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RELATÓRIO DE POLÍTICA MONETÁRIA

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Academic year: 2021

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Banco de Cabo Verde

RELATÓRIO DE POLÍTICA MONETÁRIA

(ao abrigo do nº 3 do art.º 18.º da Lei Orgânica do BCV)

Novembro de 2014

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RELATÓRIO DE POLÍTICA MONETÁRIA 

(ao abrigo do n.º 3 do art.º 18º da Lei Orgânica) 

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

     

Banco de Cabo Verde 

Novembro de 2014

 

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BANCO DE CABO VERDE 

Departamento de Estudos Económicos e Estatísticas  Avenida Amílcar Cabral, 27  CP 7600‐101 ‐ Praia ‐ Cabo Verde  Tel: +238 2607000 / Fax: +238 2607197  http://www.bcv.cv 

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Índice

      Sumário Executivo  2  I. Evolução da Actividade Económica  4  1. Enquadramento Externo da Economia de Cabo Verde  5  2. Indicadores da Procura e da Produção  9  3. Inflação  12  4. Contas Externas  14  5. Situação Monetária e Financeira  16          Caixa 1: Mecanismos de Transmissão Monetária  19  6. Situação Orçamental  21  II. Perspectivas de Evolução da Economia  23  7. Hipóteses de Enquadramento das Projecções Macroeconómicas para 2014 e 2015  24  8. Projecções dos Principais Indicadores Económicos e Financeiros  28  9. Política Monetária para os Próximos Meses  32          Caixa 2: Orçamento do Estado de Cabo Verde para 2015  33  III. Anexo Estatístico  34   

 

 

   

 

 

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Sumário Executivo 

A melhoria do enquadramento externo da economia cabo‐verdiana favoreceu a procura externa de  bens  transacionáveis  produzidos  internamente,  as  remessas  dos  emigrantes  e  a  recuperação  do  investimento directo estrangeiro no país. 

Neste  contexto,  a  procura  interna  apresentou  um  perfil  ascendente,  nos  últimos  seis  meses,  suportada  por  investimentos  empresariais  públicos  e  privados  externos,  que  terão  compensado  a  moderação  dos  gastos  do  governo  central  e  as  fragilidades  do  sector  privado  nacional.  A  procura  externa  líquida,  contudo,  evoluiu  em  sentido  contrário,  para  sustentar  a  maior  procura  interna  e  como reflexo de um comportamento menos favorável da procura de serviços de turismo dirigida ao  país.   

A  evolução  ao  longo  do  ano  dos  indicadores  de  conjuntura  do  Instituto  Nacional  de  Estatística,  no  entanto, sugere que a actividade económica continua restringida pela insuficiência de procura, pela  persistência de dificuldades financeiras e excesso de burocracia.   

As  pressões  inflacionistas,  numa  conjuntura  de  redução  da  inflação  importada  e  num  contexto  de  crescimento  da  economia  abaixo  do  potencial,  estiveram  largamente  contidas  ao  longo  do  ano,  efectivando a partir de Setembro um cenário de deflação. 

Reflectindo  a  evolução  da  procura  interna,  o  desequilíbrio  externo  estrutural  da  economia  cabo‐verdiana  agravou‐se  nos  primeiros  nove  meses  do  ano.  Entretanto,  e  não  obstante  os  crescentes  desafios  de  gestão  de  reservas  impostos  pela  política  monetária  da  Área  do  Euro,  as  reservas externas do país mantiveram‐se num nível adequado à sustentabilidade do regime cambial  em vigor e à estabilidade macroeconómica e financeira. 

O  espaço  conferido  pela  redução  da  inflação  e  por  um  nível  de  reservas  internacionais  estável,  possibilitou ao Banco de Cabo Verde reforçar as medidas de estímulo à economia, não só através da  redução das suas taxas de juro, como também através da adopção de medidas de gestão de liquidez  visando o fortalecimento do mecanismo de transmissão da política monetária.   

Nos próximos meses, a política monetária deverá manter a orientação acomodatícia, com o objectivo  de  estimular  a  viabilidade  de  projectos  de  investimento  produtivos,  sem  descurar  a  abordagem  prudente necessária para garantir a preservação das reservas externas em níveis adequados ao perfil  de risco do país e à estabilidade macroeconómica e financeira do país.   

Este  quadro,  aliado  ao  contexto  de  contínua  e  contida  recuperação  da  economia  dos  principais  parceiros,  embora  de  phasing‐out  da  política  orçamental  expansionista,  deverá  possibilitar  algum  fortalecimento  da  dinâmica  de  crescimento  económico,  perspectivando‐se  um  crescimento  real  entre um e dois por cento para 2014 e entre dois e três por cento para 2015.   

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A  materialização  das  actuais  projecções  do  Banco  de  Cabo  Verde  estará,  entretanto,  condicionada  pelo desenvolvimento dos riscos, preponderantemente descendentes. A estagnação da economia da  Área do Euro, a contínua deterioração da confiança dos agentes económicos nacionais, uma eventual  degradação das contas públicas, além da contínua propagação do vírus do ébola na sub‐região onde  o país está inserido (com efeito, em particular, na procura turística) são apontados como riscos que,  a se concretizarem, teriam impactos não menosprezáveis na economia nacional.    A médio prazo, a necessidade de sustentar e reforçar os ganhos económicos e sociais conquistados  pelo  país,  atendendo  às  limitações  intrínsecas  da  política  monetária,  que  se  focaliza  em  objectivos  macro‐económicos  de  incentivo/desincentivo  à  procura  interna,  e  ao  reduzido  espaço  orçamental,  impõe a superação qualitativa e estrutural da economia, com destaque para a melhoria significativa  da competitividade do país e o reforço da sustentabilidade.  Quadro 1: Indicadores Económicos Seleccionados      Fonte: Banco de Cabo Verde.  Nota: E – Estimativas; P – Projecções.  Maio/14 2014P 2014P 2015P Contas Nacionais e Inflação Produto Interno Bruto  variação real em % 1,2 0,5 [1,5    2,5] [1,0    2,0] [2,0    3,0] Índice de Preços no Consumidor variação anual em % 2,5 1,5 [0,25   1,0] [0,2    0,4] [0,7    1,4] Sector Externo Défice Corrente  em % do PIB 10,9 4,0 4,1 9,0 8,4 RIL/Importações  meses 4,0 4,9 4,9 4,9 4,8 Sector Monetário Activo Externo Líquido variação em % 16,9 34,2 4,4 6,9 2,6 Crédito à Economia variação em % 0,3 2,0 2,5 1,0 2,0 Massa Monetária variação em % 6,3 11,0 5,4 7,2 4,7 Unidade 2012E 2013E Novembro/14

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Evolução da Actividade Económica 

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1. Enquadramento Externo da Economia de Cabo Verde 

Enquadramento externo da economia cabo‐verdiana marcado por uma recuperação mais lenta dos  principais parceiros do país.1  As estatísticas disponíveis apontam para a continuidade da recuperação da economia global, embora  a um ritmo inferior ao antecipado em Abril e geograficamente desigual.   O desempenho das economias avançadas, ainda muito condicionado pelos legados do ciclo de boom  económico  que  antecedeu  a  crise  financeira  (nomeadamente  pelas  políticas  consequentes  de  ajustamento dos balanços dos Estados, das empresas e das famílias sobreendividadas), enfraqueceu  no primeiro semestre, em larga medida devido a factores temporários (rigoroso inverno nos EUA e  correcção  das  existências  no  primeiro  trimestre),  à  persistência  de  vulnerabilidades  no  sector  financeiro (na Área do Euro) e à implementação de políticas de consolidação orçamental (aumento  da taxa de imposto ao consumo no Japão).  

As  economias  emergentes  e  em  desenvolvimento,  por  seu  turno,  continuaram  a  impulsionar  o  crescimento global, apesar do ajustamento da sua performance a um potencial de crescimento mais  contido e mais centrado na procura doméstica. As tensões geopolíticas na Europa de Leste (entre a  Rússia  e  a  Ucrânia),  afectando  o  investimento  externo  na  região,  têm  igualmente  contribuído  para  um enfraquecimento do desempenho das economias emergentes. 

  Focalizando os principais parceiros do país, a economia da Área do Euro permaneceu, ao longo de  2014, em recuperação da mais longa recessão da sua curta história, não obstante a estagnação em  cadeia  ocorrida  no  segundo  trimestre.  O  desempenho  económico  mais  favorável  da  região  (nomeadamente  o  crescimento  homólogo  de  0,9  por  cento  no  primeiro  semestre,  que  compara  a  ‐0,9  por  cento  do  primeiro  semestre  de  2013,  e  a  descida  da  taxa  de  desemprego  em  0,5  pontos  percentuais  entre  Agosto  de  2013  e  Agosto  de  2014)  tem  sido  suportado  pela  melhoria  do 

      

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  A análise foi feita com base em informações disponíveis até 31 de Outubro. 

Figura  1:  A  recuperação  das  economias  dos  EUA  e  da  Área  do  Euro,  embora  em  ritmo  desigual,  permitiu  uma  evolução favorável do mercado de trabalho ao longo do ano.        Fonte: Eurostat; Federal Reserve; US Department of Labor.  Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga.  0,8 2,3 ‐2,0 ‐1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 1º T  11 2º T  11 3º T  11 4º T  11 1º T  12 2º T  12 3º T  12 4º T  12 1º T  13 2º T  13 3º T  13 4º T  13 1º T  14 2º T  14 3º T  14 Pr od ut o  In te rn o  Br ut o  (t .v .h .  em  %) EUA Zona Euro 3,0 5,0 7,0 9,0 11,0 13,0 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 De se m pr eg o  (%  da  p op ul aç ão  ac ti va ) EUA Zona Euro 11,5 5,9

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sentimento  económico  e  por  algum  alívio  na  política  de  consolidação  orçamental.  A  política  monetária excepcionalmente acomodatícia, anunciada pelo Banco Central Europeu (particularmente  em Setembro quando, além de baixar a taxa de juro da facilidade de depósitos para ‐0,2 por cento,  deu início a um programa de compra de activos), para estimular o crédito à economia poderá, por  seu  turno,  fortalecer  o  crescimento,  não  obstante  a  transmissão  monetária  permanecer  condicionada pela fragmentação financeira na região. 

Sustentado por um desempenho favorável da economia, pese embora a contracção em cadeia do PIB  dos EUA no primeiro trimestre (‐2,1 por cento), e por uma descida gradual, mas consistente, da taxa  de desemprego (de 6,7 por cento em Dezembro de 2013 para 5,9 por cento em Setembro de 2014),  o  Federal  Reserve  (FED)  adoptou  uma  abordagem  contrária  à  do  BCE,  anunciando  em  Outubro  passado  o  fim  do  terceiro  programa  de  aquisição  de  títulos  do  Tesouro  e  de  garantias  dos  empréstimos hipotecários. Todavia, o FED irá manter a sua taxa em mínimos históricos entre zero e  0,25 por cento, pelo menos, até meados de 2015. 

A fraca dinâmica da actividade e do comércio mundial, num contexto de aumento da produção de 

commoditties, tem resultado numa redução das pressões inflacionistas. 

O aumento considerável da produção de petróleo de xisto pelos Estados Unidos, cuja capacidade se  aproxima  da  da  Arábia  Saudita,  e  a  consequente  disputa  de  quota  de  mercado  pelos  maiores  produtores, num contexto de fraca procura particularmente dos mercados emergentes, explicam o  perfil  decrescente  do  preço  do  petróleo  no  terceiro  trimestre,  não  obstante  a  persistência  das  tensões políticas na Ucrânia e no Médio Oriente. Neste quadro, entre Janeiro e Setembro, o preço de  barril de brent, que serve de referência para o mercado cabo‐verdiano, cresceu 1,2 por cento face ao  período homólogo, aquém da taxa de crescimento anualizada até finais do segundo trimestre (de 1,6  por cento), altura em que a tensão entre a Ucrânia e a Rússia agudizou.    Figura 2: O abrandamento da recuperação económica da Área Euro, que contrasta com o maior dinamismo dos EUA,  bem como as reduções das taxas de referência do BCE, têm pressionado no sentido descendente as taxas Euribor e o  câmbio do euro.        Fonte: Eurostat; BCE; Federal Reserve; US Department of Labor.  Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga.  0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 Mé di a  Me ns al   fed funds  rate (FED) refi rate (BCE) 1,10 1,15 1,20 1,25 1,30 1,35 1,40 1,45 1,50 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 Mé di a  Me ns al   Câmbio Euro/Dólar  (eixo dto.) Euribor 3 meses

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Registe‐se  igualmente  que,  reflectindo  as  boas  perspectivas  de  produção  e,  particularmente,  a  elevada disponibilidade de cereais para exportação, numa conjuntura de procura contida, os preços  dos bens alimentares seguidos pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação  (FAO) acentuaram, ao longo de 2014, o perfil descendente que vinham registando desde o terceiro  trimestre de 2013. 

A  redução  da  inflação  pelos  custos  tem  acentuado  o  perfil  desinflacionista  dos  preços  no  consumidor,  principalmente  nas  economias  avançadas,  cujo  output  gap  continua  elevado.  No  caso  particular da Área do Euro, a inflação homóloga permanece em mais de um ponto percentual abaixo  do  target  de  dois  por  cento,  desde  Outubro  de  2013,  com  impactos  adversos  na  transmissão  monetária.2 

 

      

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  Dada a impossibilidade de redução das taxas de juro nominais do mercado de crédito abaixo de zero por cento, a redução da inflação  poderá  aumentar  as  taxas  de  juro  reais,  as  que  servem  de  referência  para  os  investidores,  para  valores  não  comportáveis,  induzindo,  contrariamente ao preconizado pela política monetária acomodatícia do BCE, a uma redução do crédito.  3   Atendendo ao mandato do BCE, que é um banco central essencialmente inflation averse.  Figura 3: A desaceleração dos preços no consumidor nos principais parceiros económicos do país foi o principal factor  de desinflação dos preços internos ao longo do ano.            Fonte: FAO; Bloomberg; Eurostat; US Department of Labor.  Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga.   

Política Monetária do Banco Central Europeu

Com  o  despoletar  da  crise  soberana  na  Área  do  Euro,  a  política  monetária  assumiu  o  papel  de  principal impulsionador do crescimento económico na região.   

Entretanto, a política monetária de cariz acomodatício, em curso desde finais do terceiro trimestre  de  2008,  foi  largamente  condicionada,  por  um  lado,  pelo  impacto  das  pressões  inflacionistas  dos  mercados de commodities nos preços no consumidor da região monetária até meados de 2011.3  Por  outro lado, a fragmentação financeira, consubstanciada num prémio de risco e numa maior escassez  de liquidez das economias mais frágeis, tem enfraquecido o mecanismo de transmissão monetária,  particularmente nos últimos vinte e quatro meses. 

A  conjuntura  de  reduzidas  pressões  inflacionistas  (e  de  aumento  do  risco  de  desancoragem  das 

‐15,0 0,0 15,0 30,0 45,0 60,0 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 Pre ço  de   Ma té ri as ‐Pr im as   (t .v .h . em  %) Brent Food Price  Index ‐1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 Ja n‐ 11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Ja n‐ 12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Ja n‐ 13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Ja n‐ 14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 Ta xa  de  In fl aç ão  Ho mó lo ga  (%) Zona Euro EUA EUA Cabo Verde

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             4   Em Setembro, o BCE voltou a baixar em dez pontos base as taxas de principais operações de refinanciamento, de facilidade de cedência  de liquidez e de facilidade de depósitos para 0,05, 0,3 e ‐0,2 por cento, respectivamente. 

expectativas  de  inflação  de  médio  e  longo  prazos dos  objectivos  do  Banco  Central)  favoreceu  a  adopção, a partir de Junho de 2014, de mais medidas de política acomodatícias não convencionais.  Pela  primeira  vez  em  Junho  último,  o  Banco  Central  Europeu  fixou  a  taxa  que  remunera  as  facilidades permanentes de depósitos num valor negativo (‐0,1 por cento), quando reduziu em dez  pontos base todas as suas taxas de referência.4  Adicionalmente, visando estimular o financiamento  bancário  ao  sector  privado  não  financeiro,  o  Conselho  do  BCE  decidiu  realizar  por  um  período  de  dois  anos  uma  série  de  operações  adicionais  de  refinanciamento  da  banca  por  empréstimos  concedidos às sociedades não financeiras e particulares (excluindo os empréstimos às famílias para  aquisição  de  habitação)  e  suspendeu  o  programa  de  esterilização  da  liquidez  criada  no  âmbito  do  programa de intervenções nos mercados de títulos da dívida. Este pacote de medidas, focalizado na  melhoria  da  eficácia  da  transmissão  monetária,  foi  alargado  em  Setembro,  com  a  decisão  de  aquisição  a  partir  de  meados  de  Outubro  de  instrumentos  de  dívida  titularizados  cujos  activos  subjacentes  consistam  em  créditos  sobre  o  sector  privado  não  financeiro  da  Área  do  Euro,  bem  como de covered bonds (obrigações hipotecárias e obrigações sobre o setor público) denominadas  em euros e emitidas por instituições financeiras monetárias estabelecidas na Área do Euro.   

Se,  por  um  lado,  a  redução  das  taxas  de  juro  no  eurosistema  poderá  beneficiar  as  sociedades  cabo‐verdianas  com  o  serviço  da  dívida  externa  indexada  ao  Euribor,  por  outro  lado,  dadas  as  restrições normativas, a redução das taxas de depósitos dos bancos centrais para valores negativos  impõe um grande desafio à gestão das reservas externas do país, que se rege principalmente pelos  princípios de segurança (preservação de capital) e de liquidez. Não obstante, se os empreendedores  e as autoridades públicas forem capazes de desenhar e propor aos investidores europeus planos de  negócios atractivos, alguma da liquidez disponibilizada pelo actual programa de quantitative easing  do  BCE  poderá  ser  canalizada  para  investimentos  produtivos  no  país,  compensando  as  potenciais  perdas de rendimento de reservas. 

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2. Indicadores da Procura e da Produção 

Indicadores de tendência da actividade económica apontam para alguma revitalização da procura  interna e deterioração da procura externa líquida. 

Impulsionado pelo comportamento muito favorável do investimento, o indicador de procura interna  do  Banco  de  Cabo  Verde  (BCV)  reforçou  nos  últimos  dois  trimestres  o  perfil  ascendente  que  vinha  registando desde Março. 

O  crescimento  acelerado  das  componentes  da  formação  bruta  de  capital  fixo,  principalmente  nos  últimos seis meses, tem sido em larga medida induzido pelos investimentos das empresas públicas,  financiados  sobretudo  com  recursos  externos  (empréstimos  concessionais  e  donativos),  bem  como  por um maior dinamismo dos investimentos externos.5 

Registe‐se, contudo, que os investimentos empresariais e residenciais do sector privado na economia  nacional  permanecem  condicionados  pelas  restrições  financeiras  internas  e  externas,  conforme  sugerem a estagnação do crédito à economia, não obstante o reforço da política de afrouxamento  monetário,  e  a  contínua  redução  dos  influxos  de  dívida  externa  privada,  em  certa  medida  determinada  pelo  impacto  nos  principais  financiadores  do  investimento  privado  no  país  da  persistente  fragmentação  financeira  na  Europa.  Note‐se  ainda  que,  segundo  os  inquéritos  qualitativos  do  Instituto  Nacional  de  Estatística  (INE),  as  incertezas  quanto  às  perspectivas  económicas  e  financeiras,  a  aversão  ao  risco  e  a  persistência  de  condicionamentos  burocráticos,  administrativos,  fiscais  e  institucionais  ao  ambiente  de  negócios  continuaram  a  contribuir  para  o  agravamento da confiança dos empresários.    Por seu turno, o indicador do BCV sugere alguma melhoria do consumo privado nos últimos meses.         5   A necessidade de renovação do stock de capital, após um longo período de queda do investimento privado, poderá estar também na  origem da evolução do indicador de investimento.  Figura 4: Os indicadores de conjuntura do BCV sugerem alguma recuperação da procura interna, mas uma contração  da procura externa líquida.          Fonte: Banco de Cabo Verde; Instituto Nacional de Estatísticas.  Nota: t.v.h. mm3 – taxa de variação homóloga de média móvel dos últimos três meses.  ‐60,0 ‐40,0 ‐20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 Ag o ‐11 Ou t‐ 11 De z‐ 11 Fe v‐ 12 Ab r‐ 12 Ju n ‐12 Ag o ‐12 Ou t‐ 12 De z‐ 12 Fe v‐ 13 Ab r‐ 13 Ju n ‐13 Ag o ‐13 Ou t‐ 13 De z‐ 13 Fe v‐ 14 Ab r‐ 14 Ju n ‐14 Ag o ‐14 t. v. h . de  mm 3   em  % Indicador de Consumo Indicador de Investimento ‐60,0 ‐40,0 ‐20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 De z‐ 11 Fe v‐ 12 Ab r‐ 12 Ju n ‐12 Ag o ‐12 Ou t‐ 12 De z‐ 12 Fe v‐ 13 Ab r‐ 13 Ju n ‐13 Ag o ‐13 Ou t‐ 13 De z‐ 13 Fe v‐ 14 Ab r‐ 14 Ju n ‐14 Ag o ‐14 t. v. h .   de  mm 3   em  % Indicador de Procura Externa Líquida

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O  impacto  no  rendimento  disponível  real  das  famílias  dos  aumentos  das  remessas  dos  emigrantes  (4,5  por  cento  em  termos  homólogos  até  Setembro)  e  dos  benefícios  sociais  (5,8  por  cento  em  termos  homólogos  até  Agosto),  conjugados  com  algum  aumento  dos  rendimentos  salariais  (em  função da implementação gradual do Plano de Cargos, Carreiras e Salários na Administração Pública)  e dos decorrentes de algum aumento da produção de frescos, bem como a redução dos preços no  consumidor,  explicam  em  larga  medida  o  ligeiro  aumento  estimado  do  consumo  privado.  Contrariamente à procura interna, o contributo da procura externa líquida para o crescimento tem  sido negativo e tende a agravar‐se.    Com efeito, o perfil decrescente do indicador de procura externa líquida, que perdura desde Março  de 2014, acentuou‐se a partir de Julho, devido ao crescimento das importações de mercadorias (em  6,7 por cento até Setembro, em termos homólogos) e à redução das receitas de turismo (em cerca  de 10 por cento, de acordo com os dados preliminares disponíveis).  No que concerne à oferta agregada, a evolução do indicador coincidente da actividade económica do  BCV sugere que os contributos positivos dos sectores da construção, indústria e agricultura e pesca  tenham mais que compensado o contributo negativo dos serviços.  A evolução desfavorável do valor acrescentado bruto (VAB) dos serviços estará sendo determinada,  por um lado, pelo contínuo abrandamento da procura turística e, por outro, pela redução dos preços  dos pacotes praticados pelos operadores turísticos, assente na estratégia de competição pela quota  de mercado europeu, num contexto de atenuação das instabilidades políticas e sociais no Norte de  África e de descida dos preços de outros destinos concorrenciais.       

Figura  5:  O  sentimento  dos  agentes  económicos  permanece  deteriorado,  não  obstante  a  evolução  positiva  da  actividade dos sectores da construção, indústria e agricultura e pescas.          Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas; Banco de Cabo Verde.  Nota: s.r.e mm3 – saldo de respostas extremas em média móvel dos últimos três meses; p.p.‐ pontos percentuais.  10,0 13,0 16,0 19,0 22,0 25,0 28,0 ‐12,0 ‐10,0 ‐8,0 ‐6,0 ‐4,0 ‐2,0 0,0 2,0 4,0 De z‐ 11 Ma r‐ 12 Ju n ‐12 Se t‐ 12 De z‐ 12 Ma r‐ 13 Ju n ‐13 Se t‐ 13 De z‐ 13 Ma r‐ 14 Ju n ‐14 Se t‐ 14 s. r. e . mm 3 s. r. e.  mm 3 Clima Económico (eixo esq.) Confiança dos Consumidores (eixo dto.) ‐3,0 ‐1,5 0,0 1,5 3,0 4,5 6,0

Jan‐Set 12 Jan‐Set 13 Jan‐Set 14

Co nt ri bu to s  pa ra  o  cr es ci m e nt o  do  VAB   (p .p .) Agricultura e Pesca Indústria Construção Serviços VAB

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O  comportamento  menos  favorável  da  procura  turística  terá  sido,  igualmente,  influenciado  por  algum  receio  incentivado  pela  propagação  do  ébola  na  sub‐região  onde  o  país  está  inserido,  bem  como  pela  realização  da  copa  do  mundo  de  futebol  no  Brasil,  país  que  registou  um  aumento  das  receitas de turismo internacional na  ordem dos dez por  cento nos primeiros sete meses do ano.  A  insuficiente  oferta  complementar  ao  segmento  sol  e  praia  poderá  também  ter  influenciado  na  redução da estadia média dos turistas no país.        Quadro 2: Procura Turística    Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas.  Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga. 

valor absoluto t.v.h. (%) valor absoluto t.v.h. (%) valor absoluto t.v.h. (%)

Hóspedes 249.615 14,0 272.070 9,0 273.459 0,5 Dormidas 1.527.198 28,4 1.600.637 4,8 1.635.285 2,2 Estadia Média (n.º de noites) 6,1 11,9 6,0 ‐1,6 5,9 ‐1,7 Taxa de Ocupação (em percentagem) 58,0 4,5 56,5 ‐2,6 55,0 ‐2,7 1º Semestre 2013 1º Semestre 2014 1º Semestre 2012

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3. Inflação 

Preços no consumidor acentuaram o perfil descendente nos últimos seis meses. 

Os  preços  no  consumidor  vêm  apresentando,  desde  Maio  de  2013,  uma  tendência  consistente  de  desagravamento,  culminando  na  redução  da  inflação  média  anual  e  da  inflação  homóloga,  respectivamente, para ‐0,1 e ‐1,1 por cento em Setembro último. 

O comportamento da inflação, em particular nos últimos seis meses, continuou a reflectir, em larga  medida, a redução dos preços internacionais de bens alimentares, o aumento contido dos preços do  petróleo  nos  mercados  internacionais  e  a  redução  da  inflação  dos  principais  fornecedores  do  país,  num contexto de alguma revitalização da procura interna, mas de contracção da procura externa.    

Com efeito, a análise por contributos sugere que o comportamento da inflação cabo‐verdiana entre  Setembro de 2013 e Setembro de 2014 foi, sobretudo, determinado pela redução do preço do gás  butano  (em  média  em  2,6  por  cento,  em  função  da  evolução,  ainda  que  desfasada,  dos  preços  internacionais),  pela  diminuição  dos  preços  de  bens  alimentares  (tanto  dos  transformados,  essencialmente  importados,  como  dos  não  transformados,  crescentemente  produzidos  internamente),  bem  como  pela  dissipação  dos  efeitos  do  ajustamento  da  taxa  do  imposto  sobre  o  valor  acrescentado  nos  bens  e  serviços  administrados  em  inícios  de  2013.  Refira‐se  ainda  que  o  impacto  da  inflação  importada  na  evolução  da  inflação  cabo‐verdiana  foi  ampliado,  nos  últimos  meses, pela expressiva desaceleração dos preços no produtor e no consumidor de Portugal, Holanda,  França  e  Espanha,  países  de  origem  de  cerca  de  74  por  cento  das  importações  de  bens  cabo‐verdianas.6 

 

      

6

  Cerca  de  58  por  cento  do  cabaz  de  consumo  dos  cabo‐verdianos  é  constituído  por  bens  e  serviços  transacionáveis,  sendo  a  grande  maioria destes bens e serviços importados da Área do Euro. Neste quadro e atendendo ao regime cambial de peg fixo ao Euro vigente em  Cabo Verde e ao facto do país ser um price taker, devido à reduzida expressão da sua economia nos mercados mundiais, a evolução dos  preços na Área do Euro afecta necessariamente e em larga medida os preços no consumidor e no produtor de Cabo Verde.  Quadro 3: Contributos para a variação da Inflação Homóloga   Fonte: INE. Cálculos do Banco de Cabo Verde.  Figura 6: Determinados pela inflação importada e pela produção local de frescos, os preços no consumidor registaram  uma forte desaceleração. 

Ma r‐13 Jun‐13 Set‐13 Dez‐13 Ma r‐14 Jun‐14 Set‐14

Inflação Homóloga  2,6 1,2 1,1 0,1 0,6 ‐0,1 ‐1,1 100%

C1. Produtos  a l i menta res  e bebi da s  nã o a lcoól i ca s 41% 2,1 0,7 ‐0,7 ‐1,9 0,2 ‐1,5 ‐2,9 39,5%

C2. Bebi da s  a l coól i ca s  e ta ba co 2% 5,7 4,0 3,8 2,3 1,5 1,5 0,4 2,9%

C3. Ves tuá ri o e ca l ça do 6% ‐0,4 2,6 2,3 0,3 1,9 1,6 0,6 4,3%

C4. Renda s  de ha bita çã o, à gua , electri ci da de,… 16% 5,9 3,0 6,2 4,4 1,1 0,7 ‐0,2 44,7%

C5. Aces s óri os , equi pa mentos  domés ticos … 6% 3,9 5,1 3,0 2,6 2,3 0,8 ‐0,3 9,2%

C6. Sa úde 2% 0,3 0,3 1,4 1,0 1,0 1,6 1,1 0,2%

C7. Tra ns portes 11% ‐1,9 ‐5,0 ‐2,3 ‐3,8 ‐1,3 ‐1,2 ‐2,9 2,9%

C8. Comuni ca ções 4% 4,5 4,5 4,5 4,5 0,0 0,0 0,0 8,0%

C9. La zer, recrea çã o 3% ‐4,5 ‐8,3 ‐5,4 ‐4,1 ‐4,3 1,0 ‐0,8 ‐6,8%

C10. Ens ino 1% 0,0 0,0 0,0 0,2 0,2 ‐0,7 ‐1,6 0,8%

C11. Hotéi s , res ta ura ntes ,… 3% 11,5 9,6 2,2 ‐0,6 ‐1,3 ‐0,2 0,7 1,8%

C12. Bens  e s ervi ços  di vers os 6% 5,0 5,1 4,0 5,4 4,9 4,8 6,9 ‐7,4%

Pes o  no  Ca ba z

Infla çã o Homól oga  (%) Contributos  pa ra  a   va ri a çã o da   infl a çã o nos   úl ti mos  12 mes es

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Focalizando  os  determinantes  da  inflação  cabo‐verdiana,  a  evolução  da  actividade  económica  nacional  aquém  do  potencial,  por  influenciar  as  expectativas  dos  agentes  económicos,  estará  igualmente a contribuir para o desagravamento dos preços em Cabo Verde.         

 

 

 

 

 

          A descida da inflação é consistente com as expectativas dos consumidores e dos empresários.          Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas; Banco de Cabo Verde.  Nota: t.v.h.‐ taxa de variação homóloga.  ‐1,5 0,0 1,5 3,0 4,5 6,0 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 em  % Taxa de variação homóloga Taxa de variação média 12 meses Taxa de variação mensal ‐1,5 0,0 1,5 3,0 4,5 6,0 Jan ‐11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 Ou t‐ 11 Jan ‐12 Ab r‐ 12 Ju l‐ 12 Ou t‐ 12 Jan ‐13 Ab r‐ 13 Ju l‐ 13 Ou t‐ 13 Jan ‐14 Ab r‐ 14 Ju l‐ 14 t. v. h . em  % IPC Agregado excluindo Energia, Alimentares e Bebidas, Álcool e Tabaco IPC Agregado IPC Agregado excluindo Energia IPC Agregado excluindo Energia e Alimentares não Transformados 50 55 60 65 70 75 80 85 90 1ºT  12 2ºT  12 3ºT  12 4ºT  12 1ºT  13 2ºT  13 3ºT  13 4ºT  13 1ºT  14 2ºT  14 3ºT  14 Sa ld o  da s  Re sp os ta s  Ex tr em as Percepção da evolução  dos preços e das expectativas pelos  consumidores Evolução Actual Evolução Futura ‐60 ‐40 ‐20 0 20 40 60 80 1º T  12 2º T  12 3º T  12 4º T  12 1º T  13 2º T  13 3º T  13 4º T  13 1º T  14 2º T  14 3º T  14 Sa ld o  da s  Re sp os ta s  Ex tr em as Percepção  da evolução  dos preços pelos  produtores/fornecedores Comércio em Estabelecimento Turismo Indústria Transformadora Transportes

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4. Contas Externas 

Estimativas preliminares apontam para uma performance menos favorável das contas externas nos  primeiros nove meses do ano. 

Após  uma  assinalável  redução  em  2013,  as  necessidades  de  financiamento  da  economia  (medidas  pelo saldo agregado das balanças correntes e de capital) registaram um significativo crescimento nos  primeiros nove meses do ano, impulsionadas pelo agravamento do défice da balança corrente.  As estimativas da balança de pagamentos para o primeiro semestre apontam para um crescimento  do  défice  da  conta  corrente  em  cerca  de  11  por  cento  (‐79  por  cento  no  período  homólogo),  principalmente induzido pelo aumento das importações de mercadorias (em cerca de um por cento,  quando  em  período  homólogo  decresciam  11  por  cento),  pela  queda  das  exportações  dos  serviços  turísticos  (em  cerca  de  três  por  cento)  e  pelo  acentuado  crescimento  dos  rendimentos  de  investimento externo expatriados (em mais de 90 por cento).7 

Os dados preliminares para o terceiro trimestre sugerem, entretanto, um agravamento adicional do  défice da balança corrente, não obstante o expressivo crescimento das exportações de mercadorias  (em  cerca  de  30  por  cento  até  Setembro,  em  termos  homólogos)  e  a  manutenção  do  perfil  ascendente das remessas dos emigrantes (cresceram seis por cento em termos homólogos, desde o  início  do  ano,  suportadas,  sobretudo,  pela  melhor  performance  económica  dos  Países  Baixos,  Portugal e Reino Unido). 

O  contínuo  aumento  do  serviço  da  dívida  pública,  em  linha  com  a  evolução  das  despesas  de  investimento  do  Estado  desde  2009,  aliado  à  redução  dos  donativos  aos  governos  central  e  local,  igualmente condicionou o desempenho das contas externas até Setembro. 

Figura  7:  A  aceleração  da  procura  interna,  num  contexto  de  abrandamento  da  procura  turística,  explica  o  agravamento da balança corrente nos primeiros nove meses do ano.            Fonte: Banco de Cabo Verde.        Nota: t.v.h. – taxa de variação homóloga. No gráfico foram destacadas as performances das principais rubricas da balança corrente.           7  Explicado essencialmente pelo expatriamento de reservas acumuladas por uma empresa de capital externo do ramo da construção civil.  ‐80,0 ‐60,0 ‐40,0 ‐20,0 0,0 20,0 40,0 2010 2011 2012 2013 2014 (Jan‐Set) em  %  do  PI B Juros da Dívida (Governo, bancos  e outros sectores) Dividendos do IDE Expatriados Remessas dos Emigrantes Receitas do Turismo Importações de Bens e Serviços Balança Corrente

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Os  desenvolvimentos  mais  recentes  nas  contas  externas  reflectem,  por  um  lado,  a  conjuntura  de  abrandamento da procura turística e a redução consequente dos preços dos pacotes turísticos e, por  outro, uma revitalização do investimento de outros sectores (de empresas públicas e privadas), cuja  componente de bens e serviços importados é expressiva.  O aumento das necessidades de financiamento da economia foi acompanhado por um aumento dos  influxos do investimento directo estrangeiro e por uma diminuição dos activos financeiros aplicados  pelos bancos no exterior. Registe‐se que o equipamento de um dos maiores resorts turísticos do país,  principalmente no terceiro trimestre, contribuiu em larga medida para o crescimento dos influxos do  investimento directo estrangeiro na ordem dos 23 por cento. Adicionalmente, a redução dos fluxos  de  amortização  da  dívida  de  algumas  empresas  dos  sectores  turístico  e  financeiro  com  o  seu  investidor externo directo concorreu para reverter a tendência de queda dos investimentos externos  no país que perdurava desde 2009 (até Setembro o saldo total aumentou seis por cento em termos  homólogos).8 

A  par  do  investimento  direto  estrangeiro,  a  desmobilização  dos  activos  externos  dos  bancos,  em  certa  medida  impulsionada  pelo  agravamento  das  condições  de  investimento  na  Área  do  Euro  (nomeadamente pela redução das taxas de juro dos depósitos a prazo, instrumento preferencial de  aplicação da liquidez no exterior pelos bancos), compensando a queda dos desembolsos líquidos da  dívida pública (na ordem dos 1,3 mil milhões desde o início do ano), contribuiu em boa medida para  o financiamento da economia nos últimos meses.      Neste quadro, as reservas externas aumentaram para 359 milhões de euros em finais de Setembro,  passando a garantir 4,75 meses de importação de bens e serviços projectados para 2014. 

Figura  8:  O  financiamento  da  economia  processou‐se  principalmente  via  aumento  dos  influxos  financeiros  não  geradores de dívida.               Fonte: Banco de Cabo Verde.         8   De acordo com a metodologia do 5º Manual da Balança de Pagamentos e Investimento Internacional do Fundo Monetário Internacional,  são  registados  como  operações  de  investimento  externo,  os  passivos  contratados  pela  instituição  residente  com  os  seus  investidores  externos.  Quando  estes  passivos  são  desembolsados,  por  determinarem  um  influxo  financeiro  para  o  país,  são  registados  com  sinal  positivo, tendendo a aumentar o valor total do investimento realizado no país. Quando são reembolsados, o registo na balança é feito com  sinal negativo, por implicar um fluxo financeiro do país para o exterior. Igualmente, são registados como fluxo de investimento externo os  créditos  concedidos  pelas  empresas  nacionais  à  sua  casa  mãe  residente  no  exterior  (fenómeno  recente  observado  na  economia  cabo‐verdiana).  ‐3.000 ‐1.500 0 1.500 3.000 4.500 6.000 7.500 9.000 1ºT  12 2ºT  12 3ºT  12 4ºT  12 1ºT  13 2ºT  13 3ºT  13 4ºT  13 1ºT  14 2ºT  14 3ºT  14 mi lh õe s  de  e sc udos IDE Dívida Externa Pública Dívida Externa Privada  Activos Líquidos de Bancos  4,0 4,3 4,4 4,3 4,9 4,6 4,6 4,8 0 1 2 3 4 5 6 0 50 100 150 200 250 300 350 400 De z‐ 12 Ma r‐ 13 Ju n‐ 13 Se t‐ 13 De z‐ 13 Ma r‐ 14 Ju n‐ 14 Se t‐ 14 me se s mi lh õ es  de  e sc udos Stock Reservas em milhões de euros Meses de importação

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5. Situação Monetária e Financeira 

Desenvolvimentos  nas  contas  externas  e  o  maior  recurso  ao  endividamento  interno  pelo  Estado  continuaram a impulsionar a expansão monetária. 

A oferta monetária, expressa pelo agregado M2, cresceu, em termos homólogos, cerca de sete por  cento  até  Setembro,  determinada  pelo  contínuo  aumento  das  reservas  internacionais  líquidas  do  país (em cerca de 18 por cento) e do crédito ao Governo Central (na ordem dos 27 por cento). 

Num contexto de agravamento da balança corrente, o comportamento das reservas cambiais do país  reflectiu o aumento dos investimentos externos e a aquisição de divisas pelo Banco de Cabo Verde  aos bancos comerciais. Registe‐se a desmobilização por parte dos bancos, entre Janeiro e Setembro  de  2014,  de  recursos  anteriormente  aplicados  em  depósitos  a  prazo  em  instituições  bancárias  da  Área do Euro. A redução dos activos externos dos bancos comerciais contribuiu para o agravamento  da  sua  posição  externa  líquida  deficitária  e,  consequentemente,  determinou  um  crescimento  mais  moderado das disponibilidades líquidas do país sobre o exterior. 

Por  seu  turno,  o  expressivo  aumento  do  crédito  ao  Governo,  contratado  principalmente  com  as  instituições bancárias do país, pode ser explicado pela evolução desfavorável das receitas fiscais (‐4,9  por cento até Agosto, muito aquém do programado aumento de 10,5 por cento para o conjunto do  ano), numa conjuntura de contínua redução dos donativos e desembolsos líquidos da dívida pública.  Não obstante o aumento significativo do crédito ao Sector Público Administrativo, o crédito interno  líquido  continuou  a  crescer  moderadamente,  em  consequência  da  ligeira  contracção  do  crédito  à  economia.  Depois de ter registado um crescimento em torno de dois por cento em finais de 2013, o crédito à  Quadro 4: Principais Indicadores da Situação Monetária    Fonte: Bancos Comerciais; Banco de Cabo Verde.  Notas: BT‐ Bilhetes do Tesouro; TRM– Título de Regularização Monetária. 

Dez‐11 Dez‐12 Dez‐13 Mar‐14 Jun‐14 Set‐14

Dez‐13 Set‐14 Posição Externa 23.060 26.958 36.133 37.132 33.639 36.869 34,0 15,4 Activos Externos Líq. BCV 27.659 32.288 38.006 37.456 37.699 39.557 17,7 18,3 Reservas Internacionais Líq.  28.752 32.778 38.280 37.697 37.781 39.607 16,8 17,6 Crédito Interno Líquido 112.326 116.452 120.749 121.811 124.801 123.996 3,7 3,7 Crédito Líquido ao SPA 18.992 22.851 25.191 27.212 30.322 30.125 10,2 18,7 Crédito à Economia 93.334 93.601 95.463 94.504 94.284 93.871 2,0 ‐0,4 Massa Monetária 115.325 122.590 136.080 138.337 137.395 139.048 11,0 6,9 Base Monetária 24.439 32.574 38.427 40.131 40.727 40.197 18,0 14,0 Memo Itens Inflação (var. média anual IPC em %) 4,5 2,5 1,5 0,8 0,3 ‐0,1 Tx. dos BT (a 91 dias, média em %) 4,10 4,08 2,13 2,13 1,44 1,44 TRM (14 dias em %) 4,25 5,75 0,69 0,74 0,63 0,56 Variação homóloga Saldos em milhões de escudos

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economia passou a apresentar uma tendência descendente, passando a registar desde Julho taxas de  crescimento  negativas,  não  obstante  o  reforço  das  medidas  de  política  monetária  de  carácter  acomodatício.  As  estatísticas  disponíveis  sugerem  que  a  evolução  do  crédito  à  economia  estará  muito  relacionada  com  a  efectivação  dos  riscos  de  crédito  (o  crédito  mal  parado  continuou  a  aumentar  ao  longo  de  2014)  e  o  aumento  das  incertezas  e  riscos  que  condicionam  a  dinâmica  da  actividade económica, bem como à persistência de constrangimentos estruturais que condicionam o  ambiente  de  negócios.  Com  efeito,  a  redução  do  crédito  concedido  a  particulares  para  consumo  e  outros  fins  (em  5,3  por  cento),  bem  como  do  crédito  às  empresas  dos  ramos  da  construção  civil  e  obras públicas (em 15,1 por cento), foi determinante para a evolução negativa do crédito à economia  nos  últimos  meses,  segmentos  classificados  como  de  maior  risco  de  crédito  e  que  têm  registado  maiores  níveis  de  incumprimento.  Registe‐se  que  o  crédito  às  empresas  não  financeiras  aumentou  0,3 por cento até Setembro.9   

Igualmente, factores de ordem processual estarão a condicionar a retoma do crédito e a melhoria do  enquadramento  empresarial,  na  perspectiva  das  instituições  financeiras,  nomeadamente  os  constrangimentos no processo de bonificação dos empréstimos à habitação (que permanecem com  um  crescimento  contido  e  em  desaceleração)  e  na  efectivação  do  fundo  de  contragarantia  (que  deverá possibilitar o funcionamento pleno da CV Garante enquanto entidade de partilha de riscos de  financiamento de projectos de micro, pequenas e médias empresas).     

 

      

9

  Em  termos  agregados,  o  crédito  às  empresas  não  financeiras  associado  ao  financiamento  de  investimentos  produtivos  representa  somente 50 por cento do total do crédito à economia e 36 por cento do total do financiamento bancário da economia. 

 

 

Evolução do Crédito às Empresas não Financeiras 

O  tecido  empresarial  cabo‐verdiano  é  constituído  sobretudo  por  micro  e  pequenas  empresas  (dos  quais 75 por cento são firmas familiares constituídas em nome individual), consideravelmente mais  dependentes do financiamento com capital alheio do que as empresas de maior dimensão. Porém, o  contexto de crescimento reduzido, de perspectivas económicas globalmente fracas, de continuação  da  necessidade  de  reestruturação  dos  balanços  das  empresas  e  de  persistência  da  aversão  aos  riscos, aumentaram a restritividade das condições de crédito nos últimos anos.   

De  acordo  com  os  resultados  do  Inquérito  aos Bancos sobre  o  Mercado de  Crédito,  realizado  pelo  Banco  de  Cabo  Verde  e  referente  ao  terceiro  trimestre  de  2014,  os  bancos  mantiveram  a  restritividade  das  condições  de  acesso  ao  crédito,  reflexo  principalmente  das  suas  preocupações  relativamente ao nível de incumprimento dos seus clientes e dos riscos associados a empresas sem  contabilidade organizada. Ainda segundo este inquérito, a procura de créditos, sobretudo de curto  prazo, manteve contudo os sinais de recuperação registados no trimestre anterior.   

A  substituição  do  crédito  bancário  por  fontes  alternativas  de  financiamento,  tais  como  fundos  gerados  internamente  e  acesso  ao  mercado  de  capitais,  tem  sido  difícil  na  medida  em  que  as  empresas  ainda  têm  necessidade  de  desalavancagem  e,  dada  a  dimensão  da  maior  parte  delas,  a  emissão de dívida no mercado financeiro poderia ser demasiado dispendiosa. 

   

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A evolução do funding dos bancos é contrária à evolução do crédito, reforçando a posição de liquidez  dos mesmos. Com efeito,  os depósitos  mantiveram  um  crescimento acelerado, nos primeiros nove  meses  do  ano,  impulsionados  tanto  pelo  contínuo  aumento  dos  depósitos  à  ordem  e  a  prazo  dos  residentes (respectivamente, em 8,6 e 14,4 por cento), como pelo estável crescimento dos depósitos  dos emigrantes na ordem dos nove por cento. 

Numa conjuntura de redução das taxas de juro dos títulos do Banco de Cabo Verde e do Tesouro, das  taxas  de  facilidade  permanente  de  depósitos  (instrumentos  actualmente  mais  procurados  pelos  bancos  residentes  para  aplicação  de  fundos)  e  do  contínuo  aumento  das  provisões  do  crédito  em  risco, o aumento do funding dos bancos tem pressionado em larga medida a sua rentabilidade. Neste  contexto,  a  melhoria  da  referida  rentabilidade,  dificultada  pela  persistência  de  constrangimentos  judiciais e de entraves legais, deverá passar por estratégias criativas e inovadoras de recuperação do  crédito e de financiamento de projectos produtivos viáveis.                    Fonte: Banco de Cabo Verde.     

O facto de  o crédito bancário  ser a principal  fonte de  financiamento das  empresas  cabo‐verdianas  tem  levado  a  que  estas  sejam  mais  afectadas  pela  contracção  do  crédito  bancário  e,  por  conseguinte, que a recuperação do investimento empresarial em Cabo Verde permaneça modesta.  A eliminação do obstáculo do acesso ao financiamento dependerá, no curto prazo, em boa medida  da  percepção de  diminuição  do  risco  de crédito  por parte  dos  bancos, da  melhoria  do  sentimento  dos  agentes  relativamente  às  perspectivas  macroeconómicas  e  de  condicionantes  específicas  das  empresas,  bem  como  do  desenvolvimento  do  sistema  financeiro  e  da  melhoria  da  envolvente  estrutural, no médio e longo prazos.    ‐20 ‐10 0 10 20 30 40 50 60 1º  T ‐12 2º  T ‐12 3º  T ‐12 4º  T ‐12 1º  T ‐13 2º  T ‐13 3º  T ‐13 4º  T ‐13 1º  T ‐14 2º  T ‐14 3º  T ‐14 4º  T ‐14 * Índic e  de  di fu sã o Empréstimos de Curto Prazo Oferta Procura  * Expectativas dos Bancos inquiridos ‐50 ‐30 ‐10 10 30 50 70 1º  T ‐12 2º  T ‐12 3º  T ‐12 4º  T ‐12 1º  T ‐13 2º  T ‐13 3º  T ‐13 4º  T ‐13 1º  T ‐14 2º  T ‐14 3º  T ‐14 4º  T ‐14 * Ín d ic e  de  di fu sã o Empréstimos de Longo Prazo Oferta Procura  * Expectativas dos Bancos inquiridos

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Caixa 1: Mecanismos de Transmissão Monetária 

 

O  Banco  de  Cabo  Verde  vem  implementando,  desde  meados  de  2013,  uma  política  monetária  moderadamente  acomodatícia,  ancorada  numa  abordagem  prudente  de  estabilização  das  reservas  internacionais líquidas do país.   

Depois de ter reduzido a taxa directora, a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez e a taxa de  redesconto em 150 pontos base em Março de 2014, o BCV baixou em Agosto último, em cinquenta pontos  base, todas as suas taxas de referência. Além da redução das taxas de juro, o BCV adoptou um conjunto de  medidas  visando  o  fortalecimento  do  mecanismo  de  transmissão  da  política  monetária.  Neste  quadro,  propondo‐se a reduzir o excedente de liquidez no sistema e a dinamizar o mercado monetário interbancário,  a autoridade monetária cabo‐verdiana:  i. passou a permitir o acesso irrestrito e diário dos bancos às facilidades permanentes de absorção e  cedência de liquidez; e  ii. fixou uma percentagem mínima diária de 20 por cento do montante das reservas mínimas que as  instituições devem manter nas contas de depósito à ordem no BCV. 

Contudo,  o  impacto  das  medidas  de  política  monetária  na  economia  permanece  reduzido,  refletindo  a  aversão  aos  riscos  de  crédito  e  macro‐económicos  pelos  bancos,  por  um  lado,  e  o  insuficiente  desenvolvimento do sistema financeiro nacional, por outro.10   

De  facto,  contrariamente  ao  esperado,  a  taxa  média  de  juro  aplicada  nas  operações  de  crédito  bancário  registou um crescimento na ordem dos 0,3 pontos percentuais desde o início do ano e o crédito à economia  registou uma inflexão na tendência de evolução, passando a decrescer desde Julho.11 

A transmissão das decisões de política monetária às taxas de depósito tem sido entretanto efectiva, embora  aquém do antecipado. Em termos médios, as taxas que remuneram o funding dos bancos decresceram 0,8  pontos  percentuais  desde  Dezembro  de  2013,  enquanto  a  taxa  directora  reduziu  200  pontos  base  (dois  pontos percentuais, desde então).                    Fonte: Banco de Cabo Verde.         10  Refira‐se, igualmente que as evidências empíricas apontam para um natural desfasamento temporal entre o momento da adopção das  medidas  de  política  monetária  e  o  do  seu  impacto  efectivo,  decorrente  do  ajustamento  das  taxas  de  juro  das  carteiras  de  crédito  e  depósitos já negociadas. 

11

  A  análise  tem  em  conta  dois  dos  canais  mais  relevantes  de  transmissão  monetária  para  Cabo  Verde,  o  canal  de  juros  e  o  canal  de  crédito. Abstraiu‐se dos efeitos da política monetária na economia por via dos canais taxas de câmbio, preços dos activos, expectativas dos  agentes  e  o  wealth  channel.  Estes  canais  são  pouco  significativos,  atendendo  ao  regime  cambial  em  vigor,  ao  estádio  ainda  pouco  desenvolvido do sistema financeiro e ao diminuto grau de integração financeira do país no sistema financeiro global.  3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 De z‐ 11 Ma r‐ 12 Ju n‐ 12 Se t‐ 12 De z‐ 12 Ma r‐ 13 Ju n‐ 13 Se t‐ 13 De z‐ 13 Ma r‐ 14 Ju n‐ 14 Se t‐ 14 Ta xa s  de  Ju ro  em  % Taxa de Juro  Média Efectiva de Depósitos Taxa de Juro  Média Efectiva de Crédito Taxa Directora do BCV ‐2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 De z‐ 11 Se t‐ 12 Fe v‐ 13 Ma i‐ 13 Ag o‐ 13 No v‐ 13 Fe v‐ 14 Ma i‐ 14 Ag o‐ 14 Tax as  de  v ar iaç ão  ho m ól og a  em  % Depósitos Totais Crédito ao Sector Privado

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Adicionalmente, não obstante terem contribuído para uma expressiva redução da liquidez excedentária no  sistema,  as  medidas  de  gestão  da  liquidez  implementadas  não  contribuíram  para  criar  algum  défice  ou  alguma assimetria na posição de liquidez dos bancos, capaz de levar à dinamização do mercado monetário  interbancário. A inoperância do mercado secundário da dívida pública concorre com a iliquidez do mercado  monetário  interbancário  para  condicionar  fortemente  a  transmissão  monetária  através  do  canal  taxas  de  juro.12 

Por  seu  turno,  a  transmissão  monetária  tem  sido  em  larga  medida  condicionada  pelo  limitado  acesso  das  famílias  e  empresas  a  fontes  de  financiamento  alternativas  ao  empréstimo  bancário  e  pela  elevada  dependência  dos  bancos  aos  recursos  dos  emigrantes.  O  primeiro  factor  torna  confortável  a  posição  dos  bancos,  que  também  ponderam  no  pricing  dos  seus  activos,  os  custos  operacionais  e  de  funding  relativamente elevados, bem como o crescente prémio de risco, devido ao contínuo aumento do crédito mal  parado.    A difícil substituibilidade dos depósitos dos emigrantes, enquanto funding dos bancos nacionais, obriga‐os a  uma competição acirrada pelos mesmos e explica o lento ajustamento das taxas de depósitos.  A transmissão monetária estará também a ser condicionada, do lado da procura de crédito, por algum défice  de projectos bancáveis e por constrangimentos à melhoria do ambiente de negócios. 

Importa  ainda  referir  que  a  relativa  ineficácia  dos  mecanismos  de  transmissão,  acima  abordada,  erige  eventualmente  o  desafio  dum  melhor  ajustamento  do  quadro  operacional  da  política  monetária  às  especificidades económicas e financeiras do país para suplantar alguns dos constrangimentos conjunturais e  estruturais mencionados.                   12

  O  canal  de  juros  transmite  as  alterações  na  policy  rate  às  relevantes  taxas  de  juro  de  mercado,  tais  como  taxas  que  remuneram  os  títulos  de  curto  e  longo  prazos,  bem  como  as  taxas  bancárias  de  depósitos  e  empréstimos.  A  sua  eficácia  requer  que  o  mercado  interbancário seja relativamente desenvolvido e que haja um mercado secundário de títulos do Tesouro (risk free securities) efectivamente  operacional. Um mercado interbancário funcional é necessário para sinalizar o custo marginal de financiamento dos bancos, enquanto o  mercado secundário dos bilhetes e obrigações do Tesouro serve de referência a juros de outros títulos e activos de diferentes maturidades.  O canal de crédito transfere o impacto das alterações da taxa directora e da taxa de reserva obrigatória à oferta do crédito bancário. Para  que o canal seja eficaz, os empréstimos bancários e outras fontes de financiamento devem ser substitutos imperfeitos para as famílias e as  empresas e os depósitos bancários e outras fontes de financiamento devem ser substitutos imperfeitos para os intermediários financeiros. 

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6. Situação Orçamental 

Situação orçamental deteriorou com a redução das receitas fiscais.  Apesar do alargamento das fontes de receita e da implementação de medidas visando o reforço da  eficiência e da eficácia tributária, no quadro das reformas fiscais em curso desde 2013, as receitas de  impostos registaram um decréscimo homólogo de 4,9 por cento nos primeiros oito meses do ano.13  A redução das receitas, a par do aumento ainda que contido das despesas correntes, determinou o  agravamento do défice orçamental, em cerca de mil milhões de escudos comparativamente a Agosto  de 2013.  A execução das receitas fiscais aquém dos valores orçados estará a reflectir, por um lado, a extensão  das isenções fiscais aos mobiliários e demais mercadorias importadas para equipamento de hotéis e  outras  empresas  com  capital  externo,  bem  como  a  redução  do  valor  aduaneiro  de  combustíveis  e  demais  mercadorias  importadas  e,  por  outro,  a  fraca  dinâmica  da  actividade  económica  no  ano  anterior. 

De notar a queda do valor colectado do imposto sobre o valor acrescentado pelas Alfândegas (‐10,5  por  cento),  a  diminuição  do  valor  arrecadado  dos  impostos  sobre  as  transacções  internacionais  (menos  quatro  por  cento)  e  a  contração  do  montante  colectado  do  imposto  único  sobre  o  rendimento de pessoas colectivas (‐12,0 por cento).           13   Os dados das contas públicas disponíveis referem‐se a Agosto de 2014.  Quadro 5: Situação Orçamental  Fonte: Ministério das Finanças e do Planeamento. Cálculos do Banco de Cabo Verde. 

Março Junho Agosto Setembro Dezembro Março Junho Agosto

Receitas de impostos ‐6,0 ‐3,6 ‐0,4 0,0 2,2 0,6 0,1 ‐4,9 das quais: Imposto s/ Valor Acrescentado (IVA) ‐7,0 ‐0,6 0,7 1,2 1,1 5,8 0,5 ‐5,4 Imposto Único s/ Rendimento (IUR) ‐6,4 ‐10,5 ‐6,3 ‐5,8 0,2 ‐7,6 ‐4,1 ‐7,1 Donativos ‐1,0 51,6 47,3 90,5 ‐9,8 ‐35,6 ‐52,7 ‐49,0 Despesas de Funcionamento 6,9 5,4 7,2 3,8 4,9 0,4 3,8 1,2 das quais: Despesas com Pessoal 7,5 2,0 8,2 ‐0,3 3,7 1,8 4,4 2,1 Transferências Correntes 3,2 17,7 2,6 4,4 1,3 ‐4,2 ‐1,4 ‐1,2 Benefícios Sociais 17,7 13,4 7,4 5,1 6,2 ‐0,6 2,3 5,8 Activos não Financeiros ‐13,2 ‐36,5 ‐33,1 ‐31,6 ‐11,7 ‐26,8 ‐21,3 ‐16,0 dos quais: Programa de Investimento ‐13,3 ‐36,8 ‐33,4 ‐31,8 ‐11,5 ‐26,9 ‐22,1 ‐16,5 Saldo Global (incluindo Donativos) ‐1.691 ‐3.985 ‐6.637 ‐6.265 ‐13.911 ‐1.622 ‐4.682 ‐7.673 Saldo Primário (incluindo Donativos) ‐988 ‐2.285 ‐4.460 ‐3.841 ‐10.485 ‐878 ‐2.924 ‐5.406 Saldo Global (incluindo Donativos) ‐1,1 ‐2,6 ‐4,4 ‐4,1 ‐9,1 ‐1,0 ‐3,0 ‐4,9 Saldo Primário (incluindo Donativos) ‐0,6 ‐1,5 ‐2,9 ‐2,5 ‐6,9 ‐0,6 ‐1,9 ‐3,5 percentagem do PIB 2013 2014 taxas de variação homólogas milhões de escudos

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De  acordo  com  a  actual  estratégia  de  gestão  orçamental,  a  redução  das  receitas  fiscais,  aliada  à  expressiva diminuição dos donativos (na ordem dos 49 por cento, não obstante os desembolsos da  ajuda  orçamental  de  Luxemburgo  e  Portugal),  induziu  a  uma  contenção  adicional  das  despesas  de  funcionamento.  Estas  cresceram  cerca  de  1,2  por  cento  (+7,2  por  cento  em  período  homólogo),  impulsionadas  sobretudo  pelo  crescimento  das  despesas  obrigatórias,  como  sejam  salários  e  encargos  com  a  segurança  social  (em  2,1  por  cento,  devido  à  implementação  gradual  do  Plano  de  Cargos  e  Carreiras  da  Administração  Pública  e  à  contratação  de  pessoal  de  acordo  com  os  Orçamentos de 2013 e 2014, entre outros factores), benefícios sociais (5,8 por cento, justificado pelo  aumento do número de beneficiários das pensões de aposentação e do regime não contributivo) e  juros da dívida (em 4,2 por cento, principalmente devido ao aumento significativo da dívida interna  no decurso de 2014).  Em linha com a política de phasing‐out do Programa Pluri‐Anual de Investimentos Públicos, a par dos  atrasos na execução de alguns projectos e da extensão das medidas de contenção ao programa, as  despesas  de  investimento  (com  a  aquisição  de  activos  não  financeiros)  reduziram  16,5  por  cento,  contribuindo para conter em certa medida o desequilíbrio das contas públicas.   

Não obstante o esforço de contenção, o défice orçamental acumulado nos primeiros oito meses do  ano  atingiu  os  7,8  mil  milhões  de  escudos,  tendo  sido  financiado  maioritariamente  com  recursos  externos, pese embora o acentuado aumento das emissões de títulos do Tesouro junto ao sistema  bancário nacional, a um custo efectivo médio de quatro por cento (que compara à taxa de juro de 1,2  por cento dos empréstimos contratados externamente). Consequentemente, o stock da dívida bruta  do  Estado  até  Agosto  aumentou  cerca  de  oito  por  cento,  desde  o  início  do  ano,  para  167,6  mil  milhões de escudos. 

 

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Perspectivas de Evolução da Economia 

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7. Hipóteses de Enquadramento das Projecções Macroeconómicas para 2014 e 2015 

As  actuais  projecções  para  2014  e  2015  baseiam‐se  em  pressupostos  teóricos  e  no  conhecimento  empírico  que  fundamentam  o  exercício  da  programação  financeira  do  Banco  de  Cabo  Verde.  Enquadram  os  desenvolvimentos  económicos  e  financeiros  recentes,  bem  como  as  hipóteses  de  evolução futura das variáveis determinantes do crescimento da economia cabo‐verdiana. 

As  hipóteses  técnicas  sobre  o  enquadramento  externo  da  economia  e  a  orientação  orçamental,  apresentadas de seguida, são variáveis críticas no exercício de programação monetária e financeira. 

Enquadramento  externo  da  economia  cabo‐verdiana  permanece  menos  desfavorável,  não  obstante o aumento dos riscos e incertezas. 

As projecções de Outubro de 2014 do Fundo Monetário Internacional (FMI), pese embora a revisão  em  baixa,  continuam  a  sugerir  algum  fortalecimento  da  actividade  económica  global  em  2014,  tendência que deverá ser reforçada em 2015. A perspectiva menos positiva, patente em particular na  revisão  em  baixa  das  projecções  de  crescimento  mundial  para  2014  pela  sétima  vez  consecutiva,  justifica‐se, principalmente, pelo enfraquecimento dos investimentos e das exportações da Área do  Euro,  especialmente  a  partir  do  segundo  trimestre,  bem  como  pelos  impactos  na  captação  de  investimento  externo,  na  produção  interna  e  na  confiança  dos  agentes  económicos  das  tensões  geopolíticas na Europa de Leste, além da persistência de uma fraca tendência de evolução da procura  doméstica nas economias emergentes da América Latina.14 

Neste  contexto,  o  FMI  projecta  um  crescimento  real  da  Área  do  Euro  em  torno  de  0,8  e  1,3  por  cento,  respectivamente,  para  2014  e  2015  (‐0,4  por  cento  em  2013  e  ‐0,7  por  cento  em  2012),  suportado  por  algum  alívio  na  política  de  consolidação  orçamental  e  pelo  impacto  da  política  monetária extraordinariamente acomodatícia nas condições de financiamento da economia.15  As  perspectivas  de  crescimento  económico  e  de  melhoria  das  condições  de  financiamento  dos  principais parceiros de Cabo Verde favorecem algum optimismo quanto à evolução do investimento  externo  e  da  procura  externa  líquida  do  país.  Entretanto,  a  orientação  da  política  monetária  do  Banco  Central  Europeu,  que  recorreu  a  mecanismos  não  convencionais,  tenderá  a  afectar  com  alguma  severidade  a  gestão  das  reservas  internacionais  do  país,  enquanto  que  a  depreciação  do  Euro,  em  consequência  do  desempenho  comparativamente  menos  conseguido  da  região,  deverá  encarecer  a  factura  das  importações  cabo‐verdianas  de  combustíveis,  bem  como  pressionar  os  encargos  com  o  serviço  da  dívida  pública.  Por  seu  turno,  a  redução  das  taxas  Euribor  favorecerá  o  serviço  da  dívida  externa  contratada  pelas  sociedades  não  financeiras  cabo‐verdianas,  tendo  em  conta que as taxas de juro da referida dívida estão maioritariamente indexadas àquelas.         14   Especialmente no Brasil, cujo produto interno bruto contraiu no primeiro e segundo trimestres de 2014.  15   Registe‐se que, suportado pela baixa inflação na Área do Euro, além de reduzir as suas taxas de juro para níveis historicamente baixos, o  BCE  decidiu  implementar  uma  política  de  compra  de  activos  (quantitative  easing)  para  estimular  o  financiamento  do  crescimento  económico na região. 

Referências

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