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3.1 Pré-Produção

3.1.1 Projeto do Fortaleza Otaku a partir do DOCTV IV

O DOCTV13 foi criado em 2003 como uma política da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura com o objetivo de estimular a produção de documentários, agindo, também, com o intuito de criar ambientes de mercado e de participar da formação de profissionais na área. Para tanto, o programa ofereceu uma série de oficinas para dar suporte aos processos de desenvolvimentos e, em seguida, exibiu os documentários produzidos com o auxílio deles.

Na quarta edição do DOCTV, foi produzido o Manual Didático da Oficina para Formatação de Projetos do DOCTV IV14, que apresenta uma modelo de desenvolvimento para projetos de documentários. As cinco fases que Puccini (2011) expõe para a etapa de pré- produção podem ser aplicadas neste modelo. Tendo tudo isso em vista, este foi adotado para o desenvolvimento do projeto do “Fortaleza Otaku”.

O modelo é composto por 5 tópicos obrigatórios. Esses 5 tópicos serão apresentados, seguidos de um resumo do que foi preenchido. O modelo preenchido em sua totalidade pode ser encontrado no Apêndice A deste relatório.

13 Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/programas8/-/asset_publisher/QTN9rjJEc1bg/content/iv-doctv- 221792/10889>. Acesso em: 30 nov. 2018.

3.1.1.1 Visão Original

O primeiro tópico é denominado visão original, onde pode ser descrito qual a visão original para objeto que será abordado no documentário.

A visão original traçada para o filme, como já mencionado anteriormente, aborda a cena otaku brasileira, especificamente a de Fortaleza. Considerando que o material audiovisual sobre a cena otaku brasileira está principalmente em reportagens, que seguem uma abordagem que Nichols (2013) chama de "Eu falo deles para vocês", o otaku é apresentado por alguém que está exterior ao agrupamento. Nichols (2013) comenta que esta abordagem pode parecer não representativa para o grupo que foi entrevistado e, muitas vezes, carregar uma visão estereotipada.

Para uma representação mais consistente e adequada, foi aplicada a abordagem de Nichols (2013): "Eu falo (nós falamos) de nós para vocês". Dessa forma, os personagens possuem a voz para se apresentarem e para representarem o universo deles. Isso foi facilitado pelo fato do autor desse projeto se considerar parte do agrupamento otaku, estando, então, contido dentro do universo abordado.

Essa abordagem pode trazer uma visão diferenciada. Por exemplo, seguindo uma abordagem nesse estilo, os detentos do Carandiru, com seus "autorretratos", apresentaram um Carandiru mais cotidiano, menos exótico e menos violento do que poderíamos representar com nossa visão exterior a esse universo (LINS; MESQUITA, 2008).

3.1.1.2 Proposta de Documentário

No segundo tópico, proposta de documentário, descreve-se a ideia audiovisual como uma proposta formal do filme.

O “Fortaleza Otaku”, através das narrativas dos personagens e de imagens de arquivo, objetiva apresentar a cultura pop japonesa, sua relação com a cidade de Fortaleza e o quanto ela foi importante na vida dos personagens. Por isso, foi proposta uma abordagem que abrangesse a visão de uma diversificada gama de otakus, pois há diversas subdivisões e aspectos diferenciais dentro do agrupamento a serem mostrados.

3.1.1.3 Eleição e Descrição dos Objetos

O terceiro tópico é a eleição e descrição dos objetos. Neste tópico devem ser apontados as pessoas, objetos e lugares que serão abordados no produto audiovisual.

As pessoas abordadas listadas no documento, encontram-se os otakus, que podem ser subdivididos em 6 tipos de personagens: otaku regular, cosplay, gamer15, professor de japonês, profissional e produtor.

O profissional refere-se ao otaku que teve sua escolha profissional relacionada ao apreço pela cultura pop japonesa. Já o produtor refere-se ao otaku que tenha produzido algo relacionado a cultura pop japonesa, por exemplo: fansub (legendar episódios), scanlation (traduzir mangás), AMV (Vídeos musicais com imagens de animes) ou fanfics (Histórias baseadas em animes). Além dos otakus, o outro agrupamento de personagens que foi listado é o de difusores da cultura pop japonesa, o qual refere-se aos vendedores, aos dubladores e às bandas musicais, por exemplo.

Os objetos listados, encontram-se os próprios elementos da cultura pop japonesa (animês, mangás, produtos vendidos em eventos e performances musicais ou teatrais). Além disso, foram listadas as imagens de arquivo, por exemplo: imagens antigas dos eventos, reportagens em Fortaleza e imagens antigas dos entrevistados.

Os ambientes de gravação, dentre os listados no modelo encontram-se: Centro de Eventos de Fortaleza (onde acontece o Sana, evento da cultura pop japonesa), Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (onde um curso de japonês acontece), Bloco do Curso de Sistemas e Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará (que possui uma ambientação relacionável ao universo da cultura pop japonesa) e o Estúdio Daniel Brandão (onde é ofertado um curso de mangá). A casa de algum entrevistado também pode entrar nessa lista.

3.1.1.4 Eleição e Justificativa para as Estratégias de Abordagem

O quarto tópico do modelo, eleição e justificativa para as estratégias de abordagem, apresenta qual a abordagem para cada um dos objetos eleitos no terceiro tópico. No projeto, listou-se sete estratégias a serem aplicadas.

A primeira estratégia é a pré-entrevista, que foi utilizada para conhecer e conversar com os entrevistados convidados com antecedência.

A segunda estratégia são as entrevistas em si, que foi o procedimento geral para as pessoas que participaram do documentário.

É importante ressaltar que as entrevistas são fundamentais para este documentário, até porque, na abordagem adotada, os personagens têm a voz. Além disso, a narrativa dos personagens é importante para poder traçar a linha da história do documentário. Lins e Mesquita (2008) comentam que as falas dos entrevistados são consideradas, pelo espectador, um exemplo de um argumento que o filme deseja transparecer. Ou seja, o que o entrevistado tem a dizer pode convencer o espectador a aceitar um ponto de vista, fortalecendo a retórica do filme.

Contudo, o uso excessivo de entrevistas no filme pode trazer consequências negativas. Dentre essas consequências, Lins e Mesquita (2008) listam: a força do 'verbalizável', a repetição de um mesmo enquadramento e a falta de interação entre personagens. Por isso, também foram adotados outros tipos de abordagens.

A terceira abordagem escolhida é a de adquirir as permissões de uso para as imagens selecionadas (que não são nossas) e para as imagens gravadas dos entrevistados.

A quarta é a de tratamento das imagens de arquivo para poderem ser bem visualizadas no documentário, pois estas imagens poderiam estar envelhecidas ou com ruídos.

A quinta abordagem é a encenação, a qual pretendeu-se aplicar somente com alguns entrevistados específicos. Os personagens escolhidos para essa são os cosplayers, os profissionais, os gamers, os produtores e os professores de japonês.

A sexta abordagem é a filmagem dos ambientes escolhidos para a gravação, como forma de gerar imagens de apoio.

A sétima (e última) abordagem é a filmagem do show e de palestras no Sana, para mostrar como o público se relaciona com os artistas convidados para eventos.

3.1.1.5 Sugestão de Estrutura

O quinto (e último) tópico do Manual do DOCTV IV é a sugestão de estrutura. Neste tópico é feito o sequenciamento de cenas do produto audiovisual, proporcionando um roteiro de como o documentário poderá ser estruturado. Esse roteiro gerado nesse último tópico foi utilizado como base tanto para a gravação, como também para a edição do filme.

A Figura 2 apresenta um fluxograma para uma melhor visualização das etapas do projeto de documentário do DOCTV IV. No próximo tópico será apresentado o roteiro gerado, que foi a primeira estrutura sugerida para o documentário.

Figura 2 – Tópicos do Projeto de Documentário do DOCTV IV

Fonte: O Autor