críticas no exercício de programação monetária e financeira.
Enquadramento externo da economia cabo‐verdiana permanece menos desfavorável, não obstante o aumento dos riscos e incertezas.
As projecções de Outubro de 2014 do Fundo Monetário Internacional (FMI), pese embora a revisão em baixa, continuam a sugerir algum fortalecimento da actividade económica global em 2014, tendência que deverá ser reforçada em 2015. A perspectiva menos positiva, patente em particular na revisão em baixa das projecções de crescimento mundial para 2014 pela sétima vez consecutiva, justifica‐se, principalmente, pelo enfraquecimento dos investimentos e das exportações da Área do Euro, especialmente a partir do segundo trimestre, bem como pelos impactos na captação de investimento externo, na produção interna e na confiança dos agentes económicos das tensões geopolíticas na Europa de Leste, além da persistência de uma fraca tendência de evolução da procura doméstica nas economias emergentes da América Latina.14
Neste contexto, o FMI projecta um crescimento real da Área do Euro em torno de 0,8 e 1,3 por cento, respectivamente, para 2014 e 2015 (‐0,4 por cento em 2013 e ‐0,7 por cento em 2012), suportado por algum alívio na política de consolidação orçamental e pelo impacto da política monetária extraordinariamente acomodatícia nas condições de financiamento da economia.15 As perspectivas de crescimento económico e de melhoria das condições de financiamento dos principais parceiros de Cabo Verde favorecem algum optimismo quanto à evolução do investimento externo e da procura externa líquida do país. Entretanto, a orientação da política monetária do Banco Central Europeu, que recorreu a mecanismos não convencionais, tenderá a afectar com alguma severidade a gestão das reservas internacionais do país, enquanto que a depreciação do Euro, em consequência do desempenho comparativamente menos conseguido da região, deverá encarecer a factura das importações cabo‐verdianas de combustíveis, bem como pressionar os encargos com o serviço da dívida pública. Por seu turno, a redução das taxas Euribor favorecerá o serviço da dívida externa contratada pelas sociedades não financeiras cabo‐verdianas, tendo em conta que as taxas de juro da referida dívida estão maioritariamente indexadas àquelas. 14 Especialmente no Brasil, cujo produto interno bruto contraiu no primeiro e segundo trimestres de 2014. 15 Registe‐se que, suportado pela baixa inflação na Área do Euro, além de reduzir as suas taxas de juro para níveis historicamente baixos, o BCE decidiu implementar uma política de compra de activos (quantitative easing) para estimular o financiamento do crescimento económico na região.