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1.1. Introdução

A entrada no século XXI trouxe consigo uma preocupação ecológica motivada pelas alterações ambientais que o mundo vivenciou nas últimas décadas, relacionadas com a transformação industrial, tecnológica e social. Estas alterações estão fortemente ligadas ao setor da mobilidade, constituindo-se, este setor, como um dos principais responsáveis pelos problemas ambientais que atualmente existem.

A área dos transportes foi muito escrutinada relativamente à sua carga poluente, o que gerou modificações em toda a mobilidade. Estas alterações começam agora a ganhar mais relevo com medidas consecutivas de diversas cidades, abolindo a circulação automóvel de combustão nos seus centros urbanos. Estas iniciativas demonstram que a mobilidade atravessa uma fase de mudança procurando a sua readaptação a uma realidade com menos emissões carbónicas. Estas alterações irão obrigar à mudança de comportamentos da população, alterando a forma como é vista a mobilidade e abrindo espaço para soluções mais tecnológicas e distintas do automóvel. A evolução tecnológica veio permitir a viabilidade de outros meios de locomoção, tais como a bicicleta e a trotinete, atualmente bastante populares,

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sobretudo nos centros urbanos em que as deslocações são maioritariamente de pequeno curso. Em Portugal, embora se tenham desenvolvido esforços nesse sentido, ainda continuam a existir condições muito precárias para a circulação de velocípedes, tornando-o num dos países que menos recorre à mobilidade suave.

A bicicleta já se encontrava entre os meios de transporte de eleição dentro das urbes, principalmente nos países do noroeste europeu. Em Portugal, este veículo possui uma história muito mais marcada pela sua produção do que propriamente pela sua utilização. Produção essa que era centralizada na zona de Aveiro, área fortemente reconhecida por metalurgias que se dedicavam à produção de bicicletas, continuando ainda hoje como um foco relevante de produção e exportação destes veículos. Por questões de mercado, parte desta indústria foi progressivamente reorientada para a produção de motociclos.

A bicicleta sempre se caraterizou por ser um veículo que necessitava do esforço humano para se locomover, mas com a evolução da tecnologia e com a diminuição dos custos de produção foi possível a integração de um motor elétrico e de uma bateria. Esta adição veio proporcionar uma viagem tranquila independentemente da dificuldade do trajeto, tornando a bicicleta muito mais apelativa.

Procurou-se neste trabalho encontrar um nicho específico que beneficiasse com a utilização de uma bicicleta elétrica, tendo-se, após alguma reflexão, identificado essa necessidade no turismo de surf, quer pelas caraterísticas geográficas da orla costeira portuguesa, quer pelo perfil ecológico dos seus praticantes. Numa primeira observação, verificou-se que estes desportistas não possuíam um meio de transporte específico, associado ao estilo de vida, que lhes permitisse transportar de uma forma prática a prancha de surf e o restante material. Esta dificuldade de locomoção e transporte mostrou-se um desafio que poderia ser solucionado com recurso a uma tipologia específica dentro das bicicletas elétricas.

Neste trabalho entendeu-se também a importância de munir esta bicicleta com o património industrial nacional, uma vez que em Portugal existe um grande apreço por toda a cultura motorizada da década de 70. Para isso recorreu-se ao design e à engenharia para se obter um desenho identitário, associado à indústria portuguesa das duas rodas.

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1.2. Objetivos

Neste projeto pretendeu-se desenvolver uma bicicleta elétrica para deslocações de curta e média distância, que responde às necessidades especializadas de um nicho de mercado, agregando a história da indústria metalomecânica portuguesa, mais concretamente a história da motorizada nacional.

Desta forma, e para fundamentar e suportar o desenvolvimento do projeto, estabeleceram-se os seguintes objetivos:

1. Enquadrar a bicicleta na mobilidade atual;

2. Analisar a evolução da bicicleta assim como as suas variáveis;

3. Analisar e compreender a temática da atividade de surf; 4. Entender a correlação e a pertinência da transposição da

mota para a bicicleta como solução para o surfista;

5. Desenvolver uma bicicleta elétrica que responda às necessidades dos surfistas utilizando como forma de diferenciação a relação com a metalurgia nacional.

1.3. Metodologia

Esta dissertação pode ser dividida em duas fases, a primeira assenta na investigação e na compilação de informação (estado da arte) e a segunda caracteriza-se pelo desenvolvimento prático com base na etapa anterior.

O estado da arte inicia-se com o enquadramento da problemática da mobilidade, fundamentando a importância da bicicleta como método de locomoção. O levantamento de informação acerca da bicicleta contempla uma visão mais pragmática, através da sua história e funcionamento, enquadrando este veículo como solução de locomoção. No estado da arte foi ainda abordada a temática do surf, refletindo sobre o seu meio envolvente e identificando as suas principais problemáticas. Como último ponto do desenvolvimento teórico foi realizada uma ligação entre o surfista, a bicicleta e a mota. Integrou-se a mota com o objetivo de conferir um caráter identitário da cultura motorizada nacional.

Na segunda etapa da dissertação inicia-se a componente prática de desenvolvimento de projeto, que tem como primeiro passo a identificação das dimensões ergonómicas e antropométricas de modo a criar uma base sólida de desenvolvimento. Após isso, efetuou-se uma análise diacrónica dos modelos Boss da Casal com o objetivo de identificar formas que caracterizam este modelo, visando a sua introdução na bicicleta.

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De modo a solucionar a problemática realizou-se uma análise morfológica e de benchmarking com as soluções já existentes. Consecutivamente desenvolveram-se diversos conceitos, com o auxílio do desenho e com recurso a elementos tridimensionais, procurando uma otimização quer estética quer funcional, até a obtenção do conceito final. Após a finalização da forma realizou-se um plano de produção da bicicleta, com foco numa produção quase artesanal. Como ponto final da tese, realizou-se uma aproximação do projeto ao que seria a sua aparência real.

1.4. Estrutura

Este documento encontra-se dividido em 7 capítulos, não estando contabilizados os anexos. Cada capítulo assume um papel distinto para a justificação e também elaboração do projeto, por esse motivo os capítulos dividem-se:

I. Enquadramento - realiza-se uma introdução ao tema do

trabalho e a sua motivação, apresentados também os objetivos estabelecidos para o seu desenvolvimento.

II. Mobilidade - realiza-se uma introdução ao tema da

mobilidade, abordando tipos específicos desta temática, para desta forma se poder identificar mais facilmente as tendências deste setor.

III. Bicicleta - surge de forma a criar fundamento para o

desenvolvimento do projeto, através da exploração da bicicleta, tanto numa vertente histórica, como do seu funcionamento e suas variantes.

IV. Surf como oportunidade - realiza-se uma validação e

exploração da problemática da mobilidade por parte dos surfistas na orla costeira, que resulta na identificação das necessidades deste grupo.

V. Transposição da motorizada para a bicicleta -

procedeu-se à recolha de informação para suporte do objetivo final de desenvolver uma bicicleta elétrica para surfistas, com uma identidade que remeta à metalurgia nacional da década de 70.

VI. Projeto da Casal Boss Wave - contém o desenvolvimento

da bicicleta elétrica direcionada para os surfistas, com base em todas as considerações que foram reunidas até essa etapa.

VII. Conclusão - são realizadas observações sobre todo o

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